Ao amigo, músico e poeta,
Ivo Pereira, lá de Estrela do Indaiá, no Alto São Francisco, por sua
sensibilidade e talento das notas musicais e dos versos, quem me ensinou as
veredas e caminhos musicalizados no ser e nas sinas e tragédias da vida, esta
minha homenagem, por seus sentimentos e emoções elevando as raízes mineiras às
resplandecências dos jardins e florestas do espírito.
Amigo, “buscamos
caminhos de versos, quais profetas em cima dos muros de Minas, elencando os
novos tempos que hão de vir, na subjetividade das utopias da verdade, no
espírito dos sonhos de trans-cendência,
sendas de poeiras metafísicas, as verdades inestimáveis, as desgraças e
tragédias inevitáveis, veredas de enredos e ritmos, becos e alamedas de
espiritualidade, ruas e estradas de sentimentos outros e contingências novas,
trilhamos paisagens mineiras de imagens do pleno e sublime nas perspectivas do
belo e da beleza, nos ângulos de montanhas e vales”, “desejamos na musicalidade
do espiritual o itinerário do ser, trajetória da vida, sermos o outro de nós no
ritmo de nossos sofrimentos e dores, no enredo de nossas situações e
circunstâncias, construirmos nossa história de entregas e vontades de os homens
encontrarem suas sendas de amor e compassividade”, na “liberdade sem par e precedentes”
que vislumbramos e persignamo-nos, con-templamos e oramos, em olhos verdes, as
esperanças de luzes fosforescentes, fluorescentes de lírios e lilases, na
“noite vazia” de sentimentos que se cristalizam na superfície de águas
límpidas, na “madrugada sorumbática” das desesperanças e ausência de fé que se
alicerçam no “dia de raios solares”,
numinando os horizontes esplendidos de desejos do verbo amar, de sonhos de
plen-itude, no crepúsculo das imagens grávidas de outros amanhãs, novos ideais
e buscas de encontro com o pleno e absoluto, no “universo a semente”, semente
das inspirações que gerei em “nova estação”, uma que só existiu na imaginação e
a inspiração tornou real, a estação nova, raízes das intuições e intenções que
se me a-nunciaram nos interstícios da alma, que germinei na comunhão das
ec-sistentes e contribuíram para o nascimento de outras vontades, fizeram
re-nascer no íntimo o que não fora concretizado, nascendo outros ímpetos de
lutas e entregas, resistências e persistências, “imagem da emoção” que brota na
certeza de re-nascer caminhos de versos, estrofes múltiplas de rimas
interiores, veredas de musicalidade e líricas, um cântico de pássaro trinado
nas grimpas do flamboyant, do beija-flor antes de beijar as rosas e
crisântemos, sobrevoando-a, brilhando numa prosa-canção que se inspira em você
que, nas “noites do Arraial”, espera a
“nascente, água pura”.
No crepúsculo das
imagens grávidas de outros amanhãs,
Desejar, na musicalidade
do espírito o itinerário do ser,
Ser o outro no ritmo de
sofrimentos e dores,
Desesperanças e ausência
de fé,
No enredo de situações e
circunstâncias,
Construir a história de
entregas e vontades,
Trilhar paisagens
mineiras de imagens do pleno e sublime.
Em cima dos muros de
Minas, veredas de enredos e ritmos,
Numinando nos sonhos de
plen-itude a “imagem da emoção”,
Que brota na certeza de
re-nascer caminhos de veros versos,
Estrofes múltiplas de
rimas interiores, veredas de musicalidade,
Cântigo de pássaro
trinado nas grimpas do flamboyant,
Ruas e estradas de
contingências outras, esperanças de luzes
Brilhando numa
prosa-canção que se inspira
Nas gerais nascentes,
“água pura”.
Germinam nos
interstícios da alma uni-versos e sementes,
Nas fontes de águas
límpidas e transparentes,
Perspectivas do belo e da
beleza re-nascem esperanças de luzes,
Minas de gerais ímpetos
de liberdade.
Amigo, nossos passos são
pontes, nossos corpos, fontes, nossas carnes, desejos, nossos ossos, cinzas de
verbos defectivos. Águia abrindo a espera: asas mensageiras. Seu dia sem grades
se a-nuncia na estação do encontro onde as travas serão lembranças. Nossas
emoções agrupadas num sorriso não terão fulgor suficiente para na manhã de
luzes e prenúncios saudar o mágico instante da fresta no horizonte, notícia no
vento. Queremos brincar com estrelas, correr campos, velejar, beber a sede das
ruas, queimar a luz do luar, lavrar o corpo no grito.
