Encontro-me a um passo de exceder os absurdos
acumulados da carne - uma sensação mista de culpa e profusão - e nada é capaz
de dominar os ímpetos de entrega. Quero-me em nível da duplicidade
carne/desejo, da ambigüidade corpo/vontade, e nada mais obstacularizando os ímpetos
de um clímax eterno e efêmero. Sensações unívocas e equívocas de uma angústia,
tomando as rédeas da claridade, evidência, emergem
lúcidas do fosso dos desejos constantes de prazer e astúcia. Sou uma miríade de
sentimentos a transbordar-me, exceder-me, ultrapassar-me, e caminho consciente
pelas veredas da vontade de interação.
Desejo-me cúmplice de uma consciência embasada nos
desejos da carne - a razão cumpriu sua elaboração na fantasia, o logos cumpriu
sua organização na imaginação... O edifício imaginário reviu suas bases,
desmoronando desejos seculares de uma vida sem raízes. Qualquer coisa
distendeu-se nas sensações carnais, e agora sinto uma dispersão enorme de
sentimentos e emoções a tomarem-me por inteiro, e sou sentido em medos e
euforias.
Inclino-me ao rés-do-chão, iniciando os passos por
alamedas íngremes e viçosas das percepções de um seio viril. Os pênis duplos do
desejo e da razão, desfacelados e insatisfeitos de realização, aglutinam-se e
dispersam-se num diapasão sensível, e o corpo afigurar-se a dissolver-se,
deixando as sensações abrirem-se.
Emoções espelhadas numa congruência fácil e
espontânea de carícias e ternuras colocam-me livre e escravo de vontades nunca
dantes nem mesmo imaginadas. O medo excêntrico dos absurdos da carne, vividos
na cabeça do tempo, faz sobreviver um refúgio, faz viver uma fuga, e o homem
mergulha na insatisfação. Surgida da insaciabilidade, a impetuosidade de uma
lembrança de sangue a jorrar nas veias da razão, um confronto da esperança e a
angústia do inominável. Mergulho-me fresco e volútil nas ondas do ímpeto de uma
metamorfose viva, a engolfar-me, retirando-me fundo das obscuridades dos
sentimentos ambíguos. Sou impetuoso, de modo a rasgar-me as vísceras dos
sentimentos de ternura e carinho pelo viver o mundo.
Sou uma dispersidade nos sentimentos de viver um
ímpeto da carne e dos desejos, uma univocidade nos interstícios dos sentimentos
volúteis de uma vida de sangue profusivo e disparatado da consciência. Até o
instante presente, perambulando pelas alamedas do sensível, buscando a
elucidação e entendimento, estive a envelar uma profusão enorme de tesão e
desejo pelo clímax. Afigura-se-me este sentimento, úmido em seu interior, suave
em suas bordas, ser uma ambigüidade amena e triste de um desejo não realizado e
o viver girando assiduamente sem qualquer ponto de segurança.
Se, interiorizado e hermético nas associações á
busca do entendimento dos enigmas da carne, segredos do sangue, mistérios do
corpo, sinto estar esgarçando e ampliando as emoções, há um engano
incorruptível e irreversível presente na sombra de uma manifestação. Se, imerso
em ondas de calor e volúpia, sou trazido em nível deste desejo da carne e do
corpo, as associações livres empreendem sentimentos espontâneos e suaves.
Um vento ameno e suave surge nas antípodas de
minhalma, percorrendo os labirintos das vísceras e veias. Se faz aparecer uma
sensação de prazer e júbilo pelo inusitado desejo?...
Se vivido de modo lúcido na intimidade um amor
dilacerante, logo sou envolvido por um êxtase latente de dores e prazer, e
sinto logo um amofinamento do corpo. Suave e contínua é a linguagem desta
alegria ora surgida nos interstícios de desejos por desfrutar e estar
desfrutando de mim. Há dúvidas de, se me encontro em nível de uma compreensão
do minuto presente de sentimentos ou do entendimento carnal de emoções.
Veredas lúcidas de uma consciência a habitarem-me o
íntimo - surjo-me à luz do sol e o rosto inicia a ejacular um suor quente. A
língua do tempo, a ofuscar-me a visão, traz-me este obnubilamento dos desejos e
sou inteiro recolhido no medo. Tempestuosas carícias e ternuras vêm residir-me
o peito em busca de encobrirem uma angústia de entender o medo do amor, uma
agonia de compreender a resistência de amar.
A solidão habita-me os recônditos do espírito e só
encontro a sua superação no desejo de liberdade de entregar-me inteiro.
Fecho-me sensível às posturas da abstração de ser indivíduo, conservando um
profundo amor pela constituição das ternuras. Abro-me consciente às colocações
da contingência de ser sujeito/verbo, elaborando os sentimentos ávidos de
afetividade/carinho no seio de conteúdo humano.
Impetuosa paixão pelo sentimento de viver os
resultados contingentes do prazer vem surgindo saltitante pelos interstícios de
olhar, buscando as sensações alegres do peito. Impulsivo amor pelas emoções de
agir a alma feliz do desejo inicia-se aproximando alegre nas veredas da
consciência, procurando os desejos reais do espírito. Profusivo carinho pelas
ternuras de sentir o espírito alegre da árdua tarefa de instituir os caminhos
do amor e da liberdade começa aflorando-se contente nos labirintos da
capacidade, manifestando a calma real da linguagem.
Ávidas carícias desta postura de ir pensando e
organizando as ações em conformidade e harmonia com a esperança. O corpo,
ambíguo em suas sensações de desejo, postula-me a percepção do olhar as
situações antes da intuição de decidir as ações. Tempestuosos sentimentos de
doação dalma e intercâmbio de carícias habitam-me fundo o seio, e sou quase uma
alegria absoluta.
