O ser libertador
O indivíduo porfia no que andará pelo Espaço
No seu rumo fulgura e exorciza
De justificação ocorrida e não redigido,
Feito do fortuitamente entre o inacabado frutífero
Pois tudo que cunha e que desabrocha
É embrião em prenhez de índole ou Númen
Vida noturna de Fase e xis que recresce,
Personificação do imo alheio e empobrecido...
Incriado dissimula nas tenebrosidades a veracidade
Da possança e brilho ao sulco arado fecundante...
Que espermatiza e abre, sem jactância!
Refulge ao resplendor a floresta e a meditação,
À obscuridade as estrelas áureas e a deslocação,
A exuberância do ser libertador.
O ser verbo de sonhos literaliza a angústia das
imperfeições, o vazio dos limites. A essência verbal da carne presentifica o
vácuo das melancolias, versejando o nada das esperanças, versificando a nonada
das utopias, a sétima lâmina dos desejos corta simples em sublimes fatias as
buscas do absoluto.
Sentindo-me distante, deixe-me vagar pelo deserto,
onde não há rumo, destino - exuberância do ser libertador. Sentindo-me
disperso, deixe-me cantando a canção onírica das quimeras, no canto quieto,
inquietas as sensações dos questionamentos sem respostas, perguntas
des-conexas, sem sensos e lógicas, sou vazio de id, ego, superego, feito
fortuitamente do inacabado frutífero, sou o branco das páginas sem linhas para
escrever, sou o "ec" sem "sistência", porfio no que andará
pelo espaço, pervago solene pelas nuvens azuis, pelo branco horizonte do
infinito. Deixe-me distante, deixe-me disperso - quiça as ad-versidades do
absoluto e pleno sejam a tese, antítese, síntese do nada re-verso na imagem
projetada no espelho dos rebos rijos, dos etéreos diamantes que
trans-literalizam as insolências do inferno, divinas comédias da poesia sem
poiésis, tudo que cunha e que desabrocha é embrião em prenhez de índole ou
Númen, a arte pura da des-fantasia, a metalinguística inócua das trevas do
caminho, o "it" das águas vivas que jorra da fonte a vereda por
seguirem.
Isso mesmo... Deixe-me distante, deixe-me disperso.
Não há o aqui-e-agora, não há o limite, há apenas morfemas e palavras no regaço
de minh´alma sem linguísticas, tudo o que faço lembra-me o vazio do caos,
lembra-me o vácuo do abismo. Não sou poema, não sou prosa, não sou lírica de música,
não sou instrumental de sons, sou o nada antes de quaisquer nadas.
Você que não me entende, compreende, não perde por
esperar a floresta e a meditação refulgindo ao esplendor, o incólume do ocaso
seivando o crepúsculo pálido da Verdade Absoluta. Pervago, vagueio, perambulo,
deambulo, não corro perigo, não estou exposto a riscos, mistérios não há, não
ad-virão enigmas, a verdade não alimenta os sonhos, o absoluto não é fidúcia do
eterno, não é felícia do imortal
Agora que me des-cubro vivo, agora que me sinto,
percebo-me, penso-me, projeto-me nesta tarde de inverno, tempo ensimesmado,
frio agradável, agora que me sei desde uma distância sem limites, infinita,
distância longínqua que se re-vela além, re-conheço-me não limitado por nada,
não impossível de nada, não de rabo preso a nada, mas presente a mim, sendo a
minha presença, como se fosse o próprio mundo que sou eu, como se fosse a
cadeira de balanço em que estou sentado e sou eu, agora nada entendo, nada
compreendo de minha contingência, imanência. Como poderia pensar, pensar mesmo
com seriedade e dignidade, que "eu poderia não ec-sistir"? Quando
digo "eu", já estou vivo, já estou no mundo no meio das coisas, dos
homens e dos objetos... Agora outra coisa se me re-vela nítida e nula: como
entender, com-preender que esta iluminação que sou eu, esta evidência
axiomática ou mesmo insofismável que é a minha presença a mim próprio, esta
fulguração sem princípio, sem soleiras, arribas e confins, que é eu estar
sendo, como entender que pudesse não ec-sistir? Como pensar que é nada,
imaginar que é nonada? A minha vida é eterna porque é só a presença dela a si
própria, é a sua evidente, inconteste necessidade, é ser eu. EU, esta brutal,
absurda iluminação de mim e do mundo, puro ato de me ver em mim, este SER que
irradia desde o seu mais distante, longínquo jato de aparição, este SER-SER que
me fascina e às vezes me angustia de surpresa, de espanto, de terror.
Sinto a evidência de que sou eu que me habito, que
me está dentro de mim, que me reside os interstícios mais profundos, de que
vivo, de que estou vivo, de que sou uma "ent"-idade, uma presença
total, uma necessidade do que existe, porque só há eu a ec-sistir, porque eu
estou aqui, vixe!, arre!, estou aqui. Eu, essa catarata sem começo e sem fim, só
atividade, só estar sendo, EU, esta obscura, incandescente, fascinante e
terrível presença que está atrás de tudo o que digo, faço, invento, crio, crio,
re-faço e vejo - e onde se perde e se esquece. Os atos surgem, a pessoa que sou
estabelece-se em mim, e só depois as razões in-versas, re-versas proliferam
como as ervas no terreno baldio de alguma rua da cidade. Que me espera ainda,
alfim? Que ignorado destino ainda, para o que há ainda em mim a dizer, a criar,
a inventar, a re-criar, a fazer? Onde o lugar enfim de meu encontro-limite?
Secreto indício, indizível presença.
Manoel Ferreira Neto.
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