Ubinam gentium sumus?
Façam o favor quem possa, esteja
autorizado, sinta-se consciente de sua res-posta, com que cara – de pateta?
Patético? Idiota? Não importa quanto tempo será necessário para uma res-posta
além do cabimento, abarque todos os horizontes e uni-versos do conhecimento,
sabedoria, sapiência. Se a verdadeira vingança é mais bem servida em prato
frio, as grandes e insofismáveis res-postas serão sólidas após séculos e
milênios de questionamentos e in-vestigações, in-ventários, pesquisas – ficaria
um homem que se respeita, portador de amor-próprio sem precedentes, andando
pelas ruas, avenidas, becos, alamedas, carregando uma pasta, só Deus sabendo o
que nela há dentro, e ouvindo perguntar a todos se sabiam do grande sucesso, do
sucesso in-descritível e in-comensurável, o sucesso dos sucessos: Mané da Pasta
reivindicou dos legisladores leis para coibirem a prática sem limites do
adultério em motéis, o turismo está sofrendo conseqüências várias devido a este
despautério, os escândalos aumentaram, ninguém ainda matou o cônjuge, mas as
separações multiplicaram-se.
“Aos pés de V. Excia., digníssimo
Presidente, vai o abaixo assinado, nome, manuscrito, o resto dignamente
digitado, pedir a coisa mais justa e séria do mundo.
Rogo-lhe um “tempinho” de sua
vida atarefada, trabalho e pré-ocupações di-versas são o que não lhe falta,
dinheiro talvez, prestar-me a atenção devida por alguns instantes, a leitura
não será cacete, intragável, perca de tempo, há pontinhas de humor ácido nestas
palavras com que me dirijo à V. Excia, com que con-verso com os digníssimos
legisladores desta egrégia casa de legisladores, que fazem rir à sorrelfa de
idílios compactos; não é desejo ou intenções tomar-lhe o precioso tempo,
incomodar-lhe com picuinhas irrelevantes, a corrupção anda tão à solta em nossa
comunidade que as reuniões de votações de projetos de leis acontecem todos os
dias, haja papel para editar as leis coibindo os infratores.
Não ignora, V. Excia., que, desde
que nasci, nunca me furtei ao trabalho, em primeira instância no Armazém
Patrícia, na rua João Pessoa, frente ao SAMDU, de secos e molhados, até a idade
de dezenove anos, quando participei minha mudança para a capital, real-izar o
sonho de ser advogado, estudei com afinco e responsabilidade, não fui gênio das
interpretações e análises das análises das leis, cláusulas e emendas da
Constituição Brasileira, também não fui aluno medíocre, a inteligência
garantiu-me sólidos conhecimentos. A minha especialidade jurídica, uma vez
graduado, é o direito familiar, divórcio provocado por adultério. Uma vez
consultado pelos clientes, ávidos de justiça, re-conhecimento e con-sideração,
resgatar-lhes os sentimentos e dignidade, tomo a cruz nas costas de
divorciar-lhes vez por todas, nem no inferno ser-lhes-á possível qualquer
reconciliação, não meço esforços e lutas, jamais os meios justificam os fins,
os fins estão fundamentados nas leis como foram idealizadas pelos legisladores.
Também não indago de outros serviços: podem ser políticos, literários
referem-me aos direitos autorais, comercial, industrial, rural, o que for, uma
vez que é direito do cidadão lá estou com toda pompa e categoria,
defendendo - só trabalho com defesas,
aos advogados de acusação sempre faltam as evidências e feitos comprometedores;
assim é que escolhi o adultério como objeto, a cama e o casal adúltero são
provas fatuais do delito, da infração do respeito conjugal. Trato com comerciantes, empresários,
professores, gerentes de banco, funcionários, vereadores, prefeitos,
açougueiros (no adultério não há distinção de classe, desde que se é homem o
adultério se faz presente e real; só não trato com padres, bispos, cardeais, a
especialidade de alguns deles é a pedofilia, o que resolve isto é o direito
canônico, disto nada entendo).
