Não é seguro
Confesse ser eu
Pessoa com imunidade social
Amparada, protegida, con-templada
Pelas leis da República Federativa de meu país.
Com sentimento, emoção, espiritualidade,
Acompanhados de razão, intelecto e sensibilidade,
Declaro-me pia e obstinadamente
Apaixonado pelo homem,
Pela humanidade, pelo ser humano!
Como o amor
É espírito, é éter, é cinza,
É Deus vivo.
Vivo como a ec-sistência da tocha
De fogo do sol,
Por sobre a cabeça dos homens.
Assim como a ventania
Das tempestades
Passa pelos campos, montanhas,
Abismos e cidades,
A varrer a terra e os mares,
Rios, lagos e córregos
Para a-nunciar, re-velar, de-monstrar aos homens
A presença viva de Deus pelos homens.
Assim versejo sonetos,
Assim declamo versos,
Assim recito estrofes,
Assim canto,
Assim sonho,
Assim elucubro idéias e pensamentos,
Assim vivo a bordejar a árvore
Genealógica da tribo dos oprimidos,
Rechaçados, discriminados,
Dos humilhados, dos bêbados,
Dos vagabundos, das prostitutas,
Dos afeminados feridos,
Dos ofendidos
E dos estrangeiros perseguidos,
Das viúvas reprimidas,
Das virgens refreadas,
Das noivas abandonadas,
Das vadias de calçadas de ruas e avenidas,
Na fantasia sexual do matrimônio
E dos miseráveis e atordoados
Pelo capitalismo primata.
Que os tortura e leva a todos a um mesmo estigma:
O destino degradante, humilhante, infamante
Da meritíssima doutora deusa miséria,
Da excelentíssima magister deusa indigência.
Assim
Canto a celebrar
O prazer de ec-sistir como vivem os deuses,
Masturbo-me para consagrar meu corpo
E confabular com minha alma,
E trocar idéias com minha libido,
E entabular conversa com meus instintos
Até o gozo pro-duzir o paraíso do poder e do
perigo,
Éden da fama e do risco,
Eldorado da importância e da ameaça
À espera da excelentíssima "reprodutora da
vida".
Manoel Ferreira
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