O meu sensível, cordial e espiritual
agradecimento à poetisa Marize Lemos Silva por estas palavras: “Razão In-versa
começa no inverso para atingir o verso verdadeiro”, ao escritor, professor-doutor,
intelectual Paulo César Lopes por sua idéia que tanto me inspirara nas letras “Se o Ser se faz continuamente, a
continuidade também é o Ser”, tendo sido através delas que empreendi a
busca; aqui, nesse texto em especial, em toda essa obra, traço a imagem das
conquistas prosaicas-poéticas-e-poiéticas, ao longo de três anos e meio.
Nas linhas ilimitadas dos confins
e arribas, no sertão mineiro de
conjugações cristãs, nas utopias de con-jugações da fé e do místico, “seria” que ou não “seria” que houvesse
possibilidades as mais di-versas possíveis, a perderem de vista, a vista
embaralhar-se ou ofuscar-se de tantas, pro-jeto ou utopia no sonho de outros
uni-versos e infinitos, ainda que mui remotos, ainda que in-ec-sistentes ou
extintas, desde a Tirania dos anos 60 e subseqüentes, primevos nas luzes poucas
que iluminam as trevas dos barrocos “abajures” do passado nas trevas da Idade
Média, paixões e amores ilimitados nas sinuosidades do Romantismo, objetividade
aparente e sutil nas malhas do Realismo, primitivos à luz das presentes sombras
da Modernidade, de por linhas ilimitadas nos seus contornos, por idéias sem
arribas, entre os raios que movimentam o oco do vácuo, por que não um paradoxo
surrealista?, ainda que iluminadas e numinadas por intenções de escusas
seriedades, sinceras in-verdades sem fronteiras, propósitos ambíguos e cínicos,
contraditórios e sarcásticos, irônicos e dialéticos, brincar com esse tempo
condicional do verbo “ser”, futuro do pretérito do subjuntivo,
id-ent-ificando-lhe para enfatizar-lhe as perspectivas da essência, vencendo a
morte, portanto alcançando o eterno – não esquecendo de que quem vive na
essência não se prende a nenhuma hipocrisia, olha-a e escarnece dela não apenas
por inter-médio dos olhares, mas através de todas as palavras no riste da
língua afiada, penetrando nos brios transluzentes, arrancando-lhes de dentro,
mostrando-lhes o lodo, reconhecido e aclamado como Patrimônio Intimo do Orgulho e da Lisonja.
Das
sombras que residem em suas bordas e alforjes, cogitos e algibeiras,
aprecio-lhe, sobremodo, por pensar, sentir ser erudito, o que mais amo fazer, a
erudição ilumina o que há de inconsciência no espírito de desejos latentes e
manifestos, jamais esperando por isso ser sábio, pois que me livra incondicionalmente
da baixaria da Modernidade, despautério de suas intenções de ser luz, de ser
princípio de outros verbos e versos no imaginário da humanidade, de ser verdade
no tabernáculo das esperanças e sonhos, senáculo olímpico de toda a
mesquinharia de suas idéias e projetos, discursos empolados eivados de incólume
poder e des-enfreada insanidade, no
pináculo das vulgaridades do caráter e das personalidades mesquinhas; quê tempo
estranho e esquisito este, comungando tabernáculo e senáculo!