Cheguei até, Sr. Presidente – (e
digo para mostrar atestados de tal ou qual valor que tenho) -, cheguei a
aposentar alguns casais por anos de fidelidade e respeito, trabalho exacerbado
em nome da criação, formação moral, ética, acadêmica dos filhos. Alguns casais
distribuíram as tarefas entre si, distinguindo-se uns, outros sobressaindo,
outros pondo em relevo algumas qualidades particulares. Não digo que houvesse
injustiça na aposentação, mas em determinados casos as mulheres mereceram uma
aposentadoria maior, além de serem mais sensíveis e reais na criação dos
filhos, mais compreensão e entendimento, souberam educar-lhes com primor no
tangente à vida sexual, nenhum dos filhos neste despautério chamando adultério.
Os casais estavam cansados, esta é a verdade. Trinta, trinta e cinco anos
educando filhos cansa em demasia.
Ficando eu com a incumbência de
ser justo, distribuir a aposentadoria, a cada um a quantia merecida,
naturalmente tinha muito a que acudir, tinha muito a que cuidar, e repito a V.
Excia. Que nunca faltei ao dever, não reivindiquei dois salários de
aposentadoria à mulher por ser o sexo frágil – isto é um equivoco: quem é o
sexo frágil é o homem; fizesse eu isto, seria criticado com categoria, não
tinha noção da realidade, e teriam razão -, por sofrer e preocupar-se mais com
os destinos da família, por haver perdido noites e noites de sono com os
problemas quotidianos de uma família, em detrimento de só um do marido que se
preocupou apenas com satisfazer as necessidades financeiras e materiais; não
reivindiquei dois salários de aposentadoria ao homem, por haver sido mais
sensível, compreensível com os filhos, por lhes ser mais afetivo, pelo amor
incondicional que lhes devotara com esmero e engenhosidade, por haverem sido a
mãe. O teto máximo de aposentadoria por fidelidade e responsabilidade com a
formação e educação dos filhos sempre foram dois salários. Como só tratei de
três casos neste sentido, todos mereceram dois. E para a gente de minha classe
isto estrompa e mata. Direito familiar é
um osso de pescoço daqueles.
Não tenho quaisquer presunções de
ser digno, honrado, honesto, não tenho presunções de perfeito gênio. Não tenho
presunção de jurista sem igual na história da humanidade, do século XX, de
nossa comunidade do século XXI. Sou útil, ajusto-me às necessidades dos homens,
indivíduos, cidadãos, ajusto-me às circunstâncias, e sei explicar as idéias,
sei estabelecer e fundamentar as intenções, sei distinguir o trigo do joio.
Alguém de minhas relações nesta íngreme carreira jurídica, não declinarei o
nome, não se faz mister, diz que ao advogado de acusação cabe mostrar e
de-monstrar que o joio transcende o trigo, e veja, Sr. Presidente deste egrégio
Olimpo dos Legisladores, jamais perderam uma causa sequer.
Não é trabalho, mas o excesso de
trabalho que me tem cansado um pouco – desculpe-me a sinceridade e franqueza,
mas está para existir outra cidade cuja prática essencial é o adultério. Meu
Deus!... Até na sombra tem adultério. Receio muito que me aconteça o que se deu
com outros: aposentaram-se por cansaço mental, não conseguiam mais raciocinar
com dignidade no que tange à execução das leis. Isso de se fiar uma pessoa no
re-conhecimento alheio, na generalidade dos feitos e compromissos é erro grave.
No Direito não se fia, des-fia-se as inconseqüências, imoralidades, corrupções,
e tece-se a postumidade dos valores éticos e morais. Quando menos se espera, lá
se vai o sonho, lá se vai a realidade, lá se vai a quimera, lá se vai a
fantasia, é-se destituído de tudo, chega alguma pessoa nova, amante e defensora
da modernidade, ad-miradora inconteste das ilimitações, e encontra cúmplices e
álibis, a favor de tudo, que tudo seja permitido, o vazio é porta aberta para
outros horizontes, ambas as mãos da experiência de um passo que só ocasionou
alienação, não valem um dedinho, o mínimo, das esperanças da juventude.
Mas vamos, Sr. Presidente, ao
pedido que lhe faço, às reivindicações aos senhores vereadores desta egrégia
casa. O que eu impetro da bondade, solidariedade, compassividade de V. Excia.
