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terça-feira, 24 de novembro de 2015

*ÁRVORE GENEALÓGICA*


Não é seguro
Confesse ser eu
Pessoa com imunidade social
Amparada, protegida, con-templada
Pelas leis da República Federativa de meu país.
Com sentimento, emoção, espiritualidade,
Acompanhados de razão, intelecto e sensibilidade,
Declaro-me pia e obstinadamente
Apaixonado pelo homem,
Pela humanidade, pelo ser humano!
Como o amor
É espírito, é éter, é cinza,
É Deus vivo.
Vivo como a ec-sistência da tocha 
De fogo do sol,
Por sobre a cabeça dos homens.
Assim como a ventania
Das tempestades
Passa pelos campos, montanhas,
Abismos e cidades,
A varrer a terra e os mares,
Rios, lagos e córregos
Para a-nunciar, re-velar, de-monstrar aos homens
A presença viva de Deus pelos homens. 

Assim versejo sonetos,
Assim declamo versos,
Assim recito estrofes,
Assim canto,
Assim sonho,
Assim elucubro idéias e pensamentos,
Assim vivo a bordejar a árvore
Genealógica da tribo dos oprimidos,
Rechaçados, discriminados,
Dos humilhados, dos bêbados,
Dos vagabundos, das prostitutas,
Dos afeminados feridos,
Dos ofendidos 
E dos estrangeiros perseguidos,
Das viúvas reprimidas, 
Das virgens refreadas, 
Das noivas abandonadas, 
Das vadias de calçadas de ruas e avenidas,
Na fantasia sexual do matrimônio 
E dos miseráveis e atordoados
Pelo capitalismo primata.
Que os tortura e leva a todos a um mesmo estigma: 
O destino degradante, humilhante, infamante
Da meritíssima doutora deusa miséria,
Da excelentíssima magister deusa indigência.
Assim
Canto a celebrar 
O prazer de ec-sistir como vivem os deuses,
Masturbo-me para consagrar meu corpo
E confabular com minha alma,
E trocar idéias com minha libido,
E entabular conversa com meus instintos
Até o gozo pro-duzir o paraíso do poder e do perigo,
Éden da fama e do risco,
Eldorado da importância e da ameaça
À espera da excelentíssima "reprodutora da vida".

Manoel Ferreira

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