A “deusa musa”, em êxtases de velar os ossuários
da terra, em clímaces de con-templar o mundo, entrega-se ao sono, às estrelas,
nos sonhos de “harmonia de cores”, “sin-cronia de traços” a pincelar imagens
germinadas no íntimo, geradas de amor e buscas, nascidas em metáforas do
espírito sedento do ser que se faz na continuidade das ilusões e quimeras, em
símbolos do verbo e da carne que vivem, vivenciam o quotidiano repleta de
desejos e vontades, em signos do esplendor e eterno, no re-conhecer o que sou
não mais se modifica ou metamorfoseia, quem sou pode ser trans-formado a cada
instante, dependendo apenas de meu con-sentimento e decisão, em signos do
imortal e divino a preencherem os vazios da falta-de-ser, “manque-d´être”, e da
ausência de alegrias e prazeres, mesmo dos abismos de insensibilidade e
unicamente natureza, instintos que habitam o ser que fora feito ao longo dos
problemas e dificuldades. A leste do éden os lírios e lilases, flores são um
espetáculo da natureza, a unidade do mundo, o elo de todas as coisas, “a sina
de ser”, “o destino de cont-ingenc-iar o dia-a-dia de angústias e esperanças”,
o passe de mágica que transporta a “lua na noite calada” para o “infinito do
uni-verso numinado de esperanças as mais di-versas”, o espírito desde o sentir
do sono, do êxtase desde o sonho ao sono, num “instante de sedução”, para a
vida de todos os instantes, sentimentos de luz inspirados no brilho das
estrelas e da lua, de “pedras sagradas” que rimam palavras sutis com emoções
eivadas de ternura e carinho a embalarem a vigília na rede que escreve para mim
as luzes, e demonstrar por atos e palavras, capazes de me não esquecer “as
coisas boas assim”.
Na manhã de luzes e pré-núncios,
Saudar o místico momento da fresta
No horizonte imortal e divino da lua na noite
calada,
Infinito do uni-verso numinado de “harmonia de
cores”,
Sin-cronia de traços a pincelarem imagens
germinadas,
Sin-fonia de imagens a resplandecerem de beleza as
sendas perdidas,
Signos de esplendor e eterno nos liames do
espírito,
Desde o sentir do sono, do êxtase desde o sonho ao
sono,
Instante de sedução, brilho das estrelas e da lua,
“pedras sagradas”, cristais, diamantes e ouro
Que rimam palavras sutis com o éden de luzes e
lilases,
Inspiradas na rede que balança nas gerais “utopias
cristãs”.
“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o
quotidiano,
O elo de todas as coisas, flores são espetáculos
da natureza,
Liberdades são cenas eivadas de ternura e carinho,
“instante de sedução”,
Querer brincar com estrelas, correr campos,
velejar,
Beber a sede das ruas, queimar a luz do luar,
Lavrar o corpo no grito.
Signo de metáforas nascidas de vigília e palavras
A pincelarem imagens do imortal e divino
A preencherem os vazios da falta de ser,
“manque-d´être”,
Da ausência de alegria e prazeres,
Pedras sagradas, diamantes profanos
Que rimam palavras sutis, que ritmam dores
São sentimentos de luz inspirados
No brilho das estrelas e da lua mineiras.
Em verdade, em verdade, amigo, não sei se é de sua
lembrança, de sua recordação, anos atrás, aquando me doara o seu lindíssimo CD,
escrevera um texto inspirado numa das músicas,
FLOR DO VALE – sabe e conhece você o amor que me habita pela música,
cinema, literatura, filosofia e teologia, pintura, não muito de teatro, não
tive essa oportunidade, na minha terra-natal Curvelo só pude assistir a uma
peça de teatro, AURORA DE MINHA VIDA, se não
me engana o título, com o grande amigo Ângelo Antônio, e mesmo em Belo
Horizonte assisti a muito poucas peças, não é uma paixão, é apenas ad-miração
por essa arte -, creio haver-lhe doado o texto, de acordo com a minha
sensibilidade a mais linda com que criei, a mais profunda que me empreendi
sentir; a intenção fora de lhe mostrar os meus estados de alma e espírito,
visão-de-mundo, idéias e pensamentos, fé e esperanças, ouvindo-a, o que a sua
música a-nunciou em mim, só no tempo, na vivência das experiências, iria ser
possível se revelarem, o que senti bem profundo, o que me inspirara, os novos
horizontes que se abriram qual leque para mim; após tantos anos, decidi
revisar, ampliar, conservando a idéia original, aproveitando as experiências e
vivências adquiridas nas letras, as emoções e sentimentos que hoje são outros,
os novos horizontes a-nunciados naquela época que hoje são conscientes,
sinto-me extasiado de volúpias com o que desfruto hoje, sinto bem percuciente a
minha solidão, não pode imaginar a maravilha dessa sensação, o esplendor desse
sentimento, ando no mundo, caminho na vida comigo ao lado, comigo dentro em
mim, isto se chama “amor-próprio”. Digo-lhe que das músicas que conheço de
minha preferência é “Sou caipira, Pirapora/Nossa Senhora Aparecida...”, cujo
tema é Minas Gerais, e a sua, sem escândalo, paradoxo, exagero, mas fico todo
arrepiado, frios intensos perpassam-me a medula espinhal, são o verbo e a carne
da sensibilidade.
