“Não se é um
ser humano enquanto não se encontra alguma coisa pela qual se está disposto a
morrer”.
Palavras não são junções de letras ou o balbucio
ininterrupto de uma criancinha prestes a dizer para o mundo a sua primeira
criação gramatical, mamãe, papai. É mais que isto, Palavra é feitiço, mexer e
remexer o caldeirão, no eterno cuidado de colocar os ingredientes certos, e a
formula da vida só é finalizada com o abracadabra do feiticeiro. Abracadabra e
tudo foi criado. Aqui ocorre a tênue dialética que existe entre o começo e o
fim, dialética esta que nos leva rumo a nossa existência, rumo ao comprometimento
com o todo.
No dia 1 de
abril do ano 2005 iniciei uma viagem que de certo modo me encantou, fui
impelido a tomar posse de palavras que não eram minhas, mas que no fundo faziam
parte da minha existência onto-teológica; uma existência que na sua inquietude
juvenil se encanta facilmente.
E deixei-me encantar pelo caldeirão do feiticeiro
das palavras sábias, e me comprometi com as palavras sagradas de sua tese (Sartre
à luz da experiência mística). Descobri que o sagrado está realmente sacramentado
na loucura do cotidiano a ponto de poder parafrasear o próprio Sartre quando
disse: “Não se é um
ser humano enquanto não se encontra alguma coisa pela qual se está disposto a
morrer”.
Caríssimo amigo Manoel Ferreira a
sua tese é oração, é vida, é caminho. Mais do que eu, você sabe que estamos hoje vivendo em uma
encruzilhada histórica, em um momento de crise de paradigmas, de perplexidade,
pois se quebrou uma nossa visão do mundo e ainda não acaba de nascer a
seguinte, apesar das vozes que indicam que outro mundo é possível. Para uns o
melhor é agarrar-se à categoria de milagre como espera inerte. E para outros se
tenta à sorte do Kairos, ou seja: o momento atual pode ser um momento de graça,
um verdadeiro Kairos, que nos ajude a recuperar o melhor do antigo e do moderno
e a abrir-nos ao pós-moderno. Como o pai de família da parábola, que tira o
novo e o antigo de seu baú (Mt 13,52). Como o caminhante que como Abraão avança
pela fé, sem conhecer exatamente o futuro: e partiu sem saber aonde ia (Hb
11,8).
No processo alquímico da fé, estimado pedagogo, tem
duas formulas que se combinam com o ser no mundo: a primeira; chama em causa o
discernimento perante a nossa própria existência, “renuncia por parte do
homem à sua própria segurança e a disponibilidade de encontrá-la unicamente no
mais invisível, em Deus. Isso significa que a fé é uma segurança ali mesmo onde
nenhuma segurança se pode ver; é como disse Lutero: a disponibilidade de entrar
confiantemente nas trevas do futuro”.[1] A segunda:
abstração dos sinais que hoje, possui o seu dinamismo próprio, profundo e que
aponta com certeza para algo maior que ele mesmo, exemplo disso temos na pessoa
de Jesus! Especial em tudo se fez incomum no meio dos comuns, perceptível na
imprecisão dos precisos, totalmente integrado na vida e na história do seu
povo, pedia fé, mas em que e para que? Pedia fé não para si, pois fé é
discernimento; e novamente caímos na dialética sutil entre fé e razão! Nas sutis entrelinhas de sua tese, Manoel
Ferreira, você consegue a partir do capitulo 7 ao 10 riscar Deus com um
diamante raríssimo, diferentemente do dito que abre o capitulo 9 “...Não
conhecemos o diamante que pode riscar o eterno...”.
Sem perceber as suas pinceladas de palavras
eternas, petrifica-se; e a alquimia dos ingredientes fez aparecer um precioso
diamante e com ele, caro intelectual, você consegue riscar a pauta mágica
do cosmos a ponto de atingir Deus nas grandes atitudes que temos que recuperar
se quisermos assumir os valores dos novos tempos! Recuperar a festa sem perder
o compromisso. Reconciliar-se com o corpo, sem perder o espírito, ou seja,
deixar o dualismo neoplatônico e entrar em um pensamento holístico e
encarnatório; ensinar a sentir junto com pensar, na linha da inteligência que
sente; aceitar o rendimento sem perder a gratuidade; promover o diálogo,
superando tanto a intolerância quanto o relativismo; ensinar a viver o
permanente em meio ao efêmero de cada dia; revalorizar a experiência religiosa
sem cair no antiintelectualismo: e o mais penoso; redescobrir a teologia
negativa (apofática) dos padres orientais sobre o mistério de Deus, cuja
dissimilitude é maior que a semelhança, como dizem os Concílios; “Se o
entendo, não é Deus; E por fim, abrir-se a inculturação e ao diálogo religioso
com as grandes religiões da humanidade, sem perder a opção pela justiça e pelos
pobres, renovando-a e aprofundando-a ainda mais”.
Rodrigo Dias
(Seminarista – 6º período de Teologia -
Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de
Jesus)
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