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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

**NADA OBTUSO**



Nada...
Essa palavra sempre - quê á -gonia! Começar uma obra com ela em evidência, primeiro parágrafo é colocar-me em situação desagradável: "Sera que este escritor não conhece outra palavra?! Mude a faixa do disco de vinil!"
Com certeza é incólume verdade. Enchafurdei-me no nada, não saio dele nem a troco de pauladas, machadadas, pedradas. Mas quem disse o sentido dela seja igual a todos os outros que já apresentei? Aquela surrada história desde Lourenço, aquele do "cerca-lourenço" dos paulistas e paulistanos que significa simplesmente "dar uma dura"; antes do louco passar na rua  já se lhe joga pedras; quando ele passa, pedras não mais existem a serem jogadas, o louco começa a atirá-las à revelia. Contudo...

Estou-me nas tintas para as metáforas do nada que perenizam o obtuso absoluto; assim sendo laureado por quem sente sarnas e comichões por se livrar das angústias e solidões. Amiga já disse que para se sentir bem, para não estar diante das violências e agressões da sociedade, ela procura ler a minha obra. Se o nada obtusa o absoluto, está njustificada a vida-para a morte, deita-se no berço esplendido e glorifica a farinha do saco, joga-se-lhe outras farinhas e prolonga-se por fraqueza. A fraqueza é o eidos do etéreo eterno,  é o cerne do eterno efêmero, é o núcleo do diamante que risca o inaudito do sempre-nunca. Vou hoje andar de ponta-cabeça  com o nada na sola dos pés à luz dos universos e horizontes, confins e aléns. Quem sabe o nada assim se alimente até se fartar dos raios de sol e vá se refestelar, fazer a sesta  nas frestas do vazio. Só lhe desejo que não se nauseie com as sombras, penumbras, brumas do ininteligível.

Pouco, muito pouco, nada mesmo, me estou para o nada das esperanças e sonhos que origina a saltitância da alma entregue às polkas dos prazeres idílicos do eterno-sempre, nutrindo-se  da cintilância das estrelas, perscrutando o deserto lúdico das melancolias do tempo do onça... Meu Deus como o nada é ridículo, o perfeito imbecil. mas o imbecil que não é ridículo ironiza o tocó de seu rabo e o imbecil que não é ridículo cinisma as orelhas que se abanam sem quaisquer ventos. Todavia o nada continua na cena do picadeiro, inutilizando as performances da arte do riso e da gargalhada livre e solva, ao deus-dará das nad-itudes. Aqui e acolá nos horizontes do universo do nada pomposo e egrégio, o gesto de mim é a banana da mão e do antebraço aos pálidos ocasos que refletem nos epitáfios das tumbas, do jamais-eterno, a evidência trans-lúcida e trans-parente das cinzas que se tornarão des-verbos do imaculado, insurrecto.

Estou-me ileso frente a todas as gerações que esperam a sombra  brilhar no interdito de todas as penumbras dos aquéns e aléns das numbras do insólito. Vou dormir de banda, lado esquerdo ou direito,  decidi-me inda não, olho aberto, outro não, para sensualizar o nada  do nada, fazer-lhe gozar sob o espectro da lua romântica que esplende seu brilho na lagoa da eter-itude. Assim chamega a crepitude das ilusões, quimeras e idílios.

Surrealista do nada? Não. Surrealismo ao nada, no sentido de "abaixo o nada", desde que o"sur" do realismo identifique o nada na imagem refletida do obtuso.


Manoel Ferreira.

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