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terça-feira, 24 de novembro de 2015

LUZ DE CRISTAIS E LILASES/TRIBUTO A MINAS GERAIS Manoel Ferreira Lemos





Ao amigo, músico e poeta, Ivo Pereira, lá de Estrela do Indaiá, no Alto São Francisco, por sua sensibilidade e talento das notas musicais e dos versos, quem me ensinou as veredas e caminhos musicalizados no ser e nas sinas e tragédias da vida, esta minha homenagem, por seus sentimentos e emoções elevando as raízes mineiras às resplandecências dos jardins e florestas do espírito.        

Amigo, “buscamos caminhos de versos, quais profetas em cima dos muros de Minas, elencando os novos tempos que hão de vir, na subjetividade das utopias da verdade, no espírito dos sonhos de trans-cendência,  sendas de poeiras metafísicas, as verdades inestimáveis, as desgraças e tragédias inevitáveis, veredas de enredos e ritmos, becos e alamedas de espiritualidade, ruas e estradas de sentimentos outros e contingências novas, trilhamos paisagens mineiras de imagens do pleno e sublime nas perspectivas do belo e da beleza, nos ângulos de montanhas e vales”, “desejamos na musicalidade do espiritual o itinerário do ser, trajetória da vida, sermos o outro de nós no ritmo de nossos sofrimentos e dores, no enredo de nossas situações e circunstâncias, construirmos nossa história de entregas e vontades de os homens encontrarem suas sendas de amor e compassividade”, na “liberdade sem par e precedentes” que vislumbramos e persignamo-nos, con-templamos e oramos, em olhos verdes, as esperanças de luzes fosforescentes, fluorescentes de lírios e lilases, na “noite vazia” de sentimentos que se cristalizam na superfície de águas límpidas, na “madrugada sorumbática” das desesperanças e ausência de fé que se alicerçam  no “dia de raios solares”, numinando os horizontes esplendidos de desejos do verbo amar, de sonhos de plen-itude, no crepúsculo das imagens grávidas de outros amanhãs, novos ideais e buscas de encontro com o pleno e absoluto, no “universo a semente”, semente das inspirações que gerei em “nova estação”, uma que só existiu na imaginação e a inspiração tornou real, a estação nova, raízes das intuições e intenções que se me a-nunciaram nos interstícios da alma, que germinei na comunhão das ec-sistentes e contribuíram para o nascimento de outras vontades, fizeram re-nascer no íntimo o que não fora concretizado, nascendo outros ímpetos de lutas e entregas, resistências e persistências, “imagem da emoção” que brota na certeza de re-nascer caminhos de versos, estrofes múltiplas de rimas interiores, veredas de musicalidade e líricas, um cântico de pássaro trinado nas grimpas do flamboyant, do beija-flor antes de beijar as rosas e crisântemos, sobrevoando-a, brilhando numa prosa-canção que se inspira em você que, nas “noites do Arraial”,  espera a “nascente, água pura”.

No crepúsculo das imagens grávidas de outros amanhãs,
Desejar, na musicalidade do espírito o itinerário do ser,
Ser o outro no ritmo de sofrimentos e dores,
Desesperanças e ausência de fé,
No enredo de situações e circunstâncias,
Construir a história de entregas e vontades,
Trilhar paisagens mineiras de imagens do pleno e sublime.

Em cima dos muros de Minas, veredas de enredos e ritmos,
Numinando nos sonhos de plen-itude a “imagem da emoção”,
Que brota na certeza de re-nascer caminhos de veros versos,
Estrofes múltiplas de rimas interiores, veredas de musicalidade,
Cântigo de pássaro trinado nas grimpas do flamboyant,
Ruas e estradas de contingências outras, esperanças de luzes
Brilhando numa prosa-canção que se inspira
Nas gerais nascentes, “água pura”.
Germinam nos interstícios da alma uni-versos e sementes,
Nas fontes de águas límpidas e transparentes,
Perspectivas do belo e da beleza re-nascem esperanças de luzes,
Minas de gerais ímpetos de liberdade.   

