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terça-feira, 24 de novembro de 2015

DA POIÉSIS AO “SER FELIZ” - Manoel Ferreira Neto





O que sensibiliza os leitores é escrever sobre isto de “ser feliz” – desejo profundo que nos habita de experienciar e vivenciar em nossas relações com o próximo, com o mundo, o nosso ser feliz, revelar a felicidade de nosso ser, a nossa vida ser de prazeres e alegrias suntuosos e esplêndidos-, inspirado no poema Ser feliz da poetisa e escritora Maria Ernestina Moreira Barbosa, fundadora e membro da egrégia Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa.


A vida de Jesus Cristo fora por inteiro entregue às Palavras de Deus, palavras que, se vividas realmente em sua profundidade, orientam-nos, revelam-nos o Amor, a Solidariedade, a Compaixão, pedras angulares que nos trazem à superfície da vida e de suas circunstâncias, a felicidade de nosso ser, o ser feliz por que tanto desejamos, ansiamos. A felicidade que conquistamos, fundada no Amor, Solidariedade, Compaixão culminará em nossa Redenção, Ressurreição, no Paraíso Celestial, a “casa ampla” que Deus nos reserva a todos.


Amiga íntima e artista-plástica, Martha Moura, numa de nossas conversas, disse-me que, em verdade, o que os homens desejamos mesmo é encontrar o modo de sermos felizes, caminhos que devemos trilhar em busca da felicidade, de nosso paraíso. Disse-lhe: para encontramos o modo de sermos felizes, devemos ter, mesmo que ínfima, noção do que é isso a felicidade, ser feliz. E sabemos? Temos alguma noção? A nossa modernidade com os bens materiais, prazeres e alegrias efêmeros, desejos arraigados na carne e nos ossos do poder, da superioridade sobre os outros, distanciou-nos ipsis litteris dos questionamentos e buscas espirituais. Esquecemo-nos de nos perguntar: o que é isto – ser feliz? Que caminho devo seguir para alcançá-la verdadeiramente?


Dizia isto à inestimável amiga, sentindo, no mais íntimo, feliz com a conversa – não era apenas felicidade momentânea, instante efêmero do ser feliz, pois aquele encontro, os questionamentos que nos faziam e nos mostravam nítidos e transparentes o nosso desejo de sermos felizes, seguir-nos-íamos todos os passos, habitar-nos-íamos nossos espíritos, e sempre nalgum momento a lembrança, recordação, memória do encontro e questionamentos, a presença forte e real de reflexões, meditações. Dizia-lhe eu, encontramos os dois o modo de sermos felizes, buscarmos a nossa felicidade plena e absoluta, que não está no mundo, habita a trans-cendência, na nossa morada na “Casa do Senhor”; encontramos as artes, e a partir dos dons, eivados de origens, princípios espirituais, seguimos a nossa longa jornada. Somos felizes, resta-nos conquistar a “felicidade plena e absoluta”, e isto só será possível de real-ização, se, em verdade, nossas vidas estiverem entregues ao próximo, ao outro, desejando o encontro dos homens, da humanidade, mostrando-lhes caminhos, possibilidades, probabilidades de outra vida que não esta que vivemos no mundo, especialmente em nossa modernidade. A sagrada face do artista é o outro, o próximo.


Faz-se mister o mergulho real e verdadeiro, em nós mesmos, conhecermo-nos por dentro, desejarmos o encontro de nosso eu, quais são as verdadeiras utopias, sonhos, para que possamos pré-senciar a felicidade que habita nosso ser, o desejo de nosso ser da felicidade.


Caríssima amiga, D. Ernestina Barbosa, você, imbuída de sensibilidade e espiritualidade, sedenta de pré-(s)-enc-iar a felicidade dos homens, da humanidade, sentirem a alma e o espírito, conhecerem a espiritualidade, viverem a felicidade, desejos estes que se re-velam e manifestam em você, e que, às vezes, entristece-lhe por os homens estarem seguindo na contramão dos valores e virtudes eternos e espirituais, e no mundo imperar e preponderar as dimensões negativas de toda ordem, não apenas escreve poema, eivado da poiésis re-colhida e a-colhida nos desejos, sonhos, utopias, quimeras, fantasias, re-presenta a vontade de re-velaçao da VIDA.


O poeta pergunta – nesse poema – o que é ser feliz? A poetisa deseja ouvir com toda a atenção de seu ser as palavras, memorizá-las verdadeiramente, e no de-curso e per-curso torná-las reais na própria vida, que é o princípio de transmiti-las aos homens e à humanidade, ver-lhes e sentir-lhes a VIDA e a FELICIDADE correr-lhes nas veias.


