Disseram-me ipsis litteris, pompas e empáfias não faltaram, só a ouvidos
de jegues, instintos de burros, é-se, era-se, possível vislumbrar inúmeras
advertências, conselhos. Disseram-me: “tenha a certeza de que vai precisar
andar com guarda-costas bem munidos de armas por nossa comunidade. Estará
correndo sérios riscos, pode ser assassinado, as carapuças, chapéus de coco vão
se ajustar à cabeça de muitos. Tome cuidado quando seu texto for publicado”.
Estivera lendo para pessoa de minhas relações, chegando outro grande
amigo, quem me ouvia pediu parêntese para tecer suas considerações,
dizendo-lhe: “vieram-me perguntar se ele estava ensandecendo”, respondendo-lhe
que, conhecendo-me há tantos anos, diria que estou piorando. Precisava ouvir o
que havia escrito, havia acabado com as hipocrisias e aparências de nossa
comunidade, não haveria quem pudesse res-ponder com categoria, fazê-lo teria de
superar a linguagem e estilo, caso contrário, cairia no ridículo, o sapo seco
fora engolido para sempre, sem res-postas. Acrescentou o amigo ao outro para
quem tecia as considerações percucientes: o que escrevera jamais seria
esquecido, ficará por toda a posteridade na galeria dos grandes textos
sarcásticos; ninguém será capaz na história, séculos e milênios, escrever outro,
é a minha flor do Lácio, o que pensei comigo, seguindo o espírito da obra “meu
texto no estábulo dos jegues; estarei sentado na cadeira dos jegues famosos, no
Olimpo dos jegues”. Não dissera, pois me parecera sem qualquer senso, sal e
tempero.
Outra pessoa para quem lera não dissera ipsis litteris, com prepotência
e suntuosidade, mas ad-vertira assim: “seu jegue deve ficar preso no estábulo
com policiais armados de fuzis, estará correndo sérios riscos de ser linchado
por aqueles a quem lhes serviu a carapuça, o chapéu se lhes ajustou na cabeça,
a galocha completou o traje”.
No Olimpo dos jegues, as jeguices espúrias não encontram fenos, cocho de
fenos para fortalecer as importâncias, as jeguices têm de nascer póstumas, as
orelhas e instintos pósteros, caso contrário serão motivos de mofas sem
precedentes, jegues sem jeguices eternas na cadeira dos grandes, ocupando lugar
tão importante. Nem mesmo os coices diplomáticos seguidos de zurros sarcásticos
justificarão a cadeira do Olimpo.
Algumas pessoas para quem li “quem não tem cão caça com jegue” ficaram
circunspectos buscando saber para quem em especial estava escrevendo, com
efeito tenho os meus segredos, no fundo estava pensando nalgumas pessoas,
embora segredos não me faltam, não pensei em ninguém em especial, pensara nos
jegues, e segredo de jegues assemelham-se a encontrar agulha no palheiro,
difícil, senão impossível. Seria necessário mergulhar-lhes nas entranhas e
pré-fundas instintivas para se lhes des-vendar os mistérios e segredos,
correndo o risco de confundir orelhas pontiagudas com pontas de orelhas
pequenas.
Certa vez, num evento artístico, rasguei as orelhas de livro,
picando-as, enviando os pedacitos a digníssimo senhor quem me puxara o rabo e
balançara no sentido anti-horário, girara é o melhor termo, com o seguinte
bilhete: “suas orelhas são muito grandes, merecem ser picadas a critério, e
você é muito pequeno, um buraco de rato cabe-lhe a carcaça”. Fora a única vez
que rasguei orelhas, Van Gogh cortou a sua e pintou auto-retrato. Não ando
rasgando orelhas nem as puxo aos jegues, não levaria coice, a cabeça fica-lhe
distante dos pés, dando margem a pensar com categoria a razão dos jegues está
no rabo sem cabelos, apenas protuberância de osso e carne, como ficam os cachorros
quando se lhes cortam o rabo.
