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terça-feira, 24 de novembro de 2015

ÁS FELICIDADES DO TEMPO Manoel Ferreira


Aos amigos Dr. Antônio Carlos da Silva, Dr. Antônio Fernandes Drumond

 

As estrelas velam
O ossuário da terra
A terra, encolhida no seu canto,
Dorme intranqüila na calçada fria e íngreme
O mundo carcomido pelos cancros da civilidade
Arrasta-se no chão e lamenta os infortúnios.
Alguma esperança perdida nalgum tempo da vida?
Algum sonho esquecido nas dobras da necessidade de sobrevivência,
A vivência, quando?
Alguma querência no tempo en-velada
De circunstâncias e inconsciência
Das buscas de verdade e eternidade?
Alguma utopia escondida no punho das desilusões,
Fracassos, frustrações, medos? 
Em que tempo, curto, eterno?
Alguma noite, longos dias, longas noites,
Dias solitários, noites distantes,
Madrugadas eivadas de lágrimas
No deserto das inseguranças e medos.
A vida se re-velará,
Mesmo com as razões in-versas,
Os sonhos re-versos de outrora,
Enganos, erros, medos, culpas, pecados,
 responsabilidades,
Algum dia, e tudo será uma lembrança íntima,
Tudo serão recordações de crepúsculos,
Auroras, nos rios das esperanças sem margens,
Sem pressa, que seguem o itinerário do tempo,
De que tive a oportunidade de dar bom-dia
Ao dia que se a-nunciava,
Aos novos desejos que se re-velavam
Nos sibilos de ventos perpassando
Vales, abismos, chapadas
 Nos claros-escuros das pedras
Sombras de luzes e da lua,
De transeuntes solitários,
Homens que alimentam suas esperanças
De felicidades, paz, alegrias
Indivíduos que desejam encontros
De amor e paz no futuro;
Deslizam suaves, fazem cócegas
No olhar, o vazio e angústia,
Tristeza, desolação,
Tecem a dor de retinas
Que assiste, no velar da alma e espírito,
Às tristezas, melancolias e nostalgias,
Romantismo e metáforas da poiésis,
Poesia, do verso e estrofes
De palavras vazias;
Crocheteiam o sofrimento de pupilas,
Em cujos reflexos das imagens e das coisas,
Entoando cânticos, ritmando melodia;
No peito, retinam desilusões, medos e fracassos.

Risos e prantos se confundem nos delírios da paixão,
Na insanidade dos sentimentos, emoções,
Nos in-vernos de re-versos in-versos
Das utopias, sonhos, desejos, vontades, esperanças
Tudo será possível, cabe apenas a força de vontade,
As luzes de verdades da vida conquistada na dificuldade,
Angústias, tristezas, preconceitos, discriminações.
Tudo será realizado na fé.
E me sinto na “roda-viva” dos sentimentos nítidos e nulos
E me sinto na “dança” de luzes da lua e estrelas um ser opaco
E me sinto nos “re-versos inversos” da vida em êxtase
De agonias e ansiedades.

As palavras não exprimem as idéias
O pensamento condiciona a emoção
Futuro é outro presente na esguelha de olhos noturnos
Nos soslaios dos olhares vespertinos,
Das visões matutinas às revezes do crepúsculo
Presente serão ontens esquecidos e latentes
Sentimento de busca e sublimidade
Da sublimidade ao sentimento de busca
Esplendores e desejos de pássaros que cruzam o céu
Entoam suas líricas nas grimpas de árvores
Frondosas e folhas viçosas
Expressam em seus instintos diversos
Habitam as silveirinhas dos lamentos e silêncios.
Ontens serão subterrâneos do espírito
Em cujas veredas, culpas de desatinos,
E os desatinos de culpas e pecados,
As ansiedades clamam por outros uni-versos,
Em cujas trilhas, a-núncios e revelações se espelham
Outroras serão do espírito, em cujas profundidades,
As angústias de sonhos e decepções,
As luzes que iluminarão os caminhos.

