Quem sabe seja verdade!
Contudo, seja algo que mereça
atenção. Possa transformar esta
matéria-prima e bruta que sou. Possa ver as coisas com clareza, tenha atitudes
dignas. Seja algo que indica os caminhos a serem seguidos.
Basta-me assumir o que me vai
intimamente, e não estar a criar explicações para um estado de espírito que me
tocou. O que vai contribuir para me libertar? Nada. É lutar para dar outro rumo
aos trilhos em que neles desenvolvo os passos. A poeira vai ficando para trás,
ao lado a sombra.
Imagino alguém que se senta ao banco de
uma estação ferroviária, esperando a chegada do trem. Sentou-se. Pôs-se a
esperar. Nenhum chegou àquela estação. Esperou dias, meses, anos. Súbito,
levanta-se e sozinho segue os dormentes a caminho de seu destino. Esqueceu-se
da maleta, contendo peças de roupa limpa, sabonete, toalha, escova de dente,
dentifrício... Esqueceu-a. Alguém gritou, dizendo estar esquecendo da maleta.
Não se virou. Continuou a caminhada.
Até me pergunto, se estou desejando
amadurecer, sentir-me digno de quem sou. Há momentos em que não estou disposto
a crescer, desejo permanecer no canto, encolhido. Satisfaz-me esta
inércia.
Não acredito haja alguém indiferente às
atitudes dos outros. Os fingidos sofrem nos seus cantos.
Olharam-me de soslaio por haver sozinho
conseguido o que realizei. Se lhes anunciei ser homem quem reconhece valores,
disse-o, ressaltando e sublinhando com arte e engenhosidade. A morte, sim, é o
que me vence. Isto lá anda no sangue. Orgulho-me. Levou-me a assumir esta
matéria-prima e bruta que é a vida.
Não é mau este costume de escrever o
que se vive, tece com o coração. Afaga-me a áspera irritação.
Se me fosse dado representar, não me
custava coisa alguma, responderia à altura. Dá certo gosto deitar ao papel
coisas que querem sair da cabeça, por via da representação, da memória. Dá certo prazer deitar ao papel os olhares de
esguelha, de soslaio à comédia da condição humana.
Se me indagam a respeito deste cinismo,
digo que não correspondo a circos montados em salões literários. Ostentações
não fazem parte de minhas condutas. Nada mais. Ao resto respondo a Deus. “O
resto Deus dá conta”.
Irrita estas picuinhas de literatos em
seus devidos e respeitados salões. Fácil ser eterno, imortal, não custa coisa
alguma, é só começar de representar. Não resta outra alternativa senão rir...
Não desejo acabar o dia de hoje,
escrevendo sobre estas questões, se necessitei afagar a áspera irritação não
sei responder de modo algum.
A reflexão é de todo verdadeira, por
mais que se lhe possa dizer em contrário. Não afirmo que as coisas se passem
assim, e que a afeição, feitiço crescente, e por fim o templo, álibi e
cúmplice, negarão o belo diamante a qualquer namorado trazido pela natureza e
pela sociedade.
Antes é tudo
fruto da intimidade, com seus dramas e conflitos, como a condição possível.
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