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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

VERDADE DE PRIMÓRDIOS TEMPOS - Manoel Ferreira Neto



O prolongamento da vida, curto ou longo, é um pequeno retalho da Glória. A imortalidade é que é de poucos. Esta idéia – pode-se também dizer pensamento, no seu sentido e significado, a mensagem nela inscrita, é de um tempo longínquo, pertence ao passado, infelizmente.
Em nossa atualidade, deve-se substituir o termo “imortalidade” por esquecimento, o ser esquecido é que é de poucos, a imortalidade está reservada á maioria, se não tiverem valores e virtudes que sustentem o ser lembrado por todo o sempre, o contribuir com as mudanças e trans-formações individuais, culturais, íntimas, através dos feitos, tanto melhor. 
Ouço dizer na rua que alguém está sentado numa cadeira de grande importância, nela seu nome esta garantido na história de nossa comunidade. Quem senta numa dessas cadeiras não precisa de mais nada, pode passar o resto da vida refestelando-se na rede, lendo romances de capa e espada. O espanto meu fora tanto que por um triz não cai duro e fendendo – de enfarto, diante de uma notícia, informação tão descabida, se era para sentir o dia meu estava realizado, ouvir despautérios era o prato do dia. 
Não fosse a idoneidade de quem me afirmara, não teria acreditado, despautério sem precedentes na história da humanidade; teria sido uma in-venção de mau gosto para arregalar os olhos, colocar um palmo de língua para fora. Acreditei. Não tive escolha. A palavra despautério soou tão forte nos ouvidos que não me contive, comentei com algumas pessoas, não para confirmar a informação, sim para in-vestigar a opinião das pessoas, o que pensavam a respeito, como con-vivia co misto, se era contra ou a favor. O que para mim despautério para outros não é. Res-ponderam-me com categoria “despautério” ser pouco para definir.  Consultei pessoas de renome cultural, intelectual, personalidades. Com efeito, suas visões e pontos de vista são profundos, sabem e conhecem as coisas, discernem o trigo do joio. Não consultei as pessoas simples, humildes; não acredito fossem contradizer, concordassem, mesmo aquelas cuja práxis é bater palmas e esperar os resultados.
Homem da imprensa, coluna social, escrevendo as notas abaixo da fotografia, sempre encômios fervorosos, ufania sem limites, algumas palavras chinfrins, sem estilo e linguagem, noutras colunas, sentar-se numa cadeira como esta é prova mais do que pública e notória de que o bom senso foi vez por todas esquecido, a noção das coisas não existe mais, trigo e joio são a mesma coisa. Seja-me perdoado a repetição de “coisa”, isto empobrece a linguagem.
Uma das pessoas a quem consultei esclarecera seu pensamento com dignidade. Escrever em jornal , seja texto em coluna, seja encômio ao pé das fotografias, na coluna social, não significa ser merecedor, ter mérito e valores para ocupar tal cadeira. Exemplificou ainda mais: “escrevo-lhe um bilhete: ´Convido-lhe com orgulho e alegria para vir à minha casa para comermos um churrasco regado da boa cerveja e pinga da roça. Sentir-me-ei lisonjeado com a sua presença”.  Há-de se considerar nele nível de linguagem, desde o pronome oblíquo do verbo, a próclise, até “sentir-me-ei”, mesóclise, mostra-se conhecer da Língua Portuguesa. Mereceria. Bilhete que consolida e solidifica valores inestimáveis, é merecedor inconteste de ocupar esta cadeira. Até que está bem escrito para ser apenas um convite para comer e encher a cara, com um papo espontâneo e descontraído. Se fosse: “Vem cá em casa tomar uns goles, encher a cara, forrar o estômago com uma picanha das melhores e mais bem temperada”. Qualquer bilhete, com linguagem vulgar ou erudita indica a cadeira, faz-se o evento de posse, comparecem a nata do métier dos ad-miradores e puxa-sacos, é empossado, pode refestelar-se na poltrona com todas as pompas e empáfias, a imortalidade está garantida.   
Não existe quem não esteja bestificado e estupidificado com a ocupação desta cadeira por este homem, cidadão, indivíduo, é “peixe-fora-dágua”, “sapo-fora-do-brejo”.  Não é o única que nestas cadeira se encontra bem confortado, alegre e saltitante, há muitos, inúmeros. E ninguém tem cor-agem para abrir os verbos, exigir medidas que impeçam estes despautérios. Quem tem coragem de pedir que tais homens sejam retirados destas cadeiras, numa linguagem política “destituído” ou “exonerado” do cargo? Jamais mesmo que isto lhe trouxesse como resultado uma boa soma em dinheiro. Assim, confere-se-lhes poder e glória de ostentação.
