É nesta
fórmula que nós encontramos o credo mais antigo da Igreja primitiva, e nela “é
compreendida toda a essência daquilo que a fé cristã tem a dizer sobre Deus. No
fato de ressuscitar Jesus da Morte, Deus Se revela sendo o Deus fiel, o Deus
presente na história de maneira bem específica, como aquele que faz viver os
mortos e chama à existência as coisas que não existem”(RM 4, 17). Na
“ressuscitação” de Jesus, Deus age como Deus, e agindo como Deus dá vida, e dá
esta vida na história concreta, demonstrando assim perante todos que ele está
presente nesta história.
Mas não é só
isso: ressuscitando Jesus, Deus ratifica a vida e a mensagem deste Jesus,
demonstrando perante todos que “a iminência do Reino de Deus que o Jesus
histórico trouxera se tornou realidade definitiva... Páscoa é o início
definitivo da nova vida, estabelecida pelo próprio Deus... A “ressuscitação”
efetuada por Deus em Jesus re-presenta a auto-dedicação definitiva de Deus ao
mundo, por isso é a verdadeira transição do eon. Ela torna definitiva a
transição do mundo que começou no agir de Jesus.
RESSUCITANDO JESUS, DEUS
CONFIRMA QUE O REIN0 DE DEUS JÁ COMEÇOU,PORQUE ELE, DEUS, SE TORNA PRESENTE DE MANEIRA QUALITATIVAMENTE NOVA E DEFINITIVA
SOMOS DEUS E ELE, MAIS FORTE DO QUE A MORTE’
Mais uma vez, porém, este novo eon não irrompe de
maneira já consumada, mas como início de processo que nada mais pode frear.
Processo de vida crescente, cujo autor é o próprio Deus e cuja garantia é o
sinal da ação escatológica exemplar desse Deus: a ressuscitação de Jesus.
Dirá
alguém: como ressuscitam os mortos? Com que corpo volta? Insensato! O que
semeais não readquire vida a não ser que morra. E o que semeais não é o corpo
da futura planta que deve nascer, mas um simples grão, de trigo ou de qualquer
espécie. A seguir, Deus lhe dá corpo como quer; a cada uma das sementes ele dá
o corpo que lhe é próprio. Nenhuma carne é igual às outras, mas uma é a carne
dos homens, outra a carne dos quadrúpedes, outra a dos pássaros, outra a dos
peixes. Há corpos celestes e há corpos terrestres. São, porém, diversos o
brilho dos celestes e o brilho dos terrestres. Um é o brilho do sol, outro o
brilho da lua, e outro o brilho das estrelas. E até de estrela para estrela há
diferença de brilho. O mesmo se dá com a ressurreição dos mortos; semeado
corruptível, o corpo ressuscita
incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória.
Semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita
corpo espiritual. Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual. Assim
está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão
tornou-se espírito que dá a vida. Primeiro foi feito não o que é espiritual,
mas o que é psíquico; o que é espiritual vem depois. O primeiro homem, tirado
da terra, é terrestre. O segundo homem vem do céu. Qual foi o homem terrestre,
tais são também os terrestres. Qual foi o homem celeste, tais serão os
celestes. Digo-vos, irmãos: a carne e o sangue não podem herdar o Reino de
Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade. Eis que vos dou a conhecer
um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados. Num
instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final, pois a
trombeta tocará e os mortos ressurgirão
incorruptíveis, e nós seremos transformados. Com efeito, é necessário
que este ser corruptível revista a incorruptibilidade, e que este ser mortal
revista a imortalidade. Quando, pois, este ser corruptível tiver revestido a
incorruptibilidade e este ser mortal tiver revestido a imortalidade, então
cumprir-se-á a palavra da Escritura: ‘A morte foi absorvida na vitória. Morte,
onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?’ ” (1 Cor 15,
35,55)
Pregar o Evangelho ou envangelizar é sua tarefa primordial
“Se prego o Evangelho, isto não é para mim motivo de vanglória, é dever que
pesa sobre mim: ai de mim se não anunciasse o Evangelho!”. (1Cor 9, 16). “Não
fui enviado para batizar, mas para pregar o Evangelho? (1Cir, 1, 17). Não que
os sacramentos sejam inúteis, mas a própria ordem sacramentária depende do
anúncio da palavra. Não basta, com efeito que Jesus tenha vivido, sido morto e
ressuscitado para que venha a salvação. É preciso que esses fatos salvíficos
sejam divulgados: é preciso homens que preguem o Evangelho (Rm 10, 14,15). Por
tal motivo Timóteo, a exemplo de Paulo, deve “pregar a palavra” com coragem e
insistência (2Tm 4,2).
