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domingo, 30 de abril de 2017

Plena comunicação é ilusão *By - SANDRA BOVETO



Plena comunicação é ilusão

Acredito que a plena e autêntica comunicação por meio da linguagem verbal ainda é uma ilusão.
Essa capacidade que os seres humanos orgulham-se de ter, que os colocaria em posição superior aos demais seres perceptíveis do planeta, é realmente incrível e fantástica.
Incrível, pois não se pode crer nela realmente.
Fantástica, por tratar-se de uma fantasia.
A linguagem verbal é uma fantasia composta por signos, dotados de certa compreensão devido a convenções humanas. Mas essa compreensão é um tanto subjetiva, leva frequentemente a más interpretações e, muitas vezes, "dá em merda”. Ops! Sim, eu usei essa palavra. Com certa dificuldade, confesso. Por motivos um tanto "não vêm ao caso", tenho resistência, falta de hábito e de vontade de usar palavrões ou palavrinhas feias. Mas, veja só, “merda” é uma das raras palavras que não dão margem a interpretações muito divergentes. Seria, então, pertinente sujar um pouco o vocabulário para melhorar a comunicação? Talvez certas personalidades de destaque no cenário político/social tenham percebido isso há mais tempo e decidiram usar palavrões em situações um tanto impróprias... Ou talvez, por isso, temos visto "elos perdidos" circulando por aí, corroborando a Teoria Evolucionista, usando secreções e excrementos como argumentos... Mas esses seres pertencem a um período anterior ao uso dos signos linguísticos e não me parecem muito racionais ou capazes de manter uma argumentação... Portanto, volto atrás para seguramente desprezar a “m....”, com a conotação acima.
A fantasia da comunicação humana, especialmente a verbal, até poderia ser realidade. Por vezes, parece que é. Mas nós, seres humanos, temos um considerável grau de egocentrismo que nos impede de utilizar regularmente outros componentes essenciais à comunicação, que transcendem os signos e que realmente poderiam viabilizar a linguagem como algo real, a empatia, por exemplo.
Normalmente, os seres humanos estão com toda a sua peculiar racionalidade concentrada nos próprios interesses ou, ainda, não conseguem abandonar a lupa das emoções e ver uma “big picture” do tema; não tentam ir além de ideias preconcebidas; não chegam a perceber que sua visão e entendimento estão intrínseca e irremediavelmente viciados pela sua própria história e experiências; e viciados também pela necessidade de ser o fabuloso proprietário da verdade; de estar naquele suposto lado certo; viciados pelo fato de costumeiramente não admitir, quando na verdade deveria ser um hábito, utilizar diferentes perspectivas durante tentativas de comunicação.
A comunicação verbal (seja oral ou escrita) está comumente viciada, no mínimo, por uma simples questão de o interlocutor estar centrado demais nas próprias emoções e no que vai dizer em seguida, não atentando para os sinais sonoros ou visuais que sua audição ou visão estão recebendo e mandando para o cérebro. Não se trabalha dentro da mente as informações recebidas de forma isenta, pois isso demanda um exercício árduo, além do desprendimento do ego. Considerando nossa humana imperfeição, essa isenção pode apenas ser aperfeiçoada, mas nunca será perfeita.
Então, quem estaria em condições de se comunicar de verdade, com autenticidade? Como evitar batalhas, ainda que nas suas mais suaves expressões? Muito difícil não ser surpreendido, com uma indesejável frequência, pela frustração de um mal entendido.
A plena comunicação pela linguagem verbal é ilusão! Às vezes funciona e às vezes não.
Trata-se, portanto, de apenas mais uma teoria: a Teoria da Ficção da Possibilidade de Comunicação Verbal Plena entre Humanos. Mas é uma teoria cuja prática não pretendo abandonar.
E há um universo onde essa teoria pode ter um prazeroso êxito - o universo da ficção! Talvez, por mera congruência, uma teoria fictícia tenha uma probabilidade maior de funcionar na ficção do que na realidade.
De qualquer modo, é o que temos. Porém não é tudo o que temos.
Ter consciência sobre essa ilusão pode ser um meio de amenizar a nossa deficiência comunicativa. Lembrar-se do fato de que somos, em grande parte, a medida de nossos julgamentos sobre os outros e sobre o mundo pode levar-nos a outras virtudes humanas, supostamente adquiriras ao longo da nossa existência, mas esquecidas nos diálogos diários, tais como tolerância, paciência, respeito, empatia e boa vontade, ainda que essas virtudes se pratiquem pela simples esperança de reciprocidade no trato. Isso pode preencher as lacunas deixadas pelas tentativas de comunicação por signos linguísticos, num estágio ainda muito egocentrado da nossa evolução como seres em treinamento de vida em sociedade.
(Sandra Boveto)

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Estrelas no Céu By Liége Vaz






A noite está calma e o sino da felicidade toca um som sublime, quase angelical na varanda do terraço, embalado pela força do vento. Esse vem do mar, como brisa morna, trazendo frescor para um agradável momento, que se transforma numa imensa paz.

Uma alegria contagiante, com desejo de sonhar acordado, é impulsionada pelo cheiro do café que está sendo preparado na cozinha, que se mistura com o aroma do bolo de milho verde, já disposto à mesa do jantar.

Essa atmosfera registra certo encantamento e um silêncio se faz presente... Um clima de mistério começa a ser percebido pela alma sensível de quem observa, aguçando a sua imaginação...

As flores do jardim exalam seus perfumes sutilmente, enquanto majestosamente se deixam ser tocadas pelas ondulações da aragem... O gato malhado do vizinho preguiçosamente está deitado junto ao portão de entrada da casa, como se estivesse sentindo toda essa magia.