Esperaram
com o coração nas mãos feitas concha que a Modernidade desse as respostas a
todas as coisas, mas não dera alguma, o que fizera foi ainda mais aumentar os
questionamentos, confundir os alhos com os bugalhos, noutra linguagem, bagunçar
o coreto das necessidades e ausências, da falta do ser e do ser insuflado de
in-verdades e ideologias vãs, do aqui-e-agora, mediocridade do porvir e do
vir-a-ser, não que conheço a fundo as suas estratégias de construção no que
tange aos questionamentos do efêmero e eterno, valores e virtudes da verdade
transparente, construindo idéias com as palavras, criando utopias com os
sentidos, fé e esperança com a continuidade do “Ser” que se faz continuamente,
uma verdade que em mim vive e que dela não consigo, mesmo que fizesse todos os
esforços possíveis, os impossíveis não fossem esforços, labutas e lutas, porém
esperanças, desvencilhar-me das escravidões do tempo nos seus séculos e
milênios, fazendo com que sejam múltiplos, não havendo qualquer chance de
prendê-los, algemá-los, acorrentá-los a algumas verdades que res-pondam ou
correspondam àquilo de dizer que a porteira de Ouro Fino está aberta à passagem
da vida à luz da morte, que dêem a última e derradeira palavra aos interesses e
ideologias da meia-noite, dos mistérios do lobisomem das culturas, dos pensamentos, atrás do mato
de hoje, haverá coelhos, atrás do mato de amanhã, haverá coelhos e mais
coelhos, atrás dos coelhos de hoje os matos de ontem foram íngremes, atrás dos
coelhos de amanhã, os matos de hoje se estenderão pelos chapadões e abismos,
por todos os cantos e re-cantos do sertão seco e íngreme, que tanto amo e sonho
outros panoramas de perspectivas do amor e solidariedade, panorama de miséria a olhos nus, a
multiplicidade deles re-vertesse as entre-linhas em linhas, vice-versa, e não
ec-sistissem condições de discerni-las com inteligência, razão, mesmo com todas
as tramóias do intelecto e sensibilidade, tendo de considerá-las únicas para
que algum entendimento, compreensão seja não apenas trans-parente, mas que
trans-cenda a mera contingência da vida, o bem e o mal, a virtude e a
calhordice, os regaços da alma e os córregos dos instintos à flor da terra ou
escondidos por vegetação rasteira, como posso observar sempre que me encosto na
ponte do Córrego Santo Antônio, por vezes observando o prédio do hospital
acima, onde abri os olhos no mundo, nalgumas viagens que empreendo e real-izo
em busca de outras ins-pirações para id-ent-ificar a espiritualidade dos homens
no misticismo e no mítico da fé e esperanças da “UTOPIA CRISTÃ NO SERTÃO MINEIRO”,
o esgoto aberto a todas as manifestações da natureza, expressem a verdade ou
mentira dos contrastes da vida contingente ou social, política e econômica,
dizem do péssimo ou divino odor, até as narinas são livres para confundir o que
inalam, que infesta todos os horizontes da terra.
Se
houver possibilidade dessa brincadeira, desse jogo com o tempo condicional do
verbo e palavras, habitando-lhes as dimensões da criativ-idade e artific-idade,
da falta de arrebiques e ornamentos que contribuam para a inteligibilidade do
sim e do não, esplendendo os desejos do bem e dos valores, utopias e quimeras,
virtudes e desejos do belo e do estético, consciência-[da]-estética-e-ética,
vontades de elevar a sensibilidade e o espírito dos homens, experiências e
vivências adquiridas ao longo dos anos, situações e circunstâncias, sentimentos
e emoções diante das realidades e ir-realidades do mundo aos auspícios da vida,
sentir-me-ia mais que orgulhoso, pois venho desejando real-izar essa façanha,
desde tempos imemoriais das letras e da vida, brincar e jogar tanto com as
palavras que elas em si percam o rumo da linguagem e dos sentidos, ardem
confusas e perdidas por tempo ilimitado nas chamas da volúpia e obtuso, com os
interstícios da razão in-versa na re-vers-idade das visões, conceitos e
definições, pontos de vista e simples opiniões, nos avessos da alienação e
ignorância do ser e não-ser, até que não passe de simples despautério do
sentido e não-sentido, nas cordas do sentimento e emoção, não da razão e intelecto,
não da filosofia das idéias e dos projetos, da teologia do espírito e das
cinzas ósseas, com as profundezas da sensibilidade nos avessos dos desejos e
sonhos de outras perspectivas do nada e do obtuso.