Amigo, “buscamos caminhos de versos, trilhamos
paisagens mineiras”, no coração a felicidade e alegria de nossa
espiritualidade, magia de lendas, mitos, “causos”, mágicas verdades na
transcendência de nossa sensibilidade e vontades, na alma os prazeres de nossos
ideais de liberdade, solidariedade, no corpo e espírito os desejos de transcendência,
na ponta da língua, em riste, os adágios, ditados, expressões, que usamos em
demasia, chegando quase a abandonar as palavras comuns. A mineir-ice que trazemos dentro em nós alça
vôos em busca dos infinitos de horizontes e uni-versos de amor e ternura, em
busca dos escritos nas paredes de Minas que mostram que ela ec-siste nos versos
eternos dos poetas. A mineir-alidade que nos habita mergulha profundo nas
nostalgias e melancolias do espírito, a alma vislumbra e con-templa nossas
persistências em encontrar o Eldorado de nossas Minas. Nesse instante de busca,
todo uni-verso em movimento é de nula significação. Esse tempo metamorfoseado
em lenços brancos expira cheirando recordações, na pronúncia rouca da palavra,
na inutilidade do corpo na distância.
Minas, a pá-lavra os prazeres de liberdade,
Os infinitos buscam magia de lendas, mitos,
“causos”,
Mágicas verdades na trans-cendência da
sensibilidade
A mineir-ice busca versos eternos de poetas,
Mergulha profundo nas nostalgias e melancolias do
espírito,
O Grande Ser: Minas vislumbra e con-templa
As mágicas verdades e místicas divin-idades
De lenços brancos cheirando recordações
De ideais e utopias de Verdades,
Na pronúncia rouca da palavra
Que transcende os sentidos da simples
contingência,
Da poeira mesquinha da realidade,
Da metafísica pomposa e solene das sedes de
conhecimento,
Da ventania ontológica e antropológica do real
apalhaçado de verdade
Da vida, do tempo e das maquiagens di-versas do
instante
De medos, dúvidas, des-confianças.
Nas paredes de Minas, nostalgias e melancolias do
espírito,
No corpo e espírito mineiros, ideais de liberdade,
solidariedade,
A alma vislumbra e con-templa o uni-verso em
movimento,
O tempo metamorfoseado em lenços brancos
Expira cheirando recordações, re-nasce exalando
desejos
De magia, mitos, misticismos, causos,
Todo uni-verso, na pronúncia rouca da palavra,
Trilha paisagens mineiras.
Percebo aqui e ali a rede de fios, ouvindo as
músicas, buscando caminhos de versos que cantem o todo imenso, que declamem a
lírica do ab-soluto tornado princípios e lemas de outros valores e virtudes, a
in-finitude das nuvens brancas e azuis espalhadas no céu, a unidade
indescritível da poiésis e lírica, e como que envolvido por uma neblina os
olhos, quem sabe, sustentem o pecado ou seu dogma, “da velha cidade”, e
profundamente aspiro a abandonar-me, suspender-me na roda-viva do tempo e dos
projetos, a deixar-me-levar à luz de faz-de-conta que as linhas embalam “no ser
sozinho”, “na melancolia da alma que deseja a libertação de dogmas e
conservadorismos”, deixando-me impregnar das “paredes de casas velhas”,
Mariana, São João D´el Rei, Vila Rica, povos que não vivem da história
escravagista, não a tornam interesses escusos, não ufanizam o sofrimento
tornado Patrimônio, não fazem dela orgulho e vaidades, não se sentem
vangloriados dos sofrimentos e dores de outros,
não a transformam em comidas sobre a mesa, vestes sofisticadas, cabeças erguidas e peitos estufados,
conservam-na, mas buscam a liberdade e outras subjetividades e visões de
con-templar o mundo e a vida, “por entre os mistérios” de uma emoção e
sentimento únicos , sublimes, agradáveis, de um enigma lendário de força e
entrega à luz dos ideais e utopias de paz e solidariedade, à chama dos lampiões
em pequenos casebres rogando e clamando por amor e felicidade...
