Vós,
os doutos, recebestes de Deus o dom da sabedoria, da contemplação. Por serdes
doutos, intuístes as funções e responsabilidades em orientar a humanidade em
seus caminhos do campo. Logo, empreendestes-vos a desenvolver a inteligência,
tornando-vos homens sábios, cultos, intelectuais, doutos. Estando vós em último
lugar por se tratar de algo relevante: para serdes doutos é necessário terdes
sido sábios, cultos, intelectuais. Caso contrário podeis ser intelectuais, cultos,
sábios, não doutos. Recebestes a responsabilidade em mãos. Fostes vós quem,
ávidos e sedentos de intimidade, vos conscientizastes desta responsabilidade.
Enfim, somos homens quem, se não fizermos algo por eles, não nos sentiremos
alegres, felizes, e sim angustiados, impossibilitados de encontrar única fresta
por onde sairmos da caverna. Fostes vós quem destes vida à inteligência,
vestindo-a de seda lilás e branca.
Tendo
já passado por vales, florestas, prados, sentis agora que esta inteligência vos
arrasta para longe. Tem de vos arrastar. Pouco importa se está lenta, age
vagarosa, até por influência dos mineiros que dizem de pés juntos a pressa ser
inimiga da perfeição. Vós sabeis isto, endossais com todas as letras, cuidando
sejam maiúsculas. Não importa se esta inteligência se encontra com dificuldades
de filtrar tantas informações em todos os níveis. Irada e ressentida com a
humilhação que passa convosco, devolve-vos, através das dúvidas, incertezas, o
veneno que emitis quando é rechaçada e negligenciada - por que não dizer
denegrida a imagem? Aí, sois vós capazes de dizer: “É o espírito maligno que
nos habita”.
Não
se trata da inteligência, espírito maligno que vos habitais, a que estais
sujeitos, e, sem dúvida, exerce enorme fluência desde alguns séculos passados.
Trata-se do fato de não entenderdes. Talvez até vo-la recusais com os pés
juntos e mãos postas. Por alguma razão que não diríeis, revelais os cabeças
duras que sois, sorumbáticos, tristes. Não assumis a derradeira esperança é a
última embriagues, até para ser específico, “bicudagem” – peço-vos desculpas e
perdões por termo tão chulo.
Estive
refletindo por longos anos sobre o que vos acabo de dizer - antes tarde do que
nunca. Posso com veemência dizer-vos estas palavras. Fora necessário passar
algumas horas à beira deste rio sem margens, pressa, a fim de não vos dirigir
palavras tolas e imbecis. Com efeito, falta de sensibilidade, ausência de
senso, desconsideração, desrespeito, etc., etc., se vos dirigisse palavras
indecorosas, movidas pela paixão, êxtase.
Fora
desejo e intenção aproximar-me o mais que pudesse da verdade, mas desde que um
carroceiro decidiu dependurar uma
cenoura à frente da carroça numa espécie de varal, distância suficiente para
todos os esforços do asno serem nada
para a alcançar, tornou-se difícil a verdade.
Digo-vos
o que as águas me ensinaram. Das águas, surgiu-me transparência nítida com os
desejos, sonhos, o que mesmo desejo dizer e interpretar, e, em dizendo acerca
de interpretar, Baudelaire nos ensina com toda sapiência ser preciso traduzir
os sonhos. Ensinaram-me as águas a harmonia, equilíbrio com a vida e suas
situações, podendo sentir presente e forte que é mais importante a Vida do que
somente o sentido dela. Á busca da Vida e sentido de viver é que conseguimos
conhecer quem somos. Apesar de que, senhores, não fora tão fácil a obtenção
deste conhecimento, não por ser homem casmurro. Necessitei com toda a pujança
desaprender o que aprendi, educar-me. Isto é doloroso.
Ah,
senhores - há quando sou tomado de risos e gargalhadas, - penso que a
perspicácia de profundidade é inabalável, não há fresta nela que suscite
possibilidade de penetração – assim me sinto por isto ser ridículo. Dar ordens
é mais difícil do que obedecer. Só onde há vida há sonhos e desejos do verbo
amar. Então, não me resta outra alternativa senão o riso fácil, a gargalhada.
Seja qual for a coisa que crie, viva, o amor que lhe dedique, em breve serei a
busca e o encontro do amor. Arrisco a vida num lance de dados.
Ora,
senhores, se vós, por livre desejo, vos entediásseis de vossas sublimidades, só
então principiaria a beleza, traços a penas de águia; desejaria vos amar de
coração e espírito, não apenas de alma e razão. Encontraria em vós alguma
simpatia. Límpidas são as águas do rio, e, refletindo nelas as ondas da paixão
e êxtase, ainda não se acalmaram na beleza. Vedes que jamais vos poderia
dedicar amor sublime às vossas idéias e ideais de serdes sublimes.
Disse-vos
que por longos anos fui armazenando na memória todas as reflexões que fiz à beira
deste rio, refletia sobre as palavras a vos serem ditas, palavras sinceras e
verdadeiras - graça e charme fazem parte da generosidade dos que pensam com
nobreza. O purificador do espírito viu empalidecer as faces. Deus criou a
loucura para confundir os sábios. Quase morri de ansiedade e medo de confundir
a loucura com o senso de integridade e plenitude. Compreendi que pouco se me
dava ser sábio, douto, intelectual. Pouco bastaria para ver algo de esquisito
no mundo à leste do éden, flores e lilases que são impraticáveis para todo
desejo e sonho que não sejam livres, surgidos da pura reflexão, sem interesses
nem peias.
Deveis vós imitar a virtude das águas límpidas de
algum rio, que vai se tornando mais límpida e bela nos caminhos do mar que vai
abrindo à frente, porém mais simples e serenas interiormente à medida que se
vai aproximando o destino, o mar. Sim, homens sublimes, um dia serão belas mais
que somente límpidas e apresentarão ao espelho das alturas as maravilhas.
Rides,
senhores! Quem sou, enfim, para vos estar a ensinar os caminhos do campo, os
dos sonhos e desejos puros. Nada sou para vos ensinar algo. Estes sonhos e
desejos puros são a condição fundamental para o encontro do verbo amar.
Perguntais-me, em contrapartida a isto de vos querer ensinar os caminhos do
campo, do verbo amar, se aprendi a amar, respondendo-vos que sim, entendi e
compreendi, após haver contemplado, que o desejo de amor só vive de
entrega.
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