O céu está tomado por pontos brilhantes, que cintilam a luz do luar... O universo se mostra majestoso diante de tanta luminosidade, como se salpicado por purpurinas, dispersas no firmamento.

Nesse instante, o poeta, após abstrair todo essa propulsão de imagens; sons; cheiros e cores, sente que emerge do seu interior toda a sensibilidade poética. Então, se rende a poesia!

Calmamente, procura uma cadeira para sentar e, com caneta e papel em mãos, se entrega inteiro a sua arte, escrevendo um encantador poema...

As estrelas no céu continuam iluminando o espaço celeste, na sua infinita magnitude...

Imagem Google:

https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=309538

Diretos reservados Liége Vaz

sábado, 22 de abril de 2017

TEMOS MEDO DE QUE...???**By Julia Viana



TEMOS MEDO DE QUE...???
De não agradar aos outros, da falta de dinheiro, da violência,
de muita coisa...Em si, o medo não é um problema, e sim o 
medo paralisante, que não agrega nada na vida...

O medo constante não nos serve, e é esse que hoje nos domina,nos deixando estressados e estressantes com tanta violência que vemos! Não há como classificar o nível de pavor que alguns sentem diante de uma situação perturbadora, pois muitos dizem que o medo é uma bobagem, uma fantasia criada pela imaginação de quem o sente, porém todos já passamos por algum episódio perturbador que nos causou pânico...com certeza!!!

Afirma-se que o medo é o maior inimigo do homem...
ele está por trás do fracasso, da doença e das relações desagradáveis...Temos medo do passado, do futuro, da velhice, e da morte...O medo é um pensamento em nossa mente e temos medo dos nossos próprios pensamentos!

Temos medo de deixar passar o tempo e não nos ver nele...
Muitos de nós fugimos de nós mesmos...escondemos nossas perspectivas, nos calamos e embarcamos em devaneios solitários por medo, não somente do julgamento alheio, 
mas também de nós mesmos...

Assim, sozinhos ou acompanhados, parece que o medo está sempre a nos rondar, sempre nos colocando em estado de alerta e, enfim, roubando parte de uma felicidade tão almejada, tão desejada por todos nós...
Deixemos que a graça de Deus nos afaste dos medos doentios 
e restaure em nós o temor a Ele...
Que em tudo possamos ouvir a voz de Deus que diz: "Coragem!"....
Coragem para lutar contra o medo...

BY:JULIA VIANA
BEIJO AUGUSTO

Como eu aguento?
Essa pergunta me vem, às vezes…
fica incerto tempo
e desaparece.
Voltará?
Perguntas e vontades voltarão?
Ou viraram altocúmulos?
Estratos? Cirros talvez…
Quero nimbos,
seguidos de relâmpagos e chuva forte!

Não saber é o que não aguento.
É isso que eu não aguento: não saber!
O que, como, para onde…
qual é o rumo mesmo?
Nau sem norte… já disse isso?
Pois repito.
Gosto de repetir algumas coisas
para me convencer da resposta, essa que não sei
resposta errada
resposta certa
como qualquer resposta sempre foi: certa E errada
nunca uma única coisa
pois verdade é isso mesmo: quimera
pantera, fera, véspera do escarro
mas nunca companheira inseparável.

A verdade é qualquer coisa menos a realidade
é equação algébrica:
X – REALIDADE = VERDADE
Se a realidade for maior que qualquer coisa,
a verdade terá um formidável enterro

E é assim que eu aguento, sem aguentar de saudades
daquilo que eu sei que existe, mas não vejo
da verdade, às vezes, positiva
daquilo que me revelou,
nada mais revelando, além do beijo
do augusto anjo.

terça-feira, 18 de abril de 2017

A Espiritualidade na Vida do Homem By Liége Vaz




Desde os primórdios dos tempos o homem vem assumindo gradativamente comportamentos de premissas terrenas, cujo direcionamento lhe concede maiores prazeres materiais por suprimir da sua anatomia a espiritualidade, regando de atributos importantes o invólucro perecível carnal que o envolve.

Esse entendimento é proveniente dos resultados da formação de cada pessoa, consoante a transição do tempo entre a vida e a morte. Nesse interstício, há incessante busca por extremada apropriação de saberes centrados nas coisas viventes, como se nada mais restasse dessa breve passagem do meio existencial.

Como reflexão, ilustra-se o vigoroso discurso ateísta que nega a existência de Deus afirmando que tudo morre com o corpo, nada mais restando. Assim, não há um “Eu Espiritual Eterno”, muito menos a figura de um Criador de todas as coisas. Essa negação dar ao homem a condição de que os sentimentos são frutos da sua própria razão, e que a finitude da vida acontece com a morte do corpo físico.

Há também um outro grupo que, embora crédulos de uma vida eterna e se digam religiosos, assíduos frequentadores de templos de várias denominações, adotam práticas de apego as coisas materiais, mesmo afirmando acreditar na existência do corpo e do espírito.

Nesse contexto, agrupa-se uma seleta quantidade de pessoas que são impulsionadas por satisfações terrenas e que, nas suas mais resolutas inclinações, visam usufruir dos benefícios que vão se completando ou não como favorecimento dos seus prazeres, não importando se podem causar danos para terceiros, por condão de suas próprias atitudes.

É certo que tudo isso está acima de qualquer religião ou convicções religiosas. Isso porque o homem vem acelerando uma batalha contra ele mesmo, quando desconstrói a sua precípua qualidade de ser humano apartando-se da sabedoria que emana da espiritualidade, que conjugam corpo e alma.

A “ambição do ter” extirpa da essência humana o amor ao próximo e a generosidade fraternal para com todos os povos, não havendo respeito pela cor, raça, credo e opção sexual, uma prática corriqueira entre muitos. Isso é o que se assiste todos os dias nos noticiários no Brasil e no mundo, homens sem escrúpulos usurpando direitos alheios.