Paulo se define a si mesmo pelo Evangelho. Ele foi
“segregado para o Evangelho de Deus’(Rm 1, 1). Se Deus o arrancou do judaísmo
foi para consagrá-lo ao Evangelho. Deus revelou-lhe seu Filho “para que ele o
anunciasse (evangelizasse) entre os pagãos’(Gl 1, 15-16; 2,7). Paulo, desde
então, “se tornou ministro do Evangelho” (Cl 1,23;Ef3,7).
Na linguagem de Paulo, O Evangelho designa a Boa
Nova revelada ao mundo. Na metade dos casos, o termo é empregado de modo
absoluto, sem ser necessário caracterizá-lo por um substantivo ou por uma frase
relativa. Muitas vezes, acentua-se a atividade apostólica: O Evangelho equivale
então ao ato de anunciar (1Cor 9, 14; Fl 4k 15). Outras vezes refere-se ao
conteúdo desse anúncio (Rm 1, 16. AC
11,4), à própria mensagem tal como é
conhecida na comunidade primitiva.
Em Rm 1, 1-2, encontram-se agrupados os dois
aspectos, ativo e objetivo. Paulo é apóstolo para “anunciar o Evangelho de
Deus”, a saber, o que Deus “prometera
por seus profetas nas santas Escrituras”.
O Conteúdo do Evangelho, nos raros casos em que
Paulo o explicita, identifica-se com a história de Jesus, particularmente com
sua paixão, morte e ressurreição. Em Rm 1, 3-4, o Evangelho refere-se ao Filho
de Deus “procedente da linhagem de Davi segundo a carne” e constituído Senhor
por sua ressurreição. Na 1Cor 15, 1-5, o conteúdo essencial do Evangelho
pregado e confessado é a morte, a sepultura a ressurreição das aparições de
Jesus ressuscitado. Para Paulo, é esse o coração do Evangelho.
Não há ruptura entre o Evangelho e o Antigo
Testamento. O Evangelho outra coisa não é senão a revelação da salvação operada
por Deus, no Cristo, no final dos tempos. A equivalência concreta entre
Evangelho e mistério bem o mostra (Rm 16,25;Cl 1, 25-26; Ef 1, 9-13; 3, 5-6).
“... segundo o Evangelho que eu anuncio, pregando Jesus Cristo”, diz Paulo, é
“revelação do mistério por tantos séculos mantido em silêncio; agora esse mistério foi manifestado e levado
ao conhecimento de todas as nações, por meio dos escritos dos profetas”(Rm 16,
25-27). Em ângulos diferentes. Por um lado, trata-se de um segredo oculto, em seguida
desvendado, revelado, manifestado e comunicado; por outro lado, trata-se de uma
Boa Nova, de uma mensagem anunciada, proclamada. Plano divino escondido e
revelado, plano divino proclamado: Evangelho e Mistério tem o mesmo objeto e o
mesmo conteúdo. O Evangelho é a nova economia da salvação, desvendada e
cumprida em Jesus, por sua vida, sua morte e sua ressurreição, enquanto ela é
notificada e se propaga pela pregação e pela força divina que lhe é
interior.