A razão dos jegues é no rabo. Impossível se lhe amarrar às patas, a
natureza é sábia: ninguém mais correrá o risco de ser escoiceado por lhes puxar
os cabelos traseiros. Mas com efeito, há muitos rabos presos em nossa comunidade,
seria até o caso de contratar um “p2” para investigar, e se possível queimar o
arquivo, e dos homens que cantam suas glórias eternas, lídimos valores, e não
têm quaisquer, suas jeguices
esplendorosas não são merecedoras de epitáfios pomposos nas lápides de mármore.
Quem não tem cabelos no rabo não pode ser considerado, não é merecedor
de aplausos empolados pelas razões insofismáveis; só ao jegue cabe isto de “a
razão do jegue é o rabo sem pelos”.
Referi-me às orelhas picadas, o bilhete escrito no in-vólucro de papel
higiênico, endereçado a quem pegara meu rabo e girara no sentido anti-horário.
Houvera circunstância, em cujos liames das palavras senti-me escoiceado por
alguém quem, ao contrário, de antemão às revezes, deveria respeitar-me os méritos
e valores, considerar e reconhecer: suas importâncias não tinham qualquer
sentido diante de minhas verdades. Humilhou-me, ofendeu com suas relinchadas e
zurros, algumas pessoas quem lhe ouviram as palavras olharam-me de soslaio.
Retirei-me à francesa, sentando-me na mesa, tirando papel qualquer de dentro da
carteira, escrevendo: “Digníssimo senhor, ad-mira-me sobremodo quem anda dando
saltinhos de importância ser portador de finesse tão primordial quanto à sua;
isto orgulha muito os jegues de estirpe e raça, que, ao contrário, são de
lídimos e respeitáveis ‘coices’. Veja-se, mire-se no espelho de seu estábulo e
veja que laia de jegue você é: jegue de ângulo obtuso”
Não vou descrever, seria enfadonha a licitação das verdades de um jegue,
isto é, serem objetos imprescindíveis de cultura e artes, endossados os
direitos de divulgação, como se é feito quando tablóide reivindica da prefeitura a
cobertura tabloidística da gestão. Tenho notícias fidedignas de diretor haver
sido empurrado com a mão esquerda escada abaixo, e na porta a seguinte fala:
“aqui você entra para cumprir as obrigações ficais, com o pagamento de suas
responsabilidades jurídicas, mas se pisar aqui com outros propósitos, mando-lhe
encarcerar a sete chaves, nem as nonadas de alguns, melhor dizendo, de alguém,
de um ad-vogado divino, ser-lhe-á possível habeas corpus, prisão domiciliar”.
Quem ouviu isto não teve a pachorra de passar à porta da prefeitura, nem os
jegues, desprovidos de inteligência, coisa da raça e estirpe, seriam ousados e
corajosos em re-tratar as circunstâncias da posteridade e perpetuidade do
alento, ninguém iria gritar a plenos pulmões os rabos sem cabelos das jeguices
ao longo dos acontecimentos, na esteira e soleira das vulgaridades humanas, com
direito aos idílios da estirpe.
Leitor, dedique orações, antes do recebimento da hóstia sagrada, à minha
vida, não seja eu assassinado com as críticas aos jegues de nossa modernidade,
possa inda escrever outros textos que engrandecem e imortalizam a crítica dos
valores instintivos. Não tenho qualquer pretensão de imortalizar estas letras
com as jeguices da raça e estirpe. Sonho apenas dormir o sono que descansa,
repousa das contradições entre os jegues e os seres humanos.
Acordei com os jegues, durmo com eles, no frigir dos rabos e bagos. Os
bafos dos jegues são odes à hipocrisia daquilo que se diz: “aos jegues, as
palavras últimas”.
Despeço-me, leitor, são duas e meia da madrugada, preciso, necessito,
urge-me descansar sob a luz dos cânticos, dançando as cracovianas das estrofes
cujos princípios são solidificados à luz da realidade de nossa população
inteira: “aos jegues, os coices póstumos”. Acordei com os jegues na alma, vou
dormir com eles nos ossos e carnes, aquele sono das in-versas à luz das
críticas eternas. Jegues são jegues, quando se lhes revelam as orelhas
pontiagudas, quando os rabos não têm cabelos e identificam as razões que lhes
tornam eternos pelos zurros silenciosos, pelos silêncios do zurro póstero.