Como fato, cita-se como exemplo os muitos casos de corrupção que se avolumam pelo país, onde políticos e empresários, movidos por suas insaciáveis fomes por poder e riquezas, fraudaram dos cofres públicos bilhões de dólares, com reflexos e prejuízos incalculáveis diretos à todo o povo brasileiro. Isto posto, além das características criminosas, essas ações meramente pragmáticas torna-os desprovidos de qualquer conexão espiritual, estando em desequilíbrio com as energias supremas do universo.

Em suma, o desconhecimento da espiritualidade imprime no homem características individualistas que o torna vazio em seu interior, em virtude de incrementada nascente de sentimentos egocêntricos que marca a vida como vã e materialista.


Imagem do Google - https://www.ippb.org.br/textos/1461-espiritualidade-e-discernimento-na-lata
Direitos reservados Liége Vaz

domingo, 16 de abril de 2017

Sobre a Égide do Mal – EUA Abre Uma Nova Ordem Mundial By Liége Vaz





Ao som das muitas trombetas advindas das alucinações descontroladas dos discursos que são veiculados na mídia pelo empresário de New York Donald Trump, atual Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), assiste-se ao surgimento de uma Nova Ordem Mundial, que vem atrelada a uma desmedida fúria transloucada desse indivíduo poderoso que, ao invés de conduzir caminhos para soluções da PAZ MUNDIAL, abre espaço para a GUERRA e o fortalecimento das FORÇAS descontroladas do mal sobre a terra.

Para o mencionado “empresário” e Presidente, fruto dos seus delírios, a culpa de tudo é do seu antecessor Barack Obama que, ao invés de somente ter traçado rotas diplomáticas para conter o avanço bélico no mundo durante o seu governo, deveria ter atacado imediatamente regiões que estão violando acordos internacionais que proíbem o desenvolvimento de armamentos nucleares e químicas, cortando o mal pela raiz. Assim, OBAMA por não ter tomado medidas enérgicas para frear essas ações, crianças e adultos foram mortalmente atingidos pelo gás sarin, no início desse mês de abril, por ordem da torpe cabeça do presidente sírio, Bashar Al-Assad.

Diante desse fato, Sr. Trump autorizou um forte ataque unilateral a Síria, ao lançar 59 mísseis Tomahawk contra uma base aérea desse país, na noite de quinta-feira (6), como resposta ao uso de arma química, matando mais de 80 pessoas. Acredita-se que desses mais 60 eram civis, que morreram nessa ação militar.

Em seu discurso, para justificar a sua decisão, resta evidente, inicialmente, a necessidade de resguardar todos os países de possíveis ataques terroristas, mas em seguida afirmou que a retaliação se trata de um “interesse vital da segurança nacional dos EUA", pois ajuda a "prevenir e impedir o uso de armas químicas mortais".

Porém, Sr. Trump esquece que o seu país é o pai das armas nucleares e químicas de grande destruição em massa... Foram os  norte-americanos que ensinaram ao mundo todo o poder letal das famigeradas formas de matar pessoas com crueldade e, muitas vezes, com grande agruras.

Exemplificam-se as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, especificamente no ano de 1945, por autorização do então Presidente Truman, para forçar rendição do Japão, que matou milhares de civis. Também que foram os EUA que testaram, em 1972, sobre ordem do então Presidente Nixon, após extensos bombardeios ao Laos e ao Camboja, com o início de uma das fases da guerra do Vietnã, a utilização de armas químicas, como o Fósforo Branco e o Agente Laranja, que igualmente vitimou milhares de civis, não esquecendo as bombas incendiárias.

Agora, estamos diante de uma nova arma que faz parte do arsenal dos Estados Unidos, e os seus efeitos só perdem para a bomba nuclear. Seu nome oficial é GBU-43/B Massive Ordnance Air Blast, que vem com a sigla em inglês, MOAB, que quer dizer "Mother of all Bombs", ou seja, "a mãe de todas as bombas". Essa bomba foi lançada na quinta-feira (13), por militares dos EUA numa operação de combate contra o Estado Islâmico(EI) no Afeganistão, com fins de destruir túneis de proteção das forças inimigas.

Nesse sentido, a estrada tortuosa traçada pelo Sr. Trump está por se cumprir, assim como seus textos desconexos e truculentos em sua página social. Ele atua como um gestor que reage por impulsos sentimentais e pessoais, sem uma preocupação maior com as vítimas civis e os próprios soldados norte-americanos (patriotas), que vão desembarcar numa nova guerra, trazendo mais baixas de veteranos para seu próprio país, a exemplo do Guerra da Coreia (1950-1953), Vietnã (1955-1976), Guerra do Golfo (1990-1991), Invasão do Afeganistão (2001-2003) e Guerra do Iraque (2003-2006).

Tudo isso está a fundir-se numa retrospectiva que se entremeia com a hedionda Guerra Fria (1945-1989), pós Segunda Guerra Mundial... Onde declarações veladas, e por vezes calorosas, ocuparam espaços vitais no planeta. Numa constante verticalidade que assusta toda a humanidade. 

De outra forma, a presença observadora da Rússia vem se mostrando diplomática e inquietante, mas sabe-se das suas pretensões de alerta geral. O Presidente Vladimir Putin tem uma forma estratégica e mandatória de tratar a questão do seu aliado Bashar Al-Assad. Assim, declarou rompido acordo com o governo norte-americano, numa demonstração de insatisfação pelo ataque ao soberano Estado Sírio. 

Também, nessa nova Ordem Mundial celerada, aparece a Coreia do Norte com seu jovem ditador Kim Jong-Un, que desafia as ações do novo presidente norte-americano, enviando recados de aniquilamento dos EUA com o uso de bombas nucleares, caso seu país seja agredido pelas forças norte-americanas.

