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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Esperança de preciosidade - Manoel Ferreira Neto



O amor é a síntese mental que procede do simples para o complexo; é um leque  de prazeres.
Antônio Nilzo Duarte – Sentimentos da Esperança

Todos guardamos recordações que só ousaríamos re-velar a amigos íntimos, a algum parente a quem amamos de modo especial e em quem confiamos. Há outras, porém, que nem a amigos íntimos poderíamos re velar, mas apenas a nós mesmos, e, ainda assim, no maior sigilo.
Há coisas que temos medo de dizer a nós mesmos, e todos, até os mais honestos, acumulamos uma boa quantidade  delas. Melhor ainda: quanto mais honesto for o homem mais terá dessas coisas. Em todo caso, Nilzo Duarte decidiu escrever suas memórias, a história de sua  vida ao lado de sua amada e venerada esposa e amados filhos – como ele próprio diz “dona Neusa”, dotado dos sentimentos da “virtude, sabedoria e inteligência” – reconhece-se aqui a sua profundidade cristã e humanística: são elas dimensões divinas e quem a elas se entrega os frutos serão alimentos eternos. Agora que se decidiu a escrevê-las, quer experimentar a possibilidade de ser inteiramente sincero para consigo mesmo e não temer a verdade total.
O que é isto – a verdade  total? Dizer aberta e lucidamente todas as coisas, sem medos e sentimentos de vergonha?  O que justificaria tal atitude? Tais atitudes necessitam de fundamentos, de algo que as justifique. A pedra angular de suas memórias é o amor verdadeiro e espiritual por “dona Neusa” e seus filhos. Mergulhando no íntimo, no âmago de sua alma espírito, conhecer a verdade, a verdade que lhe habita – ou melhor, conhecer o amor, o seu estilo e linguagem do amor, o seu modo de entregar-se, tornar-se amor, tornar este amora sua verdadeira carne. E o que é amar?É querer bem ao outro, desejar-lhe felicidade, alegria, real-ização dos sonhos e desejos.
Amar “tem o  calor veemente”- calor que se sente no sangue que per-corre as veias em todo o corpo, e este sangue  “quente” e “efusivo” envolve a alma de esplendor, plen-itude, éter-(n)-idade,     configurados  e simbolizados na devoção, na experiência própria de busca do místico, do silêncio e do deserto que re-velam a grandeza  da interioridade dos sentimentos divinos que habitam o peito de Nilzo Duarte, de todos nós os homens, criaturas de Deus que somos.
O itinerário de escritura de suas memórias, desde o primeiro volume – são três – segue a trilha do caminho do campo, isto é, do simples para o complexo, num movimento de ascensão, elevação sensível, do vivido, experienciado na contingência, para o desejado, querido, a espiritualidade, eivado de sentimentos e emoções que, às vezes, deixa-lhe suspenso no interior da felicidade e do tédio, da alegria e da tristeza, do prazer  e melancolia, mas que re-vela a verdade a que aspira, quando os verdadeiros sentimentos de  felicidade interior se concretizam.
A liberdade, sabia-o desde a primeira palavra que registrara, tornar-lhe-ia verdadeiro, a verdade o tornaria livre. A esperança de mergulhar em seu amor por “dona Neusa” dizia-lhe uma  voz profunda e meiga, fá-lo-ia real-izar o encontro com a mulher a quem tanto amou, encontro espiritual – o encontro do amor “puramente verdadeiro, este nasce espontaneamente de nosso coração e se sentirá resguardado em nosso peito, por tempo ilimitado”.
Com o sentimento de amor – que foi sendo re-velado, manifestado, dito, ao longo  dos anos que estivera voltado exclusivamente para a escritura de suas memórias, crescendo, amadurecendo, real-izando-se divinamente nos sentimentos interiores – o mundo para Nilzo Duarte trans-figurou-se, trans-formou-se, trans-mudou-se, re-vestiu-se de felicidade, alegria, de tal forma que sentiu não ter lugar no uni-verso para ele, pois que era homem quem admitia, reconhecia de modo sincero, real e sério que todos os vislumbres desse amor por “dona Neusa” notabilizaram-lhe o espírito e a vida que viveu.
Notabilizar o espírito, a vida, tem uma “constante” esperança”, são Sentimentos da esperança – título da obra que id-(ent)-ifica com clareza e transparência os desejos que habitam o coração de Nilzo Duarte, isto é, o amor lhe dera a possibilidade e oportunidade de penetrar na esperança e mostrar os sentimentos que nela habitam – que sensibiliza o íntimo, reflete a luminosidade, ao ser oferecido o visual surpreendente do que significa isto “amar” alguém, dedicar-lhe a  vida inteira. O clarão desta notabilização do espírito e da vida emite a singularidade do espírito, oferecendo aos homens as águas cristalinas da espiritualidade, “intensidade espiritual que talvez não se possa explicar”, mas que abriga os segredos e mistérios das criaturas humanas sedentas da redenção e ressurreição. O amor é a trilha do campo que nos leva e eleva a Deus.       























[1] Esta crítica ao livro de Antônio Nilzo Duarte foi pela primeira vez publicada pelo tablóide E agora?, Setembro/Outubro de 2008, Edição 34. Re-publicando textos, não há não fazer algumas modific ações, no sentido de tirar as “gordurinhas”, acrescentar palavra aqui e ali, dividir algumas com hífen, para alcançar a profundidade que fora pensada  no momento da escrita e não realizada. Fora neste artigo que comecei a assinar o meu nome artístico Manoel Ferreira Lemos. 

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