Total de visualizações de página

terça-feira, 24 de novembro de 2015

AFAGO À ÁSPERA IRRITAÇÃO



Quem sabe seja verdade!
Contudo, seja algo que mereça atenção.  Possa transformar esta matéria-prima e bruta que sou. Possa ver as coisas com clareza, tenha atitudes dignas. Seja algo que indica os caminhos a serem seguidos.
Basta-me assumir o que me vai intimamente, e não estar a criar explicações para um estado de espírito que me tocou. O que vai contribuir para me libertar? Nada. É lutar para dar outro rumo aos trilhos em que neles desenvolvo os passos. A poeira vai ficando para trás, ao lado a sombra.
Imagino alguém que se senta ao banco de uma estação ferroviária, esperando a chegada do trem. Sentou-se. Pôs-se a esperar. Nenhum chegou àquela estação. Esperou dias, meses, anos. Súbito, levanta-se e sozinho segue os dormentes a caminho de seu destino. Esqueceu-se da maleta, contendo peças de roupa limpa, sabonete, toalha, escova de dente, dentifrício... Esqueceu-a. Alguém gritou, dizendo estar esquecendo da maleta. Não se virou. Continuou a caminhada.
Até me pergunto, se estou desejando amadurecer, sentir-me digno de quem sou. Há momentos em que não estou disposto a crescer, desejo permanecer no canto, encolhido. Satisfaz-me esta inércia. 
Não acredito haja alguém indiferente às atitudes dos outros. Os fingidos sofrem nos seus cantos. 
Olharam-me de soslaio por haver sozinho conseguido o que realizei. Se lhes anunciei ser homem quem reconhece valores, disse-o, ressaltando e sublinhando com arte e engenhosidade. A morte, sim, é o que me vence. Isto lá anda no sangue. Orgulho-me. Levou-me a assumir esta matéria-prima e bruta que é a vida.
Não é mau este costume de escrever o que se vive, tece com o coração. Afaga-me a áspera irritação.
Se me fosse dado representar, não me custava coisa alguma, responderia à altura. Dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da representação, da memória.  Dá certo prazer deitar ao papel os olhares de esguelha, de soslaio à comédia da condição humana.
Se me indagam a respeito deste cinismo, digo que não correspondo a circos montados em salões literários. Ostentações não fazem parte de minhas condutas. Nada mais. Ao resto respondo a Deus. “O resto Deus dá conta”.
Irrita estas picuinhas de literatos em seus devidos e respeitados salões. Fácil ser eterno, imortal, não custa coisa alguma, é só começar de representar. Não resta outra alternativa senão rir...
Não desejo acabar o dia de hoje, escrevendo sobre estas questões, se necessitei afagar a áspera irritação não sei responder de modo algum.
A reflexão é de todo verdadeira, por mais que se lhe possa dizer em contrário. Não afirmo que as coisas se passem assim, e que a afeição, feitiço crescente, e por fim o templo, álibi e cúmplice, negarão o belo diamante a qualquer namorado trazido pela natureza e pela sociedade.

Antes é tudo fruto da intimidade, com seus dramas e conflitos, como a condição possível. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário