Re-colho do silêncio o inaudito de vozes
plenificadas
A-colho da música solene o soul dos crepúsculos
Ouço o eterno recitando o ipsis da felicidade
Escuto o efêmero dos sentimentos do amor
Declamando a ópera de subjuntivos pretéritos,
Infinitivos do presente numinando as intuições.
Levo um grito sufocado encravado num sentir
emudecido.
Impossível “re”-tê-lo, “re”-presá-lo por mais
tempo: domá-lo.
Estilhaço-me.
A palavra, se em represa, é um murmúrio de arribas,
Sussurro de confins; se correnteza, brado,
estampido.
Calo-me. Silencio-me. Emudeço-me.
No emudecer do silêncio,
Calo-me.
No calar do emudecer,
Silencio-me.
No silêncio do calar-me,
Emudeço-me.
Ando para a luz
Levando o fardo de desejos, esperanças de ver-me
“ser”,
Sentir-me sendo o eflúvio dos egrégios verbos do
tempo
Nas linhas do espírito e eterno, esforço-me para
não ruir,
Seco e falido.
Fracas possibilidades de letras reais
Nos sentimentos verdadeiros, de vozes imaginárias
Nas emoções re-criadas, in-ventadas, esboçam-se e
des-aparecem
– quase verto lágrimas pujantes! -,
Roendo entranhas, re-vezando mordaça,
E a escuridão em que tateio o trajeto arrasta
correntes,
Mas sigo na busca des-esperada de me ver sendo.
Cada dia debulho uma letra de minha fala,
Perco-a nos sonhos,
E dou um passo para a distância.
Breve me perderei no horizonte.
Emudeço-me no silêncio de calar-me.
Silencio-me no calar do emudecer.
Calo-me no emudecer do silêncio.
Manoel Ferreira.
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