E quem sabe ora esteja a sonhar que tais letras
saem do papel em ondas de luzes que transformam sons, em passos lentos se
aproximem dos ouvidos, dos olhos, sejam ritmos e musicalidade que iniciem de
embalar “por cima dos muros de Minas” a arte de ouvir o silêncio, o deserto, de
prestar atenção de vida às inúmeras
vozes que me perpassam, preenchem-me o vazio, os sonhos ainda a serem real-izados,
e por que me entrego por inteiro, me dôo aberto e susceptível, frágil, às realidades e circunstâncias do irreal e do
fantástico, o coração calmo, tranqüilo, quieto, com o espírito receptivo,
aberto, sem paixão, sem vontade, sem desejo, pois “existe uma tristeza
imensa,/nas ruas caladas de Minas”.
Gerais pensamentos trabalham no silêncio da grande noite o sonho imortal
que faz dos homens, mineiros, transeuntes sem peias da livre geografia,
vagabundos sem correntes da serena ecologia, prostitutas sem noites e sem
brilho nas retinas de seus olhares. Habito em aroma eucaliptal, insensando a
tarde, um vargar sem pressa, um perambular lento, um sentar no meio-fio sem
lenço nem documento, que o tempo não escorre nas encostas; que todos caminhos
levam ao mesmo ponto e todo olhar mira com o mesmo encanto cada montanha, e
toda sensibilidade con-templa com as mesmas esperanças os tesouros da história
e da vida. História de vegetal e homens, repousando no colo de montanhas
guardiães; esse ec-sistir real em tal potência que em fábula se transforma ao
tentar em palavras definir o que enxergam nossos olhos forasteiros, nossos
corações estrangeiros, nossos espíritos e alma sedentos de verdade.
“Existe uma tristeza imensa,
Nas ruas caladas de Minas...”
Gerais pensamentos trabalham no silêncio da grande
noite,
Caminhos levam ao mesmo ponto e todo olhar mira
Com o mesmo encanto cada montanha,
Cada chapadão, cada pradaria, cada estrada de só
poeira e buracos,
Em ec-sistir real mineiro em tal potência,
Em fábula, em conto-do-vigário, em mito, em
misticismo,
Se transforma ao tentar em palavras esperanças e
tesouros
Da história e da vida.
Um modo íntimo de ser-me, de estar-me-em-mim, de
criar-imagens-e-poesia, de originar perspectivas e estrofes em consonância e
ressonância com os instantes e momentos de re-flexão, de
conceber-desejos-de-ser-na-liberdade-do-espírito, que me fixa nessa iluminação
viva de mim, nesse brilho trans-cendente na imanência de pensamentos, idéias,
ilusões e quimeras, nesta dimensão trans-lúcida do halo divino de outros nós,
de outras luzes de lírios e lilases, da tiara de ser e não-ser à mercê e
revelia do tempo, com uma estrela branca-transparente aos pés e, ao lado,
meia-lua acinzentada, a “esquina” entre as montanhas “do coração”, em frente,
distante, emerjo enfim entre os astros, doce e belo, irmanado ao absoluto dos
instantes-limites, “perto dos olhos,/entre as montanhas...”...
“Perto dos olhos,
Entre as montanhas...”
Emerjo entre os astros, doce e belo,
Irmanado ao absoluto dos instantes-limites,
Na dimensão trans-lúcida do halo divino de outros
nós,
Com uma estrela branca-transparente aos pés e,
Ao lado, meia-lua acinzentada, a “esquina”
Entre as montanhas “do coração,
Trans-cendente na consonância e ressonância
À mercê e re-velia do tempo,
Originar perspectivas e estrofes de imagens e
poesia,
Versos de sensações e sentimentos.
Ah! Minas, conjecturada nos portais dos casarões
decadentes, sublimada em chafarizes. Minas tem cheiro de ontem, odor de
melancolia e nostalgia. Perenizam de Minas só as carícias, ternuras de grossas
mãos selecionando pedras, distinguindo cristais de diamantes, perenizam de
Minas “o regato acorda cedo/as folhas descendo a ladeira”, perenizam de Minas
os desejos de liberdade e braços abertos à finitude dos valores e virtudes,
perenizam de Minas as esperanças e fé nas Palavras de Deus, perenizam de Minas
as “montanhas grávidas”, o que é suficiente para dizer que em Minas brota as
raízes da infinitude nas finitudes da liberdade e do tempo. Tristes sorrisos de
barrocas tardes, galos e sinos misturados no ar. Ah! Minas metamorfoseada,
aurora perdida nas montanhas niveladas, memórias cinzeladas em nuvens. Minas,
essa procura eterna, esse desejo imortal, essa terra perdida entre montes
indizíveis onde o homem pisa e logo sente que MINAS mina sonhos Gerais, nas
ad-versidades do tempo e da História, nas di-versidades dialéticas dos ideais e
contingências, nos ideais socialistas das utopias da igualdade e
compassividade, nas re-versidades do contraditório e do ambíguo, às avessas de
orgulhos e vaidades comuns e vulgares.