Nesta in-vestigação acerca do excelentíssimo colunista social que ocupa cadeira de homem imortal por sua obra que engrandece a cultura, testemunho de espiritualidade, não o sendo, ser colunista social em tablóide não significa importância suprema, ícone de valores e virtudes  literárias para se sentar numa destas cadeiras. Ademais, o tablóide em que escreve é de colunismo vulgar, indecente, chinfrim e ridículo, homenageiam-se aqueles que não têm os valores exigidos, sempre os “amiguinhos”, “comparsas”, “álibis”, “cúmplices”... Os que têm são esquecidos ipsis litteris, só merecem a sepultura no cemitério, nada mais. Cruz e inscrição de nascimento e morte ao longo do tempo, sob os efeitos da chuva e do sol, destruídas.
Alguém me dissera: “Banalizou-se tudo. A presença deste “sujeitinho” – o juízo é da pessoa e não meu, não sei o que aconteceu entre ambos, não me interessa, não é da minha alçada, apesar de que, em sua essência, concordo com todos os ossos e ócios da questão – nesta cadeira solidifica o óbvio: a banalização. É preciso de freio de burro para impedir estas coisas”. Banalizaram mesmo. Assim, em menos de uma década, não restarão valores e virtudes. 
Tomei a liberdade de interferir na questão, mostrar o que realmente penso e por que tudo estou dis-posto a morrer: “No futuro, digamos, daqui a cem anos, seremos re-conhecidos como a comunidade mais medíocre e mesquinha; perdemos o bom senso, perdemos a noção das coisas. Seremos uma farsa sem limites. E como resgatar a dignidade? Não haverá condições”.
- Não deixarei pedra sobre pedra... Levo o resto de minha vida denunciando estes homens que não têm valores e vomitam importâncias absolutas. Denunciarei com incisividade.
Auto-reconhecimento é hipocrisia da raça e estirpe. Re-conheço com conhecimento e sabedoria os valores que trago na pena e tinta, mas minha responsabilidade é continuar buscando o “verdadeiro verso” das artes e da cultura. Odeio badalação, tenho nojo e ojeriza de “saltinho alto”, sinto asco e nojo da fama e sucesso. Contudo disse-me uma das pessoas com quem con-versei  acerca da ocupação da cadeira, o despautério que isto é:
- Não diria que você é o único que merece nesta cadeira estar sentado, por que me enforcaria com fio de seda, também existem outros que também merecem; bem que merecia: as letras são-lhe dom e talento, não apenas por haver sido graça divina, mas as letras estão inscritas na sua constituição e estrutura de homem, cidadão e indivíduo. Você é que deveria estar nela sentado. Admiro-lhe por sua luta ferrenha contra estes despautérios. Eurico pedreira nada é, apenas um colunista social, ridículo, ideológico e mesquinho.  
Tirando o osso da carne... A in-versão, assim os interesses e sonhos são enfatizados, o efeito é nítido e transparente. Desculpe-me, leitor, mas você está equivocado, não tive qualquer intenção especial numa in-versão do comum “tirando a carne do osso”.  O que é tirado não serve, não tem utilidade. A carne é o que interessa, ela será alimento para os homens; o osso serve sim, mas para ser triturado na fabrica de farinha de osso. Agora, acredito eu, leitor, piamente, vale ressaltar, que não tive interesse algum em in-verter para chamar a atenção, entendo da arte de cortar.
Saíra do apartamento do Hotel Bandeirantes para comprar cigarros. John Lennon certa vez saiu de casa dizendo estar indo comprar cigarros, estava se separando. Não sei o porquê disto, mas sempre penso em Machado de Assis comprando pão e leite na padaria, todas as manhãs. Andei um pouquinho para encontrar um bar onde houvesse cigarro. Assim que saí, a informação da ocupação.   



[1] Esta nota de roda-pé significa dizer os dois textos anteriores foram criados há vários anos; se neste não identificasse, os leitores poderem pensar que também foram escritos nesta época. Tudo é continuidade: jamais este texto seria possível sem os sem-número de obras que já escrevi nestes anos.

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