O prolongamento
da vida, curto ou longo, é um pequeno retalho da Glória. A imortalidade é que é
de poucos. Esta idéia – pode-se também dizer pensamento, no seu sentido e
significado, a mensagem nela inscrita, é de um tempo longínquo, pertence ao
passado, infelizmente.
Em nossa
atualidade, deve-se substituir o termo “imortalidade” por esquecimento, o ser
esquecido é que é de poucos, a imortalidade está reservada á maioria, se não
tiverem valores e virtudes que sustentem o ser lembrado por todo o sempre, o
contribuir com as mudanças e trans-formações individuais, culturais, íntimas,
através dos feitos, tanto melhor.
Ouço dizer na
rua que alguém está sentado numa cadeira de grande importância, nela seu nome
esta garantido na história de nossa comunidade. Quem senta numa dessas cadeiras
não precisa de mais nada, pode passar o resto da vida refestelando-se na rede,
lendo romances de capa e espada. O espanto meu fora tanto que por um triz não
cai duro e fendendo – de enfarto, diante de uma notícia, informação tão
descabida, se era para sentir o dia meu estava realizado, ouvir despautérios
era o prato do dia.
Não fosse a
idoneidade de quem me afirmara, não teria acreditado, despautério sem
precedentes na história da humanidade; teria sido uma in-venção de mau gosto
para arregalar os olhos, colocar um palmo de língua para fora. Acreditei. Não
tive escolha. A palavra despautério soou tão forte nos ouvidos que não me
contive, comentei com algumas pessoas, não para confirmar a informação, sim
para in-vestigar a opinião das pessoas, o que pensavam a respeito, como
con-vivia co misto, se era contra ou a favor. O que para mim despautério para
outros não é. Res-ponderam-me com categoria “despautério” ser pouco para
definir. Consultei pessoas de renome cultural,
intelectual, personalidades. Com efeito, suas visões e pontos de vista são
profundos, sabem e conhecem as coisas, discernem o trigo do joio. Não consultei
as pessoas simples, humildes; não acredito fossem contradizer, concordassem,
mesmo aquelas cuja práxis é bater palmas e esperar os resultados.
Homem da
imprensa, coluna social, escrevendo as notas abaixo da fotografia, sempre
encômios fervorosos, ufania sem limites, algumas palavras chinfrins, sem estilo
e linguagem, noutras colunas, sentar-se numa cadeira como esta é prova mais do
que pública e notória de que o bom senso foi vez por todas esquecido, a noção
das coisas não existe mais, trigo e joio são a mesma coisa. Seja-me perdoado a
repetição de “coisa”, isto empobrece a linguagem.
Uma das pessoas
a quem consultei esclarecera seu pensamento com dignidade. Escrever em jornal ,
seja texto em coluna, seja encômio ao pé das fotografias, na coluna social, não
significa ser merecedor, ter mérito e valores para ocupar tal cadeira. Exemplificou
ainda mais: “escrevo-lhe um bilhete: ´Convido-lhe com orgulho e alegria para
vir à minha casa para comermos um churrasco regado da boa cerveja e pinga da
roça. Sentir-me-ei lisonjeado com a sua presença”. Há-de se considerar nele nível de linguagem,
desde o pronome oblíquo do verbo, a próclise, até “sentir-me-ei”, mesóclise,
mostra-se conhecer da Língua Portuguesa. Mereceria. Bilhete que consolida e
solidifica valores inestimáveis, é merecedor inconteste de ocupar esta cadeira.
Até que está bem escrito para ser apenas um convite para comer e encher a cara,
com um papo espontâneo e descontraído. Se fosse: “Vem cá em casa tomar uns
goles, encher a cara, forrar o estômago com uma picanha das melhores e mais bem
temperada”. Qualquer bilhete, com linguagem vulgar ou erudita indica a cadeira,
faz-se o evento de posse, comparecem a nata do métier dos ad-miradores e
puxa-sacos, é empossado, pode refestelar-se na poltrona com todas as pompas e
empáfias, a imortalidade está garantida.
Não existe quem
não esteja bestificado e estupidificado com a ocupação desta cadeira por este
homem, cidadão, indivíduo, é “peixe-fora-dágua”, “sapo-fora-do-brejo”. Não é o única que nestas cadeira se encontra
bem confortado, alegre e saltitante, há muitos, inúmeros. E ninguém tem cor-agem
para abrir os verbos, exigir medidas que impeçam estes despautérios. Quem tem
coragem de pedir que tais homens sejam retirados destas cadeiras, numa
linguagem política “destituído” ou “exonerado” do cargo? Jamais mesmo que isto
lhe trouxesse como resultado uma boa soma em dinheiro. Assim, confere-se-lhes
poder e glória de ostentação.