Extasiam-me
tais perspectivas, não por si mesmas, isto não tem qualquer senso ou
significado – sendo assim, nenhum interesse desperta-me -, eu próprio me sinto
perdido nessas teias do inolvidável e ininteligível, mas pelo que despertam
para as buscas e verbos da continuidade e eternidade do que não é habitado pela
essência do que seja, e o que seja aberto ao nada e obtuso do que jamais terá
condições de significado e sentido ter. Esperavam todos por essa minha ousadia,
determinação, estavam mesmo ansiosos por essa atitude, sentem-se ora felizes e
orgulhosos de mim, ora em estado de êxtase sem precedentes, vou-lhes torcer o
rabo do lado contrário, o movimento causando-lhes dores ou não pouco me
importa, na verdade não importa, sinto-me regozijado; ademais conseguir
confundir entre-linhas com linhas, linhas com entre-linhas mostra com
transparência que umas e outras estão à mercê da engenhosidade com as
falcatruas da razão e façanhas da sensibilidade, disparates dos instintos à
flor dos interesses escusos, da carne dogmática e pecadora, dos ossos
misteriosos por virem cinzas, destas por virem misturadas à terra, húmus das
plantinhas rasteiras ao longo da cidade dos pés juntos, que os coveiros capinam
sob os raios efervescentes do sol, o suor correndo-lhes na face, isto a pedido
dos familiares, recebendo um agrado para o pão com manteiga e meia xícara de cafezinho, com os pensamentos que
foram sendo apresentados e discutidos ao longo dos séculos e milênios, da
agilidade com os ornamentos e arrebiques da imaginação e intuição, acima de
tudo isso com os interesses e intenções que se pretende atingir.
Não
havendo tal possibilidade, a consciência da impossibilidade de linhas serem
entre-linhas, de entre-linhas serem linhas, irá mostrar-me que, desde a
eternidade, os lugares devidos jamais podem ser negligenciados, nunca podem ser
trans-feridos, movidos para outros, isto desembocará num nonsense sem precedentes. Não me digam as coisas serem assim ou
assadas, fritas ou cozidas, cruas e naturais, preciso saber por intermédio da
prática e experiência, acima de tudo através da razão prática com os olhos
esbugalhados e brilhantes na razão pura, e que
Emmanuel Kant mexa e remexa os seus ossos na sepultura, as cinzas no
interior da terra – é a minha liberdade que está em questão, acima disso o
conhecimento das coisas interessa-me bastante.
Nada
fácil empreender esse objetivo no que tange aos objetivos e propósitos
traçados, elaborados, burilados e delineados na mente, alma, espírito, carne e
ossos, porém felizmente encontrei o modo e estilo de fazê-lo com acuidade e
percepção, isto é, jogando conversa fora, falando patacas, vomitando asnices,
escarrando ridículos e gafes, torna-se bem mais confortável, não gasto
neurônios espremendo os miolos; se nessa barafunda toda alguém encontrar no
inter-dito idéias e pensamentos de lícitos e lídimos valores, teorias e
verdades de nível elevadíssimo, tenha em mente que a interpretação é dele, nada
disso pro-jetei. A intenção desde todos os outroras é mostrar que o talento não
é apenas para ser profundo, é-o também para ser ridículo e tolo, quiçá assim
terei o busto de bronze ornamentando a praça principal da cidade, seduzindo as
consciências para a prática do ácido crítico deslavado, as sensibilidades
simples e puras para a prática da busca da verdade e do verbo metafísico da
ética, isto é, o metafisicar a ética na conjugação dos valores e virtudes do
espírito.
O
gosto do risco procura-o o herói real, de carne e osso, de força e
determinação, o jogador que pode perder – o pôquer, por exemplo, ec-siste para
jogadores desesperados por dinheiro, quem não o tem para perder, que importa
arriscar o que tem para a sobrevivência, a vida? Mas o espectador da sua luta,
degradado na sedução da ação, acentua a sua mediocridade no não poder aceitar a
derrota, no fingir que corre o risco mesmo em ficção, seja ele mais excitante
que o da verdade quotidiana incólume, insofismável, mas com a certeza prévia de
que o risco é vencido. O que ele procura é a pequena lisonja à sua átima
vaidade, ao seu orgulho minúsculo, a figuração da coragem para a sua covardia,
a re-presentação da força pára e só a vitória do herói a quem passou procuração
o pode lisonjear. E se o herói morre em grandeza, há o prazer ainda de o
espectador estar vivo para saborear a coragem do que morreu e a não pode já
saborear, saber-lhe o paladar suave e terno. A vida do herói estende-se assim
para além da sua morte, para bem distante, longínquo em verdade, da sua
imortalidade, da sua inesquecibilidade, onde a espera o espectador para se
in-vestir da glória que lhe coube e ele já não pôde gozar, no poder que se lhe
vestiu com estilo e bom gosto e ele já não pode saber a diferença entre a
virtude súcia e a lídima ética, o valor esplendente e estúpida moral dos
comportamentos, atitudes, gestos. É de dentro da vida e do conforto que o
espectador da coragem saboreia o prazer da coragem que não tem, que não sabe
nas pré-fundas de si a inveja estar presente, não sabendo ele de seu estado
latente, haverá quando se manifestará por inteira. Daí, por vezes, a ilusão de
que também ele poderia enfrentar os mesmos riscos, se os enfrentasse, se os
peitasse em ação direta e reta, sem comer o angu pelas bordas por estar mesmo
muito quente, fervendo, a fumaça a-nunciando-se plena e vigorosa, esvaecendo-se
– jamais o disse, mas isso de comer o angu quente pelas bordas revela quem
assim age lança seu rabo à escravidão e servidão, pensa nas necessidades
futuras. O que lhe fica à superfície de toda a ação é o gosto da ação e não a
dificuldade de realizá-la. Daí que na realidade ele pudesse quiçá atirar-se a
essa ação, se tudo fosse possível efetivar-se num momento – no momento em que
não teve tempo ainda de conhecer o que aí se esconde, no momento em que não
teve tempo de saber que não era corajoso.
