Ao Paulo Soares Guimarães
Deve ser ainda a luz a iluminar as águas, a
resplandecer suas gotas e pingos, a enaltecer sua jornada, a elevar sua
passagem silenciosa, deixar-lhes à superfície das imagens furtivas, suas
perspectivas iluminadas pelas contingências do esplendido e do mágico, do
surpreendente e mítico, esplendente e místico, seus ângulos transparentes de
cores e traços distintos de sensibilidade e espiritualidade, lançar-lhes a
rede, trazendo suas profundidades aos raios do sol, a luz da lua e das
estrelas, sob a mercê das palavras, é sonho, é utopia secular e milenar, até
sorrelfa destituída de seus valores intrínsecos, sê-lo-á por sempre, tomei essa
missão em mãos, modo e estilo de tecer a felicidade e a paz com as linhas de
sentimentos e volúpias que me habitam, os seus traços pincelados de vivenciais
enredos-ensaios de sangue nas veias do sensível e do eterno desejo das flores
do paraíso celestial levam, de modo simples e espontâneo, às raias e ao assento
do Olimpo divino dos deuses?!
Devem ser ainda as chamas a acender as volúpias,
deixá-las livres para a transcendência do que se me a-nunciou bem íntimo,
sin-tonia e sin-cronia fortes entre mim e elas, entre os nossos seres de
diferenças insofismáveis, sentindo forte e presente em mim paixão
indescritível, amor inestimável pela imagem, por suas perspectivas presentes e
distantes, por seus ângulos reais e longínquos, embora paixão e amor nesse
nível, excesso, não me dão qualquer valor, ao contrário, tiram-me qualquer
possibilidade de o encontrar, torná-lo realidade? Deve ainda ser a lareira a
elevar-me os sentimentos, sentir suas chamas dentro em mim, inspirando-me a
tecer letras outras, experienciando outros uni-versos de sentidos, outras
sensações presentes se a-nunciando, iluminando algumas trevas que posso sentir,
sombras que posso vislumbrar, mergulhar-me nelas, assim conhecendo um pouco do
que escondem, em linguagem e estilo metafóricos e filosóficos, espirituais? Por
inter-médio deles, é que prazeres e saltitâncias mil se manifestam no peito, o
coração pulsa acelerado. Sinto-me assim, são esses os questionamentos que me
faço, propondo-me a dizer o que me surge, o que aparece nas bordas deles, como
sou capaz, é-me dado fazê-lo. Isto porque, pensando e sentindo bem, é tarefa
árdua atingir esse objetivo, há o que transcende as palavras, há o que de muito
profundo não posso atingir, porém é dar as devidas asas às buscas.
Deve ainda as águas que me iluminarão o silêncio e
o som, a harmonia de suas forças que me preservarão da dispersão a vida. Sigo
as minhas veredas, sem jamais aberrar. Conduzo os meus passos em busca das
verdades que me habitam, desejando a Verdade, desejando o Ser, permitindo que
as águas se harmonizem em mim, amparando-me, protegendo-me em tempos de
fortuna, felicidade, alegria, prazeres, volúpias e êxtases, nas horas de dores,
sofrimentos, infortúnios, angústias e tristezas. Talvez entre em contradição,
devido ao estilo que sou eu, mas, em verdade, não preciso de erudição para
tecer os sentimentos e emoções que me habitam, sei com eles criar valores que não
servem apenas a mim, aos interesses que alimento no sítio mais profundo de meu
coração, mas a quem deseja e tem necessidades de encontro com a plen-itude da
Vida.
A paixão é o sentido oculto que traduz a loucura e
a vida sem conflito com o amor. A vida, ao estilo do belo e do sublime, é
exótica e mística em qualquer passagem da estação da loucura, ainda que os
homens percam a razão do sonho e o significado da paixão. Divina dedicação da
vida com o místico, e do místico com o exótico, e do exótico com o erotismo
apaixonado dos loucos!
Uni-versos metafóricos,
Experienciando sensações
presentes,
Transcendem as palavras;
A vida, ao estilo do belo e
sublime,
É exótica e mística
Em qualquer travessia da
razão
Ao sonho,
Em qualquer esplender do
místico
Ao exótico,
Em qualquer assunção do
exótico
Ao erotismo apaixonado
Dos loucos.
