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terça-feira, 24 de novembro de 2015

DEUS RESSUSCITOU JESUS DA MORTE



É  nesta fórmula que nós encontramos o credo mais antigo da Igreja primitiva, e nela “é compreendida toda a essência daquilo que a fé cristã tem a dizer sobre Deus. No fato de ressuscitar Jesus da Morte, Deus Se revela sendo o Deus fiel, o Deus presente na história de maneira bem específica, como aquele que faz viver os mortos e chama à existência as coisas que não existem”(RM 4, 17). Na “ressuscitação” de Jesus, Deus age como Deus, e agindo como Deus dá vida, e dá esta vida na história concreta, demonstrando assim perante todos que ele está presente nesta história.
 Mas não é só isso: ressuscitando Jesus, Deus ratifica a vida e a mensagem deste Jesus, demonstrando perante todos que “a iminência do Reino de Deus que o Jesus histórico trouxera se tornou realidade definitiva... Páscoa é o início definitivo da nova vida, estabelecida pelo próprio Deus... A “ressuscitação” efetuada por Deus em Jesus re-presenta a auto-dedicação definitiva de Deus ao mundo, por isso é a verdadeira transição do eon. Ela torna definitiva a transição do mundo que começou no agir de Jesus.

RESSUCITANDO JESUS, DEUS CONFIRMA QUE O REIN0 DE DEUS JÁ COMEÇOU,PORQUE ELE, DEUS, SE TORNA PRESENTE DE MANEIRA QUALITATIVAMENTE NOVA E DEFINITIVA SOMOS DEUS E ELE, MAIS FORTE DO QUE A MORTE’

Mais uma vez, porém, este novo eon não irrompe de maneira já consumada, mas como início de processo que nada mais pode frear. Processo de vida crescente, cujo autor é o próprio Deus e cuja garantia é o sinal da ação escatológica exemplar desse Deus: a ressuscitação de  Jesus.