Amigo, nossos passos são pontes, nossos corpos, fontes, nossas carnes, desejos, nossos ossos, cinzas de verbos defectivos. Águia abrindo a espera: asas mensageiras. Seu dia sem grades se a-nuncia na estação do encontro onde as travas serão lembranças. Nossas emoções agrupadas num sorriso não terão fulgor suficiente para na manhã de luzes e prenúncios saudar o mágico instante da fresta no horizonte, notícia no vento. Queremos brincar com estrelas, correr campos, velejar, beber a sede das ruas, queimar a luz do luar, lavrar o corpo no grito. 
A “deusa musa”, em êxtases de velar os ossuários da terra, em clímaces de con-templar o mundo, entrega-se ao sono, às estrelas, nos sonhos de “harmonia de cores”, “sin-cronia de traços” a pincelar imagens germinadas no íntimo, geradas de amor e buscas, nascidas em metáforas do espírito sedento do ser que se faz na continuidade das ilusões e quimeras, em símbolos do verbo e da carne que vivem, vivenciam o quotidiano repleta de desejos e vontades, em signos do esplendor e eterno, no re-conhecer o que sou não mais se modifica ou metamorfoseia, quem sou pode ser trans-formado a cada instante, dependendo apenas de meu con-sentimento e decisão, em signos do imortal e divino a preencherem os vazios da falta-de-ser, “manque-d´être”, e da ausência de alegrias e prazeres, mesmo dos abismos de insensibilidade e unicamente natureza, instintos que habitam o ser que fora feito ao longo dos problemas e dificuldades. A leste do éden os lírios e lilases, flores são um espetáculo da natureza, a unidade do mundo, o elo de todas as coisas, “a sina de ser”, “o destino de cont-ingenc-iar o dia-a-dia de angústias e esperanças”, o passe de mágica que transporta a “lua na noite calada” para o “infinito do uni-verso numinado de esperanças as mais di-versas”, o espírito desde o sentir do sono, do êxtase desde o sonho ao sono, num “instante de sedução”, para a vida de todos os instantes, sentimentos de luz inspirados no brilho das estrelas e da lua, de “pedras sagradas” que rimam palavras sutis com emoções eivadas de ternura e carinho a embalarem a vigília na rede que escreve para mim as luzes, e demonstrar por atos e palavras, capazes de me não esquecer “as coisas boas assim”.

Na manhã de luzes e pré-núncios,
Saudar o místico momento da fresta
No horizonte imortal e divino da lua na noite calada,
Infinito do uni-verso numinado de “harmonia de cores”,
Sin-cronia de traços a pincelarem imagens germinadas,
Sin-fonia de imagens a resplandecerem de beleza as sendas perdidas,
Signos de esplendor e eterno nos liames do espírito,
Desde o sentir do sono, do êxtase desde o sonho ao sono,
Instante de sedução, brilho das estrelas e da lua,
“pedras sagradas”, cristais, diamantes e ouro
Que rimam palavras sutis com o éden de luzes e lilases,
Inspiradas na rede que balança nas gerais “utopias cristãs”.

“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano,
O elo de todas as coisas, flores são espetáculos da natureza,
Liberdades são cenas eivadas de ternura e carinho,
“instante de sedução”,
Querer brincar com estrelas, correr campos, velejar,
Beber a sede das ruas, queimar a luz do luar,
Lavrar o corpo no grito.

Signo de metáforas nascidas de vigília e palavras
A pincelarem imagens do imortal e divino
A preencherem os vazios da falta de ser,
                   “manque-d´être”,
Da ausência de alegria e prazeres,
Pedras sagradas, diamantes profanos
Que rimam palavras sutis, que ritmam dores
São sentimentos de luz inspirados
No brilho das estrelas e da lua mineiras.       

