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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

MISTÉRIOS DO ESPÍRITO E LIBERDADE- Manoel Ferreira Neto



As primeiras letras deste título formam uma palavra esplêndida, maravilhosa, da água na boca – de outrem, pois que não gosto, aprecio mesmo é o sal -, o sonho de a vida ser doce, agradável, palco de todas as real-izações conting-“entes” e/ou materiais, espirituais ou quotidianas, a felicidade plena, absoluta, só prazeres e alegrias, verdadeiro “mel” – o que as primeiras letras do título formam, que, aliás, des-cobri, após haver escrito; já pensou a vida melada de fio a pavio?! Resta saber se os homens iriam adaptar-se, enfim só mel enfastia-, afadiga, ninguém consegue viver só de felicidade, as gotículas de fel são necessárias, são o húmus para a busca de superações, lutas a favor dos sonhos concretizados. Mel e fel são o tempero divino para a vida, assim chega-se a real-izar com perfeição a busca do sonho do Paraíso Celestial. Mel antídoto do fel, fel antídoto do mel. Mistura perfeita.
Não foi para falar em mel, em fel, que me dis-pus nesta manhã de final de maio, restando apenas cinco dias para o início de junho, que me dis-pus a criar este título, sem antes escrever, melhor dizendo, o que iria dizer a respeito dos mistérios do espírito e liberdade e, para ganhar tempo, enquanto não se me a-nuncia com clareza e transparência a moldura e estrutura de minhas idéias, decidi tecer estas considerações preliminares. Ainda não o sei, vou escrevendo sob o signo da pena deslizando no papel sem qualquer interrupção, sem tomar fôlego entre uma palavra e outra, entre uma vírgula e uma idéia, um ponto e vírgula e um pensamento, um cinismo e sarcasmo, um sentimento negativo e uma ironia, uma emoção frustrada, a real-ização daqueles textos que nascem feitos, resta apenas o registro e depois aquela mais que famosa dúvida: “Fui eu mesmo quem escreveu isto?”
Dis-pus-me a escrever sobre os “mistérios do espírito e liberdade”, mistérios que deixam os homens em suspenso por toda a vida, ninguém consegue des-vendá-los, de-cifrá-los, analisá-los e in-terpretá-los, ninguém consegue entendê-los e com-preendê-los mesmo à luz dos preceitos e dogmas católicos, mesmo sob o ângulo dos princípios filosóficos e teológicos, dos dogmas e preceitos “igrejísticos”, mesmo na perspectiva dos modernos livros de “auto-ajuda”. Os mistérios são mel da vida, a “felidade” deles estimula a busca, os sonhos e utopias di-versas e ad-versas, o desejo pujante das alegrias e felicidades.
A pré-liminar desta con-sideração vai muito longe, ultrapassa os limites do bom senso, deixando o leitor impaciente e irritado, enfastiado e fadigado, só mostro elucubrações, o bom mesmo que é a clareza das idéias, a transparência dos objetivos e interesses são o que menos aparece. Não continuarão mais a ler, estão perdendo tempo com a leitura, nada encontrarão nestas palavras que sejam húmus ou sementes para com-preenderem os mistérios, superar-lhes, viverem, vivenciarem, experimentarem outros horizontes e uni-versos da vida espiritual, conting-“ente” que desperta para outras real-idades do corpo e alma.
Vejamos, então, como tecer os mistérios do espírito e liberdade, sem dar voltas no cogito, sem encher lingüiça, sem elucubrar, sem achar que encher páginas e mais páginas de palavras inibem as angústias, depressões, preenchem o vazio da alma pela falta de res-postas percucientes para os problemas da vida e da existência. Lembram-me os professores que escrever uma redação de excelente qualidade faz-se com poucas palavras. Lembrança apenas, pois que eles não tinham qualquer noção do que é isto – escrever. A questão é incólume e insofismática: os mistérios do espírito e liberdade. Eis o tema que resolvi tratar neste dia de maio, vinte e seis, restando apenas cinco dias para a sua consumação, iniciando o mês de junho.  
Embora o leitor esteja imaginando que esta preliminar tenha sido escrita em poucos minutos, não tive qualquer dificuldade, a pena deslizou no papel livre e espontânea, não gastei mais do que dez minutos no esboço e elaboração, já gastei quarenta e cinco minutos, três pingas e vários goles de única cerveja. O que justifica isto é a mudança de perspectivas de minha escrita – enfim sou obrigado a re-(n)-ovar-me a todo momento, se desejo ganhar o meu pão de cada dia com as letras. Nem sempre a in-ov-ação, re-(n)-ov-ação são possíveis, os leitores cansam-se, afadigam-se do mesmo, adeus sonho de comer, beber, sustentar a vida com as letras, restando-me apenas sentar-me à porta de uma igreja com um pratinho e esperar as moedas tilintarem, possa sobreviver, não passe fome, não durma ao relento nalgum banco de praça, calçada, construção abandonada.