Tudo isso é muito grave! 

Um homem sozinho, que acabou de assumir a presidência dos Estados Unidos da América, está provocando o início de uma catástrofe que pode tomar proporções avassaladoras. Quando, com o poder que possui de superpotência mundial, poderia tentar soluções mais pacíficas e com rotas contrárias à devastação planetária.

Contudo, apesar de todo esse foco de invasões e lançamentos de bombas e mísseis, o número de refugiados está aumentando e o desemprego nos Estados Unidos muito distante do desejado, para os anseios do povo norte-americano. No entanto, foram essas umas das principais plataformas da campanha presidencial de Donald Trump, no objetivo de conter a imigração de refugiados e aumentar os empregos, além de medidas contra imigrantes estrangeiros ilegais, com ênfase para os latinos e povos do oriente médio.

Mas nada parece definitivo! Somente a vontade de transformar a nação norte-americana na mais poderosa e bem armada do mundo.

Por fim, nesse domingo de Páscoa em que os cristãos comemoram a RESSURREIÇÃO de Cristo, estamos diante de um prelúdio real de mortes e sofrimentos se aproximando, rastejando assustadora por vastas trilhas de grande escuridão, em especial recaindo sobre o Oriente Médio e a Ásia. 

Porém, diante da misericórdia de Deus, Alá, Jeová, Buda, Vishnu, Oxalá, roga-se pela PAZ MUNDIAL... Numa referência ecumênica as religiões que cultuam o AMOR e a FRATERNIDADE.

Mas será que esse é o começo do Apocalipse? Cabe a reflexão!

Imagem do Google
Diretos Reservados Liége Vaz

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Calças rasgadas*By Moacir Luis Araldi


Bateram à porta dos anos oitenta ainda adolescentes. Cabelos estranhos, desejos na mala e bolso vazio. Começavam a entender certas rebeldias, costumes e hábitos desta década que para alguns foi perdida, para outros, muito marcante. Traziam na bagagem uma vontade enorme de matar as curiosidades e a fome.
Juntaram-se a outros tantos jovens nos primeiros movimentos pela democracia. Orgulhosamente, de cara pintada, foram ás ruas pedir eleições livres.
Nas noites que passavam na danceteria Cacimba night Club, bebiam cuba libre e gim soda ouvindo Blitz, Cazuza, RPM e tantos outros imortalizados.
Motivado por esta vertente de ouro da música nacional o Brasil marcava época com o primeiro Rock in Rio.
No cenário internacional o mundo conhecia a força musical de Bom Jovi, U2, Pet Shop Boys. Thriller tocava em todos os cantos do planeta. Madonna se tornava unanimidade.
Anos romanticamente alvissareiros em que a Columbia impressionava a todos em seu primeiro voo. A Argentina tentava defender as Ilhas Malvinas, Itaipu finalmente começava a produzir enquanto o muro de Berlim caía, pela paz. Chaves estreava no Brasil e E.T. ganhava as telas de todos os quadrantes. Junto com a esperança de um novo milagre econômico nascia o primeiro bebê de proveta brasileiro.
Foram anos românticos e rebeldes. Talvez só comparado a intensidade da então geração paz e amor.
Sou saudosista deste romantismo marcante. Dos cabelos volumosamente longos, dos amores e roupas coloridas. Época da rebeldia e das calças, propositadamente, rasgadas usadas com os All Star inesquecíveis.
Década em que se voltava para o futuro curtindo nove semanas e meia de amor sem esquecer que sempre haveria um tira da pesada nas ruas de fogo.
Tempos de quebrar regras, inovar, lutar pelo novo, mas mantendo sempre a doçura e a ternura tão própria de uma geração que foi à guerra lutar pela paz.




(Moacir Luís Araldi)

terça-feira, 11 de abril de 2017

CALVÁRIO.... Uma Sexta Feira Santa... By Arnaldo Leodegário Pereira



CALVÁRIO.... Uma Sexta Feira Santa...

