Nada...
Essa
palavra sempre - quê á -gonia! Começar uma obra com ela em evidência, primeiro
parágrafo é colocar-me em situação desagradável: "Sera que este escritor
não conhece outra palavra?! Mude a faixa do disco de vinil!"
Com
certeza é incólume verdade. Enchafurdei-me no nada, não saio dele nem a troco
de pauladas, machadadas, pedradas. Mas quem disse o sentido dela seja igual a
todos os outros que já apresentei? Aquela surrada história desde Lourenço,
aquele do "cerca-lourenço" dos paulistas e paulistanos que significa
simplesmente "dar uma dura"; antes do louco passar na rua já se lhe joga pedras; quando ele passa,
pedras não mais existem a serem jogadas, o louco começa a atirá-las à revelia.
Contudo...
Estou-me
nas tintas para as metáforas do nada que perenizam o obtuso absoluto; assim
sendo laureado por quem sente sarnas e comichões por se livrar das angústias e
solidões. Amiga já disse que para se sentir bem, para não estar diante das
violências e agressões da sociedade, ela procura ler a minha obra. Se o nada
obtusa o absoluto, está njustificada a vida-para a morte, deita-se no berço
esplendido e glorifica a farinha do saco, joga-se-lhe outras farinhas e
prolonga-se por fraqueza. A fraqueza é o eidos do etéreo eterno, é o cerne do eterno efêmero, é o núcleo do
diamante que risca o inaudito do sempre-nunca. Vou hoje andar de
ponta-cabeça com o nada na sola dos pés
à luz dos universos e horizontes, confins e aléns. Quem sabe o nada assim se
alimente até se fartar dos raios de sol e vá se refestelar, fazer a sesta nas frestas do vazio. Só lhe desejo que não
se nauseie com as sombras, penumbras, brumas do ininteligível.
Pouco,
muito pouco, nada mesmo, me estou para o nada das esperanças e sonhos que
origina a saltitância da alma entregue às polkas dos prazeres idílicos do
eterno-sempre, nutrindo-se da
cintilância das estrelas, perscrutando o deserto lúdico das melancolias do
tempo do onça... Meu Deus como o nada é ridículo, o perfeito imbecil. mas o
imbecil que não é ridículo ironiza o tocó de seu rabo e o imbecil que não é
ridículo cinisma as orelhas que se abanam sem quaisquer ventos. Todavia o nada
continua na cena do picadeiro, inutilizando as performances da arte do riso e
da gargalhada livre e solva, ao deus-dará das nad-itudes. Aqui e acolá nos
horizontes do universo do nada pomposo e egrégio, o gesto de mim é a banana da
mão e do antebraço aos pálidos ocasos que refletem nos epitáfios das tumbas, do
jamais-eterno, a evidência trans-lúcida e trans-parente das cinzas que se
tornarão des-verbos do imaculado, insurrecto.
Estou-me
ileso frente a todas as gerações que esperam a sombra brilhar no interdito de todas as penumbras
dos aquéns e aléns das numbras do insólito. Vou dormir de banda, lado esquerdo
ou direito, decidi-me inda não, olho
aberto, outro não, para sensualizar o nada
do nada, fazer-lhe gozar sob o espectro da lua romântica que esplende
seu brilho na lagoa da eter-itude. Assim chamega a crepitude das ilusões, quimeras
e idílios.
Surrealista
do nada? Não. Surrealismo ao nada, no sentido de "abaixo o nada",
desde que o"sur" do realismo identifique o nada na imagem refletida
do obtuso.
Manoel
Ferreira.
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