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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

*LUZ, SENTIDO E PALAVRAS*



Luz, sentido e palavras... Viver febril. O coração forte, descompassado. Tudo, nada. Vazio, caos, abismo. Luz, sentido e palavra.
"Acabemos com isto e
Tudo mais,
Ah, que ânsia de ser rio
Ou cais..."
Palavra, sentido e luz. Nada, vazio. Espreguiçam-se em ressacas.Vácuo. Vácuo. Subterrâneo frouxo. Eternidade. Fosso chilro.
"Quem é sensível sabe,
Ou ao menos já soube,
Onde coube o paradoxo".
Pequena passageira que fala, gesticula, monologa, goza. Forças para amar. Além do medo. Disposição para ouvir. Além das resistências, dúvidas. Sensação de sonho. Natureza diferente. Coragem para viver. Além das inseguranças, carências. Êxtase. Razão e raciocínio. Segurança para pensar. Além de pensamentos e idéias. O campus cria segunda realidade para habitar. Olhar desviado. A luz rodopia sobre a cabeça. Tudo suspenso. Loucura e insanidade. Sangue no corpo. Conheço o som de caixão. Morte... Morte...
Luz, sentido e palavra.
Palavra aqui, outra ali. Reflexos. Contingência. Especulo, medito e reflito.
"Desço desta solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde..."
O proscêncio absolutamente vazio. O tablado nu.
Pequena estiagem que disfarça o olhar fixo numa alegoria ou num pó. Única vela que retoma santos num símbolo nu, num signo. O país prende a respiração. Salmos na igreja de Cristo estendem os braços... Desejo recente, forte, definitivo.
Luz, sentidos e palavra... Ruas imersas em sombra progridem da arte a consciência humana.
Solidão. Delito inconsciente. Correntes internas. Tudo. Vento. Mudo vestígio do caos. Silêncio, silêncio, silêncio... Muros mitológicos de sonhos.
Sonhei. Não sei se foi ontem ou anteontem. Pouca diferença faz. Ansiedade por conservar-lhe na memória. Dilema existencial suculento. Tramar é "aferir" a vida, penetrar o mundo, buscar forma. Os rituais poéticos re-presentam a trama de forma simbólica.
Luz, sentido e palavra. Caos, balbuciando. A coisa que reprimo disfarçada. Explosões de cor, camadas de oceanos, nuvem de inconsciência, cerzindo a onipresença. Luz, sentido e palavra... Abismo, surrando. Nada reprimo. Nada disfarço.
"Ninguém
mais
quer crer
na
eternidade...
Sonho. Estou do lado de cá de um rio. Suas águas são claras. Um som cinza vindo de não sei onde (em ondas). Brinco com uma criança de aproximadamente dois anos. Está envolta num pano. Alguém brinca conosco e eu digo: "Não vamos deixar que vejam as partes íntimas..." Viro-a em direção ao ventre. Beijo-lhe o pescoço de modo afetivo e carinhoso. Alguma coisa havia terminado. Meu Deus!...
Luz, sentido e palavra... Será que medo não é notícia? O choque causado por um pequeno fato in-explicável. Eu. Aparição da morte. Surgimento de morrer. No meio da nevasca, abandonaram-me. Órgãos oficiais da imprensa.
A criança em mim in-verte os desejos. O ser dissimula o modo de viver a realidade. "Sou mulher indefesa, fraca..." Tinha de atravessar o rio a nado. Não era largo, largura considerável. Temo não conseguir. Algo do outro lado. Não é ponte. Algo feito de madeira. Pessoas entraram na água. Entreguei a criança a alguém. Quem a recebe é um cachorro, com os dentes presos em sua roupa. Entrega-se. A alguém. Lembro-me de que a minha cabeça estava prestes a mergulhar inteira.
Vênus nas duas faces da razão louca esculpe a louça no silêncio casmurro. E descrever isto com a realidade nas mãos. Uma mulher sem realidade. Sem realidade. Persona. Quem sou eu? Muita hipocrisia. Serei eu hipócrita? Meu Deus!... Mão frágil. Seguro o cigarro. Os dedos tremem. Os olhos deambulam sozinhos.
Poder dizer: "Sou quem sou..." Ah, quando isso irá acontecer? Se acreditasse... Não acredito?
Não é sonhar. Sou quem sou. Busco transferir o desejo para alguma coisa que amo. Alguém a quem amo. E sou quem ama? Sou eu quem não ama?
Não sei em que me tornei. Vontade de chorar.
Não há angústia possa resistir. Será? Será eu quem sente? Ser humano. Nada disto é mentira. E por que não viver quem você é?!" É em mim. Em mim...
A realidade existe. Não é re-presentação, fantasia.


Manoel Ferreira

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