Uni-versos filosóficos,
Mergulhando no ser da
Vida e dos versos,
Esplendem os ângulos
transparentes
De cores e traços da razão
E do espírito,
Burilando os desejos e
vontades
Do ser,
Como o profeta que re-vela
Os segredos do futuro,
Como o sábio que a-nuncia
Os mistérios da alma.
O Uno e o Verso constituem o Universo, a Unidade
do Real na Diversidade dos Realizados, que é a Realidade Total. Outro é o
conhecimento para o qual abri as janelas da “Vida” e do “Ser”, e aqui à soleira
da lareira, não olhando diretamente para a pleni-chama da lareira, não
enxergaria coisa alguma, por excesso de luz, busco senti-lo verdadeiramente,
atingir a sabedoria, a sapiência é dádiva da razão, brota da Fonte do grande
Cosmo.
A noite que dilacera, exaspera, desespera e
angústia, mas purifica como o esmeril lapidando a pedra, como a pedra afiando o
gume da faca - afiei o gume da faca inúmeras vezes em tempos de outrora, a
lâmina cortava fio de cabelo, por algum tempo, podendo ser afiada no afiador,
até outro tempo em que precisava ser amolada novamente na pedra -, como a pena
burilando as letras no papel, como a intuição, percepção, desenhando os versos
do sentimento na lírica do desejo de beleza, como o profeta que revela os
segredos do futuro, isso também era do meu conhecimento realizar, como o poeta
que em versos transcende a contingência, e no ritmo e musicalidade deles atinge
a essência e o ser do que transcende o mero quotidiano da vida, convidando os
homens a fazerem a travessia, essa é a missão dele!
Brotam em mim desejos de alegrias simples,
vontades de livre vôo, de sorrisos plenos na plen-itude dos sentimentos e
emoções, de esperanças além do que liberta, além do que eleva aos auspícios do
ser imortal e da eternidade do ser a continuidade da vida, não apenas além do
bem e do mal, mas dos ritmos re-versos às vulgaridades e mesquinharias do
quotidiano, da musicalidade de linguagem e estilo avessa às verdades, mas além
do que é contingente e mostra apenas um segundo de alegria, tudo de imediato
mergulha no nonsense.
Iluminando a lareira em
chamas,
Versos transcendem segredos
Nos cofres do tempo,
Estrofes criam travessias
De esperanças que libertam
Ritmos re-versos,
Prosa de versos artificiam
Razões in-versas de verdades
e
Avessas de in-verdades,
Prosa de estrofes burilam
rimas de
Sentimentos e buscas
De sorrisos plenos na
plen-itude
Das experiências
E
Sede de conhecimento.
Tudo
permanece em sossego, como um duplo silêncio, na superfície de espelhos
convexos à luz das trevas que penetram na sala através da janela, estando eu de
costas, frente à lareira; tudo permanece em tranqüilos rios seguindo o
itinerário, em serenas águas palmeando caminhos e terras, todos os seres de sua
profundidade em eterna atividade, usufruindo belezas e tranqüilidades,
refestelando-se de calmas e prazeres, outro panorama estético, de belezas e o
belo extasiando os mergulhos, passando por debaixo de pontes, tudo permanece em
luzes fosforescentes à transparência dos desejos e esperanças, da fé e de todas
as utopias do belo e da beleza, da estética dos amores à luz das entregas e
doações verdadeiras, reais.
Se
fosse indagar a fonte originária das águas, a fonte originária das chamas da
lareira, a origem das luzes, as luzes e chamas da origem, andaria a terra
inteira, percorrendo-lhe cantos e recantos, e acabaria no infinito, disperso, e
até vazio, percorreria a vida em todas as situações e circunstâncias, sentindo
as delícias de um paladar do divino e da verdade absoluta, descansaria nalguma
montanha do horizonte distante, longínquo, nalguma caverna, quando renderia
graças à única palavra que me devora, a que meu coração não diz, re-fletindo e
meditando sobre os frutos que ela daria, se pronunciada e expressa, os
benefícios que ela traria para o espírito, para a vida, se em dias de chuva,
con-templando no espírito as belezas de tantas descobertas, se em dias de raios
fortes do sol, tremelicando o asfalto, olhando, observando na alma suas
angústias e tristezas; experiências e vivências seriam enormes, múltiplas,
poderia até dizer haver conhecido a essência e o ser da alma diante de seus
sonhos e utopias, dores e sofrimentos, mas não encontraria res-posta que me
satisfizesse o desejo de saber as cristas de serras e montanhas dizimadas,
esfaceladas e o verde retinto, oxidado pelos jorros de sangue e barros
minerais. O que posso dizer não é a fonte originária das águas, a fonte
originária das chamas da lareira, a origem das luzes, as luzes e chamas da
origem, que são indizíveis e impensáveis. Só através dos óculos da minha
finitude enxergo a Infinitude Divina, visualizando-a assim como sou, mas não
assim como ela é.
