Também
eu, desde meu nascimento, respirei ares comuns, a presença de árvores de muitas
frutas, jabuticaba, abacate, goiaba, nas grimpas vi-me sentado nas galhas,
lendo um livro; também eu ajoelhei no genuflexório disse as minhas confissões,
omitindo, às vezes, caí ao chão, olhei de soslaio para quem me observava, o
sorriso esboçado no rosto belo e lindo, caí, da mesma maneira que todos os
mortais, sobre a mesma terra; e, como alguns, nos mesmos prantos de sofrimentos
e dores, mágoas e ressentimentos, abri os silêncios
Estudei
lealmente, o interesse era estar às luzes dos píncaros das montanhas, quem sabe
até com o meu cajado, e reparto sem qualquer inveja, sem qualquer egoísmo, e
não escondo a riqueza que a inteligência encerra, os tesouros inesgotáveis da
sabedoria, e os que a adquirem, como a adquiri eu, preparam-se para se
aproximar de Deus.
Deus
me permita expressar os abismos da alma,
sem medo, sem hesitação, sem egoísmo, as colinas do espírito, com alegria, paz,
felicidade, os vales do coração ávido de compreensão de entendimento, sobretudo
de compaixão e solidariedade; Deus me permita falar como sinto e penso, como
vivo as situações e circunstâncias, como sonho os desejos mais esplêndidos e
esplendorosos. Deus me permita ter pensamentos, idéias, utopias, sonhos dignos
dos dons que recebi, dons que foram doados gratuitamente, dons de dizer as
profundezas de todas as emoções e sentimentos de glória, de ressurreição, de
redenção, as dores de desencontros, de ressentimentos, de ofensas e
humilhações.
Tudo
o que está escondido nas entrelinhas e tudo o que está aparente na superfície
das palavras eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas,
de todos os desejos, de todas as vontades, de todas as utopias, enfim, de todos
os sonhos do verbo amar, que mo ensinou, que mo inspirou, que mo revelou.
Decidi
inda em tenra infância, tomar a inteligência por minha companheira, por minha
confidente, por minha luz nos caminhos de trevas, cuidando que ela seria para
mim uma leal e fiel amiga, e minha consolação nos cuidados e nas angústias,
tristezas. Não me esquecera, após quarenta e dois anos, o que a mamãe dissera,
aquando lhe pedi que me ensinasse a ler e a escrever: “Sim, filho, ensino você
a ler e a escrever... Podem tirar tudo de você, mas a cultura ninguém tira, não
a leve consigo, deixe-a no mundo. Você pode não ter nada, mas a cultura pode
restituir-lhe tudo”.
Por
meio da inteligência obterei a imortalidade, e deixarei à posteridade uma
imagem, um símbolo da luz eterna, da lembrança eterna. Era eu uma criança
inteligente, um menino sensível e criativo, dotado de sentimentos simples, mas
consciente de não poder possuir a sabedoria, a não ser por dom de Deus, (e já
era inteligência o saber de onde vem o dom),na maturidade, voltei-me para o
Senhor, e invoquei-o, rogando-lhe e clamando-lhe a luz, porque a luz sucede a
noite, enquanto que, contra a sabedoria, o mal não prevalece. A luz da
sabedoria abriu os olhos aos desertos desabitados e iluminou as choupanas em
lugares ermos, tornando eloqüente as profundezas do abismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário