Dias atrás, sentado numa mesa de um botequim na
calçada, alguém se aproximou, dizendo: "Sou muito curioso. Sempre que
passo por aqui vejo o senhor escrevendo. O que faz?" Respondi-lhe:
"Escrevo. Acabo de matar a sua curiosidade." Nada mais disse.
Tal fato lembrou-me saudosa amiga
artista-plástica, Martha Moura, que me dissera com todas as letras que odiava quando alguém con-templando as suas peças
de imediato perguntava: "Mas o que você quis dizer com esta
pintura?". Martha Moura respondia: "Não quis dizer nada. O
interlocutor é que descobre, ele é quem diz o que o artista quis dizer".
Isso é mais que quotidiano, trivial - não há escritores, poetas, artistas
plásticas, artistas em geral que goste de interlocutores fazerem esta pergunta.
Dizem a plenos pulmões os críticos são a desgraça
do escritor, do poeta, dos artistas: têm sempre um ás de crítica debaixo do
punho, há sempre um quê de negligência. A arte deve seguir os seus parâmetros,
seus ângulos teóricos. Dizia um saudoso professor meu de Teoria da Literatura
na Universidade Católica, que os críticos que são escritores escrevem com o
manual teórico do lado, julgam-se os egrégios. Para Jaime França, este escritor
deveria primeiro aprender a escrever, ser artista, para depois criticar. Então,
o escritor precede o crítico. Endossei as palavras de meu professor na época,
tornei-as realidade ao longo de minha vida literária e crítica.
Sendo assim, escritores e poetas tremem em todas as
bases, quando suas obras estão diante dos linces do crítico. Por mim, jamais
tive este tipo de medo, aliás por muitos anos sonhei ver um crítico analisar,
interpretar as minhas coisinhas. Uma coisa é certa o escritor e poeta devem
conhecer um pouco sua arte porque há críticos que tergiversam solenemente o
eidos da obra. Tem ele então a liberdade de contradizer o crítico, dizendo-lhe
onde se localiza a sua digníssima asnice.
A querida amiga Maria Fernandes fora a primeira
crítica a escrever sobre a minha obra - digo-o virtualmente. De excelência a
sua crítica, aliás fora publicada em tablóide aqui na minha terra-natal. Fora
direto ao ponto, interpretaçao percuciente. Seguiu-se-lhe Ana Júlia Machado,
também outra crítica de excelência. Amigas... Há aquela questão de pensarem os
interlocutores: "Amigas, claro, vão puxar a farinha para o saco de Manoel
Ferreira Neto". E hoje são seis os críticos, cada um ao seu modo, à mercê
de seus conhecimentos literários, poéticos, filosóficos, à luz de suas
linguagens e estilos, estão des-vendando com as verdades de meu mundo
artístico, princípios literários e filosóficos, poéticos, de minha intimidade
como homem-no-mundo, como ser e estar-no-mundo, aflorando desde as prefundas
aos abismos mais inauditos a minha obra. E digo com toda a sinceridade e
franqueza todos os meus críticos tem posto nas minhas mãos feitas conchas
grandes contribuições para eu mergulhar mais fundo em mim, em minha arte,
tornando cada vez mais trans-parente e trans-lúcido o meu uni-verso. Estou
crescendo, amadurecendo, re-nascendo, aprendendo a des-aprender, nascendo nas
letras.
Sinto-me privilegiado pelas verdades das críticas
dos amigos. Difícilimo críticos se aterem ao eidos das obras, não interpretarem
à luz de suas subjetividades, desejos e vontades de a arte ser deste ou daquele
modo, fieis e leais ao eidos da obra. Hoje mesmo o novo crítico, Júlio di
Paula, quem escreveu de modo lindíssimo, com uma linguagem singela, terna, um
estilo espiritualista eidético, analisando o meu texto //FRANQUEZA DE UMA
TERNURA DE SENTIR//, disse-me estar muito feliz com o meu amadurecimento,
crescimento nas letras.
Quando o escritor, poeta, disponibiliza-se à
harmonia, sincronia, sintonia com a crítica dos críticos, outra coisa não
resulta senão o crescimento, amadurecimento. Escritores e poetas têm de
harmonizar-se com a crítica, porque a crítica verdadeira outra coisa não
significa senão o mergulho na arte, mergulho "iético" no terreno
baldio da alma, onde a Arte floresce ao florescer, des-vela-se ao des-velar-se,
exala seu perfume do belo e da beleza ao exalar seu verbo-espírito. .
Manoel Ferreira Neto
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