O sol, naquele dia tinha um brilho estranho, um triste lamento por Ele que foi crucificado, e inocente pagou pela culpa de toda humanidade. Eu olhava aquele pôr de sol, alguma coisa na minha alma era triste, parecia que aquele sol estava a me chamar ou talvez me acusar... Em uma avenida, Av. Zelina. O ano era 1974. Em algum ponto daquele lugar, eu só olhava, e aquele sol me chamava ou acusava... Às 17: hs, um dourado intenso, aquele céu parecia dizer-me algo que nem eu sabia o quê, porém só minh’alma entendia a razão. Sexta Feira Santa, como Santo era aquele inocente que teve seu corpo pregado no madeiro, cruz fria, pesada, ardente... Estendia à humanidade um lamento, grito de socorro e clemência... Aquela sensação, misto, estranho de que aquele sol ligava-me àquela cruz, eu podia ouvir-lhe os gemidos... Pedindo para ser socorrido por aquela multidão onde misturavam-se gemidos de dor, revolta, angústia, sentimentos de compaixão. Porém, eles sentiam-se pequenos, impotentes perante o poder dos Imperadores, cruéis que sentiam se ameaçados pelo seu poder inocente, más divino. Parecia-me, sentir na carne o cravejar daqueles pregos, sentir na alma o ranger de dentes de uma galera enfurecida... Outros, compadeciam-se. Parei em algum canto da avenida, não me lembro onde... Queria ir para algum lugar... Meditar, refletir,... Parecia que o brilhar daquele sol queria me invadir, sufocar,... Estendia-me um “dedo”, apontando, dizendo alguma coisa... Ir a uma igreja? Um templo? Uma sinagoga? Uma mesquita?... Talvez... Ir para um rio ou um bosque! Será que Ele, nesse instante crucial, em algum destes recintos estaria? Ao fechar os olhos e olhar para dentro de minh’alma, sentir que estava sendo também crucificado, ouvia o choro daquela mulher. Seria ela Maria, minha/sua Mãe? Bernadete, minha esposa/mãe? Talvez?... E a ajuda de Simão, o Cirineu? Amenizou? Maria chorou por nós? Por quem, Maria, minha/nossa Mãe/mulher chorou? ... Ele, abandonado, sacrificado na cruz agonizou. Sentia-me culpado, por ele na cruz pregado!... E, amargurado sentia o peso do fardo,... A luz daquele sol me acusava, condenava, absolvia?,... Pois, sem culpa eu estaria? Era como uma absolvição, ou uma condenação por uma culpa ou inocência que eu não teria! Aquele sol se pôs dizendo-me ore!, Reze, chore! Para lavar alguma culpa, sua ou da humanidade, que não sei por quê naquela tarde veio bater-me à porta ou à face. Aquela Sexta Feira Santa passou, a noite trouxe um alento, pois o dia foi de tormento. Para nós... Passou!... Em meu repouso, minha alma aplacou. A culpa?... Essa não passou... Calvário de um dia que o tempo, em 12 ou 24 horas, naquela tarde, o pôr do sol, a agonia de uma alma, que não sei se minha ou de Jesus, selou. Há dois mil anos, Será que cada um que ali estava seria culpado? Judas, Pedro? João? Que rosto ou nome terá o culpado? Quem será o mais culpado? A humanidade traz essa culpa! Terá essa culpa remissão dos seus/nossos pecados? Seria aquele sol para remir ou iluminar, apontar nossa culpa? Por quê o sol, que iluminava uma Sexta Feira Santa trazia uma mensagem ou ditava uma justa sentença? Judas seria eu, ou nós? Quem pagará?... Este texto faz parte da Antologia de poesias e prosa “ALÉM DO OLHAR”, 1ª edição 2013. Pgs de 55 a 57. Editora Sucesso/Celeiro de Escritores. S Paulo SP. Arnaldo Leodegário Pereira

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Feminicídio – A Mulher Vítima de Gênero By Liége Va



No Brasil tem-se elevado o número de casos de Femicídio, que são ocorrências de assassinatos de mulheres. Essa é uma situação que infere diretamente na questão de gênero, isso porque a morte da mulher ocorre pelo simples fato dela ser uma mulher.

Essa circunstância está se agravando cada dia mais, no seio da nossa sociedade.

A perseguição ao sexo feminino tem sido uma constante e, como resultado, a morte de muitas de nós, por homens que se acham superiores, donos da vida e da morte das mulheres. Necessariamente, não precisa somente ser esposa, companheira, namoradora... Basta que alguma mulher lhe cause interesse – desejo ou raiva - para alimentar na sua mente a vontade de tê-la e abusar do seu corpo, antes de feri-la mortalmente, na maioria dos casos.

Esse é um crime classificado como hediondo no Brasil. Dados estatísticos oficiais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no período de 2001 a 2011, estima-se que ocorreram mais de 50 mil feminicídios, o que equivale a, aproximadamente, 5.000 mortes por ano. Acredita-se que cerca de 40% destes óbitos foram decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher, cujos algozes eram os homens que diretamente se relacionavam com essas.

Portanto, pode-se afirmar que todos os dias cerca de 15 mulheres são mortas no país. Sendo as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte as que apresentaram as taxas de feminicídios mais elevadas, respectivamente, 6,90, 6,86 e 6,42 óbitos por 100.000 mulheres, no período pesquisado.

Isso é alarmante! Trata-se de um verdadeiro e odioso estado de acossamento contra as mulheres, podendo ser classificado como uma misoginia, que é um exacerbado ódio ou repulsa a tudo que envolve o sexo feminino.

Nesse caso, toda sorte de abuso ou assédio sexual, estupro, agressões psicológicas e físicas, tortura, mutilação genital, espancamentos, privação de alimentos e maternidade, que possam causar a morte da mulher, estão inclusos na configuração de feminicídio.

No Estado de Pernambuco, especificamente, estamos vivenciando dias de muita tristeza, casos noticiados nas últimas semanas de feminicídio marcaram toda a nossa sociedade. Entre tantos, a morte cruel e brutal de uma fisioterapeuta de 28 anos, que teve seu apartamento invadido por um vizinho. Momento em que foi agredida e estuprada, no final teve a garganta cortada.

Uma crueldade em uma sociedade tão esclarecida, em pleno Século XXI. Parece absurdo! Porém, assistimos barbáries sangrentas se perpetuarem, como se estivéssemos no tempo das cavernas ou na Idade Média, onde a adoção de medidas de dominação tem fortes indícios para cerceamento da vida das mulheres.

As mulheres estão sendo caçadas e abatidas como animais, de forma selvagem e implacável...

Se não bastasse a discriminação contra tudo que existe... Salários inferiores pagos às mulheres, em relação aos salários pagos aos homens com mesmo cargo; obrigações maternais e paternais de criação e educação dos filhos; jornada tripla de trabalho e tantas outras responsabilidades fazem da mulher um ser em constante e dura batalha pela vida e, por fim, ser morta exclusivamente por ser uma mulher.

É desumano e sem propósitos. Mas é a nossa realidade!

Diante desses assustadores casos de violência contra a mulher, o artigo 121 do Decreto-Lei nº 2.848/40 – Código Penal – foi devidamente alterado, sendo sancionada a Lei 13.104/2015, que passou a ser conhecida como a Lei do Feminicídio. Nesse caso, essa nova lei reconhece esse tipo de crime como uma modalidade de homicídio qualificado, portanto com sanções penais que podem ir de doze à trinta anos, a depender dos agravantes do crime.

