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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

NASCIMENTO DO UNI-VERSO - Manoel Ferreira Neto





Amor de um poeta. Amar eternamente, persuadido de sua pureza, exaltação. Que vai muito além de uma vida que nasce, que se abre inteira para as dores, sofrimentos, que se entrega às buscas, esperanças, desejos e vontades de “ser”. Que vai além de um túmulo fechado a todas as circunstâncias da vida, sujeita às intempéries de todas as hipocrisias, farsas, falsidades, aparências, de todas as injustiças, preconceitos, discriminações.
Nasce o uni-verso com o amor do poeta.
Perdão, leitores, bem sei e re-conheço mesmo que é preceito dominante não misturar berço de nascimento com túmulo, início e fim da vida, não misturar comidas com amores, as comidas saciam a fome, aumentam as energias para as labutas quotidianas, restituem as gastas com os fracassos e frustrações, estimulam a desejar mais e mais a continuar buscando os versos verdadeiros que real-izam o ser e o não-ser, que molduram alegrias e tristezas, felicidades e angústias, que moldam esperanças e fé, que modulam amores e ódios, que equilibram vida e morte; os amores são passageiros, efêmeros e fugazes, garantem apenas a travessia, passagem de uma quimera à ilusão de que viver exige sofrimentos e dores, angústias e medos, mas, após esta travessia, a certea de que o vazio habita as pré-fundas da alma, e, caso queira re-verter isto, faz-se necessário dar murros em pontas de faca para restaurar os desejos de novo amor, amor que engrandece, amadurece, abre as portas e janelas para o “ser”, mas é um cata-cavaco contínuo, e jamais se torna possível do amor à felicidade vivencial e vivenciária.
Não sei, caríssimos leitores, se algum amante vive de orvalho ou pétalas de flores. A doutrina mais que divina, trans-cend-“ente” da vida é esta: espera, confia, e colherás a ansiada palma, oxalá que esta fantasia me seja apagada do coração e mente.
Nasce o uni-verso com o amor do poeta.
Abri o Evangelho de S. Mateus, às três horas da manhã, quando acordei e me não foi possível conciliar o sono outra vez, pensando que a morte liga mais os vivos aos mortos, a lembrança é mais viva, indo para o escritório, sem saber o que faria naquele passo em que o filho de Deus, Jesus Cristo, diz que a açucena não labora nem fia, e o tempo exíguo vive como o ar e o sol, sem dor nem pensa, sem angústia e piedade.
O amor do poeta traz a calma, tranqüilidade, a serenidade das labutas e esforços por vencer as dicotomias, contradições, paradoxos, dialéticas e absurdos, e ser esperança, unicamente esperança, de um uni-verso nascido à luz das venturas do amor que se re-parte sorte e morte.
Bom poeta, não alguns que rimam “águas” com “fráguas”, é hoje quase um mito. Não consegue dormir, sua alma foge para ir velar o doce sonho do “verso verdadeiro”.
Nasce o uni-verso com o amor do poeta.

“Olha esse sol que a criação inunda!
Oh! Quanta luz, oh, quanta doce vida
Deixar-me vai na escuridão profunda”

A vida tem o seu índex no cemitério; a morte tem sua ficha técnica no berço. Diante de algo neste feitio e modelo, diria um amigo que íntimo: “Deus me concedera o dom do paradoxo. Por um lado, joguei pedra na cruz; por outro, encontrei o Paraíso Celestial”, isso para afirmar que estava em perfeita harmonia com sua existência. Viver é estar na corda bamba, viver é estar entre o bem e o mal...
Nasce o uni-verso com o amor do poeta.
No seu olhar, não sei que luz estranha, inusitada, excêntrica, ridícula e imbecil, que indica um aluno da poesia, um morador das famosas e uni-versais montanhas/serras diamantinenses, das árvores secas e mortas curvelanas.
O amor do poeta, ainda que não deseje, queira, tenha vontade, vislumbre suas estrofes, contemple seus versos, faz monossílabos; não gasta o tempo com an-álises compridas.

Nos olhos, trago a morte escura
Do nascimento do universo,
No uni-verso de minha retina
Trago a vida transparente e nítida.

Nasce o poeta com o amor do uni-verso.
Ontem de manhã, indo ao jardim de minha residência à rua Cícero Marques, achei a grama, as flores e as folhagens transidas de frio e pingando. Disse-me: “Que coisa! Em Curvelo, isto não é possível. Chovera a noite inteira; o chão estava molhado, o céu frio e triste, e as Esperanças do Corcovado acolhidas com o paletó da eterna e imortal quimera do uni-verso  do nascimento.
O céu frio e triste é, na verdade, o sócio natural das alegrias públicas.
Condenem-me, discriminem-me, fato é que o espírito público torna habitual o verso do uni-verso único, o nascimento da tristeza indefinível, da angústia ininteligível.
Assim Deus concebeu e criou o poeta, este ser solitário que perpassa os séculos, este ser que ama o único verso do nascimento: viver e ser feliz!



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