Seria
que ou não seria que pudesse dizer conheço o movimento dos dedos que digitam as
palavras nas respectivas linhas? Não conheço os dedos que digitam palavras,
porque eles são o gesto que formam. Não conheço os múltiplos sentidos que as
palavras adquirem na frase que construo com o suor do ato de criar, com a
formação do calo no traseiro de tanto ficar sentado, com os olhos cansados de
tanto tê-los fixos na tela branca do computador, as costas adormecidas de tanto
ficarem encostadas na cadeira de balanço, mesmo com a alegria de seguir com as
pernas o ritmo das músicas que ouço, enquanto me dedico à criação – jamais consegui compreender o porquê de
pensarem que por ser escritor o escrever se faz de olhos fechados, as mãos
inertes, é coisa bem fácil, só os “oportunistas
da imortalidade”, aqueles que nada escrevem e estão sentados em cadeiras
dos célebres escritores uni-versais nas academias de letras, podem dizer que
escrever é nada, escrever é simplesmente rimar águas com fráguas -, acredito
que a razão seja de todos se fundamentarem no que já está escrito, mas até a escritura
final o que acontece ninguém sabe, assim me esclarecera ser íntimo, quem
conhece com profundidade as pré-fundas da História e da Fé, por ter estado
escrevendo um texto para a sua pós-graduação; amigo, se me aproximo dele no
instante de sua criação, folhas datilografadas sobre a mesa, pego de uma para
ler, logo me chama a atenção, conhecerei quando estiver pronto, eis o que me
diz; também não gosta que fique perto dele, o que compreendo, também eu não
gosto disso, dizia Nietzsche que o ato de criar é eminentemente solitário - e
mesmo que todos estivessem presentes, refiro-me aos leitores, ainda assim não
saberiam dizer o que se passa no íntimo, razão, intelecto, sensibilidade,
inspiração, intenções, propósitos, interesses, verbos que o escritor deseja conjugar
com a eficiência de seu conhecimento, linguagem e pronúncia -, porque
trans-cendem o poder da razão e da in-telectual-idade, trans-cendem a vida e a
morte. E é porque eles são antes do mais um gesto, que não posso facilmente
conhecer; o gesto que fazem sou eu gesticulando, ou seja, eu exprimindo-me,
saindo de mim, pro-jetando-me no mundo, lançando-me à re-velia no quotidiano
das situações, circunstâncias, no mais dia, no menos dia da massa nas mãos, até
mesmo me com-prometendo com as in-verdades do sonho re-verso e in-verso, da
utopia avessa e tergi-versada do nonsense,
do in-verbo tergi-vessado na insanidade e farsa da adúltera conjugação da
pessoalidade dos pronomes, sejam retos ou oblíquos, sejam austeros ou
alteridades. Não conheço o meu gesto como não conheço a minha voz; a minha
pessoa que conhece está no manifestar-se e não separada da manifestação para
podê-la conhecer. As mãos sou eu dizendo, encolerizando-me, suplicando,
acarinhando, acariciando. E é porque sou eu que, dificilmente, as conheço, como
é impossível conhecer-me no ato de ser e só ambiguamente no ter sido?