Na condição de agravante, a pena pode ainda ser aumenta em 1/3 (um terço) até a metade se for o crime cometido:

· Durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto;

· Contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;

· Na presença de descendente ou ascendente da vítima;

Por fim, essa é uma forma de violência preocupante, pois muitas mulheres em plena juventude estão perdendo as suas vidas, abrindo uma lacuna irreparável na sociedade brasileira. Por conseguinte, ressaltamos a necessidade da adoção de medidas oriundas de políticas públicas eficazes, que se direcionem a uma maior aplicabilidade da Lei Maria da Penha, em vista do enfrentamento das questões dos Feminicídios, para maior proteção as mulheres e, consequentemente, substancial diminuição dos casos de desigualdades de gênero.

Denunciar casos de violência contra a mulher em todo Brasil, pelo número telefone 180.

Fonte: http://www.ipea.gov.br/portal/

Imagem Google – http://lutomensagem.blogspot.com.br/2014/11/violencia-contra-as-mulheres.html



Direitos reservados Liége Vaz

DO PODER DAS PALAVRAS*By Ana Sofia Carvalho



DO PODER DAS PALAVRAS

Às vezes as palavras assustam... Ou serão os gestos ou sentimentos que representam? Porque, em bom rigor, das palavras por si mesmas nenhuma consequência ocorre. Elas não têm - infelizmente, digo eu - o poder de se materializarem nos respectivos conceitos.

Mas há quem, como eu, faça frente às palavras e se agarre à esperança do seu possível - e desejado - poder alquímico. 
Vou dar um exemplo: quando estou em cima da hora para um compromisso de trabalho e sei que o estacionamento é problemático, pronuncio repetidamente, momentos antes de chegar, uma prece para que " eu tenha um lugarzinho". E, acreditem ou não, a verdade é que a esmagadora maioria das vezes, o meu truque resulta. Como não acredito muito na sorte, penso que tal se deve ao poder automaterializador das palavras. E porque não? Palavras, sons, corpos, ar, água, luz e fogo, e nós mesmos, não é tudo composto de átomos e moléculas, e estes de energia em constante movimento? E a nossa mente, cujas potencialidades conhecemos apenas numa ínfima parte, não é ela dotada de incríveis e múltiplas capacidades? Porque não também a de fazer movimentar energia, segundo a sua vontade, algo semelhante à designada telecinésia, mas através da pronúncia das palavras ?

Enfim... Seja como for, se quisermos muito uma coisa, mal não fará, seguramente, dizê-la em voz alta repetidas vezes, tantas quantas queiramos, dependendo da nossa real vontade de o concretizarmos. 
O único problema que antevejo é a forte possibilidade de sermos apelidados de loucos. Mas quem se importa de ser louco num mundo como este em que vivemos, em que actos absolutamente tresloucados como um ataque com armas químicas a uma clínica é tratado com relativa normalidade ( política)?!? 
Antes louca que normal segundo estes padrões, e valha o que valer, em matéria de estacionamento, não me tenho saído mal. :)

ASC
( direitos reservados)

domingo, 9 de abril de 2017

A ÚNICA GANGORRA DE ZOÍ* By Sandra Boveto

(O Menino e o Povoado, Candido Portinari, 1958)



A ÚNICA GANGORRA DE ZOÍ

No parque de diversões, diversidades e adversidades da vida, Zoí recebeu uma gangorra.
De um lado, a vida é bela, tanto quanto pode ser. Desse lado, há coisas duramente conquistadas e outras gentilmente concedidas. Há pessoas especiais, amadas e capazes de amar. Há habilidades aguardando a possibilidade e a alegria da realização. Há um infinito anseio por um conhecimento infinito. Há também olhos que enxergam a beleza em cada coisa e em cada um, sem romantismo, apenas com o realismo de olhar além das imperfeições naturais, sem as quais o belo nem mesmo existiria. Há lucidez e compreensão sobre muito e sobre muitos. Dessa compreensão, decorre uma tolerância firme não apenas ao mundo de fora, mas também ao mundo dentro de Zoí.
Mas há o outro lado da gangorra, pois a vida é mesmo assim.
Do outro lado, está o peso da dor e da exaustão. Estão a ansiedade, a vulnerabilidade e o torpor delas resultantes. Há indisposição sob as mais variadas expressões. Diariamente! Constantemente! Indefinidamente! Há pressões, opressões e impressões coladas, grudadas, impregnadas sobre o outro lado da indeclinável gangorra de Zoí.
A criança elegeu o primeiro lado para brincar, e se esforça para lá permanecer. Apesar de brincar sozinha em uma gangorra, o outro lado pesa ilogicamente. Seus poucos elementos desumanos são dotados de forças sobre-humanas, que compelem a extremidade indesejada da gangorra para baixo, de forma traiçoeira, pérfida. Sem escolha, Zoí desliza sobre a gangorra. Desesperadamente, tenta agarrar-se ao lado que escolheu. A gangorra, porém, torna-se íngreme demais e seu corpo escorrega. Ela é levada por uma gravidade particularmente humana para o outro lado. Os elementos desse outro lado são cruéis e estão lá, à espreita, para atacar, torturar, mortificar... mas apenas isso. Eles duramente maltratam Zoí, mas não a querem fora da gangorra.
Ela não se conforma. Não se entrega. O lado bom da gangorra faz com que ela se apegue e queira permanecer no seu brinquedo, ainda que tenha que recorrer a forças externas, dessas que diminuem o discernimento e reduzem, aos poucos, o tempo sobre sua tão especial gangorra. Zoí opta por recorrer a elas, pois, com frequência, resultam na única maneira de poder subir, rastejar para o outro lado. A frágil criança alcança o ponto médio do precioso brinquedo, às vezes. Mas Zoí precisa ir além, acreditando que se fosse possível colocar-se completamente daquele lado, onde está a melhor parte de si, seria capaz de catapultar, para fora da gangorra, os elementos nocivos que a ela se opõem.
Os pequenos demônios, no entanto, prendem-na pelos pés, enquanto Zoí tenta arrastar-se gangorra acima, apoiando-se numa inexplicável gana por atingir o lado eleito. Ficam ali, agarrados aos seus tornozelos, detendo e puxando Zoí. Muitas vezes ela não resiste e cai, mas permanece consciente, olhando a outra ponta da gangorra, ansiando por ela. Nesse momento, usa toda a energia que lhe resta, e também aquela que surge apenas de olhar para o lado bom, para não se lançar para fora da sua única gangorra.
Essa é a gangorra de Zoí... é a sua única gangorra... e ela não se ocupa pensando se há gangorras melhores ou piores. Mas, em alguns momentos, pode olhar em volta e ver outras crianças brincando, brigando, lutando pela sobrevivência em seus próprios brinquedos. Percebe que nem todas sobrevivem – algumas crianças caem e outras se jogam. Vê também que muitas não brincam sozinhas. Zoí é apenas mais uma criança em um imenso parque de diversidades, adversidades e, também, diversões da vida.
Com o passar das estações, a gangorra de Zoí revela típicos sinais de ferrugem e desgaste. Esteve sempre exposta às intempéries desse parque solto no espaço, ao longo do tempo. Sua estrutura demanda reparos, mas ainda não há ferramentas ou técnicos capacitados a reparar defeitos tão peculiares.
Sozinha sobre a gangorra, Zoí busca o equilíbrio. Lembra-se, no entanto, de que o propósito de uma gangorra não é o equilíbrio.

