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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

AVESSO ÀS METAFÍSICAS DA PÓ-EIRA


Con-templo o horizonte que, 
Agora, 
Se ergue, 
Imperceptivelmente, 
Num movimento cansado, 
E sacia as duas sedes que ninguém 
Pode enganar por muito tempo, 
Sem que o ser se estiole 
- a sede de amar e a de con-templar o verbo amar, 
As utopias e sonhos que nele habitam, 
O que ainda há-de se a-nunciar, 
Re-presentar-se, 
Por inter-médio de seus verbos 
Mostrar-se nítido e trans-par-ente. 

Não me real-izo tão alto como o vôo de uma gaivota, 
No seu descansar nas areias brancas do oceano ou do mar, 
Nem tão baixo quanto uma gota de orvalho, 
Porém sinto a ânsia de me situar no in-finito, 
Posicionar tudo quanto valer o meu talento, 
Tudo quanto forem úteis as labutas e forças, 
Tudo quanto a inteligência e a sensibilidade forem capazes 
De manifestar para o encontro do belo, 
Da beleza, 
Do sublime, 
Do espírito, 
Acima de tudo, 
Da espiritualidade, 
Mesmo que tal paixão seja ilusória, 
Seja até fruto de imaginação fértil, 
Mesmo que seja em conseqüência disso, 
Continue prolongando-me na mera quotidianidade dos problemas,
Dores e sofrimentos múltiplos 
– o próprio in-finito é tão vago, 
limitado e não-matéria, 
a in-finitude, tão vazia e etérea, 
que me surpreende a ânsia, 
excita-me os êxtases e volúpias, 
surpreendem-me as expectativas do encontro e das experiências, 
des-encontro e vivências, 
não a compreendo em mim, 
por isso me sinto sensibilizado, 
tanto que reservo em mim espaço
para questionamentos e re-flexões, 
faço-me montanha durante o dia nos longos passeios, 
de onde vis-lumbro e a-lumbro o panorama da terra, 
de onde con-templo a natureza e a criação divina, 
des-lumbro as bonanças e infortúnios, 
faço-me caverna à noite, 
para o refestelamento merecido, 
por outras coisas não, 
sou avesso às metafísicas da pó-eira
na soleira dos abismos íngremes, 
às poeiras da metafísica do avesso
nas margens de estradas de solo trincado
pela seca de meu sertão, 
por mais que tudo me contra-diga na expressão 
e comunicação de meus uni-versos da alma e do espírito, 
resta-me aquele sorriso sutil de decepção, 
desolação, 
aquele olhar de quem está sendo iluminado e espiritualizado 
para outras remin-iscências do ingênuo, 
do puro, 
da virg-indade das palavras e de seus sentidos, 
do hímen do dito e inter-dito. 

Quisera saber o porquê, 
Permaneço na trilha do questionamento, 
re-velar-se-á nalguma curva “de caminho sinuoso 
A essência do pó-ema do ser na continuidade dos amores e esperanças” 
A verdade por que me entreguei inteiro, 
Que, 
De algum modo, 
Trans-cenderia as meras contingências da vida, 
Seria leitmotiv para outras jornadas do espírito e ser adentro, 
Sentindo-me contente e saltitante.

Manoel Ferreira

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