Quem sabe valeria “brilhar sobre a luz dos
lampiões”, valeria o ruído do vento que agita as galhas e folhas, os fios da
rede de eletricidade, a emoção não tem fim, as esperanças trans-cendem todas as
algemas e correntes, preconceitos de raça e fé, de posturas e atitudes,
solidões e desconsolos, passeiam no silvestre das florestas, nas sendas
perdidas das grotas e imensos abismos, chapadões e pastos, nas águas dos rios
que se unem ao céu, o destino é o infinito.
“O regato acorda cedo
As folhas descendo a ladeira”
Minas mina sonhos Gerais,
Nos tristes sorrisos de barrocas grades,
Galos e sinos misturados no ar.
Minas tem cheiro de melancolia e nostalgia,
Em Minas brotam as raízes da infinitude
Nas finitudes da liberdade e do tempo.
Esperanças trans-cendem algemas e correntes,
Pré-conceitos de raça e fé,
No silvestre das florestas,
Nas sendas perdidas das grotas, imensos abismos,
Chapadões, pastos,
Nas águas dos rios que se unem ao céu,
O destino é o infinito.
Minas metamorfoseada,
Aurora perdida nas montanhas niveladas,
Memórias cinzeladas em nuvens,
Minas, essa procura eterna, esse desejo imortal,
Essa terra perdida entre montes indizíveis.
Na zona incrível do sobressalto, atinjo não bem o
que sou por dentro, não bem o que penso nas pré-fundas de mim, o modo infinito
de ser-me, a pessoa viva, a pessoa absoluta. Nunca me contento com o rosto bem
delineado e modelado, no qual não faltam nem o célebre fogo do olhar nem os
passos de solitário com uma rápida sombra de amabilidade e cortesia, detalhes
que devem exigir a sagrada chama de minha juventude, iluminada luz de minha
velhice de experiências e vivências do “sereno pousando na terra, fogueira
branda no quintal”, as emoções nalguma canção que tocaria a emoção de uns
“olhos verdes”, resplandecentes de amizade a ser presenteada com meiguice,
sinto a meiguice mineira como a fonte de energia dos pingos de chuva que
deslizam nos vidros da vidraça, na vela acesa no canto da janela de fora,
enquanto eu estou no interior da casa, olhando o tempo e suas manifestações
naturais. Não sei se chamo isto de sonho, de esperança ou de ilusão, quem sabe
uma fantasia, sorrelfa, à “luz da
estrela guia,/ a lua clara,/ noite vadia”, olhando a vida com olhos inflexíveis
e resplandecentes, em que volto a re-conhecer, na musicalidade de noites
seresteiras, de forrós, de outros arrasta-pés um destino e, nas ruínas de minha
vida, fragmentos espirituais, miríades de outras solidões e medos, à luz do
presente que, no seu crepúsculo, a manhã ainda irradia um doce resplendor, o
homem cheio de fé e de alegria, radiante de outros princípios e valores, sempre
no encalço do grande e do eterno, do absoluto e divino no misticismo de outras
utopias de entregas e espiritualidades, de outras lendas e mitos da história de
conhecimentos e sabedorias, de outras fábulas e mentiras das buscas incansáveis
do eterno.
Há o sol, a chuva e a rua deserta. O corpo o sabe,
na humildade de seu cansaço, na
simplicidade de seu “stress”, de seu fim. Alegria breve, este meu conhecimento,
essa posse de todo o milagre de eu ser, de eu ec-sistir, de eu pensar na razão
pura, na razão prática, na subjetividade das artes, na estética das idéias
conciliadas às virtudes e valores imortais. Movo as mãos e os pés e é como se fossem
meus e não fossem. É o meu corpo, como calhou-me bem!...
Amigo, “buscamos caminhos de versos, trilhamos
paisagens mineiras”, juntos e na distância de estradas e culturas, e eu com
certeza escreveria para você uma música de palavras que “tocam a canção”, que
dedilham as cordas da imensidão e infinito, soubesse tornar notas sentimentos e
emoções, ideais de liberdade e idéias de compl-etude – mas tenho as letras,
amores e paixões de minha vida singular e particular, e a habilidade sensível e
espiritual de com elas ensaiar versos na prosa, de entabular palavras e letras
nos versos, de recitar líricas na imanência dos verbos simples -, não saberia
nunca me furtar ao prazer e à preguiça solene de não me esquecer de coisas tão
boas assim, que me fazem verter lágrimas pujantes, descendo-me a face, não as
enxugo com lenço de seda, deixo-as secar em contato com a minha pele facial com
os traços de expressão por intermédio do tempo.