Se vós me concedêsseis mínimo de prosa
Nos dedos que, em câmara lenta,
Insinuam dígitos que são sentimentos
Nas almas brancas de páginas passadas!
Se vós me consentísseis a destreza das penas,
Com quem sobrevoais mares, lagos e desertos,
Florestas e abismos!
Longos dias, longas noites,
Em busca da luz plena e absoluta,
Contemplando a lua em todas as suas manifestações,
As estrelas em todas as suas revelações.
Se vós me désseis o privilégio
De um só segundo de anunciação divina eterna e verdadeira,
De saborear o gosto da água que sacia a sede
Da eternidade, imortalidade,
Os dígitos teriam sido apenas
Modo de imprimir os sentimentos e emoções que me habitam.
Do vôo, mostro-lhe as nuanças,
Detalhes não digo, são efêmeros
Perpassam fios de outono
Nos anéis da medula,
Pormenores tão menos
São cobras que se autodevoram pelo rabo,
Nuanças de dores e sofrimentos
Adentro longas noites de insônia
Vigília de letras e sons
De vozes que ecoam nos lamentos os cânticos de melancolias
Nuances de verdades e vazios que se entrecruzam.
De desejos que refletem nos espelhos os ritmos de nostalgias
Pormenores de fantasias e angústias que se distanciam
Nas curvas dos tempos e relógios,
Nalgum instante a esperança se me extasia os delírios.
Habitas-te a volúpia do eterno
Neste instante em que as criaturas sentem os raios do sol,
Os homens iniciam, na labuta, esperança de águias
Sobrevoando florestas, estradas de poeira sem fim,
A vida na luta contínua e desmedida
Sonha...
Girassóis à soleira de casas, casebres, ao relento
Alegram da vida o húmus de todas as sementes
Saudades, ausências, carências.
Dois corpos que se amam comungam no sono
Ventos de tão puros sentimentos perpassam-lhes
Na noite escura,
O céu no silêncio abana as últimas gotas da chuva.
Sim... O verde de teus tesouros ilumina a escuridão?
Não os vejo, meu amor, para mim abrem horizontes
Mergulho em teus raios, no brilho de teus olhos.
O que sinto, o que me trans-cende
Uni-versos traçam na carne os êxtases,
Alegrias, prazeres, vestígios de miríades,
Entre-laçando nos ossos
Corpos de angústia, tristeza, dor e sofrimento.
Horizontes tecem no sangue os ímpetos,
Fantasias, quimeras, sonhos,
Costurando no espírito,
Utopias de esperanças e fé,
De confiança e con-(s-)-ciência de olhares profundos
Na vida e seus dons e talentos.

Não me escutas
Ausência absoluta de palavras, sentidos e metáforas,
Nos lábios, sorriso sublime de amor,
Representado nas flores secas que são sementes de origens...
Representado nas rosas vivas e viçosas que são raízes
De crepúsculos e auroras, e no ínterim de contemplações
Finge compreensão, finge recolhido e acolhe
No peito o carinho desdobrado.
Na mente a ternura re-presentada
Na manhã da vida, dos desejos e vontades
De felicidade, paz, amor.
Ouves, escutas, sintas
Dores, sofrimentos, desesperanças,
Os homens se queixam de suas desditas.
Lamentam suas sendas perdidas
Só tu, tu podes com simples roçagar a pele
Esquecida nos sonhos que parecem únicos,
Retirar-lhes das angústias a suavidade da fé
Das tristezas a sublimidade das esperanças
Oh, sudário de origens e raízes
Em cujos nós, linhas e perspectivas,
A face verdadeira, pura, de águas límpidas
Refletem a continuidade da vida.
A lua sobe solitária
A memória se esvaece
Suspiram pela morte solene em dias ensimesmados
Pela vida plena em noites escuras
Pela preguiça sublime, o sol forte, calor intenso
Suspiro o tempo em que as palavras
Não atendiam rápidas aos pérfidos afagos dos dedos
As mãos feitas concha.

