Quando me disseram de suas idéias
esdrúxulas e pensamentos de viés a meu respeito, estive por dizer a quem mos
comunicava que mandara eu lhe sugerir encontrasse de imediato uma porta de
igreja aberta, entrasse até no fundo, e lá encontraria o de que carecia desde
tempos imemoriais, estaria lá no fundo da igreja os ossos em estado já avançado
de transformação em cinzas, o que lhe saciaria as suas fomes seculares e milenares.
Não o fiz,
contudo, por saber que tais palavras lhe seriam difíceis de compreensão e
entendimento, a sua inteligência não iria poder abarcar o sentido profundo
existente nelas, que, aliás, definiam-lhe com toda a empáfia e nonsense, se
assim poderia me expressar de modo que indicasse desde já o que estão nelas
inscrito de tão medíocre e mesquinho, o que esta imagem suscita de imbecil e
idiota que um homem se manifesta, um homem vive nas entranhas de sua alma e
espírito.
Dissera a quem
me informava que estava o seu amigo muitíssimo equivocado, acreditava sim ser
mais fácil e inteligível para ele as idéias esdrúxulas e pensamentos de viés,
mais fácil por assim justificar o de que tanto carece, e estava muito alegre e
saltitante por assim o ser, realmente não é fácil para ninguém se reconhecer
diante do espelho, sendo mais fácil a transferência. Olhou-me de soslaio e
viés: além do que já compreendia por si mesmo – caso contrário, não é ócio de
meus ofícios -, o que mais estaria sido dito com aquelas palavras, aliás,
destituídas de quaisquer sentidos por o ponto de vista dele não me diz qualquer
respeito.
Quem sabe
estivesse eu a dizer que a alguém destituído do que é fundamental para a
vivência e experiência do mundo e das coisas, estas que entram pela carne e vão
se instalar nos ossos, e não havendo quaisquer outras alternativas de se
desvencilhar delas. Não estaria dizendo a respeito não só de seu amigo, mas
dele mesmo que ousa comunicar-me o que me é – o cacófato é inevitável, mesmo
porque dá a ponto e natureza o que significo bem -, comunicar-me o que é óbvio
só pode ser uma arbitrariedade sem limites, se lá eu não tinha a mínima
inteligência para entender tratar-se de uma conversa sem qualquer tempero, o
que...
Não apreendera
ainda a se calar diante de mim, com esta comunicação das idéias esdrúxulas e
pensamentos de viés que o seu amigo nutre mui profundamente, os íntimos
sentimentos de repulsa e náusea que lhe habitam as entranhas da alma, não teria
de modo algum recebido uma resposta direta, não era o amigo um esdrúxulo de
idéias e de pensamentos enviesados, e sim ele que me comunicara, informara de
sentimentos e emoções alimentados por mim, da nata do leite ao ácido crítico.
E, com certeza,
estaria eu no íntimo caindo na gargalhada, e não suportando interromper vou
perdendo o controle até me deitar no chão e abanar as pernas e os braços, da
resposta direta que recebera. Não se deve fazer certos comentários comigo que a
resposta é de viés, e a única carapuça só pode estar servindo em com quem estou
a falar, com quem dialogo.
A sua vontade é
de pedir licença, inventar que tem um compromisso a que não pode estar ausente,
é de extrema responsabilidade, em outra ocasião conversariam outros assuntos, e
saindo não de mansinho para não entregar nas mãos de alguém quem me está
observando a conversar e sabendo que algo estava acontecendo de esquisito e
estranho. Um está pálido e quase que não respirando por haver aberto a boca com
alguém indevido, indevido por causa das respostas, destas que se estivesse lendo
iria com certeza ficar sempre observando a página, à procura de algo a dizer,
mas sem ser possível ao menos cogitar uma justificativa viável e o veneno fosse
letal, e há algum veneno que não seja letal?
O outro
permanecia tranqüilo, calmo, o que precisava dizer quanto a quem saía pelas
ruas a dizer coisas sobre mim completamente descabidas. Haveria algum cabimento
em dizer que as insatisfações com ele só tinham um sentido de grande
inteligência e perspicácia, enfim alguém quem tem uma habilidade sem limites de
penetrar na alma humana? Não é nada difícil entender por a sua linguagem ao
conversar com as pessoas é completamente desprovida de empolações de todas as
qualidades e gostos, e que todos se sentem muito agradáveis em companhia dele;
ao contrário de mim que só tenho empolações e, em verdade, não tem consciência
ou finge não a ter para sustentar esta ou aquela viga dos escombros psíquicos e
emocionais.
Bem, caríssimo
amigo, está aqui existindo alguma empolação de minha parte, quando estou a
dizer-lhe sobre o que acontecera numa situação em que estivera envolvido os
pontos de vista de alguém a meu respeito? Não está.
De repente,
alguém intui algo de muito profundo numa simples fala, o que a opinião de tão
insigne indivíduo e cidadão vem a contribuir com um crescimento em minha vida,
e passa a se sentir desconcertado a nível de um ressentimento muito profundo,
algo que dissera não sendo o lugar e com quem, ademais em se tratando de mim
que numa linguagem assim como estamos a conversar é capaz de um pontapé daqueles.
Em verdade, dissera algo assim mais profundo e
num tom mais ameno no meio do que havia dito, a única coisa que me poderia
causar uma inveja muito grande seria do asno, e ele não saberia dizer o por
que, era como um enigma a ser decifrado, e conforme a resposta leva o oponente
a ajoelhar sem qualquer possibilidade de se furtar a faze-lo. Não soubera
responder e eu lhe respondi por o asno saber mui bién dar um coice e eu ainda
nem aprendi as primeiras lições.
Aí sim é que
ele começou a ficar muitíssimo pálido com a responde de o ponto de vista de seu
amigo não me dizer qualquer respeito, estava nas tintas para ele. Só poderia
haver sido esta resposta: não havia outra, jamais senti inveja de qualquer
coisa em minha vida, a minha inteligência é capaz de criar, recriar, buscar o
encontro e o desencontro de todas as idéias e pensamentos, de todas as
intuições e percepções, de todo a luta corpo a corpo com o mundo e as coisas.
Só poderia ser algo absurdo para responder: pensei e senti que não sabia dar um
coice bem dado, a única inveja que teria seria do asno, evidentemente.
Não estava
ironizando, longe de mim tal atitude, estava unicamente dizendo a única coisa
que justificava a inveja minha, outra não poderia ser o coice. O coice fora
dado nele que começou a se empalidecer, desejar pedir licença, inventando uma
desculpa deslavada e esfarrapada de um compromisso, noutra ocasião
conversaríamos, colocaríamos o diário em dia, e não saindo todo de cabeça
erguida, um leve sorriso no rosto para não despertar as atenções dos outros que
porventura estivesse passando ou à porta de casas comerciais e residenciais, os
famosos quem ficam debruçadas à janela de casa e dão notícias de tudo o que
ocorre.
Quem estava conosco até o momento em silêncio, só
ouvindo o que estávamos a conversar de imediato disse que havia coisas ali
muito íntimas que não valiam a pena ser tocadas. Não teria ele a pachorra de as
tocar por saber que o coice agora não iria deixar só pálido, iria mesmo fazer
prostrar-se ao chão e sair se arrastando pelas pedras, e isso não lhe seria
nada agradável.
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