Em “Paisagem Mineira”, título do CD, diz você com
propriedade: “A solidão do poeta morre/No silêncio eterno dessa canção”. Se me
perguntar você onde a minha solidão morre, necessitaria de alguns instantes
para res-pondê-la, não que não soubesse, fosse-me inconsciente, mas porque
teria de compor as palavras, não intencionando serem versos de uma canção,
conforme as experiências e vivências, nelas a sensibilidade estar inscrita, mas
algo que id-ent-ificasse a raiz e essência de meu ser. A minha solidão morre na
transparência dos sentimentos e emoções das letras que registro, em busca do verso
verdadeiro, do verbo que se transformará em carne; então, a solidão não me
habita, a solidão sou eu, a cada instante crio-me, re-crio-me, torno-me outro,
o outro de minha solidão, há quando faço de conta que em mim “existe um
querubim”, no instante em que con-templo a paisagem mineira, sinto alegrias e
felicidades.
Calado, ouço o que me segreda a água – esta que
cai a todo instante lá fora – há alguns minutos, desde que de esguelha olhei a
janela e seu exterior, imaginando uma vela ao canto dela, andando pela rua,
alguém me dissera que a chuvinha continua, não estiará por hoje, o frio será
intenso, respondi-lhe que sim, sinto-me ainda mais mineiro e todas as
mineir-ices se mostram e re-velam num dia chuvoso, no íntimo a chuva ilumina os
sentimentos e emoções, a expressão deles se faz poesia -, regando os jardins de
rosas brancas, vermelhas, amarelas, as flores desabrocharão no amanhã de Minas,
encantando as retinas dos mineiros sedentos de beleza e resplendor, neste
segundo em que ouço “Flor do Vale”, de sua
autoria, em que sentado em meu sofá, descalço, de camiseta e shorts, busco
cantar, declamar, encenar, recitar e re-presentar este momento, com palavras
que só encontram os sons no horizonte que se perde e se encontra na “esquina do
coração”. Não são apenas pingos d´água, não importando se grossos ou finos, se
chuva forte, se apenas uma garoa; não é apenas água, senão a voz da vida, mensagem de outros sentimentos que no íntimo
se preparam, a partir de con-templar a suavidade do sublime e do eterno no
sangue de minhas veias, para outras jornadas de ser e não-ser, para a audição
da voz do que é, a voz do eterno devir, imortal vir-a-ser dos desejos, divino
porvir da felicidade a que fomos vocacionados desde a eternidade, quem somos
estar seguindo caminhos de versos.
Agora que me viro, ficando de frente para a porta,
frente para a chuva que acontece depois do alpendre – irradia a mesma
luminosidade, a resplandecer de quase igual ventura, aventura, jornada, simples
vagar ou vargar, nunca e jamais vergar, no espaço e no nada, a luzir, tal e
qual a do companheiro-músico, do
amigo-de-poesia-de-sentimentos-e-emoções-mineiros, aí, que cria no íntimo som,
prestando atenção aos colóquios mantidos há dias, cuja aparência ou cujo
destino, ou mesmo cuja verdade e utopia, sempre que a “FLOR
DO VALE” ouço, a água me confia uma boa nova, entreolhamo-nos ambos, nossos
corações se unem, nossas almas comungam prosas e versos, nossos espíritos se
aderem nos dedos que deslizam desde a proximidade do violão ao seu fim, e criam
a sensação de plen-itude e eternidade, com pensamentos idênticos, contentes de
termos recebido e cumprimentado com reverência a mesma resposta à
mesma pergunta, que traduzo em termos de minha sensibilidade como a
noite que vem, como a travessia que devemos tornar real e cristalina, que
devemos sentir no interstício da alma que diz “quem sabe e não diz não é
feliz”, que a-nuncia a transparência e
claridade de todas as labutas em in-off, transcendidas em últimos raios
numinosos que cobrem o mundo e a terra da divinidade dos amores, os solos da
infern-idade e inspirado neles os
mineiros criamos e in-vent-amos outras luzes e sombras de nosso desejo maior e
divino, que é o de liberdade, ainda que tardia, e nem sabemos em palavras
dizer, mas criamos no espírito os sons de luzes. Nada há em mim de conhecido,
de sabido, tudo fulgura em re-velação, re-novação, em sons de luzes, em luz de
sons que cantem a pessoa inteira, O SER A SER
SENTIDO E CON-TEMPLADO NA CONTIN-UIDADE DOS AMORES E DESCONSOLOS DOS SENTIMENTOS,
das emoções o paladar da alegria misturada aos sarcasmos e ironias da palavra,
aos cinismos e galhofas dos sentidos e significados, que re-flui da presença do
meu corpo para a evidência que o ilumina, eu, eu, quê solipsismo é este, que
vaidade é essa, que cogito cartesiano intensiono re-criar à luz da simples
verdade do andar pelas ruas da cidade, a pessoa inteira que me agrupa em
unidade o desamparo das mãos, a indiferença entendida da fertilidade, da
feminilidade que as enchem de “beleza do interior”. Seguro as luzes, os sons,
os ritmos, arranjos, melodia com as mãos em concha, sinto que uma vida
estranha, estrangeira, não re-criada ainda, original como um início, sei que
isto nasce para os sons sem silêncio, onde sou apenas emoções que, através da reminiscência,
possuem uma vaga idéia da esfera do inteligível, em que algumas vezes habito.