II – VOZES DE CÂNTICOS E DISSABORES

Vozes, ouvi!
São vozes que desfiam dores, mágoas.
Necessitam amor, carinho, perdão.
São vozes carentes, tristes e solitárias
Palavras entoam seus cânticos, dobram seus dissabores.
Ouvi-as!
Deixai-as dizerem, deixai-as mostrar os dados
Acolhei-as, transformai-as em sonhos
De vosso silêncio tranqüilo, rio lento que levam as águas,
Nascem sonhos, re-nasce a fé,
A continuidade do ser em busca
Das sendas perdidas às glórias do encontro
Cada passo é um passo
Dos sonhos de encontro às felicidades do tempo
Meu Deus, o que é isto – a eternidade?
Patéticas interrogações,
Exclamações, reclamações  
Sobre o porquê da existência, da vida e morte
Estrela que brilha sobre a água
No declive dos mares não habitará o minuto do vazio?
Silencio as vozes da agonia
No aclive dos abismos não estará o instante da completude?
Solidão de luzes e brilhos,
Transparência de divinos brilhos,
Calo os gritos, murmúrios e sussurros
Calo. Não sou quem dirá algo para romper o silêncio
Mútuo, comungado, solidário.
Imagino e crio nas longas noites de esperança
Do dia,
Da manhã,
E de manhã são outros sonhos,
Dentro de outros, dentro de outros sonhos.
Calo as vozes dos imundos sortilégios.
Nas curvas do sertão não habitará o instante do eterno?
Falo, falo...
Engrolo termos ininteligíveis, o sabor das palavras
A loucura evidente dos desmedidos e insolentes
Transfigurada pela revelação da divinidade,
Confiro luminosidade fulgurante vinda das profundezas
Quero morrer, não posso...
Não conheço qualquer epitáfio que imortalize
Quero rir, gargalhar, a humanidade inteira ouça-me:
“Sempre que precisar de mim,
Estarei ao vosso lado.
Sempre com todo amor, sempre com a maior alegria,
Sempre com maior prazer”
A companheira eterna, insofismavelmente eterna.
Ris, ris de minhas ingenuidades, inocências
Ensaiando um epitáfio, depois resta-me a palavra sábia,
Quem não riria? A morte estará sempre do nosso lado.
Em que abismo profundo depositei os sonos?!
Em que vazio escondi as samambaias dos eternos sonhos?!
Em que subterrâneo do espírito guardei a eternidade dos desejos
De liberdade, ressurreição, redenção?!
O espírito?
Tombado no caos da origem.
Espectro de Deus,
Arrasta-se sobre o chão:
Nuvem de idílios a caminho
Dos sombrios redutos da Eternidade?

Se tu percorresses com lentidão cada passo da eternidade
Não se reconhecer, sentir-se ícone de uma missão divina,
Sentirá do desconsolo às angústias os delírios do tempo
Do desespero ao vazio as quimeras da solidão
No teu sepulcro, o tempo consumirá o teu corpo
Lâmpadas que ardem  na noite solitária
Só de vez em quando as folhas das palmeiras balançam
Se te reconheceres, reconheço-te eu.

Quem sou?!
Não sou palavras, sou é desejo.
Não sou utopias, sou é contemplação.
Não sou esperanças, sou é vontade
De arrancar-me o brilhante que salva
O diamante que risca o éter
De mostrar o cristal por onde as gotas
De chuva deslizam suaves e serenas
De velar o silêncio ritmado
Na melodia do presente e futuro
Que se mostram nos idílios
Dos longos dias, das longas noites.

Não me sei, não me conheço. O que digo nestas letras, o que represento? Sou aquela que é, o que contemplo, sou quem será, o que há-de vir? São lamentos, murmúrios de horas vazias, o que há de vir são ânsias e desejos fervorosos de ser palavras, verbos que iluminam os desejos de liberdade, as letras habitam-me. 

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