Eu quem sou? Sou o século, sou o milênio que passa. Eu quem sou? Sou as dores e sofrimentos que me acompanham, as buscas e sonhos que me habitam o espírito e alma. Quem somos os homens? A multidão fremente. Que canto? A glória resplendente, o reconhecimento.
Quero transportar-me ao verso doce e ameno as sensações de minha idade. A folha branca, límpida, vazia de todo, pede-me inspiração e engenhosidade na escrita das letras, frouxa e manca. A pena não acode ao gesto meu, nem mesmo as palavras sábias e percucientes são húmus de outros sonhos e utopias, já que me esqueceu depois da cerveja e doses de pinga, três, o meu limite em todas as manhãs.
Onde os tempos não são a quimera, fantasia, ilusão, imaginação fértil, que apenas brilham e logo se esvaecem, como folhas de escassa, exígua primavera. Onde nada se perde nem se esquece, e, no dorso dos séculos, permanecem os mistérios do espírito e liberdade.
Escolho o uni-verso, as idéias ambíguas e di-versas, para intro-duzir, o re-verso de pro-duzir ou im-produzir, a pena e tinta para escrever.
Fui ontem visitar a sepultura de minha mãe que morreu recentemente, vítima de câncer no estômago, tendo se submetido a quatro cirurgias, usado “bombinha”, sofrera muito, padecera mesmo. A visitação de sepulturas é um bom costume católico, mas não há trigo sem joio. Na visitação, tudo e joio sem trigo. Infelizmente, as minhas culpas, remorsos, pecados da estirpe estarão presentes por toda a vida, seguir-me-ão passo a passo.  Disse-lhe: “Embora tenha sido uma situação um tanto constrangedora, você não podia ser enterrada na sepultura da família, pois não podia abri-la, fora enterrado outro cadáver ali faz dois anos. Não podia ser enterrada noutra sepultura, de seu sobrinho, pois falecera a três anos. Para reabrir é preciso de cinco anos, tempo suficiente para a decomposição total do cadáver. Em verdade, foi bom haver sido enterrada em sepultura alheia, da ex-mulher de LS. Você sofreu muito com a família, sua sogra queria ver o demônio ao invés de você. Eu mesmo não serei enterrado na sepultura desta família, nem mesmo na cidade. Quero sê-lo na sepultura de minha mãe verdadeira, você foi biológica. Sua sogra desejou-me a morte quando nascera doente”.
O poeta que sou, o escritor que pretendo ser, garantindo-me a eternidade e imortalidade, por todo o sempre objeto de interpretações e análises.
Numa das portas do Cemitério das Palmeiras, há este lema: “Revertere ad locum tuum”, que tomo a liberdade de espírito e palavras em separar, o que nunca vi, uma característica de meu estilo percuciente e in-verso: “Re-vertere ad locum mutuu”; mergulhe nisto quem quiser, que não pretende obter res-postas, mas acumular dúvidas acerca da vida e de seus mistérios.
Quando ao cemitério vou, não deixo de ler essas palavras, se epitáfio não sei, se homenagem à vida e aos seus sonhos de real-ização, que resumem todo o resultado das labutações da vida, também não tenho a mínima noção. O poeta que sou o diz com sapiência e sabedoria, se o colorido das imagens e estruturas, dos conceitos e definições, das buscas e utopias, não sei se mais filosofia ou meramente idéias e pensamentos que servem às carências da vida e do momento, a verdade é que jamais me será possível, mesmo que viva tanto quanto ou mais que Noé para des-vendar os mistérios do espírito e liberdade. 
Não sou capaz, sê-lo-á outro homem nos tempos desta modernidade em que vivemos, lutamos pelo nosso pão de cada dia, empreendemos todos os esforços e lutas para superarmos nossas dificuldades e impossibilidades de escrever com percuciência e senso crítico sobre os mistérios do espírito e liberdade, quem sabe sendo possível só depois de minha morte, escrever o meu memorial de defunto como o fizera Brás Cubas, o único que descambou para estas conclusões da vida e morte?
Mas, para não terminar este escrito de modo suspenso e arbitrário, registro uma fala do filho da proprietária deste bar, após ler eu um de meus textos, dissera-me com toda a categoria: “Suas letras parecem com as de Machado de Assis. Você está se tornando outro Machado, com a diferença de suas letras haverem sido escritas na segunda metade do século XIX, e as que você escreve no princípio, primeira década do XXI, os mistérios continuam a todo vapor, a liberdade e o espírito continuam presente nos ideais da estirpe e laia humanas”
Tristeza, por favor, vá embora, não são as lágrimas que descem no rosto, não é o choro compulsivo que se re-vela... O que impera mesmo com categoria e efusividade é o desejo de fotografar a vida nas suas di-versas e ad-versas manifestações, e eu com toda a capacidade e talento com as letras não sou capaz de mudar a realidade dos mistérios que habitam a alma e espírito humanos, sou escrava dessa nossa moderna que é a inconsciência.   



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