A experiência da finitude interior e à
compaixão dela deriva para o sofrimento
alheio, deve-se acrescentar, na vida do Nazareno, o impacto duríssimo da dor
que lhe foi provocada pelos homens: o impacto duríssimo dado que hoje é
provocada pelos escribas(cf.Mc3,21), acusado de ser um endemoninhado pelos
escribas (cf. Mc. 3,22) e par.), definido um impostor pelos poderosos (cf. Mt
27, 63), Jesus sente todo o peso da hostilidade que se acumula contra ele. Não
se entristece com as acusações, mas com a dureza dos corações dos quais elas
provêm (cf. Mc 3,5). Os adversários não se cansarão de atacá-lo de todos os
modos. Acusam-no pelo comportamento dos seus discípulos que não jejuam
(cfr.Mc.2,18) e não observam a Lei ( cf. 2.24; 23,7), procuram desmascará-lo
aos olhos do povo com toda espécie de calúnia (cf. Mc 3,11, por exemplo),
chegando até a expulsá-lo da sinagoga que lhe dá fé suas cartas,
são alguns dos primeiros documentos escritos do cristianismo primitivo,
numa clara valorização do corpo, afirma que o homem é, no processo de sua vida,
um corpo psíquico que precisa tornar-se um corpo espiritual. Num pensamento
complexo e dinâmico ele utiliza, para expressar seu pensamento, três conceitos:
corpo (soma), alma (psique), e espírito (pneuma), e afirma que se existe um
corpo anímico, psíquico, existe também um corpo pneumático, espiritual, e que
aquele deve morrer para este viver ( 1Cor 15,45). Psique, a alma, tem de morrer
e é o corpo, só que agora espiritualizado, é que deve viver. E mesmo quando ele
fala em desejos da carne que se opõem aos desejos do espírito não existe aí
nenhum dualismo; viver segundo o espírito significa viver conforme os valores
de Jesus, aberto para os outros e para Deus em busca da vida plena; viver
segundo a carne é viver fechado em si mesmo, impedindo, desta maneira, a vida
de ser plena (Leonardo Boff, Vida Segundo o Espírito). Tanto é assim que alguns
autores, numa tentativa de serem mais fiéis ao espírito bíblico, têm
substituído carne por termos mais próximos do sentido grego, como instintos
egoístas e por isso diz da necessidade da alma morrer. Alma para ele é a personalidade
individualista que não se percebe e não se aceita como parte do todo, o
espírito que se realiza através da história.
Na idade Média,
a concepção histórica do homem quase desapareceu da teologia cristã e apesar de
em sua síntese mais completa e brilhante, a tomista, a unidade do homem ser
reafirmada, agora ontologicamente, o que prevaleceu foi a concepção dualista
que se harmonizou com perfeição com o dualismo básico que marcou todo o
pensamento e a cultura ocidental. A realidade se divide em objeto e sujeito, o
homem, por sua vez, é alma e corpo. É mente e sentimento. Razão e emoção. O
homem é homem e mulher e, na verdade, o homem é mais alma, mais mente, mais
razão. O homem mulher é mais corpo, mais sentimento, mais emoção – e,
acrescentando, mais intuição, mais percepção. A desvalorização da mulher, do
corpo, do sentimento, da emoção, foi concomitante.
[1]
Este texto fora escrito em 2002. Algumas vezes pensei em publicá-lo em
tablóide, mas os editores não aprovaram este projeto, dizendo que não seria
lido por ninguém, os leitores não têm interesse neste tipo de leitura. Razão
In-versa tem por objetivo a cultura cristã, teológica, o que está em perfeita
harmonia com o meu pensamento, com a minha obra. Como dizia Santo Agostinho:
“Só depois que des-cobri a teologia em minha vida é que ela teve sentido. A
filosofia apenas não res-pondia a todos os meus questionamentos”.
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