Texto enviado para a UNESCO através da Associação Comercial e Industrial de Diamantina.
De início, primeira linha, correspondendo à Apresentação, surge num instantâneo, após o
título, a dedicatória... Encontramos uma imagem, que é a bússola de leitura,
inspirando-nos este Caminho de Luz nas Trevas, desta obra que então se torna
outro capítulo de nosso acervo.
Encontramos esta imagem “na movediça fronteira da lembrança e do
esquecimento”.
É-se
observados nitidamente pormenores de quem está iniciando a ler, esperando, no
percurso da escrita, intuitivamente, descobrir o sentido de os autores e nós
havermos encetado com esta imagem,
pensando que à falta de um título para esta lembrança de egrégio lançamento,
escolhemos este. O título talvez estranhe alguns, pois que fora lançado no
programa da Rádio Cidade, Páginas de um Sonho, patrocinado pela Associação
Comercial e Industrial de Diamantina, Roque Car, sempre incentivando a Cultura
e as Artes em Diamantina.
A intenção é de revelar a idéia de Responsabilidade
do historiador. A faca própria e particular de descarnar um osso de pescoço,
muitíssimo afiada, pontiaguda, por se tornar necessária a habilidade de
contornar cada agulha do osso, desejando que não recorte a carne, não a pique,
o osso saía branquinho e a carne uma manta. Não é tarefa fácil descarnar um
osso.
Com a imagem da “faca”, podemos, com engenhosidade e
arte, compreender o que é isto, a responsabilidade do historiador. Súbito,
sente-se viva e forte a sensação de se estar nas trevas, aquela necessidade de
detalhes e pormenores, às vezes perdidos, tornando inda mais necessário investigar,
buscar a luz nas trevas, os contornos e estratégias, as perspicácias de
intuição e observação, as destrezas de compreensão e entendimento. A
responsabilidade de tecer a rede, deixando os vazios, que são os objetivos do
peixe. O “tecimento” com espírito de busca da verdade, de seriedade e
consciência. Nesta trama de informações e dados estão a proximidade e o
encontro dos homens, da humanidade; estão a resposta e a indagação de uma
dificuldade, de uma esperança, de um sonho, da busca do verbo amar. Empreendimento
difícil, não apenas no colher de informações, dados, pormenores e detalhes, mas
escrever, tecer as idéias com coerência, harmonia, o encontro da obra e o
processo histórico. Neste sentido, para nós, que não somos historiador, não há
diferença de dificuldades.
Heidegger, filósofo alemão, diz que o Ser foi sendo
perdido na história do pensamento filosófico, desde Sócrates, e que é tarefa da
filosofia o resgate do Ser. Interesses, ideologias, irresponsabilidades
trabalharam, e quase mui perfeitamente, para que a História dos Homens e da
Humanidade fosse sendo perdida no decurso do processo histórico. O que não
sabemos ainda de nossa História é imenso!...
A Idéia de uma informação, um ínfimo detalhe haverem
sido perdidos! Pensamos nestes interesses e ideologias ilegítimos, que fizeram
perdê-los, nestes “salauds” que, por mazelas e pitis de burgueses, representam
o esquecimento. O que dizer a estes insignes senhores a respeito de suas
atitudes, ações, que lhes faça ouvir com todas as letras e lhes faça entender,
compreender o Homem sem História nada significar, tornar-se idiota, imbecil,
tolo, o nada, em verdade? Infelizmente, esta palavra ninguém a disse. Haverá
quem o faça!
Imaginem
os senhores o que fora andar daqui para ali, ouvindo, colhendo dados, havendo
quem não fora sincero, havendo quem se recusara a contribuir. Imaginaram. Pensem haver dados a suscitarem investigação,
questões desconhecidas, outras que necessitam de reconhecimento. Há o que fora
perdido. Desejo pensarem que os interesses e ideologias ilícitas, mazelas e
achaques singulares trabalharam para se perderem. Fácil pensar a humanidade sem
História.