Ritmo de
músicas
Transcende a
vida e a morte,
7Regendo
linguagens do dito,
Interdito
estilo da saudade e melancolia,
Querência e
ilusões do ter sido
No ambíguo ato
de jogar sobre a mesa
As leis
naturais do sentido e significado,
Magnífico
retrato dos sentimentos comungados
À poiésis da
metafísica,
Às idéias
re-colhidas e a-colhidas
Nos horizontes
pretéritos das experiências,
Aos sonhos e
utopias do belo contingente,
Da beleza transcendente,
No silêncio eloqüente da floresta silvestre,
Con-templar as águas brancas do Infinito
No seio des-encarnado de senso,
Contra-senso,
Comungar linhas e entre-linhas
Nas além-linhas do orgasmo,
Da magia.
Os
homens vivem em prazeres e alegrias como se a vida fosse uma festa sem fim,
como se todos sorrissem em perene primavera! Somente eu estou só, somente eu
não sei o que farei, que caminhos trilhar, que águas brancas do Infinito
con-templar. Contudo, ando sossegado e bem tranqüilo, o silêncio auscultativo
da alma escuta o silêncio eloqüente da
alma.
Sossegado e bem tranqüilo
O silêncio auscultativo da alma
Escuta o silêncio eloqüente
Da alma,
Ouve o burburinho das palavras
Re-velando ingenuidades e fantasias,
Regendo as linguagens
Do dito e inter-dito,
No belo encarnado de poesia,
No feio des-encarnado
De senso e contra-senso.
A
coisa não é tão fácil como se possa imaginar, a dificuldade trans-cende todos
os esforços, capacidades sensíveis e racionais, porém não é de minha índole
abaixar a cabeça, entregar-me, ir catar favas no asfalto que é bem mais fácil e
tranqüilo, mesmo que tudo tenha sido vão, os resultados adquiridos re-velem
nitidamente ingenuidades e fantasias, até mesmo tolice desvairada, quem não
admite o óbvio é que algumas cartas extras e escusas pretende jogar sobre a
mesa. As leis naturais do imutável regem toda a história humana, regem as
linguagens do dito e do inter-dito. No memorial registro do ser há descobertas
em cada era e tempo, em cada passo e traço das marcas de frustração e
impotência, das cicatrizes da saudade e melancolia, das feridas abertas das
querências e das ilusões do ser no não-ser das quimeras e fantasias. Na tela
iluminada de arco-íris, o magnífico retrato das diferenças, novidades e
inéditos, ostenta no brilho toda a imagem, desde as perspectivas aos ângulos,
no belo encarnado de poesia, no feio des-encarnado de senso e
contra-senso.
Seria
que ou não seria que fora da terra, longe dos olhos, perto do coração, o que
zanza no céu é uma lua tonta com tantas lembranças dobrando esquinas, “no fundo azul na noite da floresta/a lua
iluminou a dança, a roda, a festa...”,
recordações contornando curvas, entornando soluços nas encruzilhadas.
Fora da terra, ausente de mim, o que tropeça no céu é uma lua atônita com
íntimos passos em volta da pracinha de fonte luminosa e moças-memórias na poça
dos olhos. Fora da terra, explodindo em mim, o que desmorona no céu é uma lua
em pane cavando meu peito com seus clarões.
Tropeçando no céu a lua atônita,
Recordações contornando curvas,
Entornando soluços nas encruzilhadas
Da vida e morte,
Escrevo rastros de mim
Na história de minhas memórias,
Gerando linhas de sensibilidade,
Transcendência,
Desejando na memória inscrever
O inefável olhar
Feito de sonho,
De pré-cursoras idéias e sentimentos,
Nos interstícios primevos
Das entre-linhas verdes
Que transcendem o Infinito branco
Das emoções esplendentes
De amor e verbos da ec-sistência.