No futuro, a gangorra de Zoí vai parar sobre um dos lados. Qual será?

- Sandra Boveto -

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Recomeçar É Viver Outra Vez... By Liége Vaz






Carolina estava sozinha, sentada em frente ao mar. Pensava nos longos dias que enfrentou a morte de sua mãe. Um vazio muito grande ainda preenchia a sua vida. Quase dilacerou a sua alma, fazendo enorme estrago em sua aparência, que agora parecia muito magra e abatida.

Acostumara-se com a convivência de anos e, apesar de serem mãe e filha, eram amigas inseparáveis. Como era necessária a presença de sua mãe? Tudo nela lhe fazia bem, a voz doce e sempre pausada, os cabelos brancos caídos na testa e o agradável cheiro de alfazema, que não dispensava.

Era uma mulher altiva e carinhosa... Amava fazer caridade. Se pudesse doava as próprias roupas. Sem contar o terço em suas mãos, sempre com orações para família e amigos. Mesmo nos últimos dias, abatida pela idade, gostava de fazer alguma comida gostosa, que somente ela detinha a técnica. Como não lembrar o bolo de macaxeira saboreado com uma xícara de chá de capim santo, servido na varanda da casa? As caminhadas ao amanhecer no calçadão da praia, para ver o Sol nascer? Dias inesquecíveis e memoráveis...

Então, ali sentada, olhando para o oceano, os pensamentos percorreram o livro da sua vida... Os dias que precisou do colo, por uma bobagem qualquer ou, ainda, os aniversários que eram comemorados com muita alegria. Sua doce mãe era caprichosa... Todos os preparativos e guloseimas da festa eram por ela feitos manualmente e carinhosamente. A adolescência foi mesclada por rebeldia e castigos, que pacientemente foram conduzidos com certa dureza, mas cheios de afetos, que somente as mães sabem como proceder.

O namoro e casamento foram difíceis, pois sua mãe nunca aceitara aquele que viria a ser seu genro, até que houve a separação. Sempre soube que sua mãe tivera razão... O pai dos seus filhos não foi uma boa escolha. Fazer o quê? Aconteceu e foi uma experiência válida, pois os filhos ficaram e tornaram-se pessoas maravilhosas.

Por mais de 20 anos, após a separação do esposo, esses foram vividos perto da sua mãe. Ela era o seu porto seguro. A sua confidente... A maior companheira em vida. Agora, estar sozinha em uma casa cheia de recordações, era por demais cruel.

Pensar que, os filhos casaram, seu casamento foi desfeito e sua mãe a deixara... Isso a fazia explodir em lágrimas. Não conseguia mais comer e dormir direito...Estava à beira de uma depressão.

A sensação de fracasso era quase terminal...

Naquele momento recordar era o que lhe restava... Precisava buscar forças para viver com todas as ausências que lhes foram impostas pela vida. Tinha consciência que nunca mais nada seria igual, e o que ficou para trás estava marcado em seu coração. Sempre as lembranças estariam rodeando sua mente e, algumas vezes, haveria de chorar.

Mas algo dentro dela dizia: - Não se renda ao fracasso. É necessário despir-se da amargura, para dar um novo salto em direção a construção de uma nova história de vida... Nada seria como fora antes. Conscientemente entendia que a realidade agora era essa... Assim, melhor redirecionar sua trajetória ou esperar envelhecer amarga e solitária.

Nesse instante, Carolina levantou, olhou para o mar que estava sereno e enxugou as lágrimas, expressando um sorriso para o nada... Foi nesse momento que teve certeza que era preciso tomar uma atitude... Sabia que tinha suas recordações presentes, porém, em algum lugar, haveria de encontrar o fio que seria a ponta inicial de uma nova caminhada, para recomeçar a sua vida.

Era preciso tentar e seguir adiante...