A imagem, que escolhemos como tema e temática, é mui interessante, pois
que revela estarmos na fronteira da lembrança e do esquecimento, de imediato
surge a idéia da Dialética da “lembrança e do esquecimento”, sendo a imagem da
História, o que suscita na leitura de investigação, de busca da verdade, só se
revelando na tensão de ambos, nas estratégias de consciência e inconsciência coletiva,
individual, universal, nos espirais em que cada espira identifica outro caminho
a ser seguido, no caminhar pensativo do lugar que se vai ocupar. Ah!... Esta
fronteira da lembrança e do esquecimento, este sonho de rompimento, entrar em
sintonia e harmonia com a construção, com a identidade histórica!...
Se esta tensão entre lembrança e esquecimento já é
difícil, complexa de mergulho, imaginem o que se torna esta dialética, após o
choque instantâneo dos interesses e ideologias injurídicos, que visam com todo
o deleite que isto possa significar, no fritar dos ovos, tão simplesmente as
trevas, sendo a responsabilidade dos historiadores romper o silêncio,
mergulhando fundo nos caminhos espiralados das trevas, tendo de arrancar de
dentro com as duas mãos, sujando-as de sangue, às vezes, a fim de revelar a
Luz.
Pensamos numa consideração ainda mais séria, e
pensamos fazê-la, rogando obter dos senhores atenção possível acerca, um
convite para levarem para casa, juntamente com a obra, sendo esta a bússola do pensamento
e a consciência. Imaginem o nosso acervo cultural, artístico, histórico, que
Diamantina significa, sendo Patrimônio Histórico da Humanidade; pensem o que é
isto de informações, dados, detalhes, pormenores deste acervo sendo perdidos ao
longo do tempo e do processo histórico, o que significa a nossa
responsabilidade e espírito sério de mantê-lo intacto, abrindo possibilidades
de mais importantes e fundamentais conhecimentos se revelarem,
identificando-nos com a História.
Não nos dirigimos a ninguém inconsciente desta
responsabilidade, sabendo de antemão e revezes que a conhecem e bem. Dizemos,
senhores, haver cidade que sonha com uma História como a nossa, tendo apenas
uma local, gado e cavalos no pasto, sem qualquer acervo cultural e artístico, e
não terá jamais uma História como a nossa diamantinense. Convidamos todos a
serem responsáveis com nosso Patrimônio, é o nosso Orgulho, é a nossa Verdade,
é a nossa Esperança. Aconteça o que acontecer, temos de articular as
preocupações de nossa querida e amada Diamantina como um todo e não nos afastar
dela. Ninguém pode negar isto, mesmo que alguns pensem estarmos a dizer que se
sintam culpados - não precisaríamos de o fazer, está bem dito por um filósofo
da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin, “Somos culpados de nosso passado”.
Terminamos, cumprimentando os escritores-amigos,
Antônio Carlos Fernandes, Wander José da Conceição, por este empreendimento,
por esta nobre investigação, La Mezza Notte Lugar social do músico
diamantinense e as origens da Vesperata 1751 - 1895 – 1997.
[1]
Este texto fora primeiramente publicado nas páginas do tablóide E agora?, em
2004. Exerce enorme importância na minha carreira, pelo fato indiscutível, há
documentos comprobatórios de que fora enviado para a Unesco, fora quando
percebi de perto quem fazia a minha história era eu mesmo, pude sentir que a
estava construindo de verdade, era necessário mais entrega em busca de
realizações. Algumas pessoas que conheço têm este artigo publicado. Às vezes, é
necessário esclarecer as circunstâncias e situações em que um discurso é
proferido num evento de lançamento de obra histórica, a história de um povo, no
caso aqui da música na cultura diamantinense, para que as pessoas possam
entender e compreender mais de perto o tecimento das relações entre obra e
vivências, experiências reais, para que possa con-templar os horizontes, a
moldura, a estrutura do discurso. Assim, dispondo de espaço para tecer estas considerações,
escrevera o editorial, para explicar como as relações comigo, Toninho
Fernandes, Wander Conceição são importantes na minha carreira. Não poderia
jamais deixar de registrar isto nas páginas de Razão in-versa.
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