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terça-feira, 24 de novembro de 2015

**A VERDADE SONHA O ESPIRITUAL**



Os cristais tilintam e faíscam. O trigo está maduro: o pão é repartido. Mas repartido com doçura? Sempre cri que harmonizar-me, relacionar-me com o leitor, é entregar-lhe com carinho e desejos de encontro e conquista o coração pleno de amores e verbos, isto é eivar os verbos de espírito e “humusizar” o espírito da carne. É re-partir isso com os homens. É importante isto saber. Não penso assim, como o diamante que risca o éter não pensa. Brilho todo límpido. Não tenho fome nem sede: sou. Tenho dois olhos que estão abertos. Para o nada. Para o teto. Para as estrelas que velam, solícitas e solidárias, o ossuário da terra.
Quero um manto tecido com fios de ouro solar. O sol é a tensão mística do silêncio. Nas minhas viagens aos mistérios, dúvidas, incertezas, ao inaudito, inolvidável, ouço as vozes carnívoras, os sonhos verbais, que lamentam tempos imemoriais: e tenho pesadelos indecentes, indecorosos, imorais sob ventos doentios, que oscilam, tremem e tremelicam, que elevam as folhas e pétalas secas, fazem-nas pairar no vazio, que fazem cair o verde, o viscoso, a vida delas, ao longo do deserto seco. Sinto-me encantado, seduzido, arrebatado por vozes furtivas, efêmeras, na realidade passageira, o eufemismo não está sendo chamado à vida, a verdade sonha o espiritual. As letras quase ininteligíveis, os sentidos quase indescritíveis, as significações – por que não digo os significantes também, não o sei – falam de como conceber, inspirar e escrever sobre o elixir como se alimentasse as luzes de outras querências. Atrás do ser – mais atrás ainda – está o teto que trans-cendia através das idéias, pensamentos e sensações, e aí conquistei o desejo, entregou-se ele a mim, que eu olhava com olhos de lince, com intenções de serpente maligna, de cobra ferina. De repente, verto algumas lágrimas. Aprofundei-me em mim e encontrei que eu quero a vida, e o sentido oculto, resultado e conseqüência de minhas ausências e limites de escrever a vida, tem uma intensidade que tem luz. É a luz secreta ou as trevas de passado remoto, meu rito é purificador de imagens e de espírito, de forças sensíveis e transcendentes.
Estou tão amplo, tão pleno. Sou coerente: meu cântico de vida e verbos é profundo. Há melodia de amor e eu nada posso senão nascer, descobrir o que é nascer e estar dis-ponível para a Vida em todas as suas dimensões. Tudo atrás do ser, tudo atrás do pensamento e idéias, tudo atrás das intuições, percepções, inspirações. Se tudo isso existe, então, eu sou, sou-me.
Não conto os fatos de minha vida. Fatos são objetos, estes não me dizem quaisquer respeito e considerações, em mim a subjetividade, em mim o subjetivo, eis as minhas veredas; se não encontrarem a sim-patia do leitor, encontrará a sua simpatia por buscar caminhos, distantes de minhas verdades.
As palavras não exprimem as idéias. O pensamento condiciona a emoção. Futuro é outro presente na esguelha de olhos noturnos, Nos soslaios dos olhares vespertinos, Das visões matutinas às revezes do crepúsculo. Presente serão ontens esquecidos e latentes. Sentimento de busca e sublimidade. Da sublimidade ao sentimento de busca esplendores e desejos de pássaros que cruzam o céu entoam suas líricas nas grimpas de árvores frondosas e folhas viçosas, expressam em seus instintos diversos, habitam as silveirinhas dos lamentos e silêncios. Ontens serão subterrâneos do espírito em cujas veredas, culpas de desatinos, e os desatinos de culpas e pecados, as ansiedades clamam por outros uni-versos, em cujas trilhas, a-núncios e revelações se espelham. Outroras serão do espírito, em cujas profundidades, as angústias de sonhos e decepções, as luzes que iluminarão os caminhos.
Se vós me concedêsseis mínimo de prosa, nos dedos que, em câmara lenta, insinuam dígitos que são sentimentos nas almas brancas de páginas passadas! Se vós me consentísseis a destreza das penas, com quem sobrevoais mares, lagos e desertos, florestas e abismos!
Longos dias, longas noites, em busca da luz plena e absoluta, contemplando a lua em todas as suas manifestações, as estrelas em todas as suas revelações. Se vós me désseis o privilégio de um só segundo de anunciação divina eterna e verdadeira, de saborear o gosto da água que sacia a sede da eternidade, imortalidade, os dígitos teriam sido apenas modo de imprimir os sentimentos e emoções que me habitam. Do vôo, mostro-lhe as nuanças, detalhes não digo, são efêmeros, perpassam fios de outono nos anéis da medula, pormenores tão menos são cobras que se autodevoram pelo rabo, nuanças de dores e sofrimentos adentro longas noites de insônia, vigília de letras e sons, de vozes que ecoam nos lamentos os cânticos de melancolias nuances de verdades e vazios que se entrecruzam. De desejos que refletem nos espelhos os ritmos de nostalgias pormenores de fantasias e angústias que se distanciam nas curvas dos tempos e relógios, nalgum instante a esperança se me extasia os delírios.

Manoel Ferreira Neto.





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