A chama da lareira, fora de mim,
Ganha e traduz coisas
Que ainda não conheço,
O desejo de fazê-lo existe latente,
Saber-lhe a diferença entre ser
E ec-sistir.
Se re-conheço conhecê-las,
Revisto-as de espaço interno,
Espaço que tem seu ser em mim,
Que tem seu sentido em mim,
Que me habita o mais íntimo
E profundo;
Cerco-as com sentimentos
De agressividade e violência.
Não têm limites,
Não se tornam realmente conhecimento
Senão quando se ordenam no coração
De minha renúncia,
No âmago de minha indiferença,
No seio de meu desprezo,
Nos olhares críticos, cínicos, sarcásticos,
Irônicos, enviesados na presença
Do absoluto de todas as coisas,
Na verdade de todos os sonhos
E utopias.
Através de mim, alçam vôos as palavras
De mim,
Palavras que re-colhem e a-colhem
A presença da chama,
A chama
Que em mim cresce,
As águas que me impulsionam
A re-fletir a plen-itude,
A peren-itude da vida
Na experiência do verbo do amor,
Na vivência do amor pelo verbo
Por vir carne.
Quando
o homem procura o amor, busca senti-lo verdadeiro em si, nada pode ameaçar o
seu desígnio, porque até os demônios do destino, são tantos que não se é
possíveis abarcá-los, perdem a força para se colocar contra. Tomo da verdade a
coragem e a graça de celebrar a verdade. Fora da verdade, o homem é apenas um
buraco de abismo. Tudo está morto. Consumado. Inclusive: - Deus e o amor. Eis
aqui, estirada nos meus ombros cansados, a estupefação do sentimento humano.
Espelho pelo qual posso enxergar, visualizar, apalpar e tocar na sordidez dos
homens, na hipocrisia social e política, na falsidade da humanidade, ainda que
de muito longe, pois que não quero perder a dignidade e honra, saindo de mim a
fim de delinear o que me é exterior. Por quê? Porque no escuro sou holorote do
sol, a destruir a escuridão do mal. De mim nada pode escapar. Ou fugir de meus
sentimentos afiados. Tudo o que ec-siste, parado ou a se mover no uni-verso e
ao redor da terra, no céu, ou no inferno, está ao alcance supremo de minhas
mãos, onde posso governar a vida e a morte.
Nessa
volúpia toda do que me devora, a palavra que não digo, lembra-me alguém quem
dissera coisa concernente ao fato de repetir palavras, isso não deve ser feito,
o ato de repetir acaba negando o seu valor intrínseco, mas a pessoa aprendeu a
escrever, e quem aprende a fazê-lo recebe como primeira lição a repetição das
palavras, jamais dever ser realizada, toma isto como o absoluto da criação,
mesmo que isto custe não mais tomar da pena, se a repetição não for possível de
ser extirpada, exorcizada, não sabe que em cada sítio em que está outros são os
seus sentidos e significações, outras são as entre-linhas e além-linhas,
inter-ditos e ditos abrem perspectivas outras de sentir e pensar a vida e a
consciência de busca do ser e do ec-sistir, alcança e atinge outras dimensões
da contingência e transcendência, a questão é o estilo que é do homem, cada um
tem o seu, e não razão de censura, discriminação, preconceito, ouvi com finesse
e respeito, mas não dei atenção, outros, ninguém mesmo, disseram isso até hoje,
ademais não aprendi a escrever, as letras me são chamas, águas e luzes,
habitam-me o dom e o talento, habitam-me não apenas a alma, habitam-me o
espírito, as letras me são e sou as letras de mim. A palavra não mais me devora,
digo-a, repetindo idéias e sonhos nas sílabas, entre as letras que lhe compõem,
entre as palavras que compõem a vida estilística dos silêncios, mistérios e
enigmas que residem na atitude e ação de viver, vivenciar, experienciar, no
profundo de meditar e re-fletir a realidade da vida, a mentira das letras. Nos rastros das palavras
que artificio a duras penas, nos sentidos que de mim originam e me transcendem,
tempos outros e gerações outras hão de encontrar a argila do amor, orgulho,
inquietude e paixão obstinada no sacrifício de sonho pelo ser humano. Deixo nos
rastros das palavras, como presente, força, vitória e exemplo da vontade de
viver, do desejo inominável do encontro dos homens com as suas verdades mesmas,
longe de ideologias e interesses efêmeros.