Dirá alguém: como ressuscitam os mortos? Com que corpo volta? Insensato! O que semeais não readquire vida a não ser que morra. E o que semeais não é o corpo da futura planta que deve nascer, mas um simples grão, de trigo ou de qualquer espécie. A seguir, Deus lhe dá corpo como quer; a cada uma das sementes ele dá o corpo que lhe é próprio. Nenhuma carne é igual às outras, mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos quadrúpedes, outra a dos pássaros, outra a dos peixes. Há corpos celestes e há corpos terrestres. São, porém, diversos o brilho dos celestes e o brilho dos terrestres. Um é o brilho do sol, outro o brilho da lua, e outro o brilho das estrelas. E até de estrela para estrela há diferença de brilho. O mesmo se dá com a ressurreição dos mortos; semeado corruptível, o corpo ressuscita  incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória. Semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual. Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual. Assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão tornou-se espírito que dá a vida. Primeiro foi feito não o que é espiritual, mas o que é psíquico; o que é espiritual vem depois. O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre. O segundo homem vem do céu. Qual foi o homem terrestre, tais são também os terrestres. Qual foi o homem celeste, tais serão os celestes. Digo-vos, irmãos: a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade. Eis que vos dou a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados. Num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final, pois a trombeta tocará e os mortos ressurgirão  incorruptíveis, e nós seremos transformados. Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade, e que este ser mortal revista a imortalidade. Quando, pois, este ser corruptível tiver revestido a incorruptibilidade e este ser mortal tiver revestido a imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura: ‘A morte foi absorvida na vitória. Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?’ ” (1 Cor 15, 35,55)      
Pregar o Evangelho ou envangelizar é sua tarefa primordial “Se prego o Evangelho, isto não é para mim motivo de vanglória, é dever que pesa sobre mim: ai de mim se não anunciasse o Evangelho!”. (1Cor 9, 16). “Não fui enviado para batizar, mas para pregar o Evangelho? (1Cir, 1, 17). Não que os sacramentos sejam inúteis, mas a própria ordem sacramentária depende do anúncio da palavra. Não basta, com efeito que Jesus tenha vivido, sido morto e ressuscitado para que venha a salvação. É preciso que esses fatos salvíficos sejam divulgados: é preciso homens que preguem o Evangelho (Rm 10, 14,15). Por tal motivo Timóteo, a exemplo de Paulo, deve “pregar a palavra” com coragem e insistência (2Tm 4,2).
Paulo se define a si mesmo pelo Evangelho. Ele foi “segregado para o Evangelho de Deus’(Rm 1, 1). Se Deus o arrancou do judaísmo foi para consagrá-lo ao Evangelho. Deus revelou-lhe seu Filho “para que ele o anunciasse (evangelizasse) entre os pagãos’(Gl 1, 15-16; 2,7). Paulo, desde então, “se tornou ministro do Evangelho” (Cl 1,23;Ef3,7).
Na linguagem de Paulo, O Evangelho designa a Boa Nova revelada ao mundo. Na metade dos casos, o termo é empregado de modo absoluto, sem ser necessário caracterizá-lo por um substantivo ou por uma frase relativa. Muitas vezes, acentua-se a atividade apostólica: O Evangelho equivale então ao ato de anunciar (1Cor 9, 14; Fl 4k 15). Outras vezes refere-se ao conteúdo desse anúncio (Rm 1, 16.  AC 11,4),  à própria mensagem tal como é conhecida na comunidade primitiva.
Em Rm 1, 1-2, encontram-se agrupados os dois aspectos, ativo e objetivo. Paulo é apóstolo para “anunciar o Evangelho de Deus”,  a saber, o que Deus “prometera por seus profetas nas santas Escrituras”.
O Conteúdo do Evangelho, nos raros casos em que Paulo o explicita, identifica-se com a história de Jesus, particularmente com sua paixão, morte e ressurreição. Em Rm 1, 3-4, o Evangelho refere-se ao Filho de Deus “procedente da linhagem de Davi segundo a carne” e constituído Senhor por sua ressurreição. Na 1Cor 15, 1-5, o conteúdo essencial do Evangelho pregado e confessado é a morte, a sepultura a ressurreição das aparições de Jesus ressuscitado. Para Paulo, é esse o coração do Evangelho.
Não há ruptura entre o Evangelho e o Antigo Testamento. O Evangelho outra coisa não é senão a revelação da salvação operada por Deus, no Cristo, no final dos tempos. A equivalência concreta entre Evangelho e mistério bem o mostra (Rm 16,25;Cl 1, 25-26; Ef 1, 9-13; 3, 5-6). “... segundo o Evangelho que eu anuncio, pregando Jesus Cristo”, diz Paulo, é “revelação do mistério por tantos séculos mantido em silêncio;  agora esse mistério foi manifestado e levado ao conhecimento de todas as nações, por meio dos escritos dos profetas”(Rm 16, 25-27). Em ângulos diferentes. Por um lado, trata-se de um segredo oculto, em seguida desvendado, revelado, manifestado e comunicado; por outro lado, trata-se de uma Boa Nova, de uma mensagem anunciada, proclamada. Plano divino escondido e revelado, plano divino proclamado: Evangelho e Mistério tem o mesmo objeto e o mesmo conteúdo. O Evangelho é a nova economia da salvação, desvendada e cumprida em Jesus, por sua vida, sua morte e sua ressurreição, enquanto ela é notificada e se propaga pela pregação e pela força divina que lhe é interior. 
A experiência da finitude interior e à compaixão  dela deriva para o sofrimento alheio, deve-se acrescentar, na vida do Nazareno, o impacto duríssimo da dor que lhe foi provocada pelos homens: o impacto duríssimo dado que hoje é provocada pelos escribas(cf.Mc3,21), acusado de ser um endemoninhado pelos escribas (cf. Mc. 3,22) e par.), definido um impostor pelos poderosos (cf. Mt 27, 63), Jesus sente todo o peso da hostilidade que se acumula contra ele. Não se entristece com as acusações, mas com a dureza dos corações dos quais elas provêm (cf. Mc 3,5). Os adversários não se cansarão de atacá-lo de todos os modos. Acusam-no pelo comportamento dos seus discípulos que não jejuam (cfr.Mc.2,18) e não observam a Lei ( cf. 2.24; 23,7), procuram desmascará-lo aos olhos do povo com toda espécie de calúnia (cf. Mc 3,11, por exemplo), chegando até a expulsá-lo da sinagoga que lhe dá fé  suas cartas,  são alguns dos primeiros documentos escritos do cristianismo primitivo, numa clara valorização do corpo, afirma que o homem é, no processo de sua vida, um corpo psíquico que precisa tornar-se um corpo espiritual. Num pensamento complexo e dinâmico ele utiliza, para expressar seu pensamento, três conceitos: corpo (soma), alma (psique), e espírito (pneuma), e afirma que se existe um corpo anímico, psíquico, existe também um corpo pneumático, espiritual, e que aquele deve morrer para este viver ( 1Cor 15,45). Psique, a alma, tem de morrer e é o corpo, só que agora espiritualizado, é que deve viver. E mesmo quando ele fala em desejos da carne que se opõem aos desejos do espírito não existe aí nenhum dualismo; viver segundo o espírito significa viver conforme os valores de Jesus, aberto para os outros e para Deus em busca da vida plena; viver segundo a carne é viver fechado em si mesmo, impedindo, desta maneira, a vida de ser plena (Leonardo Boff, Vida Segundo o Espírito). Tanto é assim que alguns autores, numa tentativa de serem mais fiéis ao espírito bíblico, têm substituído carne por termos mais próximos do sentido grego, como instintos egoístas e por isso diz da necessidade da alma morrer. Alma para ele é a personalidade individualista que não se percebe e não se aceita como parte do todo, o espírito que se realiza através da história.
Na idade Média, a concepção histórica do homem quase desapareceu da teologia cristã e apesar de em sua síntese mais completa e brilhante, a tomista, a unidade do homem ser reafirmada, agora ontologicamente, o que prevaleceu foi a concepção dualista que se harmonizou com perfeição com o dualismo básico que marcou todo o pensamento e a cultura ocidental. A realidade se divide em objeto e sujeito, o homem, por sua vez, é alma e corpo. É mente e sentimento. Razão e emoção. O homem é homem e mulher e, na verdade, o homem é mais alma, mais mente, mais razão. O homem mulher é mais corpo, mais sentimento, mais emoção – e, acrescentando, mais intuição, mais percepção. A desvalorização da mulher, do corpo, do sentimento, da emoção, foi concomitante.



[1] Este texto fora escrito em 2002. Algumas vezes pensei em publicá-lo em tablóide, mas os editores não aprovaram este projeto, dizendo que não seria lido por ninguém, os leitores não têm interesse neste tipo de leitura. Razão In-versa tem por objetivo a cultura cristã, teológica, o que está em perfeita harmonia com o meu pensamento, com a minha obra. Como dizia Santo Agostinho: “Só depois que des-cobri a teologia em minha vida é que ela teve sentido. A filosofia apenas não res-pondia a todos os meus questionamentos”. 

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