Não sou homem que termine suas considerações, deixando-as em suspenso,
sem a famosa última estrofe de sonetos, a chave de ouro, que encantou os
lusitanos e os homens todos de sua época, especialmente em seus poemas cujo
tema é o amor, encantará a todos os homens de todos os séculos e milênios. Não sou
homem de terminar ácidos sem serem destilados, criando conclusões, nada de real
aconteceu.
À porta, encostado à parede, sentado na garupeira de bicicleta, no
assento, brincando com os pedais, no cano entre o guidão e assento, sempre
passava alguém quem me cumprimentava, alegre, brincalhão, tirando sarro de
minha cara com carinho, e olhava inconsciente a placa, não sei se lia as
palavras “açougue esperança”. Era proprietário de um cartório há vinte passos.
Nos derradeiros minutos do crepúsculo, tendo lido para vários amigos
“quem não tem cão caça com jumentos” – antes que o verdadeiro título seja
olvidado, “aos princípios de palavras e pré-fundas” -, ouvido-lhes as opiniões
e conselhos ad-versos, ad-vertências di-versas, sentei-me à mesa do hotel em
que estou hospedado, pedindo Antarctica e aperitivo, descansaria o dito
popular, repousaria os jegues que foram protagonistas de meu quotidiano pelas
ruas de nossa cidade, coração das Gerais, era espairecer-me com direito às
quimeras da natureza e espécie.
Passara alguém, perguntando-lhe se era filha de Sérgio Travassos,
respondendo-me que sim. Disse-lhe haver sido amigo de seu pai, considerava-o
muito.
Penso que certas patadas não são necessárias, considerações, ad-vertências,
chantagens, enfatizar uma fala. Não se tem qualquer noção do que estão
intencionando dizer, insinuando. Nem verde caiu com a manga verde para fazer
cair as maduras. Perda de tempo.
Numa destas, a senhora a quem perguntei se era filha de Sérgio Travassos
dissera-me:
- E também sou mulher de Gildo Capão.
“Também sou” não consegui engolir. Disse-lhe haver sido amigo de seu
pai. Acaso desejo de dizer que era mulher de meu inimigo capital? Ficaria
lisonjeada, se dissesse ser amigo do amado e querido esposo - quem sabe me não
convidasse para jantar suntuoso à luz de velas, vinho francês, cracovianas para
alegrar a vida?! Não precisa ser intelectual para deduzir. Inimigo capital de
Gildo Capão? Nunca ouvi dizer deste homem, não sei se é gordo ou magro, se tem
cara de rato, de advogado jumentado. Enfim, não conheço tal pessoa. Ficaria
sabendo que Gildo Capão existe neste momento, não in-verto as orelhas para
eriçar o rabo, noutras palavras, não me interessa conhecer. Em especial agora:
estou realmente realizado com a presença dos verdadeiros amigos, fiquei, enfim,
livre dos trastes.
Lembrou-me senhora haver-me dito, tendo terminado de ler o texto cujo
tema é “quem não tem cão caça com jegue”: “você está com alguém atravessado na
garganta”. Dizia que meu escrito era res-posta que dava a alguém que me puxara
e girara o rabo no sentido anti-horário. Não havia outra explicação, era
chapuletada só na cabeça, eram coices em seqüência. Res-pondi-lhe, de antemão
às revezes, assustado, horrorizado, as palavras me saíam da garganta sem
qualquer determinação: “só se estivesse com a garganta atravessada em alguém,
usaria a pena para retirá-la, trabalho de médico leigo sabe como é, deixam suas
marcas”, o que fora motivo de risos.
Fora intenção descrever o que fora acontecendo após haver escrito “aos
princípios de palavras e pré-fundas”, seria asnice sem limites se desejasse
escrever outro que se lhe comparasse, andasse ombro a ombro, asnice em cujas
entrelinhas lêem-se “no rabo, razão alguma habita”. Nada supera “quem não tem
cão caça com jegue”.
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