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terça-feira, 24 de novembro de 2015

ATÉ DE REPENTE, VENDO-A IR COMPRAR LEITE E PÃO


Perdoe-me se a faço chorar - quanta vez, chorando você, dizia-lhe com carinho "Enxugue as lágrimas. Não gosto de vê-la triste"! Sou quem a faz chorar agora, coração apertado, a alma doendo, lágrimas descendo-lhe pujantes e quentes em seu rostinho. Sinto a sua dor, sei não ser fácil. 
Verdade sim que o chorar ameniza a dor, não a deixa contida nos interstícios da alma, e estas lágrimas de agora não serão, não terão sido em vão, pois que com elas o que haveria-de vir se tornou mais fácil, não houve o esquecimento, mas a vida ensinou a guardar o sentimento com carinho e ternura, re-colhido e a-colhido outros sonhos re-nasceram dos sonhos e utopias tão almejados se tornassem real-idade, outros nascerão não para preencher o vazio que se estabelece às vezes, mas para re-velar a força e a verdade do amor que existiu tão contundente. 
Disse-lhe quanta vez nunca teria um gesto que a magoasse, entristecesse, não pronunciaria única palavra que a ofendesse, humilhasse, minha verdade de sentimento de desejar a sua felicidade estaria presente, amava vê-la sorrir, aquele sorriso de menininha que ganha um presente há muito desejado, o carinho e o amor num cafuné da mamãe e do papai. Faltei com a palavra, faltei com a verdade de meus sentimentos, faltei com aquelas tantas esperanças de caminharmos de mãos entre-laçadas no silvestre do floresta, sentados à beira de um rio de águas límpidas, conversando sobre nossas esperanças, nossos sonhos, tudo o que juntos conseguimos realizar, alegria e felicidade em nós. Não me sinto culpado. Não, não... O que estou sentindo mesmo é tristeza de saber que chora, o dia seu será sombrio, lembranças e recordações de nossos momentos estarão presentes. A dor é imensa. Sinto-a em mim, sinto-lhe a dor doer em mim, sinto em mim a dor de sua dor. E você tão frágil. Chamava-lhe a atenção por ser tão frágil, não podia deixar-se tocar por tudo na sua vida. Quanta vez magoada, entristecida, busquei palavras, arranquei-as de mim para que recuperasse o moral, num determinado instante aquele sorriso que amo de paixão, a felicidade de vê-la feliz se me revelavam puras e sublimes. 
Hipocrisia minha dizer desse modo, contudo sei que irá entender esta hipocrisia. Digo-o porque poderia ter escolhido, poderia lutar, lutar muito, mas a vida não me deu escolha, a vida exigiu-me a real-idade, a verdade de mim. Fui obrigado a dizer, mesmo sabendo, sabia sim, que tais palavras iriam inevitavelmente derramar lágrimas, por algum tempo irá sofrer muito, e jamais esquecerá, não lhe será possível. Se isto afaga-lhe um pouco, o que sente também o sinto. Chorando, disse-me: "Nunca deixe ninguém lhe ferir, magoar, tirar-lhe os sonhos por que tanto luta, a sua busca eterna da vida, do ser. Prometa-me isso. Você é um homem de grandes valores, inestimáveis virtudes, o seu ser lindo". Emudeci-me, silenciei-me por instantes e, quando recuperei a mim, disse-lhe: "Farei isto sim." E não é promessa, é determinação, será o tesouro que terei em mãos em nome de tantos momentos de alegria e felicidade, tantas conversas gostosas, enriquecedoras. Lembrar-me-ei de dizer: "O que desejamos está aqui. Não como desejávamos, mas está aqui". Nada mais esperei. Dei-lhe um beijo na face, virei as costas, segui o caminho de cabeça baixa, olhando a poeira da calçada.
Muito fácil dizer assim... A intenção é de enxugar as lágrimas que lhe descem o rostinho. Pense que foi melhor agora do que aqui a algum tempo, o sofrimento e a dor seriam maiores para nós ambos. Infelizmente, o tempo foi hoje para o afastamento, a separação, em nossas almas estaremos sempre presentes. 
Do mesmo modo que me fizera o seu último pedido... Faço-me o meu: "Não permita que ninguém lhe roube esse sorriso lindo de sorriso, sua risada de menininha que ganhou o presente desejado ou o cafuné da mamãe e do papai, de alguém querido. Também não se esqueça das tantas vezes que lhe dissera o desejo sensato e verdadeiro era a sua felicidade plena e irrestrita. Estando triste, desolada, deprimida por algum acontecimento da vida, lembre-se desse desejo. Estando melancólica, nostálgica, lembrando de nós, lembre-se de que nos prometemos a vida, lembre-se de que estou em você, você, em mim. Lembre-se disto e recupere os seus estados emocionais. Você gostava muito de escrever versos, mostrava-mos, aquele brilhozinho no olhar de quem esperava ser reconhecida, reconhecia sim verdadeiramente, apesar de que não escrevo versos, muito mal escrevo bilhetes em guardanapo de botequim copo sujo. Escreva os seus versos, isto ajuda a amenizar as dores e os sofrimentos".
Até de repente, quando passar na rua, indo à padaria comprar pão e leite, eu de longe, bem longe vendo-a andando tão levemente. 

Manoel Ferreira

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