Em verdade, em verdade, amigo, não sei se é de sua lembrança, de sua recordação, anos atrás, aquando me doara o seu lindíssimo CD, escrevera um texto inspirado numa das músicas, FLOR DO VALE – sabe e conhece você o amor que me habita pela música, cinema, literatura, filosofia e teologia, pintura, não muito de teatro, não tive essa oportunidade, na minha terra-natal Curvelo só pude assistir a uma peça de teatro, AURORA DE MINHA VIDA, se não me engana o título, com o grande amigo Ângelo Antônio, e mesmo em Belo Horizonte assisti a muito poucas peças, não é uma paixão, é apenas ad-miração por essa arte -, creio haver-lhe doado o texto, de acordo com a minha sensibilidade a mais linda com que criei, a mais profunda que me empreendi sentir; a intenção fora de lhe mostrar os meus estados de alma e espírito, visão-de-mundo, idéias e pensamentos, fé e esperanças, ouvindo-a, o que a sua música a-nunciou em mim, só no tempo, na vivência das experiências, iria ser possível se revelarem, o que senti bem profundo, o que me inspirara, os novos horizontes que se abriram qual leque para mim; após tantos anos, decidi revisar, ampliar, conservando a idéia original, aproveitando as experiências e vivências adquiridas nas letras, as emoções e sentimentos que hoje são outros, os novos horizontes a-nunciados naquela época que hoje são conscientes, sinto-me extasiado de volúpias com o que desfruto hoje, sinto bem percuciente a minha solidão, não pode imaginar a maravilha dessa sensação, o esplendor desse sentimento, ando no mundo, caminho na vida comigo ao lado, comigo dentro em mim, isto se chama “amor-próprio”. Digo-lhe que das músicas que conheço de minha preferência é “Sou caipira, Pirapora/Nossa Senhora Aparecida...”, cujo tema é Minas Gerais, e a sua, sem escândalo, paradoxo, exagero, mas fico todo arrepiado, frios intensos perpassam-me a medula espinhal, são o verbo e a carne da sensibilidade.
Amigo, “buscamos caminhos de versos, trilhamos paisagens mineiras”, no coração a felicidade e alegria de nossa espiritualidade, magia de lendas, mitos, “causos”, mágicas verdades na transcendência de nossa sensibilidade e vontades, na alma os prazeres de nossos ideais de liberdade, solidariedade, no corpo e espírito os desejos de transcendência, na ponta da língua, em riste, os adágios, ditados, expressões, que usamos em demasia, chegando quase a abandonar as palavras comuns.  A mineir-ice que trazemos dentro em nós alça vôos em busca dos infinitos de horizontes e uni-versos de amor e ternura, em busca dos escritos nas paredes de Minas que mostram que ela ec-siste nos versos eternos dos poetas. A mineir-alidade que nos habita mergulha profundo nas nostalgias e melancolias do espírito, a alma vislumbra e con-templa nossas persistências em encontrar o Eldorado de nossas Minas. Nesse instante de busca, todo uni-verso em movimento é de nula significação. Esse tempo metamorfoseado em lenços brancos expira cheirando recordações, na pronúncia rouca da palavra, na inutilidade do corpo na distância.

Minas, a pá-lavra os prazeres de liberdade,
Os infinitos buscam magia de lendas, mitos, “causos”,
Mágicas verdades na trans-cendência da sensibilidade
A mineir-ice busca versos eternos de poetas,
Mergulha profundo nas nostalgias e melancolias do espírito,
O Grande Ser: Minas vislumbra e con-templa
As mágicas verdades e místicas divin-idades
De lenços brancos cheirando recordações
De ideais e utopias de Verdades,
Na pronúncia rouca da palavra
Que transcende os sentidos da simples contingência,
Da poeira mesquinha da realidade,
Da metafísica pomposa e solene das sedes de conhecimento,
Da ventania ontológica e antropológica do real apalhaçado de verdade
Da vida, do tempo e das maquiagens di-versas do instante
De medos, dúvidas, des-confianças.

Nas paredes de Minas, nostalgias e melancolias do espírito,
No corpo e espírito mineiros, ideais de liberdade, solidariedade,
A alma vislumbra e con-templa o uni-verso em movimento,
O tempo metamorfoseado em lenços brancos
Expira cheirando recordações, re-nasce exalando desejos
De magia, mitos, misticismos, causos,
Todo uni-verso, na pronúncia rouca da palavra,
Trilha paisagens mineiras.   

Percebo aqui e ali a rede de fios, ouvindo as músicas, buscando caminhos de versos que cantem o todo imenso, que declamem a lírica do ab-soluto tornado princípios e lemas de outros valores e virtudes, a in-finitude das nuvens brancas e azuis espalhadas no céu, a unidade indescritível da poiésis e lírica, e como que envolvido por uma neblina os olhos, quem sabe, sustentem o pecado ou seu dogma, “da velha cidade”, e profundamente aspiro a abandonar-me, suspender-me na roda-viva do tempo e dos projetos, a deixar-me-levar à luz de faz-de-conta que as linhas embalam “no ser sozinho”, “na melancolia da alma que deseja a libertação de dogmas e conservadorismos”, deixando-me impregnar das “paredes de casas velhas”, Mariana, São João D´el Rei, Vila Rica, povos que não vivem da história escravagista, não a tornam interesses escusos, não ufanizam o sofrimento tornado Patrimônio, não fazem dela orgulho e vaidades, não se sentem vangloriados dos sofrimentos e dores de outros,  não a transformam em comidas sobre a mesa, vestes sofisticadas,  cabeças erguidas e peitos estufados, conservam-na, mas buscam a liberdade e outras subjetividades e visões de con-templar o mundo e a vida, “por entre os mistérios” de uma emoção e sentimento únicos , sublimes, agradáveis, de um enigma lendário de força e entrega à luz dos ideais e utopias de paz e solidariedade, à chama dos lampiões em pequenos casebres rogando e clamando por amor e felicidade...
E quem sabe ora esteja a sonhar que tais letras saem do papel em ondas de luzes que transformam sons, em passos lentos se aproximem dos ouvidos, dos olhos, sejam ritmos e musicalidade que iniciem de embalar “por cima dos muros de Minas” a arte de ouvir o silêncio, o deserto, de prestar atenção de vida  às inúmeras vozes que me perpassam, preenchem-me o vazio, os sonhos ainda a serem real-izados, e por que me entrego por inteiro, me dôo aberto e susceptível, frágil,  às realidades e circunstâncias do irreal e do fantástico, o coração calmo, tranqüilo, quieto, com o espírito receptivo, aberto, sem paixão, sem vontade, sem desejo, pois “existe uma tristeza imensa,/nas ruas caladas de Minas”.  Gerais pensamentos trabalham no silêncio da grande noite o sonho imortal que faz dos homens, mineiros, transeuntes sem peias da livre geografia, vagabundos sem correntes da serena ecologia, prostitutas sem noites e sem brilho nas retinas de seus olhares. Habito em aroma eucaliptal, insensando a tarde, um vargar sem pressa, um perambular lento, um sentar no meio-fio sem lenço nem documento, que o tempo não escorre nas encostas; que todos caminhos levam ao mesmo ponto e todo olhar mira com o mesmo encanto cada montanha, e toda sensibilidade con-templa com as mesmas esperanças os tesouros da história e da vida. História de vegetal e homens, repousando no colo de montanhas guardiães; esse ec-sistir real em tal potência que em fábula se transforma ao tentar em palavras definir o que enxergam nossos olhos forasteiros, nossos corações estrangeiros, nossos espíritos e alma sedentos de verdade.