Há
tanta leveza na palavra! No breve ato de sonolência, gesto pleno de calor e
arte o humano desejo esculpe. Desfeita a fronteira do real, no sono dentro da
pupila, visão noturna do inefável neste olhar feito de sonho, no con-templar
feito de querências. Ainda que os passos sejam vacilantes nessa tentativa de
entrelaçar linhas e entre-linhas, nesta trilha, escrevo rastro da história,
passos da memória, marcas do ser em busca de outros uni-versos gerados no
ventre do desafio, no seio de precursoras idéias e sentimentos, nos
interstícios primevos dos desejos e querências dos valores eternos, das
virtudes imortais, e mesmo entre-vejo dimensões transcendentes que me não são
dadas descrever, transcendem a razão e a sensibilidade. Quanta força existe no
ideal de sonhar! Seria ou não seria que alguém pudesse estabelecer ou instituir
esta força no dinâmico percurso de cada época?
Seria
que ou não seria que nessa brincadeira inconseqüente com as linhas e
entre-linhas das palavras, ditos e inter-ditos dos sentidos, obviamente nada
dizendo, expressando, sem sentidos e significados quaisquer, não vou eu
plantando migalhas verdes nas estradas dos meus passos. Se acaso houver quem
queira, sejam suas mãos grandes para muito colherem. Quem tem fome, siga-me,
dar-lhe-ei o pão da alma que Deus semeou em mim na sedução da melodia, na
música que se faz corpo, no orgasmo da magia. No âmago do seria que ou não
seria que temos que temer as res-postas que servem apenas ao instante presente,
aos interesses, às fugas do aqui-e-agora, temos que amar a busca contínua da
verdade, mesmo que não a conheçamos plenamente. Contornos dos sentidos voltam a
fixar-se na consciência, cravam-se com a força brutal de raízes que tentam
penetrar numa terra mole. Instintivamente desconfio da insistência das palavras
e da precisão com que ressurge na memória o sorriso da esperança.
Por
devoção às dificuldades, esqueci-as. Minha necessária des-memorização - é o
presente que me importa, que me fará dar outros passos com os meus pés
descalços em busca de outros mundos e realidades, que me diz respeito, lutar
por construir novos valores e virtudes, re-velar o novo homem que habita a
semente que se encontra sendo regada nas profundezas da terra, lá onde sementes
e raízes se entrelaçam e se confundem, nos raios de luz das estrelas, lua e
sol, o passado diz apenas de minhas fomes e sedes de sobrevivência, de minhas
carências de amor e paz, de minha interesseira des-lembrança, re-versa
re-cordação, diria mesmo, se entendo ser verdadeiro com o que me perpassa a
razão e o intelecto, sentimentos e emoções, com o que me habita o mais profundo
do íntimo, com meu ideológico esquecimento, melhor ainda, meu utópico
olvidamento que se utiliza do sudário das questões abstratas para cobrir os
limites e fronteiras dos olhares à con-templação das verdades in-verdadeiras,
das verdadeiras in-verdades. As dificuldades são esquivas, tomando em
consideração estarem fundadas e estabelecidas na obtusidade do nada,
nadificidade do obtuso; equívocas: as dúvidas que se a-nunciam são unicamente
uma fantasia para semente de outras tentativas e esforços. Diante de minha adoração
possessiva poderia retrair-me e jamais voltar a cuidar delas, transformá-las em
facilidades, fazê-las curvarem-se, mostrar-lhes que não é tão fácil vencer-me,
sou osso duro de roer, sou cabeça dura. Se fizer o sacrifício de focar-me nisso
de re-verter as entrelinhas em linhas, vice-versa, vivenciar com ímpetos,
êxtases e volúpias as veredas por onde transitar, até mesmo do sertão por onde
enveredar, seguirei os passos, ainda que encontre aclives e declives inúmeros –
subir para descer, descer para subir, vice-versa; são os pêndulos da vida e da
história -, tomando-me o fôlego, abismos
indevassáveis, caminhos sinuosos, até o corpo adquirindo seus trejeitos,
ficando gauche, na tentativa de vencer as dificuldades, de
realizar os propósitos.
Carências de amor e paz:
Sementes de outras fantasias
Nisso de re-verter entre-linhas em linhas,
De transitar entre êxtases e volúpias,
Entre sudários de limites e fronteiras,
Imagens de trilhas percorridas,
Figuradas de tentativas e esforço,
Representadas por desejos e vontades
Do eterno e imortal
Das virtudes contingentes e transcendentes,
Dos valores uni-versais e espirituais,
Por transformar abismos indevassáveis
Em a-nunciação de louvor e rogo
à verdade e absoluto.