Num
ritmo de fascínio, assistir à luz prateada incidindo sobre as águas, no sereno
da noite que custa a realizar seu itinerário em busca do alvorecer, na calada
da madrugada ao som de corujas, galos, latidos de vira-latas e de pedigrees os
mais substanciosos, na aurora o som agradável e lindíssimo da cigarra que canta
a esperança e a fé de outras realidades e sonhos para a continuidade do
espírito, para a roda-viva dos problemas e projetos do outro, extasio-me,
ouvindo-a, é uma canção aos meus ouvidos e espírito, ainda que permeado de
sofrimentos e dores, ainda que sob os auspícios dos desejos e de todas as
esperanças, ainda que me não seja possível sensibilizar as notas próprias e
verdadeiras para empreender a musicalidade dos sentimentos e emoções!
Numa
musicalidade de versos e palavras, assistir às chamas do fogo, incidindo sobre
o espírito, que me habitam os sentimentos, extasiam as idéias da plen-itude e
sublim-idade? Como agradecer à luz que deixa os raios para iluminar o que se
encontra nas sombras ou na escuridão? Como reverenciar as chamas que deixam os
raios luminosos incandescerem as utopias, darem volúpias e êxtases à
a-nunciação do amor? Como ser fiel às águas que nos saciam a sede,
tranqüilizam-nos em instantes de angústia e tristeza, alegram-nos com as suas
caminhadas serenas e tranqüilas rumo ao objetivo único e absoluto, encontrar o
mar, perderem-se nele – quem me dera pudesse nelas caminhar, seguindo as linhas
do horizonte e universo, quando na distância se encontram com as nuvens brancas
e azuis do céu, reencontrarem-se no
encontro dele com as transcendências
transparentes de azul e branco nas bordas do infinito, verde e amarelo
nas pontas do ice-berg chamado, aclamado, reverenciado, venerado como horizonte
e uni-verso de outras esperanças e fé no verbo de todos os sonhos da eternidade
e divinidade? Como ser solidário com as águas e as chamas que indicam outras
veredas a serem trilhadas no espaço de entre as vontades e as ilusões,
fantasias e sonhos, verbos e carne?
São
perguntas, questionamentos, indagações; pergunto-me sim quando as respostas
serão ao menos esboçadas, mesmo sem qualquer prática do que é isto – burilar,
mesmo sem qualquer imaginação ou fantasia do que é isto – delinear, podendo
assim alimentar no espírito o desejo de ser a verdade não apenas de mim,
egoísta e egocêntrico que sou, vaidades que me habitam as pré-fundas nos
interstícios de minha sensibilidade e intelectualidade, a verdade delas
a-nunciadas, quem irá fazer isso, acredito que os sibilos de ventos entre as
montanhas me indicarão os caminhos, porque sei ouvi-los com o silêncio que me
habita, com os desejos da verdade que pululam por todos os sítios de minha
alma, de meu corpo, aqui devidamente sentado e confortável para a realização
dessas letras, dessas palavras que não me devoram, porque as sei dizer com
todos os sentimentos e emoções à flor da pena e das asas abertas de uma águia,
de um faisão, sabendo mostrar-lhes a divinidade dos ideais e vontades da
liberdade, aliás, Minas Gerais é o berço esplendido dos ideais da liberdade, os
mineiros jamais deitam nele, jamais se re-festelam, lutam, labutam em busca de
seus projetos, seguindo o lema que lhes habitam as entranhas da alma: “antes
devagar do que nunca realizar” ou “a pressa é inimiga da perfeição”.
De
algo tenho conhecimento, aliás me vem em auxílio, diante da dor que se me
apresenta por as perguntas serem inúmeras, resposta nenhuma. Há longos anos o
silêncio acompanha-me os passos, na continuidade desses anos aprendi a ouvi-lo
com percuciência, e é fundado nessa realidade que digo o silêncio e o som serem
a harmonia, por inter-médio dela sigo a estrada das perguntas e das respostas,
não analisando, não interpretando, ouvirei as respostas.
Extasio-me,
Con-templando
as linhas do horizonte
E
uni-verso,
Vislumbrando
as águas,
Chamas
Que
a-nunciam veredas a serem trilhadas,
Esperanças
e fé
No
verbo de todos os sonhos,
Desejo
de serem a verdade dos caminhos
Por
entre sendas e sentimentos
Do
belo e do eterno.
Surpreendo-me,
Olhando
para fora,
Onde
águas e chamas ec-sistem
Plenas
e absolutas;
Crio-as
com alguns movimentos
Da
pena,
Acredito
na profundidade
Desse
devaneio,
Enquanto
me fazem
Inda
mais silencioso
Do
que sou.
Deixo
que, à beira do rio, caiu a noite não faz muito, sendo tempo de outras
reflexões para o novo amanhã que se anuncia, ao alvorecer será uma verdade,
será uma realidade, será um projeto de outras realizações de utopias e
sorrelfas, sorrelfas às avessas dos idílios, sorrelfas re-versas das ilusões e
fantasias, só se levantará de sua vigília aquando o alvorecer se a-nunciar
aberto ao mundo e à vida, a luz prateada da lua cheia sobre as águas, me
desabafe um poucochinho, tranqüilize-me os sentimentos, emoções que me povoam
as buscas e questionamentos, trabalhe os pensamentos, acompanhados de
inspiração e intuição, torne-lhes palavras eivadas do espírito de sonhos, de
verbos feitos utopias e ilusões, o verbo “amar”, “ser-amigo” já foram
realizados, seguem suas trajetórias e itinerários, à mercê do tempo e das
dialéticas filosóficas do que há-de vir, do que há-de perecer, seguem seus
caminhos, o verbo “ser” na continuidade do tempo e das situações se re-faz, é re-fazenda do amor em todas as
suas nuanças.
Deixo
que, próximo à lareira, sentado na cadeira de balanço, as chamas me
trans-formem, me levem para outros sítios, para outros infinitos para plantar a
raiz das palavras, para colher o fruto do poema, para sondar o terreiro da
folha branca, para in-vestigar o baldio das linhas no regaço da alma. Afinal de
contas, quem ouve a noite, sob o silêncio das chamas da lareira, em gestos e
quietude de re-flexão, sozinho consigo mesmo e com o espaço do lar, olha a luz
das estrelas, da lua, através da vidraça da janela fechada, é confidente. Mais
ainda. Quem reflete, estando aqui, é mais confidente... As chamas da lareira em
real presença e contingência, as águas de rios presentes na imaginação e nas
fantasias a-nunciam confidenciais inconfidências e confidências inconfidenciais além de todos
os segredos e enigmas do ser e do espírito, historicidade e historialidade, e
mesmo do univérsico do quotidiano pleno de atitudes e acontecimentos, fatos e
ações, mergulham na divinidade da verdade, na ab-solutidade das buscas e fé de
outras esperanças.
Como
o amor é espírito, é éter, é Deus vivo. Vivo como a ec-sistência da bola de
fogo do sol, por sobre a cabeça dos homens. Assim como a ventania das
tempestades passa pelos campos, montanhas e cidades, a varrer a terra e os
mares para de-monstrar aos homens a presença viva de Deus pelos homens. Assim
eu canto, assim eu recito, assim eu declamo, por vezes busco expressar isso na
poiésis de poemas metafísicos, ontológicos e transcendentes. Assim eu sonho.
Assim eu canto a celebrar o prazer de viver como vivem os deuses.
Não
é fácil ter algo a dizer todos os dias, todas as noites, sábados e domingos,
dias úteis e inúteis, de trabalho ou feriado, santo, mais difícil ainda é ter
mensagem digna de ser ouvida, digna de ser re-fletida, digna de através dela se
encontre outras nonadas nos caminhos de veredas, outras travessias nas veredas
de nonadas, outros amores, paixões, outras entregas e desejos de liberdade...
Há quando se é tomado pelo vazio, nenhuma palavra se revela, isto me angustia,
desespera, mas tenho fé no segundo após, nas experiências que haverão de vir. O
que faço para superar essa realidade? Penso e sinto nos kambaios passos ao
longo dos amores que senti no que me diz ser esperança e fé no passado,
mergulho nele e recupero o fôlego no presente, o céu de nuvens brancas e azuis
me falam do futuro que há-de ser.
Quanto
mais busco uni-versificar-me, tanto mais me impersonalizo. O raios da chama que
clareiam a lareira não são visíveis, assim como o invisível é a Realidade do
sábio. Por isso, ao final da tarde, decidi largar tudo o que estava dizendo na
folha de papel branco, aquela ansiedade que não se desfazia na dissolução da
linguagem e do estilo, não me sentia satisfeito, não me sentia real-izado,
sentia a falta de um ser que intuí e não pude vivenciar, id-ent-ificou-se e escafedeu-se, indo ao alto
da montanha, sentar-me à beira do rio, deixar-me entregue à natureza, aos seus
mistérios de ocultar-se e re-velar-se, quem sabe teceria outras ilusões e
quimeras, recuperaria e resgataria o que me fora perdido ao longo da vida e de
suas labutas. Antes, subindo, pensava comigo esta atitude iria devolver-me as
palavras que me faltaram, a rede lançada às águas dar-me-iam não apenas os
peixes que me saciariam a fome, mas me iluminariam a vida para as próximas
veredas dos caminhos, que não se a-nunciaram, que se perderam entre um desejo
de linguagem e estilo e uma intuição livre e espontânea, de uma vontade de
comunicação e transparência de idéias e intenções, deixando-me um nó górdio na
garganta, o ser que mostrou suas bainhas e não pude fazer-lhe a barra por me
faltar a linha devida, e mesmo o ferro para concretizar o seu espaço, passo a
minha roupa todas as manhãs antes de tomar banho, faço-o por ser intransigente,
minha roupa deve ser passada com perfeição, res-ponde isso pela idoneidade de
minha imagem do espírito e da alma, não apenas da matéria, passar os meus
cremes no rosto, pentear os meus cabelos.
De
volta, quase noite, estendi a rede no alpendre, deixei-me descansar no silêncio
pesado entre montanhas minerais, entre picos de vulgares, ridículas
mineir-idades e mineir-ices, nascer de novo feito Macunaíma, ser mito Guarani
ou Martin Cererê... Quando a lua, enorme, atrás da montanha surgiu... dançaram
as minhas luzes dispersas sob a chama de lareira imaginária, entre mim e uma
amiga paulistana, muito íntima, todas as coisas são imaginárias, há pouco nos
tornamos noivos, somos namorados há alguns anos, para que não pensasse estar eu
enrolando o tempo sugeri nos tornássemos noivos, queria mostrar-lhe o grande
amor e carinho, amizade sinto por ela, o casamento será imaginário,
re-presentaram os atos nas águas transparentes e límpidas do rio subjetivo e
interior, das águas transcendentes, imaginárias, contingentes.
Na
noite alucinada, lembrou-me que poderia acender o fogo da lareira e continuar a
in-vestigar, elencar os vestígios de tantos sonhos e utopias que me habitavam
outrora, por alguns lutei de unhas e dentes, por outros fui indiferente, a vida
mostrou-me serem outros os que revelariam a minha verdade e a minha real
índole, e nas in-vestigações criar e re-criar o que fora perdido no tempo, o
mais profundo de mim em busca da longa noite, aquando ouvi a inquieta voz dos
ventos que me chamavam, reclamavam a minha presença, desejavam levar-me para
bem longe, no per-curso conhecer outros campos, outras florestas silvestres, e
que isso iria nalgum estilo e linguagem dar a luz às flores do efêmero e do
eterno, a agulha própria, pequena e de pontinha a mais fina, aquela de pontos
de cruz ou aquela de alinhavar sedas.
Você,
se me lê, se entende as metáforas de minha linguagem e estilo, se compreende os
símbolos, signos de minhas verdades e desejos, tem que ter um enorme sentido,
uma grande e imensa clarividência de sua volúpia, de seus êxtases em busca do
eterno e imortal, dos valores efêmeros e eternos, das virtudes passageiras e
fugazes, da consciência estética e ética, no uso de sua liberdade, na prática
de atitudes e ações, não deixar que as palavras lhe penetrem o íntimo,
embaralhem os seus pensamentos e idéias, desejos e sonhos, mas lute contra
elas, contra o que não está inscrito em sua verdade, naquilo que sente ser o
melhor caminho para encontrar a alegria, os caminhos a serem percorridos para a
sua alegria são somente seus. Pense apenas que estas palavras são modos e
estilos de caminhar, são as minhas veredas que trilhei e memorizei no tempo,
com as rédeas do Tao de Guimarães Rosa,
com as esporas de Machado de Assis, com a sela de Martin Heidegger, deixando-as livres, puxando-as, quando
necessário, cavalgando o meu jegue na grande viagem pelo sertão, e no espaço de
minhas ilusões e fantasias, que re-crio ao longo de outras vivências e
experiências, que literalizo no de-curso das imagens da beleza e do resplendor,
daquele desejo da consciência de abarcar os mistérios e enigmas da vida, uma
luz não a ser seguida sem reflexão, uma chama a ser vivenciada sem pensar as
razões de estar-no-mundo, os motivos de ser em busca da mãe-terra, os
sentimentos do sonho e dos verbos de todas as utopias, inter-mediando a
ec-sistência de verdades ridículas e perenes,
mas para refletir os caminhos secretos que con-duzem ao encontro com as
pessoas, com o amor, com a paz, com a
solidariedade, com a compaixão, com o encontro com Deus, como diz a paulistana
que mais amo neste mundo, a irmã-amiga de minha vida, o tesouro que Maria Santíssima
colocou em minha estrada, dispostas ao encontro com os homens, entre-postas com
as conquistas do diá-logo e comunicação com a subjetividade dos homens, a
não-subjetividade das coisas.
Realmente
não há sabedoria como a do Senhor no Evangelho. As palavras nele escritas são a
Verdade inconteste, e quem as segue encontrará a sua luz prateada sobre as
águas, essa mesma irmã-amiga íntima e espiritual teve e experienciou essa
verdade em sua vida, hoje é feliz e realizada, encontrará a chama que
incandesce todos os sonhos e utopias, encontrará o esplendor de sua vida,
encontrará a plen-itude de todos os caminhos nas veredas de nosso sertão de
travessias e nonadas e mesmo nas selvas de pedra. Nem há esperança, nem há
simplicidade, nem há vida como a do Senhor do Evangelho.
Isto
que estou a dizer no íntimo, a sentir nas metáforas, a pensar na simplicidade
do sentido das palavras, símbolos e signos das palavras, sentindo-me emocionado
além de todas as contingências do quotidiano, uma imagem de mim sentado à
cadeira de balanço, ao som do ir e vir, diante das chamas secretas da lareira
que impulsionam os dedos na percussão das teclas, são as verdades que venho
re-colhendo e a-colhendo ao longo do caminho, às vezes de trevas, às vezes de
sombras, às vezes de luzes que me ofuscam, e com elas busco viver, com elas
busco saber e conhecer as magias da fé, os esplendores dos verbos que se
desejam frutos de espírito e de carne, que esplendem de carinho e ternura pelo
que há-de ser novo, de ser novidade. Não são as de ninguém, de uma única pessoa
além de mim. Se me inspiro nas palavras de Deus, do Evangelho, não significa
que se tornam a Verdade. A Verdade é busca, é querência, é desejo, é vontade
nos des-encontros do tempo e da história, nos des-encontros dos desejos e da
realidade. A verdade “é”, e o ser se faz na continuidade da vida e das
atitudes, da sinceridade e seriedade, os caminhos jamais terão fim, jamais se
completarão, jamais serão o absoluto inconteste, haverá sempre mudanças nos
seus horizontes e linhas do infinito.
Sinto,
ouço, alegro-me, choro, revejo, ouço as palavras de alguém que está dentro da
saudosa CASA DO SOL NASCENTE, THE HOUSE OF THE RISING SUN... todo o verbo que
quiser, todos os seus sentidos que
aprouverem à preservação e con-servação dos princípios e dignidades dos
vestígios do bem e do mal que ainda possam influenciar os erros e enganos da
verdade absoluta nessa passagem de
noite, sentado à cadeira de balanço, olhando as chamas da lareira, num cantinho
mui especial da alma, no inconsciente divino, coletivo, as águas límpidas de
meu rio livres desde a fonte até ao mar, seguindo sem margens, sem pressa, os
desígnios do tempo e do per-curso. Desejo a única Palavra realmente “séria”, “verdadeira”, aos olhos de Deus, do Espírito
Santo, da Rainha da Paz, da qual todas as outras participam, à medida que
salvam, fazem a PLEN-ITUDE de todos os caminhos, fazem a DIVIN-IDADE da vida e de suas quimeras.