“Existe uma tristeza imensa,
Nas ruas caladas de Minas...”
Gerais pensamentos trabalham no silêncio da grande noite,
Caminhos levam ao mesmo ponto e todo olhar mira
Com o mesmo encanto cada montanha,
Cada chapadão, cada pradaria, cada estrada de só poeira e buracos,
Em ec-sistir real mineiro em tal potência,
Em fábula, em conto-do-vigário, em mito, em misticismo,
Se transforma ao tentar em palavras esperanças e tesouros
Da história e da vida.

Um modo íntimo de ser-me, de estar-me-em-mim, de criar-imagens-e-poesia, de originar perspectivas e estrofes em consonância e ressonância com os instantes e momentos de re-flexão, de conceber-desejos-de-ser-na-liberdade-do-espírito, que me fixa nessa iluminação viva de mim, nesse brilho trans-cendente na imanência de pensamentos, idéias, ilusões e quimeras, nesta dimensão trans-lúcida do halo divino de outros nós, de outras luzes de lírios e lilases, da tiara de ser e não-ser à mercê e revelia do tempo, com uma estrela branca-transparente aos pés e, ao lado, meia-lua acinzentada, a “esquina” entre as montanhas “do coração”, em frente, distante, emerjo enfim entre os astros, doce e belo, irmanado ao absoluto dos instantes-limites, “perto dos olhos,/entre as montanhas...”...

“Perto dos olhos,
Entre as montanhas...”
Emerjo entre os astros, doce e belo,
Irmanado ao absoluto dos instantes-limites,
Na dimensão trans-lúcida do halo divino de outros nós,
Com uma estrela branca-transparente aos pés e,
Ao lado, meia-lua acinzentada, a “esquina”
Entre as montanhas “do coração,
Trans-cendente na consonância e ressonância
À mercê e re-velia do tempo,
Originar perspectivas e estrofes de imagens e poesia,
Versos de sensações e sentimentos. 

Ah! Minas, conjecturada nos portais dos casarões decadentes, sublimada em chafarizes. Minas tem cheiro de ontem, odor de melancolia e nostalgia. Perenizam de Minas só as carícias, ternuras de grossas mãos selecionando pedras, distinguindo cristais de diamantes, perenizam de Minas “o regato acorda cedo/as folhas descendo a ladeira”, perenizam de Minas os desejos de liberdade e braços abertos à finitude dos valores e virtudes, perenizam de Minas as esperanças e fé nas Palavras de Deus, perenizam de Minas as “montanhas grávidas”, o que é suficiente para dizer que em Minas brota as raízes da infinitude nas finitudes da liberdade e do tempo. Tristes sorrisos de barrocas tardes, galos e sinos misturados no ar. Ah! Minas metamorfoseada, aurora perdida nas montanhas niveladas, memórias cinzeladas em nuvens. Minas, essa procura eterna, esse desejo imortal, essa terra perdida entre montes indizíveis onde o homem pisa e logo sente que MINAS mina sonhos Gerais, nas ad-versidades do tempo e da História, nas di-versidades dialéticas dos ideais e contingências, nos ideais socialistas das utopias da igualdade e compassividade, nas re-versidades do contraditório e do ambíguo, às avessas de orgulhos e vaidades comuns e vulgares.
Quem sabe valeria “brilhar sobre a luz dos lampiões”, valeria o ruído do vento que agita as galhas e folhas, os fios da rede de eletricidade, a emoção não tem fim, as esperanças trans-cendem todas as algemas e correntes, preconceitos de raça e fé, de posturas e atitudes, solidões e desconsolos, passeiam no silvestre das florestas, nas sendas perdidas das grotas e imensos abismos, chapadões e pastos, nas águas dos rios que se unem ao céu, o destino é o infinito.

“O regato acorda cedo
As folhas descendo a ladeira”
Minas mina sonhos Gerais,
Nos tristes sorrisos de barrocas grades,
Galos e sinos misturados no ar.
Minas tem cheiro de melancolia e nostalgia,
Em Minas brotam as raízes da infinitude
Nas finitudes da liberdade e do tempo.

Esperanças trans-cendem algemas e correntes,
Pré-conceitos de raça e fé,
No silvestre das florestas,
Nas sendas perdidas das grotas, imensos abismos,
Chapadões, pastos,
Nas águas dos rios que se unem ao céu,
O destino é o infinito.

Minas metamorfoseada,
Aurora perdida nas montanhas niveladas,
Memórias cinzeladas em nuvens,
Minas, essa procura eterna, esse desejo imortal,
Essa terra perdida entre montes indizíveis.  

Na zona incrível do sobressalto, atinjo não bem o que sou por dentro, não bem o que penso nas pré-fundas de mim, o modo infinito de ser-me, a pessoa viva, a pessoa absoluta. Nunca me contento com o rosto bem delineado e modelado, no qual não faltam nem o célebre fogo do olhar nem os passos de solitário com uma rápida sombra de amabilidade e cortesia, detalhes que devem exigir a sagrada chama de minha juventude, iluminada luz de minha velhice de experiências e vivências do “sereno pousando na terra, fogueira branda no quintal”, as emoções nalguma canção que tocaria a emoção de uns “olhos verdes”, resplandecentes de amizade a ser presenteada com meiguice, sinto a meiguice mineira como a fonte de energia dos pingos de chuva que deslizam nos vidros da vidraça, na vela acesa no canto da janela de fora, enquanto eu estou no interior da casa, olhando o tempo e suas manifestações naturais. Não sei se chamo isto de sonho, de esperança ou de ilusão, quem sabe uma fantasia, sorrelfa,  à “luz da estrela guia,/ a lua clara,/ noite vadia”, olhando a vida com olhos inflexíveis e resplandecentes, em que volto a re-conhecer, na musicalidade de noites seresteiras, de forrós, de outros arrasta-pés um destino e, nas ruínas de minha vida, fragmentos espirituais, miríades de outras solidões e medos, à luz do presente que, no seu crepúsculo, a manhã ainda irradia um doce resplendor, o homem cheio de fé e de alegria, radiante de outros princípios e valores, sempre no encalço do grande e do eterno, do absoluto e divino no misticismo de outras utopias de entregas e espiritualidades, de outras lendas e mitos da história de conhecimentos e sabedorias, de outras fábulas e mentiras das buscas incansáveis do eterno.
Há o sol, a chuva e a rua deserta. O corpo o sabe, na humildade de seu cansaço,  na simplicidade de seu “stress”, de seu fim. Alegria breve, este meu conhecimento, essa posse de todo o milagre de eu ser, de eu ec-sistir, de eu pensar na razão pura, na razão prática, na subjetividade das artes, na estética das idéias conciliadas às virtudes e valores imortais. Movo as mãos e os pés e é como se fossem meus e não fossem. É o meu corpo, como calhou-me bem!...
Amigo, “buscamos caminhos de versos, trilhamos paisagens mineiras”, juntos e na distância de estradas e culturas, e eu com certeza escreveria para você uma música de palavras que “tocam a canção”, que dedilham as cordas da imensidão e infinito, soubesse tornar notas sentimentos e emoções, ideais de liberdade e idéias de compl-etude – mas tenho as letras, amores e paixões de minha vida singular e particular, e a habilidade sensível e espiritual de com elas ensaiar versos na prosa, de entabular palavras e letras nos versos, de recitar líricas na imanência dos verbos simples -, não saberia nunca me furtar ao prazer e à preguiça solene de não me esquecer de coisas tão boas assim, que me fazem verter lágrimas pujantes, descendo-me a face, não as enxugo com lenço de seda, deixo-as secar em contato com a minha pele facial com os traços de expressão por intermédio do tempo.
Em “Paisagem Mineira”, título do CD, diz você com propriedade: “A solidão do poeta morre/No silêncio eterno dessa canção”. Se me perguntar você onde a minha solidão morre, necessitaria de alguns instantes para res-pondê-la, não que não soubesse, fosse-me inconsciente, mas porque teria de compor as palavras, não intencionando serem versos de uma canção, conforme as experiências e vivências, nelas a sensibilidade estar inscrita, mas algo que id-ent-ificasse a raiz e essência de meu ser. A minha solidão morre na transparência dos sentimentos e emoções das letras que registro, em busca do verso verdadeiro, do verbo que se transformará em carne; então, a solidão não me habita, a solidão sou eu, a cada instante crio-me, re-crio-me, torno-me outro, o outro de minha solidão, há quando faço de conta que em mim “existe um querubim”, no instante em que con-templo a paisagem mineira, sinto alegrias e felicidades.  
Calado, ouço o que me segreda a água – esta que cai a todo instante lá fora – há alguns minutos, desde que de esguelha olhei a janela e seu exterior, imaginando uma vela ao canto dela, andando pela rua, alguém me dissera que a chuvinha continua, não estiará por hoje, o frio será intenso, respondi-lhe que sim, sinto-me ainda mais mineiro e todas as mineir-ices se mostram e re-velam num dia chuvoso, no íntimo a chuva ilumina os sentimentos e emoções, a expressão deles se faz poesia -, regando os jardins de rosas brancas, vermelhas, amarelas, as flores desabrocharão no amanhã de Minas, encantando as retinas dos mineiros sedentos de beleza e resplendor, neste segundo em que ouço “Flor do Vale”, de sua autoria, em que sentado em meu sofá, descalço, de camiseta e shorts, busco cantar, declamar, encenar, recitar e re-presentar este momento, com palavras que só encontram os sons no horizonte que se perde e se encontra na “esquina do coração”. Não são apenas pingos d´água, não importando se grossos ou finos, se chuva forte, se apenas uma garoa; não é apenas água, senão a voz da vida,  mensagem de outros sentimentos que no íntimo se preparam, a partir de con-templar a suavidade do sublime e do eterno no sangue de minhas veias, para outras jornadas de ser e não-ser, para a audição da voz do que é, a voz do eterno devir, imortal vir-a-ser dos desejos, divino porvir da felicidade a que fomos vocacionados desde a eternidade, quem somos estar seguindo caminhos de versos.
Agora que me viro, ficando de frente para a porta, frente para a chuva que acontece depois do alpendre – irradia a mesma luminosidade, a resplandecer de quase igual ventura, aventura, jornada, simples vagar ou vargar, nunca e jamais vergar, no espaço e no nada, a luzir, tal e qual a do companheiro-músico, do amigo-de-poesia-de-sentimentos-e-emoções-mineiros, aí, que cria no íntimo som, prestando atenção aos colóquios mantidos há dias, cuja aparência ou cujo destino, ou mesmo cuja verdade e utopia, sempre que a  “FLOR DO VALE” ouço, a água me confia uma boa nova, entreolhamo-nos ambos, nossos corações se unem, nossas almas comungam prosas e versos, nossos espíritos se aderem nos dedos que deslizam desde a proximidade do violão ao seu fim, e criam a sensação de plen-itude e eternidade, com pensamentos idênticos, contentes de termos recebido e cumprimentado com reverência a mesma resposta  à  mesma pergunta, que traduzo em termos de minha sensibilidade como a noite que vem, como a travessia que devemos tornar real e cristalina, que devemos sentir no interstício da alma que diz “quem sabe e não diz não é feliz”,  que a-nuncia a transparência e claridade de todas as labutas em in-off, transcendidas em últimos raios numinosos que cobrem o mundo e a terra da divinidade dos amores, os solos da infern-idade e  inspirado neles os mineiros criamos e in-vent-amos outras luzes e sombras de nosso desejo maior e divino, que é o de liberdade, ainda que tardia, e nem sabemos em palavras dizer, mas criamos no espírito os sons de luzes. Nada há em mim de conhecido, de sabido, tudo fulgura em re-velação, re-novação, em sons de luzes, em luz de sons que cantem a pessoa inteira, O SER A SER SENTIDO E CON-TEMPLADO NA CONTIN-UIDADE DOS AMORES E DESCONSOLOS DOS SENTIMENTOS, das emoções o paladar da alegria misturada aos sarcasmos e ironias da palavra, aos cinismos e galhofas dos sentidos e significados, que re-flui da presença do meu corpo para a evidência que o ilumina, eu, eu, quê solipsismo é este, que vaidade é essa, que cogito cartesiano intensiono re-criar à luz da simples verdade do andar pelas ruas da cidade, a pessoa inteira que me agrupa em unidade o desamparo das mãos, a indiferença entendida da fertilidade, da feminilidade que as enchem de “beleza do interior”. Seguro as luzes, os sons, os ritmos, arranjos, melodia com as mãos em concha, sinto que uma vida estranha, estrangeira, não re-criada ainda, original como um início, sei que isto nasce para os sons sem silêncio, onde sou apenas emoções que, através da reminiscência, possuem uma vaga idéia da esfera do inteligível, em que algumas vezes habito.
Amigo, “buscamos caminhos de versos, SONHAMOS paisagens mineiras”, originais e divinizadas. Para além da curva da estrada, espreito o frio do campo com a cara toda, o sibilo vago de longe na tarde serena e suave. Lentamente, o campo se alarga e se cobre de luz. E a tarde tergiversa-se pelas irregularidades das montanhas e colinas, dos chapadões e abismos, dos pastos onde o gado se alimenta de capim e andam tranqüilos e serenos, extravia-se pelo céu sem nuvens no horizonte. Só tenho que ouvir “FLOR DO VALE”, só tenho que sentir prazer e deleite porque é tarde de chuva, ou que me sentir cansado e extasiado porque é primavera, e de qualquer modo que eu sinta o prazer, deleite, cansaço, fastio, assim, porque assim sou eu a sentir os sons de luz que caem no chão e correm, correm, correm sempre. Sou eu quem sente o desejo de os amantes não se separarem após o baile de amor, a intimidade do carinho e da meiguice, abençoada pelas palavras de amor, de promessas de felicidade e prazer, sem que um sinta carinho, respeito, ad-miração do outro; sem que ambos sejam tanto felizes como infelizes, de modo que em nenhum deles possa manifestar a sensação de vazio e ainda menos a impressão angustiante de se terem agredido mutuamente.

Travessia real e cristalina...
A tarde tergi-versa-se pelas irregularidades
Das montanhas e colinas,
Extravia-se pelo céu sem nuvens no horizonte.
Espreito o frio do campo com a cara toda,
O sibilo vago de longe na tarde
Serena e suave. 

Amigo, escreveria sim para você com paciência, com esforço, com dor, com amor, um sentido, uma imagem, mesmo perspectivas e ângulos, mesmo imagens superficiais do caminhar e seguir as sendas perdidas, e o mundo continua rodando, a roda-viva continua seu trajeto, cada hora mais rico, mais pleno, mais variado, a “beleza do interior”, buscando a lua em “noite calada”, buscando as estrelas na “calada da madrugada”. 
Tenho de prosseguir trabalhando o fio tênue de sons e luzes que escorrem na vidraça, tecendo sempre mais de emoções e sentimentos, de ternuras e carinhos, esse fiozinho frágil, único, todo dia, toda hora, perdendo e retomando o fluxo de sonhos, idéias, lembranças, manifestações de sorrelfas e mentiras, para adensar as coisas todas numa suave melodia, em que, ao final, as horas tristes e compridas são agora leves e prazerosas; os olhos não tiveram de desaprender de chorar, se porventura choravam antes. O tempo desata de imediato das  saudades e ressurreições. Diminuir-se-ia a emoção, decerto se anularia, se as idéias visassem a uma demonstração da “Flor do Vale” nos meus dedos, nas minhas mãos, no que deixara no íntimo como semente a ser regada com a serena água da fonte. Faço eu a experiência de quanto careço do pecado, da volúpia, da cobiça de bens materiais, do desejo da infinitude, esquecendo-me que a minha vida é finita, da vaidade, de quanto preciso até do mais abjeto desespero, para que consiga aprender a querer  bem.
“No coração dos homens,/a sina de ser”. Sem amor, abominaria o verbo que se faz carne, este coração dos homens, esse amor é travessia serena por mais desesperança que eu abrigue, por mais angústias que eu alimente, por mais desesperos que eu regue com as águas do riacho pequeno e humilde, por mais desespero que eu nutre.  O ar fatigado, o cheiro a tabaco toldam-me de um torpeza flácida e úmida.
Abrirei as portas para o amanhã e o descobrirei como pedra mineralmente sólida, à espera de lapidação. Amanhã prevalecerá o claro sol, desaguando vida sobre a poeira estéril da madrugada. Breve colheremos o trigo que num invisível crescimento se prepara para a transmutação. Abrirei as portas para que entre o sol com as promessas de calor e lume para todos os corpos; todos os passos. Quando entardecer, voltarei à terra e à noite volverei o trigo.
Sinto a angústia de Minas no cochicho das lavadeiras à beira dos rios, no tanque de suas casas, no sussurro e murmúrio das favelas, no acalanto das mães, no desentendimento dos pais, na revolta e rebeldia dos filhos, nos cônjuges que se traem, no assassínio de mulheres. Sinto uma dor mui grande que me invade a alma e me prostro de joelhos com vontade de rezar a Maria Santíssima, somente a Rainha da Paz as nossas Minas Gerais pode abençoar, acompanhar seus passos na criação e vivência de nosso maior sonho, o sonho da liberdade.
Sinto a angústia das Minas nas vozes dos povos oprimidos, no apito lúgubre das fábricas, nos vídeos das tevês, nas telas dos cinemas, na literatura de protesto, no teatro de arena, nas canções dos festivais, na implosão de todos os valores e virtudes, na inoperância das leis, nas homilias dos párocos, nas lições dos professores, na tristeza dos velhinhos sentados no banco da pracinha, no eterno “causo” de suas vidas e sonhos.  
Quem sois vós, homens dentro de si? Quem sou? Fascinado, aqui fico longo tempo, ouvindo, deliciando-me com “as pedras sagradas” que “sustentam o pecado/da velha cidade”. Letras surgem e desaparecem na ansiedade da vigília, de poder estar a sós comigo mesmo, buscando, claro, numa esperança descrever esta jornada adentro ritmo, musicalidade, adentro versos e sons, adentro luzes que se acendem no íntimo, inspiradas na lírica mineira de um coração cheio de amor, ansioso pela entrega. Os olhos se movem em todas as direções, neste ambiente de uma espécie de cantina, a mente examina as pedrinhas redondas espalhadas em todas as direções da areia branca. Tudo é branco, as casas, a areia, o vinho; até o ar, que se agita, é de uma substância clara e luminosa. Rostos maquiados lançam olhares solenes, enviados com antecedência, para a evidência  de “fascínio e sedução”, para o amor que dilacera o coração, e “eu não sei porque tanta/Tristeza e paixão”.
Uma luz difusa, amigo, a luz do que escreveria sim para você, pois que me não posso esquecer das coisas boas assim, luz indireta que se fragmenta nos cálices, em estilhaços de vidro que brilham palidamente. A face da serra, voltada para mim, ilumina-se agora toda, branca e solene. Como um olhar gravado de êxtases, de encantamentos, as estrelas velam o ossuário da terra, o profundo silencia o que me submerge. A alegria sutil e perspicaz desde o fundo da madrugada em que, amigo, em verdade, desejo mostrar-lhe o limiar de sua evidência e também de suas lágrimas, enquanto delineia as emoções com as notas a tocarem de leve os dedos, e, creio, volúvel e susceptível tu tocas para ti e para mim, desde o silêncio que projeta as imagens, desde o limiar de minha contingência.
Todos nós, os que sonhamos com euforia e êxtase, volúpia e encantamento, os que desejamos demasiadamente a paz e a alegria, os que temos dimensão a mais, não seríamos capazes de viver, se não existisse outra atmosfera além da atmosfera deste mundo, se a eternidade não existisse, além do tempo; se a imortalidade não existisse, além do presente e do futuro. E este é o reino da Verdade.
Estou sempre buscando levar uma taça á água das fontes – onde como um apelo profético ou evangélico viso conquistar um caminho de versos aberto para a alma, sem contrapor nem sobrepor a esse amor quais esperanças no fundo, no “sonho de fadas que brilham com o luar” – que emana do próprio solo a cada passo que dou no campo, nas serras, nas montanhas, no antiqüíssimo de mim, onde têm raízes todas as árvores frondosas, todas as “flores do vale” – as de que as folhas todas caíram, os galhos estão limpos – cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos, buscamos caminhos de versos, trilhamos paisagens mineiras.
Não basta apenas ouvir os sons, olhar os lírios e lilases, rosas brancas e vermelhas, amarelas, con-templar suas maravilhas e magias. Para ver a jabuticabeira, o abacateiro, a goiabeira. É preciso também não querer, desejar, ter vontade de filosofia alguma. Com filosofias, não há “Flor do Vale”, não há rosas brancas nem vermelhas, não há jabuticabeira nem abacateiro. Há, sim, desejo e vontade de domar a natureza, dominar a vida.
Ah, ter a “evidência” incólume e insofismável do milagre do que sou, de como eternamente é necessário que eu esteja vivo, que ouça as luzes de lírios e lilases, e ver depois, em fulgor, em euforia, em encantamento, que a “sede de luzes” “acorda cedo/e faz amor com o sol”, caminheiros que somos de sendass de versos, trilhando paisagens mineiras.

Ah, amigo, “nas retinas sagradas do tempo”, podendo contemplar os rios que correm e suas chamas ardentes, nunca mais voltarei a ser o mesmo, todas as oposições, ambigüidades, contradições se unem, e se harmonizam em caminhos de versos, em veredas e sendas mineiras.

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