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terça-feira, 24 de novembro de 2015

ATÉ À ETERNIDADE, MEU AMIGO!...



HOMENAGEM PÓSTUMA A MARCOS DE LEMOS

Os escritores curvelanos estamos de luto devido ao falecimento do escritor Marcos de Lemos há poucos anos. As letras curvelanas sentirão a ausência de serem impressas com ardor e volúpia, e sempre a folha branca que seria preenchida por ele estará presente em nossos espíritos.
Marcos de Lemos nasceu em Curvelo. Diplomou-se como Técnico Têxtil e em Direito, e a primeira profissão o fez viajar mundo. Apaixonado por livros e por escrever, já com o conto A grande vantagem obteve o primeiro lugar no Concurso Nacional Canta Brasil, da DGF Edições. Nesse mesmo evento, no item Poesias de Caderno, teve incluídos dois poemas, A alegria e O amor. Publicou também O grande tecelão, narrando parte da trajetória da indústria têxtil desde os primórdios coloniais, onde sobressai a saga de Alexandre Mascarenhas, pioneiro no ramo.
Dos escritores curvelanos é o menos conhecido, suas obras não são conhecidas em Curvelo. Tirei uma de suas obras de minha biblioteca, a mim ofertadas com dedicatória, doando-a à Biblioteca Pública, a fim de os curvelanos pudessem conhecê-la e avaliarem a sua arte, a sua obra.
Conheci-o em Belo Horizonte por ocasião do lançamento de Ópera do Silêncio em 28 de novembro de 2000. Não mais tivemos outra oportunidade de um encontro, tiramos foto juntos (nela seguro os seus quatro livros a mim doados, que trago afixada num quadro no meu escritório), agora escrevendo esta homenagem póstuma, digo com sinceridade que as suas obras, as suas letras, se mergulhadas com profundidade, tornam-se bússolas para o encontro de nós mesmos, o que em verdade em nós trazemos dentro. Curvelo ainda não conhece sua obra – e é este o objetivo de minhas críticas sobre os nossos escritores curvelanos -, mas com esta homenagem espero que todos os curvelanos procurem conhecer sua criatividade, sensibilidade, intuição, percepção, a valorizar suas letras dedicadas à Vida.
O enredo de suas obras passa na Rússia, país que conhece por leituras e visitas, e que o fascina. Pável e Fyódor foi o primeiro da série, seguido por Muito além do agora – vidências de um camponês. Como nos outros romances do “ciclo russo”, aqui se encontram a exatidão histórica e as cores autênticas dos ambientes em que os fatos se desenrolam.
Lúcio Cardoso é considerado o Dostoïévski brasileiro pela crítica. Paulo César Lopes publicou em revista um ensaio sobre o conto Sonho de um homem ridículo de Dostoïévski. Eu próprio desde os dezesseis, dezessete anos sinto profundo amor pela literatura russa, por Dostoïévski, escrevi uma tese nele.
 Interessante isto de os escritores curvelanos estarmos muito ligados à literatura russa, e Marcos de Lemos haver residido na Rússia.
Creio que possa em poucas palavras expressar esta admiração, seguida de influências, diretas e indiretas, por os curvelanos estarmos ligados à Rússia, tirando um excerto da obra Pável e Fyódor, editora Armazém de Idéias, à página 62: “... observamos as belezas íntimas daquelas maravilhas, miramo-las em todos os ângulos imagináveis”. Sim, os curvelanos observamos as belezas que nos habitam a alma, observamos os sentimentos e emoções que nos habitam o espírito; miramos as belezas dos sonhos, ideais, utopias que vivem em nós, perpassam a nossa alma e nos deixam com sede de contemplarmos e revelarmos a nossa espiritualidade; miramos em todos os ângulos imagináveis as verdades que nos habitam o recôndito da alma em busca de nos revelar, manifestarmos os sentimentos mais puros e ingênuos. O russo tem sede de expressar a dimensão mística que habita a humanidade, e, sem dúvida, o curvelano é um povo místico, embora não conheça conscientemente esta dimensão do espírito. No meu ponto de vista, aqui reside esta proximidade nossa com a literatura russa, com Dostoïévski: a bússola de nossa busca de nos perdermos e nos encontrarmos na espiritualidade.
Diante da voluptuosidade das letras de Marcos de Lemos, resistimos certo tempo com bravura, mas o vigor juvenil suplanta a dignidade, e excitados, em simultâneo nos despimos inteiros, corremos e pulamos, alegres e saltitantes, permitindo-nos contemplar as verdades da vida, vislumbrar nossas belezas íntimas, desejar o encontro da fé e da esperança, desejar o conhecimento de nossas dimensões psíquicas, emocionais, espirituais, contemplar os horizontes de nossos pensamentos e idéias. Em nosso único encontro, perguntou: “Você já pensou o que é isto de pensamento e idéia em nós?”; na verdade, fiquei-lhe devendo a resposta, continuo pensando. Encontrando-nos na eternidade, espero que tenha condições de a resposta.
No decorrer da leitura de Marcos de Lemos aprendemos a cavalgar de verdade, a dar rédeas aos sonhos e ideais, em direção ao horizonte, ao crepúsculo, desejando mais e mais perder-nos na Majestade do Crepúsculo, na Aurora da Vida.
Difícil a perda de homens com quem nos sentimos próximos, íntimos, para sempre sentimos o vazio, a ausência. Difícil para mim a perda de Marcos de Lemos com quem me sinto tão próximo devido à literatura russa, a Dostoïévski. Contudo, jamais será esquecido, sua obra, tenho a certeza, irá ao longo dos anos despertar em mim outros sonhos, inclusive o maior deles: conhecer a tão querida e amada Rússia.
Em mim habitará sempre a saudade de Marcos Lemos. Ele já é eterno, mas a sua bússola nos orientará e encaminhará para sempre.  

 Manoel Ferreira Neto



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