Total de visualizações de página

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

*VOZES E FILOSOFIAS DO ALÉM - Manoel Ferreira Neto


Pré-ocupavam-me as fotos do evento de aniversário deste suplemento, apesar de que houvera con-versado com Jason, seria quem iria cobrir-lhe, indo à loja para confirmar presença. Trocávamos dedo de prosa; Aidée não estava inteirada de que o evento de aniversário era de Razão In-versa, como dissera: “ah, sim, a festa é sua”. Ouvira, não me lembra quando, a respeito de cantora lírica. Referira-se à filha, Ariadna, cantora lírica, a única em Curvelo, quando me certifiquei de haver sido sobre quem alguém me dissera, mais que amada, o seu orgulho e vaidade, o reconhecimento que concedia a Ariadna, estudara no conservatório diamantinense, já se apresentara em eventos culturais, artísticos e musicais de grande importância.  Sugeriu-me que a convidasse para uma “palhinha”, iria apreciar, não era por ser filha, mas talento mesmo. Ouvira dizer dela. Concordei, não com objetivo de conceder oportunidade de ser divulgada, princípio radical destas páginas, por ser a música uma das artes meninas de meus olhos, tímpanos de meus ouvidos, aliás já re-velado, desde a infância a música acompanhou-me.
Ligara para sua residência, antes dizendo seria eu a convidá-la, sendo fã incondicional de Ariadna. Sente-se, às vezes, tímida e retraída com os elogios da mãe. Com efeito, conversara com, penso, ser o filho dela e Jason, não estando em casa. Seria encontrada no celular. Con-versamos sobre cantar no evento, era desejo especial, desse uma palha, a escolha das peças ficaria ao seu critério, enfatizei que conhecia seu pai, éramos amigos desde a minha infância. Aceitou, devendo dizer que fiquei exultante, cantora lírica num evento de aniversário de suplemento literário era suplemento.
Saindo da Foto Jason, comecei de pensar não ter jamais assistido a recital de música lírica, apesar de conhecer peças de italianos. Se a Ariadna tivesse mesmo dons, talentos, seria evento inesquecível, não me furtaria ao prazer de algo escrever, inclusive com coluna especial “Lírica Di-versa”. Sonhei, idealizei, tive esperanças de grande espetáculo. Isto era símbolo, metáfora, signo, enfim a música legou-me a musicalidade da linguagem e estilo.
Conhecemo-nos, trocamos daqueles dedos de prosa rápidos, tínhamos de instalar os instrumentos, escolher o lugar onde ficassem melhor. Combinamos que antes do a-“núncio” de abertura, cantaria para nós, escolhesse as peças, executando Bocelli e Vilas-Lobo, As Bachianas nº 05. Nossa rápida con-versa deixou-me no espírito não impressão de verdadeiro valor, mas sentimento de dons espirituais, talentos vivenciários e vivenciais, tive certeza de que seria espetáculo sem precedentes.
Meu Deus!... Iniciando a execução de Bocceli, senti frio perpassar-me a alma, alegria, felicidade de ouvir um dom. A voz em peças líricas é o fundamental, convite às filosofias do além, mas só técnicas empreendidas com engenhosidade não tornam espetáculo sem precedentes. Cantora lírica é sensibilidade, espiritualidade, percepção, intuição da trans-cendência das emoções vivenciadas e experimentadas no quotidiano das relações, isto é, a música lírica está intimamente ligada ao inconsciente divino, desejos de sublimidade, espiritualidade – quero dizer as técnicas de improvisação da voz, impostação, devem re-velar que destas dimensões nasceram, foram re-criadas, criadas, trans-cendidas, não como pedra angular, a técnica irá aprofundar, mergulhar nestas dimensões.
Jamais havia presenciado a recital de música lírica, mas senti presente e forte a cantora lírica Ariadna Fernandes, largou mão das técnicas assimiladas no conservatório, diria até que não as apreciava nos tempos idos de aprendiz, não as negligenciou, não as recusou, re-colheu-as e a-colheu-as, trans-formando-as; estava assistindo à autenticidade e originalidade de cantora lírica; não era apenas voz, apenas re-presentação de dons, era espírito lírico.
Confesso não ter conhecido Bocceli, músico, não conhecer suas peças musicais; quando executou Vila-Lobos comentei ao pé do ouvido de João Comunitário: “É dom, é talento”, o que, balançando a cabeça, sinal afirmativo, estava ele, com efeito, trans-cendido no recital de espírito, no recital de encontro com a beleza, belo, no mergulho com o divino.
Logo depois de seu recital, o amigo João Comunitário fizera discurso de abertura, dizendo de seu agradecimento, alegria de haver ouvido grande artista, sentindo-se emocionado em afirmar e re-dizer nossa Curvelo ser palco de grandes valores, ser Olimpo de artistas, o que deixara efusivo, tirou-me as palavras seria ditas por mim, como homem inteligente e sensível, não apenas endossando, gesto e atitude de político, re-velando nossos: “os valores devem ser reconhecidos”.
No final do lançamento, Ariadna re-presentou a Ave-Maria – alguém dentre os presentes havia sugerido. Meu Deus!... Não tive calafrios na medula, meu espírito sentiu-se livre de todo, fora habitar o além. Jamais havia assistido à apresentação tão magnífica, esplendorosa. Foi com esta re-presentação da peça Ave-Maria que confirmei os dons e talentos de Ariadna. Perguntava-me no íntimo: “cantora lírica tão primorosa como Ariadna e ainda não estar desfrutando das glórias todas, de merecimentos. Pior ainda: Curvelo não saber valorizar isto. Uma lástima. Tenho a certeza de que Ariadna ainda terá sua cadeira no Olimpo dos cantores líricos”.

Ariadna, parabéns é muito pouco para saudar-lhe os dons e talentos. Creio que estas letras podem louvar-lhe, serem manifestações de meus orgulhos e vaidades com dons e talentos tão verdadeiros, místicos, sobretudo sentidos no espírito e nalma.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário