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terça-feira, 24 de novembro de 2015

À LUZ DE UM INTRÓITO



Também eu, desde meu nascimento, respirei ares comuns, a presença de árvores de muitas frutas, jabuticaba, abacate, goiaba, nas grimpas vi-me sentado nas galhas, lendo um livro; também eu ajoelhei no genuflexório disse as minhas confissões, omitindo, às vezes, caí ao chão, olhei de soslaio para quem me observava, o sorriso esboçado no rosto belo e lindo, caí, da mesma maneira que todos os mortais, sobre a mesma terra; e, como alguns, nos mesmos prantos de sofrimentos e dores, mágoas e ressentimentos, abri os silêncios
Estudei lealmente, o interesse era estar às luzes dos píncaros das montanhas, quem sabe até com o meu cajado, e reparto sem qualquer inveja, sem qualquer egoísmo, e não escondo a riqueza que a inteligência encerra, os tesouros inesgotáveis da sabedoria, e os que a adquirem, como a adquiri eu, preparam-se para se aproximar de Deus.
Deus me permita  expressar os abismos da alma, sem medo, sem hesitação, sem egoísmo, as colinas do espírito, com alegria, paz, felicidade, os vales do coração ávido de compreensão de entendimento, sobretudo de compaixão e solidariedade; Deus me permita falar como sinto e penso, como vivo as situações e circunstâncias, como sonho os desejos mais esplêndidos e esplendorosos. Deus me permita ter pensamentos, idéias, utopias, sonhos dignos dos dons que recebi, dons que foram doados gratuitamente, dons de dizer as profundezas de todas as emoções e sentimentos de glória, de ressurreição, de redenção, as dores de desencontros, de ressentimentos, de ofensas e humilhações.
Tudo o que está escondido nas entrelinhas e tudo o que está aparente na superfície das palavras eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas, de todos os desejos, de todas as vontades, de todas as utopias, enfim, de todos os sonhos do verbo amar, que mo ensinou, que mo inspirou, que mo revelou.
Decidi inda em tenra infância, tomar a inteligência por minha companheira, por minha confidente, por minha luz nos caminhos de trevas, cuidando que ela seria para mim uma leal e fiel amiga, e minha consolação nos cuidados e nas angústias, tristezas. Não me esquecera, após quarenta e dois anos, o que a mamãe dissera, aquando lhe pedi que me ensinasse a ler e a escrever: “Sim, filho, ensino você a ler e a escrever... Podem tirar tudo de você, mas a cultura ninguém tira, não a leve consigo, deixe-a no mundo. Você pode não ter nada, mas a cultura pode restituir-lhe tudo”.
Por meio da inteligência obterei a imortalidade, e deixarei à posteridade uma imagem, um símbolo da luz eterna, da lembrança eterna. Era eu uma criança inteligente, um menino sensível e criativo, dotado de sentimentos simples, mas consciente de não poder possuir a sabedoria, a não ser por dom de Deus, (e já era inteligência o saber de onde vem o dom),na maturidade, voltei-me para o Senhor, e invoquei-o, rogando-lhe e clamando-lhe a luz, porque a luz sucede a noite, enquanto que, contra a sabedoria, o mal não prevalece. A luz da sabedoria abriu os olhos aos desertos desabitados e iluminou as choupanas em lugares ermos, tornando eloqüente as profundezas do abismo.  

        

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