Perdoe-me se a faço chorar - quanta vez,
chorando você, dizia-lhe com carinho "Enxugue as lágrimas. Não gosto de
vê-la triste"! Sou quem a faz chorar agora, coração apertado, a alma
doendo, lágrimas descendo-lhe pujantes e quentes em seu rostinho. Sinto a sua
dor, sei não ser fácil.
Verdade sim que o chorar ameniza a dor, não a
deixa contida nos interstícios da alma, e estas lágrimas de agora não serão,
não terão sido em vão, pois que com elas o que haveria-de vir se tornou mais
fácil, não houve o esquecimento, mas a vida ensinou a guardar o sentimento com
carinho e ternura, re-colhido e a-colhido outros sonhos re-nasceram dos sonhos
e utopias tão almejados se tornassem real-idade, outros nascerão não para
preencher o vazio que se estabelece às vezes, mas para re-velar a força e a
verdade do amor que existiu tão contundente.
Disse-lhe quanta vez nunca teria um gesto que a
magoasse, entristecesse, não pronunciaria única palavra que a ofendesse,
humilhasse, minha verdade de sentimento de desejar a sua felicidade estaria
presente, amava vê-la sorrir, aquele sorriso de menininha que ganha um presente
há muito desejado, o carinho e o amor num cafuné da mamãe e do papai. Faltei
com a palavra, faltei com a verdade de meus sentimentos, faltei com aquelas
tantas esperanças de caminharmos de mãos entre-laçadas no silvestre do
floresta, sentados à beira de um rio de águas límpidas, conversando sobre
nossas esperanças, nossos sonhos, tudo o que juntos conseguimos realizar,
alegria e felicidade em nós. Não me sinto culpado. Não, não... O que estou
sentindo mesmo é tristeza de saber que chora, o dia seu será sombrio,
lembranças e recordações de nossos momentos estarão presentes. A dor é imensa.
Sinto-a em mim, sinto-lhe a dor doer em mim, sinto em mim a dor de sua dor. E
você tão frágil. Chamava-lhe a atenção por ser tão frágil, não podia deixar-se
tocar por tudo na sua vida. Quanta vez magoada, entristecida, busquei palavras,
arranquei-as de mim para que recuperasse o moral, num determinado instante
aquele sorriso que amo de paixão, a felicidade de vê-la feliz se me revelavam
puras e sublimes.
Hipocrisia minha dizer desse modo, contudo sei
que irá entender esta hipocrisia. Digo-o porque poderia ter escolhido, poderia lutar,
lutar muito, mas a vida não me deu escolha, a vida exigiu-me a real-idade, a
verdade de mim. Fui obrigado a dizer, mesmo sabendo, sabia sim, que tais
palavras iriam inevitavelmente derramar lágrimas, por algum tempo irá sofrer
muito, e jamais esquecerá, não lhe será possível. Se isto afaga-lhe um pouco, o
que sente também o sinto. Chorando, disse-me: "Nunca deixe ninguém lhe
ferir, magoar, tirar-lhe os sonhos por que tanto luta, a sua busca eterna da
vida, do ser. Prometa-me isso. Você é um homem de grandes valores, inestimáveis
virtudes, o seu ser lindo". Emudeci-me, silenciei-me por instantes e,
quando recuperei a mim, disse-lhe: "Farei isto sim." E não é
promessa, é determinação, será o tesouro que terei em mãos em nome de tantos momentos
de alegria e felicidade, tantas conversas gostosas, enriquecedoras.
Lembrar-me-ei de dizer: "O que desejamos está aqui. Não como desejávamos,
mas está aqui". Nada mais esperei. Dei-lhe um beijo na face, virei as
costas, segui o caminho de cabeça baixa, olhando a poeira da calçada.
Muito fácil dizer assim... A intenção é de
enxugar as lágrimas que lhe descem o rostinho. Pense que foi melhor agora do
que aqui a algum tempo, o sofrimento e a dor seriam maiores para nós ambos.
Infelizmente, o tempo foi hoje para o afastamento, a separação, em nossas almas
estaremos sempre presentes.
Do mesmo modo que me fizera o seu último
pedido... Faço-me o meu: "Não permita que ninguém lhe roube esse sorriso
lindo de sorriso, sua risada de menininha que ganhou o presente desejado ou o
cafuné da mamãe e do papai, de alguém querido. Também não se esqueça das tantas
vezes que lhe dissera o desejo sensato e verdadeiro era a sua felicidade plena
e irrestrita. Estando triste, desolada, deprimida por algum acontecimento da
vida, lembre-se desse desejo. Estando melancólica, nostálgica, lembrando de
nós, lembre-se de que nos prometemos a vida, lembre-se de que estou em você,
você, em mim. Lembre-se disto e recupere os seus estados emocionais. Você
gostava muito de escrever versos, mostrava-mos, aquele brilhozinho no olhar de
quem esperava ser reconhecida, reconhecia sim verdadeiramente, apesar de que
não escrevo versos, muito mal escrevo bilhetes em guardanapo de botequim copo
sujo. Escreva os seus versos, isto ajuda a amenizar as dores e os sofrimentos".
Até de repente, quando passar na rua, indo à
padaria comprar pão e leite, eu de longe, bem longe vendo-a andando tão
levemente.
Manoel Ferreira
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