Imagem do Google - https://dosurf.com.br/olhando-para-o-mar/

Direitos Reservado Liége Vaz.
Líquido Seco

Líquido, desfaz-se e busca a solidez,
na solidão eterna de um momento líquido.
- Barman ou Bauman?
- Ambos, por favor!

Há pontas, há ondulações,
há mágicos atritos que arranham e acariciam.
Líquido seco que o caos acalma,
que a calma tinge de guerra,
com a cor do sangue, sem a dor da alma.

A língua morre aos poucos,
entrega-se à morte do mundo que não vive.
Língua morta de uma mente viva
que nunca morre, que nunca dorme,
que sangra na taça.


(Sandra Boveto)


domingo, 2 de abril de 2017

No limiar da Loucura By Liége Vaz





Os nossos pensamentos interligam-se por ondas cerebrais invisíveis que, como teias, se entrelaçam por espaços longínquos em nossa memória, podendo emergir, de tempos em tempos, para o mundo real com a mesma força do fato à época vivenciado.

Muitas vezes tão nebulosos que mal cabem no espaço temporal da verdade presente. Porém, são resgatados de um breve instante de ruptura incompreensível dos sentidos para o consciente, dentro de uma realidade não mais tempestiva.

Trata-se de lembranças daquilo que experimentamos no passado, e que profundamente nos marcou...

O percurso desse emaranhado de caminhos cerebrais, por sobre brechas e frestas de espaços onde estão armazenados os compartimentos neuronais, muitas vezes são subtraídos de forças do estado consciente, para controlar determinados sentimentos e atitudes que venham a emergir, quando o inconsciente atua livremente no resgate de certas recordações.

Isso porque todos esses turbilhões existenciais estão aprisionados na memória de longa duração e, vez por outra, levemente, ou por um determinado gatilho que o aciona, respiram à consciência, com propulsões sem sentido límpido. Quando isso ocorre pode produzir os estados emocionais mais diversos, como: alegria, euforia, choro, desgosto, raiva, tristeza, saudade... E isso tudo faz parte do passado, mas o sentimento se torna robustecido no presente.

Loucura! Talvez não.

Todos seres humanos constroem e reconstroem as duas vidas a partir de constantes fugas do seu interior, para o mundo exterior... ou vice versa. Burlando qualquer conceito de perfeição do psicológico, sociológico ou filosófico. As barreiras da abstração do próprio ser existencial são rompidas, para um plano holístico que norteará o equilíbrio da visão que se tem da própria vida.

Nossa mente vive múltiplas e facetadas ondas que se entremeiam lineares, quando estamos no controle da lucidez, ou perpendiculares e oscilantes nos momentos dos devaneios. Como um invólucro dualista, entre o racional e o senil, que busca em nosso interior a própria verdade, para conviver com o caótico e eufórico mundo que nos encurrala, cheio de conflitos nos afugentando para cima ou para baixo, como parcela da nossa vã existência em determinados instantes da vida.

As nossas angústias e alegrias sobrevoam em órbitas congruentes, mas podem flutuar por ramificações cerebrais que se agregam em determinados momentos a outras situações, para transformar-se em novos sentimentos, conforme vamos reconstruindo em nosso interior premissas de satisfação.

Somos seres humanos complexos, distintos e ímpares... Não há um só igual. Nem mesmo aqueles que se intitulam almas gêmeas. Isso procede! Somos multíplices em tudo e as vezes em quase nada... Embora análogo no desenvolvimento das funções, somos distintos quanto a própria estrutura sensorial e perceptiva de mundo. Isso nos concede habilidades e competências únicas e próprias.

Portanto, muito bom que possamos pensar que recordar é viver... Porém, melhor ainda, é saber que todo o nosso cabedal de capital intelectual está retido em nossa mente e todo esse conhecimento armazenado, ao longo da nossa existência, sempre estará a nossa disposição, para que possamos aperfeiçoar nossas funcionalidades humanas, com reflexões mais profundas sobre o sentido da vida terrena. Também, que é possível melhorar o universo que nos rodeia, tão cheio de tribulações e fugaz.

Imagem do Google - http://istoe.com.br/142710_A+RECONSTRUCAO+DA+MEMORIA/


Direitos reservados Liége Vaz

"Louloúdi e o jardim *By Sandra Boveto






"Louloúdi e o jardim 
Desde a semente Louloúdi foi insignificante. A efêmera flor cresceu assim, criou folhas assim, formou botões assim e assim floresceu, puramente insignificante. O tempo em flor com viço não durou muito. Ela está madura, mostrando sinais de que realmente vai murchar, como todas as flores do vasto jardim. A plantinha frágil criou um pouco mais de robustez ao longo da vida, e não é qualquer brisa que a dobra ou mesmo desfolha. Porém, agora que entrou no estágio pós-florescimento, às vezes ainda se sente fraca diante das tempestades, e algumas pétalas caem quando o vento é muito forte. Louloúdi já sabe lidar melhor com o fato de ser apenas mais uma plantinha nesse imenso jardim, até porque percebeu que todas as plantas são assim. É certo que algumas nasceram e cresceram em locais mais férteis, mais amigáveis e foram protegidas, por plantas maiores, do excesso de sol ou chuva e do vento forte. Receberam luz o suficiente e foram melhor irrigadas. E, dentro do seu próprio universo, sentiram-se mais significativas. Outras não sobreviveram à fúria da natureza e não cresceram. Não chegaram a florescer ou, ainda, apodreceram cedo demais, sem ao menos dar-se conta de um conceito próprio de significância. Cada solitária flor desse jardim tem seu relativo valor, que supera a sua individual insignificância. A ausência de Louloúdi não destruiria o jardim. Contudo, a sua presença pode deixá-lo mais colorido e mais fértil."

 (Sandra Boveto)
Direitos reservados ao autor.