Veio-me à mente
por mais as pessoas estejam informadas da realidade em que vivem, problemas e
dificuldades por que passam, ainda caem no “conto-do-vigário”. Por inocência,
ingenuidade? Não. Porque, mesmo, as informações são tantas, não lhes têm acesso,
não lhes são permitido conscientizarem-se das coisas; em específicos ângulos,
são-lhes barrados quaisquer conhecimento, só quem é parte do sistema está
ciente do que acontece – pode agir a seu bel prazer, não importando condutas e
posturas.
No dicionário,
o termo “sede”, somos informados ser a “casa principal de uma ordem religiosa”,
entidade, instituição. Neste sentido, a “sede” dos padres redentoristas em
Curvelo é a Basílica de São Geraldo, ou seja, onde a doutrina cristã, religiosa
é trabalhada na comunidade, cujos objetivos são a fé, amor, evangelização,
espiritualidade – a fé de nosso povo curvelano é inabalável, nosso símbolo maior
é São Geraldo. E todos sabemos da conduta ilibada de nossos padres na história
cristã e religiosa – não tenho notícia de desvio de conduta dos redentoristas.
A “sede” do “poder público” é a Prefeitura, onde os interesses econômicos,
sociais, políticos são trabalhados a favor da comunidade. Sempre nos momentos
de sonhos e saudades, imagino os curvelanos dando saltinhos pelas ruas de
alegria com o desenvolvimento através da gestão do nosso prefeito e equipe.
“Sede” exige os
desejos dos homens estejam na pauta e estatuto quotidianos. Nela, objetivos,
metas, projetos, intenções estão voltados aos homens, visam desenvolvimento,
amadurecimento deles, “real-izar” interesses beneficiem a todos cultural,
humana e humanisticamente.
Se tais
objetivos não são vigentes, observa-se a olho nu não existirem, o que vige são
as ideologias, fogo de egoísmos particulares (enfim, vontade de poder foi
sempre tentadora, já o dia Nietzsche, em seu nome continuo-lhe o pensamento
noutras jurisdições e foros), as condutas são as mais ilegítimas, maculadas,
pode-se dizer tratar-se de “Sede de Orates”.
Em termos da
cultura e artes, a sede é academia, cujos objetivos nucleares e essenciais são
as divulgações, o crescimento cultural, intelectual, humano e espiritual dos
homens, da comunidade, “en-raizando” as produções artísticas, pro-duzindo
consciências-estéticas-éticas na totalidade. Tomei em mãos a res-ponsabilidade
de “en-raizar” o escritor Antônio Nilzo Duarte e suas obras, felizmente anda de
“vento em popa” – o que habita o coração dos homens é o amor, somos o “coração”
das Minas Gerais, faltava alguém falar de amor verdadeiro. Sonhos,
utopias-estéticas-éticas de um povo só são realizados nas artes, religiões (já
o disse o compadre Paulo César Carneiro Lopes).
Se estes não
são os objetivos, em primeira instância, não se pode falar em academias, muito
menos em “sedes” culturais e artísticas, pode-se dizer que um grupo de
“salauds” se reúne debaixo de um teto com interesses que só Deus mesmo pode
saber, porque é Ele quem conhece profundamente a alma humana (há aqueles que
tiram a roupa e pisam em cima, afirmando que empreendem grandes serviços à
comunidade, recebem até “medalhas de honra”: são os que precisam assegurar os
seus lugares na confiança deles, são os que necessitam de “juízes” já que não conhecem seus dons e talentos). Em
segunda, as artes e a cultura estejam vigentes na comunidade, seguem a
trajetória no mundo, espiritualizando os homens. Pode-se dizer estão mãos
destes homens que se reúnem debaixo de tetos para solidificar a alienação e
insanidade total, absoluta. As artes são manifestações culturais de um povo,
são-lhe a vida, devem então estar no meio dele, trabalhando necessidades e
urgências. Temos cultura, arte, grandes personalidades nas artes e na cultura –
exemplos para mim são Marcos Antônio Alvarenga, Antônio Nilzo Duarte, Paulo
Cesar Lopes[2],
Ludmila Paixão – o que nos falta é a responsabilidade com isto, e isto só se
torna real a partir de engajamento, de lutas em favor dos verdadeiros artistas,
das artes, da comunidade. Antigamente não era preciso identificar os artistas
dizendo “verdadeiros”, mas hoje existem os “oportunistas da imortalidade”.
Dissemos as
pessoas estarem informadas da realidade em que vivem... Se estivessem da
necessidade das artes, do que significam na vida e na realidade da comunidade,
não receberiam com toda alegria e saltitância “gatos por lebres” , não cairiam
no “conto-do-vigário”. Na História, grupos de homens resolvem tomar as artes em
mãos, as artes são deles, isto é, têm de tirá-las do povo porque significam
consciência, espiritualidade, e não é negócio sejamos conscientes, espirituais
e espirituosos, interfere no presumido poder que têm; as escolas estão
incluídas, o que ensinam nunca foi literatura.
Leitor, quereis
algo mais deprimente, difícil de engolir, do que ouvir, como ouvi neste “buraco
de mundo” em que resido, que Curvelo tem “casa de cultura” e não tem cultura.
Temos sim, e temos pessoas cultas e intelectuais de renome internacional como é
o caso, dentre outros, de Lúcio Cardoso, André Carvalho, Ângelo Antônio. Alguém
muito querido gosta de tirar sarro de minha cara, dizendo que sonha comigo
membro de academia – é o oportunismo da imortalidade que refuto com todas as
letras. Jamais, ‘ne-never´, não preciso de juízes, minha juíza é Maria
Santíssima.
Nasci artista,
Deus legou-me o dom das palavras (não fui feito pelas mãos dos interesses e
ideologias “chinfrins”: mando-lhes as “bananas” de Sartre); a escrita é o “ar
que respiro”, como definiu alguém curvelano por quem tenho carinho e amor
enormes. A minha responsabilidade: a consciência-estética-ética. Ser escritor
não é só colocar livros no mercado literário, usufruir fama e prazeres mil
(Antônio Nilzo Duarte não comercializa suas obras; eu tenho a responsabilidade
com a minha carreira de escritor: sou filho de Machado de Assis, Dostoiévski e
Sartre) – nossa atualidade, nosso sistema criou o monstro chamado “fama e
imortalidade” através das artes, de qualquer outra atividade; arte não é fama,
imortalidade, os escritores na história lutaram pela
consciência-estética-ética, a imortalidade foi resultado.
Caríssimo
leitor-curvelano, todos somos culpados de nossa história – já o disse Walter
Benjamin -, somos responsáveis por rever-lhe as mazelas e pitis. Sou escritor
“livre”, sou quem dá sentido, rédea (fazer os homens rirem de felicidade, eis o
lema; ninguém é feliz por cair no “conto-do-vigário”) a esta liberdade com a
minha responsabilidade, e elas são as letras.
[1] Esta crítica foi publicada pela primeira vez
publicado no tablóide E agora?, Ed. nº 36, novembro de 2008.
[2] O único nome que está registrado na primeira
publicação aqui não o será – temos nossas razões para não o fazer, apesar de
que o considero um grande poeta. Não dissera destes naquela edição é devido ao
espaço exíguo de tablóides.
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