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terça-feira, 24 de novembro de 2015

A SOBERANIA DE SI PRÓPRIO E DO OUTRO Advaldo da Assunção Cardoso Fonseca[1]


            
Há muito tempo que se tem discutido o papel da Literatura. Fala-se do compromisso social, transformador, formador de opinião, além da inaudita arte pela arte. Neste interim, o importante mesmo é que o artista viva por sua arte, com fidelidade a seus pessoais princípios, independente do que se pensem a seu respeito. Não importa o sucesso e a glória, pois estes louros, normalmente repousam em frontes pouco  merecedoras.
E quando se fala em “princípios”, reporta-se, em especial, a sua formulação que passa, por sua vez, pela lógica do pensamento aplicado ao mundo interno e externo do homem. Isso não seria Filosofia? Daí, não raro vermos essas jovens e doces anciãs, (Literatura e Filosofia) passeando de mãos dadas por aí. 
Desta parceria, recebemos como presentes “Lúcifer Pernóstico”. Um burro, uma carroça e seu condutor. Um grande filósofo, a humanidade e o novo intérprete desse mundo. Difícil delimitar quem é quem nesse jogo: o grande filósofo pode também ser o condutor; como pode ser ainda a carroça, com sua carga de conhecimento tentando abrir caminhos. E por aí afora, outras visões (ou interpretações) são permitidas, pois para aquelas duas anciãs, o horizonte é o limite.
A presente obra do Prof. Manoel Ferreira Neto, Lúcifer Pernóstico, é esse misto de Filosofia e Literatura, num texto leve para filósofos, rico para literatos; e talvez por isso, pouco compreensível ao senso comum. No seu conjunto é uma grande comédia, risível apenas aos mais esclarecidos, se assim pode-se dizer. Mas vale a pena!
É uma comédia, diríamos, culta para os padrões do humor contemporâneo. Naturalmente, o texto será intragável para os humoristas de prateleira de supermercado. Mas o defeito não está na obra...
Mas nada disso importa muito. Vale a leitura saudável de sua obra instigadora que vai muito além da metáfora literária e, pela mesma pena, repensa e redimensiona  o saber filosófico.
Ao autor, pouco importa também o que disserem a respeito de seu hermetismo. Vale-lhe a soberania de seu fazer artístico, pautado dentro dos princípios que julgou ser mais adequados. Afinal, “(...) a opinião dos outros, seja qual for o peso intelectual ou moral que carregue, não deve ser considerada mais importante que a opinião que o artista tem de si mesmo”[2]
Caro leitor, passemos à leitura. Não julgue. Divirta-se.



[1] Advaldo da Assunção Cardoso é graduado em letras e Direito. Advoga na cidade de Diamantina.
[2] FONSECA, Rubem, O selvagem da ópera. SP, Companhia das Letras, 1994. p. 142. 

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