Não
vejo nenhum ser humano até onde minha vista alcance. Nem ao menos escuto o
vento. As folhas das árvores balançam sem som. No infinito salpicado de luzes,
no in-verno, quem sabe ao in-verso dos sonhos, quem sabe ao re-verso das razões
outras do pleno e da verdade, a noturna essência de luzes das estrelas e da lua
fornece alento ao viver, sustenta os caminhos a serem seguidos, o noturno ser
de chamas da lareira doando ao viver as miríades do deserto e silêncio do
mistério de horizontes além da visão-{de}-mundo.
Experimento
a intimidade. Antes, tendo largado tudo o que dizia na folha branca de papel,
aliás, dois parágrafos pequenos, os do início, percebendo não ser capaz de
continuar, faltavam-me as palavras, pensei que, vindo à montanha, sentando-me à
beira do rio, olhando a luz prateada da lua incidindo sobre as águas, as
palavras viriam todas vivas e presentes. Experimento a intimidade, ao invés das
palavras, e ela se torna, na verdade, o verbo de minha liberdade, a carne de
meu ser, os ossos de minha morte. Tenho, se assim posso dizer, um “direito”
sobre o íntimo, ainda que se negue, esfrie-se, fuja-se, degenere-se,
distorcione-se.
O
íntimo do verbo, uma vez vivido, não se apaga, uma vez a rede lançada às águas
a profundidade das palavras jamais será esquecida, os seus frutos serão inscritos
na eternidade dos peixes re-colhidos e acolhidos. Luz prateada que pode ser amor que se propaga
sem se consumir. Luz prateada que pode ser a vigilância e a sentinela na dor.
Quem vive, ainda que por única vez, a luz prateada, se é na força e na liberdade
da verdade, conhece as águas que a recebem, ainda que não conheça os caminhos
por onde ela seguirá calma e serena. Águas que podem ser a graça do batismo
fazendo renascer a força da fé libertadora, fazendo nascer a liberdade da fé
consumadora da verdade e dos princípios éticos da utopia cristã, como me
inspira um intelectual e escritor da cristianidade, do cristianismo, da utopia
cristã no sertão mineiro. Águas que podem ser o silêncio de quem busca verdades
no íntimo que, de algum modo, pode ser anúncio de libertação do outro.
È
buscando a intimidade à luz prateada da lua, é nas águas que conheço o belo
silêncio obsession-ado pela Fonte mais profunda. Onde o olhar sempre em
movimento entra em ressonância com os
mistérios da vida e morte, do universo e mundo, Deus me conduz ao desejo
fremente de tornar as palavras verbo, verbo que não sacia a fome e a sede de
ninguém, mas que faz desejar a água e o alimento para saciá-las.
As
palavras são as minhas perguntas de cada dia, sempre novas, sempre grávidas de
outras reflexões e meditações. Se as lanço às águas, os peixes serão o alimento
da humanidade pobre e miserável
Daí,
é que acolho o que se me revelou enquanto estive no alto da montanha, sentado à
beira do rio – a esperança e, mais que a esperança, a certeza de que é na
intimidade que a palavra se torna verbo. Creio que a eternidade existe. Creio
que a eternidade é feita de eternidade e não de tempo. Creio que a eternidade é
estado de amor puro. Creio que a eternidade é estar sempre com e não sem. Creio
que a eternidade é só vida e nunca morte.
Daí,
é que recolho a mensagem a você, leitor,
se me lê: já refletiu, nesse mundo todo trevas, alguém lhe mostrar a luz
prateada sobre as águas, as chamas da lareira à mercê da reflexão e meditação,
alguém lhe doar gratuitamente sentimentos de busca, de compl-etude, de paz?
Deixo
com você a minha paz. È paz que não é a que o mundo costuma dar. É a paz de
saber que o mais inaudito e o mais inexpressível ainda se revela à luz prateada
sobre as águas, às chamas da lareira em qualquer instante da vida,
especialmente nos momentos de dores e sofrimentos os mais difíceis e
complicados, a vida se faz nas dores e sofrimentos, e isto não advém só de
Cristo, isso é a vida mesma.
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