Nesta
in-vestigação acerca do excelentíssimo colunista social que ocupa cadeira de
homem imortal por sua obra que engrandece a cultura, testemunho de
espiritualidade, não o sendo, ser colunista social em tablóide não significa
importância suprema, ícone de valores e virtudes literárias para se sentar numa destas
cadeiras. Ademais, o tablóide em que escreve é de colunismo vulgar, indecente,
chinfrim e ridículo, homenageiam-se aqueles que não têm os valores exigidos,
sempre os “amiguinhos”, “comparsas”, “álibis”, “cúmplices”... Os que têm são
esquecidos ipsis litteris, só merecem a sepultura no cemitério, nada mais. Cruz
e inscrição de nascimento e morte ao longo do tempo, sob os efeitos da chuva e
do sol, destruídas.
Alguém me
dissera: “Banalizou-se tudo. A presença deste “sujeitinho” – o juízo é da
pessoa e não meu, não sei o que aconteceu entre ambos, não me interessa, não é
da minha alçada, apesar de que, em sua essência, concordo com todos os ossos e
ócios da questão – nesta cadeira solidifica o óbvio: a banalização. É preciso
de freio de burro para impedir estas coisas”. Banalizaram mesmo. Assim, em
menos de uma década, não restarão valores e virtudes.
Tomei a
liberdade de interferir na questão, mostrar o que realmente penso e por que
tudo estou dis-posto a morrer: “No futuro, digamos, daqui a cem anos, seremos
re-conhecidos como a comunidade mais medíocre e mesquinha; perdemos o bom
senso, perdemos a noção das coisas. Seremos uma farsa sem limites. E como resgatar
a dignidade? Não haverá condições”.
- Não deixarei
pedra sobre pedra... Levo o resto de minha vida denunciando estes homens que
não têm valores e vomitam importâncias absolutas. Denunciarei com incisividade.
Auto-reconhecimento
é hipocrisia da raça e estirpe. Re-conheço com conhecimento e sabedoria os
valores que trago na pena e tinta, mas minha responsabilidade é continuar
buscando o “verdadeiro verso” das artes e da cultura. Odeio badalação, tenho
nojo e ojeriza de “saltinho alto”, sinto asco e nojo da fama e sucesso. Contudo
disse-me uma das pessoas com quem con-versei
acerca da ocupação da cadeira, o despautério que isto é:
- Não diria que
você é o único que merece nesta cadeira estar sentado, por que me enforcaria
com fio de seda, também existem outros que também merecem; bem que merecia: as
letras são-lhe dom e talento, não apenas por haver sido graça divina, mas as
letras estão inscritas na sua constituição e estrutura de homem, cidadão e
indivíduo. Você é que deveria estar nela sentado. Admiro-lhe por sua luta
ferrenha contra estes despautérios. Eurico pedreira nada é, apenas um colunista
social, ridículo, ideológico e mesquinho.
Tirando o osso
da carne... A in-versão, assim os interesses e sonhos são enfatizados, o efeito
é nítido e transparente. Desculpe-me, leitor, mas você está equivocado, não
tive qualquer intenção especial numa in-versão do comum “tirando a carne do
osso”. O que é tirado não serve, não tem
utilidade. A carne é o que interessa, ela será alimento para os homens; o osso
serve sim, mas para ser triturado na fabrica de farinha de osso. Agora,
acredito eu, leitor, piamente, vale ressaltar, que não tive interesse algum em
in-verter para chamar a atenção, entendo da arte de cortar.
Saíra do
apartamento do Hotel Bandeirantes para comprar cigarros. John Lennon certa vez
saiu de casa dizendo estar indo comprar cigarros, estava se separando. Não sei
o porquê disto, mas sempre penso em Machado de Assis comprando pão e leite na
padaria, todas as manhãs. Andei um pouquinho para encontrar um bar onde
houvesse cigarro. Assim que saí, a informação da ocupação.
[1] Esta nota de roda-pé significa dizer os dois
textos anteriores foram criados há vários anos; se neste não identificasse, os
leitores poderem pensar que também foram escritos nesta época. Tudo é
continuidade: jamais este texto seria possível sem os sem-número de obras que
já escrevi nestes anos.
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