Amigo, “buscamos caminhos de versos, SONHAMOS
paisagens mineiras”, originais e divinizadas. Para além da curva da estrada,
espreito o frio do campo com a cara toda, o sibilo vago de longe na tarde
serena e suave. Lentamente, o campo se alarga e se cobre de luz. E a tarde
tergiversa-se pelas irregularidades das montanhas e colinas, dos chapadões e
abismos, dos pastos onde o gado se alimenta de capim e andam tranqüilos e
serenos, extravia-se pelo céu sem nuvens no horizonte. Só tenho que ouvir “FLOR
DO VALE”, só tenho que sentir prazer e deleite porque é tarde de chuva, ou que
me sentir cansado e extasiado porque é primavera, e de qualquer modo que eu
sinta o prazer, deleite, cansaço, fastio, assim, porque assim sou eu a sentir
os sons de luz que caem no chão e correm, correm, correm sempre. Sou eu quem
sente o desejo de os amantes não se separarem após o baile de amor, a
intimidade do carinho e da meiguice, abençoada pelas palavras de amor, de
promessas de felicidade e prazer, sem que um sinta carinho, respeito,
ad-miração do outro; sem que ambos sejam tanto felizes como infelizes, de modo
que em nenhum deles possa manifestar a sensação de vazio e ainda menos a
impressão angustiante de se terem agredido mutuamente.
Travessia real e cristalina...
A tarde tergi-versa-se pelas irregularidades
Das montanhas e colinas,
Extravia-se pelo céu sem nuvens no horizonte.
Espreito o frio do campo com a cara toda,
O sibilo vago de longe na tarde
Serena e suave.
Amigo, escreveria sim para você com paciência, com
esforço, com dor, com amor, um sentido, uma imagem, mesmo perspectivas e
ângulos, mesmo imagens superficiais do caminhar e seguir as sendas perdidas, e
o mundo continua rodando, a roda-viva continua seu trajeto, cada hora mais
rico, mais pleno, mais variado, a “beleza do interior”, buscando a lua em
“noite calada”, buscando as estrelas na “calada da madrugada”.
Tenho de prosseguir trabalhando o fio tênue de
sons e luzes que escorrem na vidraça, tecendo sempre mais de emoções e
sentimentos, de ternuras e carinhos, esse fiozinho frágil, único, todo dia,
toda hora, perdendo e retomando o fluxo de sonhos, idéias, lembranças,
manifestações de sorrelfas e mentiras, para adensar as coisas todas numa suave
melodia, em que, ao final, as horas tristes e compridas são agora leves e
prazerosas; os olhos não tiveram de desaprender de chorar, se porventura
choravam antes. O tempo desata de imediato das
saudades e ressurreições. Diminuir-se-ia a emoção, decerto se anularia,
se as idéias visassem a uma demonstração da “Flor do Vale” nos meus dedos, nas
minhas mãos, no que deixara no íntimo como semente a ser regada com a serena
água da fonte. Faço eu a experiência de quanto careço do pecado, da volúpia, da
cobiça de bens materiais, do desejo da infinitude, esquecendo-me que a minha
vida é finita, da vaidade, de quanto preciso até do mais abjeto desespero, para
que consiga aprender a querer bem.
“No coração dos homens,/a sina de ser”. Sem amor,
abominaria o verbo que se faz carne, este coração dos homens, esse amor é
travessia serena por mais desesperança que eu abrigue, por mais angústias que
eu alimente, por mais desesperos que eu regue com as águas do riacho pequeno e
humilde, por mais desespero que eu nutre.
O ar fatigado, o cheiro a tabaco toldam-me de um torpeza flácida e
úmida.
Abrirei as portas para o amanhã e o descobrirei
como pedra mineralmente sólida, à espera de lapidação. Amanhã prevalecerá o
claro sol, desaguando vida sobre a poeira estéril da madrugada. Breve
colheremos o trigo que num invisível crescimento se prepara para a
transmutação. Abrirei as portas para que entre o sol com as promessas de calor
e lume para todos os corpos; todos os passos. Quando entardecer, voltarei à
terra e à noite volverei o trigo.
Sinto a angústia de Minas no cochicho das
lavadeiras à beira dos rios, no tanque de suas casas, no sussurro e murmúrio
das favelas, no acalanto das mães, no desentendimento dos pais, na revolta e
rebeldia dos filhos, nos cônjuges que se traem, no assassínio de mulheres.
