Tempo inda que de letras furtivas versejam a
volúpia fugaz do instante-limite do horizonte que, à luz do alvorecer,
res-plende raios numinosos aos confins absurdos do nada. As madrugadas estão
frias - deitando-me, cobri-me com o cobertor e iniciou aí o vira para um lado,
vira para o outro e nada de dormir. Pensei seriamente em levantar-me, abrir a
porta, sentar-me no batente da casa à soleira da
porta e contemplar a noite, estrelas e lua, mas desisti. Continuei deitado.
Tempo inda que de versos nÍtidos nulos a prosearem
de metáforas líquidas cristalinas de imagens o ser trans-parente dos desejos
sublimes de-velados da alma peregrina no deserto tao de veredas à mercê do
inaudito ergo nom sum.
Houvesse podido criar, pensar palavras que
mostrassem os sentimentos mais profundos, mas a cabeça estava vazia de
quaisquer, virava e re-virava na cama, ouvindo o latido dos cães à distância, o
silêncio no quarto escuro.
Tempo inda de esperanças sem margens do incógnito
abismo do há-de vir, sem pressa do incognoscível vale pretérito do que há-de
ser pretérito mais-que-perfeito nas nonadas alvissareiras a pro-jetarem no
infinito os raios de luz envolvidos na neblina, versificando o despetalar das
flores na aurora genética do verbo amar que exala o perfume da perfeição.
Depois de muito tempo, virando e re-virando na
cama, consegui dormir, sonhando com uma casa em construção, tendo dito a um de
meus íntimos que a casa poderia ser pintada toda de verde, e alguém me pedira
para retirar uma bandeira que estava no topo. Fiquei sem saber como lá chegar,
era alto, mas havia uma rampa que dava acesso, e lá fui para retirar a
bandeira. Acordei.
Tempo inda que de eflúvias volúpias do não-ser a
recitar os sons de estrofes estéticas da melodia, ritmo, acorde do sonho,
genesis do vir-a-ser da felicidade de travessias do tao-senda para o início do
ser ao krishna-vereda para a continuidade do verbo a tornar-se espírito da
dimensão sensível do além, além-ser, além-não-ser, além-ec-sistência. Além
morro dos ventos uivantes, corujas cantando, flocos de neblino cobrindo as
folhas das árvores, no vale dos poiéticos lírios brancos, hortências azuis, o
eterno da diáfana luz fosforece de sum-itudes de essências níveas,
trans-elevando as ec-sistências aos cumes do absoluto imperfeito, e nasce o
divino infinitivo do ser verbo.
A madrugada custando a passar e quaisquer
inspirações se me re-velavam para tomar a pena e com ela deslizando nas linhas
da página em branco a madrugada passasse. Era continuar deitado, virando para
um canto, virando para o outro, ouvindo o canto dos galos à distância.
Tempo inda que de amar a concepção do verbo, nos
pampas floridos, nos chapadões áridos... A vacuidade plena e perene baila nas
efemérides do tempo de efígies.
Levantar e tomar da pena. Não mais possível
continuar virando e re-virando na cama à espera do sono.
Manoel Ferreira.
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