(se está na sua alçada; não sou daqueles que pensam que por serem vereadores,
fazedores de leis, tudo é da alçada de vocês) são leis que coíbam o adultério
em motéis da cidade, ainda que a motelaria seja extirpada vez por todos, os
moteleiros vão para a porta da igreja com um pratinho na mão para acolherem as
moedas – lembra-me do mendigo Chico que pedia esmolas pelas ruas, esmola para
almoçar e jantar, não para beber e fumar, não fumava e nem bebia -, com elas
comer um daqueles “pratos-feitos” do Bar da Praça, gordura além do limite (até
se faz a pergunta contundente: afinal, estou comendo ou tomando gordura), sal à
vontade, um convite solene ao colesterol e à pressão alta. Seria melhor que os
adultérios sejam praticados nos lugares ermos da cidade, escuros, distantes,
dentro dos carros; lá as mulheres jamais des-cobrirão seus maridos fazendo
coisas que com elas não fazem, as mulheres praticando gestos indecorosos, acima
de tudo não haveria escândalos, nenhum risco de crime passional. O que me
importa é salvaguardar a nossa comunidade de tantos atos espúrios ao valor mais
do que divino que é a família. Coibidos os adultérios em motéis, veremos que
ainda se torna possível o resgate da idoneidade matrimonial e cristão,
espiritualidade e sensibilidade. Creio que Deus exagerou na Tábua das Leis que
entregou a Moisés, ao invés de 10 mandamentos, três já eram suficientes: não
matar, não roubar, não desejar a mulher do próximo.
Peço pouco, Sr. Presidente e vereadores deste
plenário: apenas impedir que o matrimônio seja riscado de nossa comunidade, os
homens se tornem solitários, pinguços, cachaceiros, paus-d’água, destruam o bem
mais preciso que e a vida, pois ninguém é capaz de viver sem alguém, ninguém é
capaz de viver sem amar e ser amado, ninguém é capaz de viver sem comprometer o
coração, enfim precisa de aventuras, chato isso de estar sempre bombando o sangue. Alguém que lhe dê condições de
superar os problemas quotidianos, mulher não vive sem homem, homem não vive sem
mulher, aliás, o próprio livro sagrado diz com divinidade: “crescei e
multiplicai”.
Deus, feito o mundo, descansou no
sétimo dia. Pode ser que não fosse por fadiga, mas para ver não era melhor
con-verter a sua obra ao caos; em todo caso, a Escritura fala de descanso e é o
que me serve. Se o Supremo Criador não pôde trabalhar sem repousar um dia
depois de seis, quanto mais este criado de V. Excia., quem de todas as formas e
modos reivindica a moralização do casamento, da vida conjugal.
Não faltará quem conclua, diante
de todas estas palavras e sentidos profundos, que desejo de todas as pessoas,
cidadãos, homens e indivíduos, libertar-me da saga de minha família, somos seis
irmãos, e todos adulteraram os princípios matrimoniais, trariam com rigor e
prepotência. Uma delas pensou que os filhos eram mais importantes que a vida
dela, sofreu o diabo que o pão amassou com o rabo, apanhou do ex-marido por
visitar as filhas, adoeceu, contraiu o lúpus, doença psíquica, devido às
defesas que a alma e o corpo criam para não haver sofrimentos e dores, morreu
em dois anos. Enfrentando sérias dificuldades financeiras, o ex-marido lhe dera
o apartamento para viver; entrando em casa, as filhas lhe disseram: “Você não
faz a menor falta nesta casa”. Assim dizem. Será que um homem solteiro trai?
Nunca me casei. Não tenho nem casos. A minha vida é o “direito familiar”.
Se algum direito tenho a
reivindicar a esta casa, maiores e infinitos têm os casais desta comunidade que
sempre primaram pelas virtudes e valores do espírito conjugal, cujas esperanças
são a imortalidade da família, secular e milenar.
Contando receber mercê,
subscrevo-me com elevada consideração de V. Excia., admirador e obrigados
verbos Salientar e Enfatizar.
Lavre-se portaria, dispensados os
emolumentos”.
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