Sinto uma dor mui grande que me invade a alma e me prostro de joelhos com
vontade de rezar a Maria Santíssima, somente a Rainha da Paz as nossas Minas
Gerais pode abençoar, acompanhar seus passos na criação e vivência de nosso
maior sonho, o sonho da liberdade.
Sinto a angústia das Minas nas vozes dos povos
oprimidos, no apito lúgubre das fábricas, nos vídeos das tevês, nas telas dos
cinemas, na literatura de protesto, no teatro de arena, nas canções dos
festivais, na implosão de todos os valores e virtudes, na inoperância das leis,
nas homilias dos párocos, nas lições dos professores, na tristeza dos velhinhos
sentados no banco da pracinha, no eterno “causo” de suas vidas e sonhos.
Quem sois vós, homens dentro de si? Quem sou?
Fascinado, aqui fico longo tempo, ouvindo, deliciando-me com “as pedras
sagradas” que “sustentam o pecado/da velha cidade”. Letras surgem e desaparecem
na ansiedade da vigília, de poder estar a sós comigo mesmo, buscando, claro,
numa esperança descrever esta jornada adentro ritmo, musicalidade, adentro
versos e sons, adentro luzes que se acendem no íntimo, inspiradas na lírica
mineira de um coração cheio de amor, ansioso pela entrega. Os olhos se movem em
todas as direções, neste ambiente de uma espécie de cantina, a mente examina as
pedrinhas redondas espalhadas em todas as direções da areia branca. Tudo é
branco, as casas, a areia, o vinho; até o ar, que se agita, é de uma substância
clara e luminosa. Rostos maquiados lançam olhares solenes, enviados com
antecedência, para a evidência de
“fascínio e sedução”, para o amor que dilacera o coração, e “eu não sei porque
tanta/Tristeza e paixão”.
Uma luz difusa, amigo, a luz do que escreveria sim
para você, pois que me não posso esquecer das coisas boas assim, luz indireta
que se fragmenta nos cálices, em estilhaços de vidro que brilham palidamente. A
face da serra, voltada para mim, ilumina-se agora toda, branca e solene. Como
um olhar gravado de êxtases, de encantamentos, as estrelas velam o ossuário da
terra, o profundo silencia o que me submerge. A alegria sutil e perspicaz desde
o fundo da madrugada em que, amigo, em verdade, desejo mostrar-lhe o limiar de
sua evidência e também de suas lágrimas, enquanto delineia as emoções com as
notas a tocarem de leve os dedos, e, creio, volúvel e susceptível tu tocas para
ti e para mim, desde o silêncio que projeta as imagens, desde o limiar de minha
contingência.
Todos nós, os que sonhamos com euforia e êxtase,
volúpia e encantamento, os que desejamos demasiadamente a paz e a alegria, os
que temos dimensão a mais, não seríamos capazes de viver, se não existisse
outra atmosfera além da atmosfera deste mundo, se a eternidade não existisse,
além do tempo; se a imortalidade não existisse, além do presente e do futuro. E
este é o reino da Verdade.
Estou sempre buscando levar uma taça á água das
fontes – onde como um apelo profético ou evangélico viso conquistar um caminho
de versos aberto para a alma, sem contrapor nem sobrepor a esse amor quais
esperanças no fundo, no “sonho de fadas que brilham com o luar” – que emana do
próprio solo a cada passo que dou no campo, nas serras, nas montanhas, no
antiqüíssimo de mim, onde têm raízes todas as árvores frondosas, todas as
“flores do vale” – as de que as folhas todas caíram, os galhos estão limpos –
cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos, buscamos caminhos de versos,
trilhamos paisagens mineiras.
Não basta apenas ouvir os sons, olhar os lírios e
lilases, rosas brancas e vermelhas, amarelas, con-templar suas maravilhas e
magias. Para ver a jabuticabeira, o abacateiro, a goiabeira. É preciso também
não querer, desejar, ter vontade de filosofia alguma. Com filosofias, não há
“Flor do Vale”, não há rosas brancas nem vermelhas, não há jabuticabeira nem
abacateiro. Há, sim, desejo e vontade de domar a natureza, dominar a vida.
Ah, ter a “evidência” incólume e insofismável do
milagre do que sou, de como eternamente é necessário que eu esteja vivo, que
ouça as luzes de lírios e lilases, e ver depois, em fulgor, em euforia, em
encantamento, que a “sede de luzes” “acorda cedo/e faz amor com o sol”,
caminheiros que somos de sendass de versos, trilhando paisagens mineiras.
Ah, amigo, “nas retinas sagradas do tempo”,
podendo contemplar os rios que correm e suas chamas ardentes, nunca mais
voltarei a ser o mesmo, todas as oposições, ambigüidades, contradições se unem,
e se harmonizam em caminhos de versos, em veredas e sendas mineiras.
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