Muitas vezes, inestimável amiga, pensamos a verdadeira felicidade serem as coisas complexas, superação de problemas e dificuldades, e nos esquecemos que a verdadeira felicidade se manifesta nas coisas simples, contemplação da espiritualidade, amor, compaixão.


O poeta, então, res-ponde à pergunta que lhe fora feita, expressando-se de modo simples, con-templo-®-ando a vida no próprio eidos, vendo as coisas simples, beleza que nos é dada através da natureza, divinidade dos sentimentos e emoções.


Ser feliz, responde o poeta, é “ver as estrelas”, beleza e luz que iluminam a noite, e é promessa real de outra manhã, aurora; é “ver o céu, a noite” – que esplendor, céu, estrelas e noite, a beleza que nos penetra nos íntimos interstícios da alma e do espírito. Ser feliz “é estar perto de Deus”, e o que é isto estar perto de Deus? Estaremos perto de Deus, seremos felizes, se aprendemos a contemplar a VIDA, beleza do universo, natureza, amarmos uns aos outros como Ele, em verdade, nos amou. “E ficarmos alerta”, continua o poeta res-pondendo à pergunta, e este alerta é estar sempre re-fletindo, meditando acerca de nossas atitudes, ações, posturas e condutas éticas e morais. É estarmos abertos para outras vivências e experiências, é desejarmos a re-novação, re-nascer.


Ao acordarmos, abrirmos a janela de nossa alcova, “ver a rosa” linda, frágil, cujas pétalas mostram-nos a adesão, a comunhão, a harmonia na constituição de seu “ser rosa”, é também ser feliz, é pré-(s)-enc-iarmos a vida em todo esplendor e beleza, é sabermos que podemos também ser a Vida. Observar o vento é também ser feliz – ele que nos leva a outros horizontes, através dos campos, florestas, campinas e mares, e nessa longa viagem no “ser-dos-ventos” assistimos à beleza de todas as coisas, seres. O vento nos leva ao deserto, e nele encontramos a seiva de nossas vidas, encontramos a “água” que nos sacia a vida, por intermédio da reflexão e da meditação.


Andar de bicicleta é também ser feliz – entrarmos e sairmos de ruas, avenidas, observando e con-templando as coisas que vemos e vamos deixando para trás, os pés trabalhando nos momentos de levarmos não a destino específico, mas ao prazer de estarmos seguindo trilhas, caminhos. Viver esta experiência, viver os momentos todos que por eles passamos, sejam de alegrias, prazeres, sofrimentos, angústias e tristezas, culpas e pecados, a totalidade de nossos momentos, é também sermos felizes, pois que são a-“nunciações” da VIDA, desejos de sermos homens, superarmos dificuldades e problemas.


E o poeta, nesta con-templação, momento de espiritualidade, em cujas veias o vivenciário e o vivencial se mostram nítidos e transparentes, lembra-nos que ser feliz é “ter a alma poeta”, e, sendo alma poeta, não apenas se sente feliz, não apenas pré-(s)-enc-ia a felicidade, o seu ser é feliz. Amar e viver, saudar a matina, cumprimentar os animais, as plantas, como fazia São Francisco de Assis, com um “bom dia”, andar pela campina, ver os animais, a beleza da natureza, isto também é ser feliz.


A inesquecível amiga Ernestina Barbosa, após ouvir todas as palavras do poeta, senti-las profundamente, lembra-nos que a felicidade plena e absoluta, a que vivencia e experiencia na vida, é conversar com o amigo, ser-lhe misericordioso, distribuir sorrisos, sorrisos que preenchem a vida de esplendor e beleza, falar de alegrias, alegrias que nos sensibiliza e trans-cendem o mero quotidiano. E na noite limpa e fria, a poetisa Ernestina Barbosa re-flete e medita nesta felicidade que sente, esperando que na aurora do outro dia, todos os dias, os homens sejam iluminados pela felicidade, e suas vidas sigam horizontes do Amor e Solidariedade.


O desejo de amor do poeta só vive de entregas, o desejo da felicidade da poetisa Ernestina Barbosa só vive da espiritualidade que re-colheu e a-colheu nas Palavras de Deus. Obrigado, inestimável amiga Ernestina Barbosa, por este poema lindíssimo que me despertou ainda mais para a busca de ser feliz, e contribuir para a felicidade dos homens e da humanidade.





[1] Originalmente, esta crítica ao poema Ser feliz da amiga e acadêmica D. Maria Ernestina Moreira Barbosa, foi publicada em abril de 2008, no tablóide E agora?, 40º edição. 

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