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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

CORCOVADO DO SILÊNCIO XX – IN-VERNO E VENTOS GELADOS Manoel Ferreira Neto





Não me digais que eu mesmo estou a renunciar o meu castelo de cristal muito cedo, pela única e exclusivíssima razão de não vos mostrar a língua. Que me importaria se as coisas não se arranjarem assim, o castelo de cristal não seja instalado, tendo de alugar um cantinho no chiqueiro, até com buscas de papel nas narinas ou algodão para não morrer cedo devido ao odor fétido, isto se for possível chegar lá.


Digo-vos que durante cinqüenta anos, permaneci silencioso no meu canto, cuidando disto e daquilo, tentando desvencilhar-me de inúmeras dificuldades, mas devido a sair do buraco, falo, falo, falo...


Se vim para dizer alguma coisa, então que seja para transformar, melhorar... Caso contrário, não mereço nem o chiqueiro, e o pior de tudo é que sou eu quem respondo pelo não-merecimento.






“Quanto mais eu ando


Mais vejo estrada


Mas se não caminho


Não sou é nada


Se tenho a poeira como companheira


Faço da poeira o meu camarada”






Eis a sábia e inteligente sagacidade de minha alma: não oculta o seu in-verno e os ventos gelados vindos de entre as montanhas; nem sequer omite a sua primavera que vislumbra o olhar e os mais recônditos sítios do espírito. Sábia e inteligente astúcia de meu olhar: re-vela as paisagens e cenário dos jardins floridos, da grama no alto da montanha verde e viçosa, armazena na sensibilidade e memória as cores as mais variadas e deixa os sentimentos se aflorarem inspirados pelo doce aroma principalmente das rosas e crisântemos.


Sem me enveredar pelas alamedas do romantismo, olho as coisas e sinto-as na intuição e percepção de uma vida que realmente existe, e seu dom e merecimento são a felicidade -, e porque não o devaneio compacto? Ando feliz, reflexivo, sentindo-me homem nas entranhas, e acredito que a Vida é o Amor que tanto sonho. Idílios compactos para os ímpios e, aliás, só os ímpios muitas vezes são capazes de sonhar e realizar seus sonhos por acreditarem em suas palavras, tornaram-nas uma apresentação e também uma representação da longa viagem noite adentro, a carruagem passando por lugares íngremes, os vaga-lumes acendem e apagam suas luzinhas próximo à janela, e sigo a viagem para o infinito, para a eternidade, levando na algibeira as verdades que fui colhendo através das experiências e dificuldades; sempre, conscientizei-me de que necessitava acender uma vela à janela, após a real-ização de meus devaneios e atitudes ímpias com uma verdade que colhi, fruto da contemplação, esta sede de conhecimento.


Sui generis fora precisar passar na loja de produtos veterinários de Iliara Jasmine, estando o rádio ligado, tocando As long as I can see the light, Creedence Clearwater Revival, que tantas vezes ouvira na adolescência, chegando a colocar no crepúsculo uma vela acesa atrás da vidraça da janela, cantando a música. Disse “sui generis” porque estou relendo a missiva de dias anteriores a hoje, e antes de haver ido à loja, ouvido sem menos imaginar essa música,a tendo, então, essa intuição de registrar para que saiba como está sendo escrita essa missiva, os detalhes que entram no jogo não sei se para elucidar ou se para confundirdes na in-terpretação.





O verso interessante que guardei na memória para registrar aqui fora: “Put a candle in the window/Cause I feel I´ve got to move”, isto é, “Ponha uma vela na janela porque sinto que tenho de partir...”. Se fosseis vós a dizer-me isso, com efeito, iria sentir-me perdido, confuso, enfim, não ireis mais ouvir-me, não poderia continuar essa missiva, após tantos dias de esforço e dedicação. Se fosse eu a dizer-vos, quem sabe pedisse para esperar um pouco, pelo menos até que termine, decida espairecer um pouco as idéias em Coriaçu do Norte, imbuindo-me de outras situações e circunstâncias. Seria até interessante viajar por uns dias, retornando continuar a escrever-vos, teria muitas situações e circunstâncias a serem acrescentadas, os colóquios com os amigos deram muitos requisitos interessantes a serem abordados.

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