Do pretérito vencido,
O silêncio incólume
No coração enigmático
Entrelaçado nos liames
Do deserto do ser e não ser,
Em busca do Infinito
De palavras que transformem
Linhas em entrelinhas,
As carências de amor e paz
Em teias de esperanças e desejos re-novados,
Nos interstícios da alma
A fé, decifrando o soluço de vida,
O murmúrio de ser
Nos prazeres, raios de luz,
Nas volúpias, dilúvios de
Sentimentos e emoções;
Longe e distante,
Metáforas fornecendo alento,
No telhado das luas di-versas,
Raios de luz esplendendo
Verbos da consciência,
Conjugações pretéritas e presentes
No Infinito do silêncio.
A
virtude está, no que tange à minha visão-(de)-mundo, à consciência-[de]-vida, à
concepção-{das}-coisas, em não pensar a
priori em dificuldades ou facilidades, em fracasso ou realização, mas
sempre estar lutando, entregando-me ao trabalho árduo, colocando a razão prática em ação, a razão pura em atitudes e gestos, ao
desejo neurótico de in-ventar algo para
que a ec-sistência não seja apenas in-venção gratuita para esconder a
impotência de fazer algo que
id-ent-ifique o humano atrás da carne e dos ossos, dos dedos em riste e das
mãos em a-nunciação de louvor e rogo à verdade e absoluto, que se tornarão
cinzas na solidão dos sete palmos de terra por cima. A vida prima por serem
sonhos e buscas, por serem encontros e desencontros, por serem do infinitivo
vencer, por serem do pretérito vencido, por mandarem aos vencedores as devidas
batatas, aos vencidos o silêncio incólume. Nas andanças longe e distante de meu
sertão aprendera a me levantar das quedas, mesmo quando coxeava, e me refiz
logo: “foi a composição do tesouro! esse então deve ter sido o meu erro!”
Fraco, e embora pisando cuidadoso na nova e escorregadia segurança, eu, no
entanto, já me levantara o bastante da minha queda para poder sacudir, numa imitação
da antiga arrogância e prepotência, a poeira e dar uma volta por cima.
Seria
ou não seria que raras são as palavras, escassos os desejos, minguados os
sentimentos? O silêncio arrogante refugiou-se no coração, a solidão prepotente
se entrelaçou nos liames do passado e presente, o deserto do ser e não-ser se
alinhou nas teias das esperanças e fracassos. Somente os ouvidos aguçados
conseguem de-cifrar o soluço de vida, o murmúrio de ser, no coração enigmático
das palavras. Na inércia dos dicionários, sejam antigos, sejam modernos, sejam
re-novados com as novas regras da ortografia – que eu jamais irei assumir, não
as conheço, sou-lhes indiferente de pavio a cabo, sou livre para escolher as
letras com que registro as inquietudes de minha vida -, elas espiam os nomes,
nomeiam seres e coisas. Belos adereços de metáfora fornecem alento ao
ec-sistir, sustentam o rumo que decidi seguir nas andarilhas ruas do ser, o
viajante das sorrelfas re-versas de avessos as segue de cabeça levantada e o
peito estufado, no íntimo as esperanças e fé de cumprir os projetos pensados e
estabelecidos. Sendo raras as palavras que possam contribuir eficazmente com os
desejos que se me a-nunciaram, aquando, pela fresta, no telhado da lua, um raio
de luz fugia teimoso, arrisco dizer não as encontrei ainda, empreendo homéricas
voltas no íntimo, nas bordas do ser em busca de sentimentos que possam
criá-las, re-criá-las, para que se re-velem transparentes, sendo-me, então,
possíveis os objetivos e projetos serem realizados, sentindo-me saltitante de
prazer nas volúpias dos dilúvios dos sentimentos e emoções, melhor ainda,
exultante de satisfação por não haver sido apenas uma quimera aquilo de
confundir entre-linhas e linhas, ditos e inter-ditos. Não sendo raras as
palavras, ec-sistem centenas de milhares delas em todos os cantos, recantos da
mente, do espírito, cabendo-me escolhê-las com acuidade, colocar-lhes, sabendo,
nos seus devidos espaços, dar-lhes multíplices sentidos, comungar-lhes ritmos e
musicalidades.
Manoel Ferreira Neto.
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