Há-de
se fugir a sete pés do longe, é início do perto, do próximo, há de se fugir a
sete pés do perto, é início do longe, do distante, fazer tábua rasa do longe e
do perto não é melancolia da perspicácia, não é nostalgia da percuciência,
simplesmente sibilo do inaudito. Devagar se vai ao longe... E se o longe for
fora do mundo, só lá será o início do perto, a vida inteira, a eternidade não
será suficiente para lá chegar, e andando devagar
não se chega nem no meio do caminho. Só mineiro para tirar as vestes, pisar
nelas, afirmar ser a verdade inconteste.
Paz na
terra aos homens de boa vontade!...
Há-de
se fugir a sete pés do barbeiro que aprendeu o ofício dos ossos na barba do
tolo, porque ofício aprendido realidade é eterna; melhor dar barra na barba que
tê-la bem escanhoada e a tolice mostrar sua verdadeira face
Paz na
terra aos homens de boa vontade!...
Há-de
se fugir a sete pés de quem semeia ventos por jamais poder ouvir-lhe os sibilos
do além, por nunca mais poder sentir o que é balançar as orelhas sob os ares
deles nos instantes que os miolos derem nós górdios;
Paz na
terra aos homens de boa vontade!...
Há-de
se fugir a sete pés de quem tem telhado de vidro, pois, além de não poderem
jogar pedras nos maledicentes, nunca será iluminado, inspirado, os raios do sol
se refletem nele e retornam ao uni-verso;
Paz na
terra aos homens de boa vontade!...
Há-de
se fugir a sete pés de quem tem pulgas atrás da orelha, serão elas a ouvirem os
sussurros, murmúrios do sempre-jamais, e na terça-feira gorda vão se preparar
para coçar os pecados de quem as aloja;
Paz na
terra aos homens de boa vontade!...
Há-de
se fugir a sete pés de quem não veste a pele do lobo, pois que jamais poderá
uivar livre e solto na noite do apocalipse das naúseas, acariciando a pele
suave dos mistérios e enigmas;
Paz na
terra aos homens de boa vontade!...
Há-de
se fugir a sete pés de quem será lebre por toda a eternidade, pois que não
sentirá o prazer da vovó de Chapeuzinho vermelho em recebê-la em sua casinha
humilde e simples;
Paz na
terra aos homens de boa vontade!...
Manoel
Ferre
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