Pré-ocupavam-me as fotos do evento de aniversário deste suplemento,
apesar de que houvera con-versado com Jason, seria quem iria cobrir-lhe, indo à
loja para confirmar presença. Trocávamos dedo de prosa; Aidée não estava
inteirada de que o evento de aniversário era de Razão In-versa, como dissera:
“ah, sim, a festa é sua”. Ouvira, não me lembra quando, a respeito de cantora
lírica. Referira-se à filha, Ariadna, cantora lírica, a única em Curvelo,
quando me certifiquei de haver sido sobre quem alguém me dissera, mais que
amada, o seu orgulho e vaidade, o reconhecimento que concedia a Ariadna,
estudara no conservatório diamantinense, já se apresentara em eventos
culturais, artísticos e musicais de grande importância. Sugeriu-me que a convidasse para uma
“palhinha”, iria apreciar, não era por ser filha, mas talento mesmo. Ouvira
dizer dela. Concordei, não com objetivo de conceder oportunidade de ser
divulgada, princípio radical destas páginas, por ser a música uma das artes
meninas de meus olhos, tímpanos de meus ouvidos, aliás já re-velado, desde a
infância a música acompanhou-me.
Ligara para sua residência, antes dizendo seria eu a convidá-la, sendo
fã incondicional de Ariadna. Sente-se, às vezes, tímida e retraída com os
elogios da mãe. Com efeito, conversara com, penso, ser o filho dela e Jason,
não estando em casa. Seria encontrada no celular. Con-versamos sobre cantar no
evento, era desejo especial, desse uma palha, a escolha das peças ficaria ao
seu critério, enfatizei que conhecia seu pai, éramos amigos desde a minha
infância. Aceitou, devendo dizer que fiquei exultante, cantora lírica num
evento de aniversário de suplemento literário era suplemento.
Saindo da Foto Jason, comecei de pensar não ter jamais assistido a
recital de música lírica, apesar de conhecer peças de italianos. Se a Ariadna
tivesse mesmo dons, talentos, seria evento inesquecível, não me furtaria ao
prazer de algo escrever, inclusive com coluna especial “Lírica Di-versa”.
Sonhei, idealizei, tive esperanças de grande espetáculo. Isto era símbolo,
metáfora, signo, enfim a música legou-me a musicalidade da linguagem e estilo.
Conhecemo-nos, trocamos daqueles dedos de prosa rápidos, tínhamos de
instalar os instrumentos, escolher o lugar onde ficassem melhor. Combinamos que
antes do a-“núncio” de abertura, cantaria para nós, escolhesse as peças,
executando Bocelli e Vilas-Lobo, As Bachianas nº 05. Nossa rápida con-versa
deixou-me no espírito não impressão de verdadeiro valor, mas sentimento de dons
espirituais, talentos vivenciários e vivenciais, tive certeza de que seria espetáculo
sem precedentes.
Meu Deus!... Iniciando a execução de Bocceli, senti frio perpassar-me a
alma, alegria, felicidade de ouvir um dom. A voz em peças líricas é o fundamental,
convite às filosofias do além, mas só técnicas empreendidas com engenhosidade
não tornam espetáculo sem precedentes. Cantora lírica é sensibilidade,
espiritualidade, percepção, intuição da trans-cendência das emoções vivenciadas
e experimentadas no quotidiano das relações, isto é, a música lírica está
intimamente ligada ao inconsciente divino, desejos de sublimidade,
espiritualidade – quero dizer as técnicas de improvisação da voz, impostação,
devem re-velar que destas dimensões nasceram, foram re-criadas, criadas,
trans-cendidas, não como pedra angular, a técnica irá aprofundar, mergulhar
nestas dimensões.
Jamais havia presenciado a recital de música lírica, mas senti presente
e forte a cantora lírica Ariadna Fernandes, largou mão das técnicas assimiladas
no conservatório, diria até que não as apreciava nos tempos idos de aprendiz,
não as negligenciou, não as recusou, re-colheu-as e a-colheu-as,
trans-formando-as; estava assistindo à autenticidade e originalidade de cantora
lírica; não era apenas voz, apenas re-presentação de dons, era espírito lírico.
Confesso não ter conhecido Bocceli, músico, não conhecer suas peças
musicais; quando executou Vila-Lobos comentei ao pé do ouvido de João
Comunitário: “É dom, é talento”, o que, balançando a cabeça, sinal afirmativo,
estava ele, com efeito, trans-cendido no recital de espírito, no recital de
encontro com a beleza, belo, no mergulho com o divino.
Logo depois de seu recital, o amigo João Comunitário fizera discurso de
abertura, dizendo de seu agradecimento, alegria de haver ouvido grande artista,
sentindo-se emocionado em afirmar e re-dizer nossa Curvelo ser palco de grandes
valores, ser Olimpo de artistas, o que deixara efusivo, tirou-me as palavras
seria ditas por mim, como homem inteligente e sensível, não apenas endossando,
gesto e atitude de político, re-velando nossos: “os valores devem ser
reconhecidos”.
No final do lançamento, Ariadna re-presentou a Ave-Maria – alguém dentre
os presentes havia sugerido. Meu Deus!... Não tive calafrios na medula, meu espírito
sentiu-se livre de todo, fora habitar o além. Jamais havia assistido à
apresentação tão magnífica, esplendorosa. Foi com esta re-presentação da peça
Ave-Maria que confirmei os dons e talentos de Ariadna. Perguntava-me no íntimo:
“cantora lírica tão primorosa como Ariadna e ainda não estar desfrutando das
glórias todas, de merecimentos. Pior ainda: Curvelo não saber valorizar isto.
Uma lástima. Tenho a certeza de que Ariadna ainda terá sua cadeira no Olimpo
dos cantores líricos”.
Ariadna, parabéns é muito pouco para saudar-lhe os dons e talentos.
Creio que estas letras podem louvar-lhe, serem manifestações de meus orgulhos e
vaidades com dons e talentos tão verdadeiros, místicos, sobretudo sentidos no
espírito e nalma.
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