Invade-me enorme volúpia e desejo de ir residir
inocente e puro nas alamedas de um amor efusivo e real. Surge-me angústia a
perambular e deslizar no sangue vivo: serei apto a realizar este amor?
Quisera-me lúcido e louco a tergiversar pelos labirintos nítidos e nulos de
desejos. Sou felicidade translúcida a transbordar a garganta da linguagem,
Intencionando inda mais a completude do corpo e sentimentos. Sou uma iminência
de clímax no pênis real de prazeres, intencionando o gozo na vagina de desejos
evidentes. Sou um gozo no pênis simbólico da consciência, reivindicando a
formação do ser homem.
Quisera-me uma alegria da linguagem de desejos,
ejaculando a completude dos prazeres, e tudo o que é elaborado são repetições
de adjetivos e advérbios. Sinto a nitidez de instituições, aspirando
encontrar-me com a lucidez de viver. Pudera-me o retorno lúcido às perdas,
re-elaborando o sujeito, fazendo a completude clara do verbo de viver a
singularidade.
Efemeriza-se a sombra tênue dos sentimentos
efusivos da imensidão de viver, deixando-me perplexo e contente com as forças
resolutas da completude. Evola-se o ensimesmamento frágil do sentimento de
inferioridade frente às conquistas do mundo, revelando-me um sujeito perspicaz
e atento às intenções prioritárias. Esvanece-se o clima denso de angústias
instituídas no seio de um medo contundente de a vida haver sido perdida nos
instantes absolutos da ociosidade.
Esvaiu-se de mim a similitude das formas de
abstração, buscando o instante pleno do espírito, o momento perene da alma.
Habita-me a solidão implícita da esperança de uma universal formação da
consciência, tornando-me os caminhos um simples modo de ir construindo os
desejos de empreendimentos e lutas. A ternura excêntrica de desejos sensíveis e
frágeis reside-me o peito efusivo de uma linguagem voltada para a realização de
carências e a instituição da intersubjetividade.
A meiguice diferente de conteúdos inocentes e
ingênuos da alegria de ser sujeito, estilos simples e resistentes do
contentamento de revelar o "sou" de mim, vem morar no íntimo,
indicando-me as veredas da forma de constituição de viver. Institui-se o som
nítido dos ventos suaves e frescos da felicidade de o homem inscrever a si no
epitáfio dos desejos realizados.
A frescura da manhã solene de meu corpo tranqüilo
nas arestas de suas sensações de gozo, mas uma inquietude solene no seio da
carne. As ondas tênues de carinho e solitude por todos os estilos de amar e
inteirar-me das formas de mergulhar-me no sangue efusivo da contingência
humana. Simples ardências carnais nos desejos viris mergulham as satisfações
plenas num mar de fluídas emoções de amar.
Primeiros ardores da paz submergem-me num oceano
frio e úmido de emanações paradoxas da felicidade. Os amores da fisionomia a
resplandecerem suaves os contornos de características sempre susceptíveis de
uma excêntrica metamorfose em busca do real.
Substituo as dúvidas latentes da emancipação,
trilha emotiva das carícias de vontades eternas, pelos efusivos processos
emancipados da latência do amor. Recupero as evidências do espírito em
transbordar-me frágil e consciente no finito das emoções sentidas. Mostro a
nitidez do olhar, perspicácia indubitável da formação sensível do real,
identificando a profusão de eternas ternuras.
Fósseis susceptibilidades conceituais do corpo a
ejacularem sentidos e significados dalma - sou uma postulação das sensações.
Veias de amores sentidos no real das reformas, abrindo o sangue quente e
imanente dos "sonhos de Verbo Inteirar". Contingências testamentárias
dos sentimentos insólitos surgem efêmeras da consciência, e sou manifestação
ardorosa de insolências fundas. Tristes horizontes resplandecem imortais nas
linhas sensíveis das posturas conscientes da elaboração emocional. Arregalam-me
os olhos o universo nítido do substantivo amor nas tábuas translúcidas da
percepção e intuição. Flácidos olhares perscrutam os insolentes infernos da
angústia, perpassando os liames loucos das inquietudes, adelgaçando as
vertentes insanas das perquirições, em perene busca do íntimo ingênuo da
felicidade. Infernais concepções do belo e nítido estilo da esperança
indagam-me as definições percucientes das postulações de consciência e ação nos
interstícios de viver o "Amar".
Nítido inferno resvala-me o íntimo, perpassando os
recônditos sítios da intranqüilidade, trazendo-me a consciência de uma eterna
necessidade de compreensão e diálogo das emoções vividas em confronto com as
reveladas na fisionomia e olhar. Insolências frágeis e flácidas de uma
indagação abstrata e real do sentido humano nas revelações de júbilo e prazer
de enfrentar o mundo. Profundezas de mim, emergidas nas revelações fisionômicas
e oculares, dizem-me a paradoxalidade perqüiridora dos sentimentos.
Superfícies imersas nas elaborações do espírito,
imergindo nos subterrâneos da ternura e insolência, dialogam lúcidas com as
inscrições conscientes de um viver eterno. Sonos fáceis nas bordas do nada
refastelam-se confortáveis, mergulhando nos interstícios absolutos da vigília.
Loucuras indolentes escondem as lágrimas puras, os sorrisos inocentes, e
instituem a seriedade no rosto do tempo inócuo e iníquo.
Manoel Ferreira.
(Escrito em 1987)
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