Folhas respingadas
de orvalho à luz do alvorecer resplendem diáfanos brilhos, o tempo nas
asas do vento glorifica as revelações do ser, anátemas do silêncio jubilam das
travessias das esperanças, toda geração tem seus caminhos, mister desobedecer,
os caminhos dos pampas.
As glórias da vida, encontro do amor, realização da
esperança do outro que metamorfoseia os sentimentos, o ser do tempo, primavera
de lírios, esplende de miríades dos desejos a a-nunciação do prazer de recitar
versos da alma enamorada do sol. Iluminadas as bordas do sonho perspectivas do
pleno abrem os horizontes por onde a água solitária movimenta as asas,
itinerário do eterno.
Por vezes, no silêncio da madrugada, luzes
apagadas, sou a vigília do sono que busca o topo da serra, panorama de
esplendida beleza, onde a alma procura o abrigo do uni-verso, onde o espírito
vagabundo vagueia nas esperanças do inaudito, re-colhendo e a-colhendo as
dádivas dos mistérios místicos do bem e
do mal. Não me sendo sentimentos da solidão que a escuridão re-vela, traz ao eidos das utopias do belo, mistifico as
luzes que incidem no meio da rua, as árvores das calçadas criam a sombra. Não
me sendo emoções do vazio que o estar re-costado à porta de meu casebre
que o pretérito dos tempos em ondas de
infinitivo, subjuntivo, gerúndio, partícipio traz-me a memória , mitifico os
raios numinosos que iluminam os sonhos do vir-a-ser. E, por vezes, no
crepúsculo, con-templando o longínquo celeste, sou a quimera do absoluto
efêmero do verbo, perscrutando os vestígios do pretérito, e sinto nas prefundas
do indizível a a-nunciação do perfeito gerúndio das contingências das
querências das estrofes do belo.
Sinto-me o prosador de versos da poesia, sou o poeta dos parágrafos da
prosa.
Na dúvida e na incerteza, trilho as sendas do
ininteligível, olhos brilhantes, sorriso esboçado no semblante, sentindo o
perfume das flores silvestres, toque de dedos leves os enigmas do vir-a-ser,
frágeis, leves, sensíves, crio conch das mãos, ofereço-lhes, aconchegam-se e
dissipam-se, tempo de se nutrirem, alimentarem-se, saciarem a sede do divino
espectro da revelação da verdade, e fico versificando a solidão do silêncio à
soleira da peren-itude do belo e da beleza, e sinto estar versejando o silêncio da solidão nas travessias das
águas vivas que desenham o “it” da eternidade com as moléculas do primevo
cosmos do genesis, o espírito dedilha a harpa da in-fin-itude.
O efêmero se torna eterno no instante da inspiração
do sentimento de sentir a nonada da travessia do tao-ser para as veredas do
krishna, templo do ser-sol; o eterno se torna efêmero no momento da iluminação
trans-cendente de com-templar os ocasos do crepúsculo sob a miríade das luzes
que templ-oram o tabernáculo da espiritualidade pouco a pouco, passo a passo a
vida se evangeliza de semente em semente,
a oliveira diviniza o céu de nuvens cristalinas.
À soleira de meu casebre, braço esquerdo sobre o
joelho, entre os dedos da mão o cigarro aceso, a fumaça esvaindo-se
solenemente, ouço sons que não posso reconhecer,
talvez cântico do grilhos, olhos perdidos encontram envelada pelas galhas e
folhas da árvore a cintilância da luz que ilumina a rua.
No alvorecer, o ocaso dos pretéritos perfecciona a
continuidade das distâncias do belo e da beleza ornamentarem o indizível da
alma das flores que exalam o perfume suve e terno do além, salpicado das
gotículas de orvalho dos princípios da criação, quando o nada era absoluto, o
absoluto do caos, e o absoluto, o nada, nada dos cosmos.
O céu escureceu por completo. As arvores balança-se
levemente sob o efeito do vento, chuva não virá. Será para alhures levada. Tempos longínquos trazem-me os anátemas do
silêncio – “Sou feliz por me esquecer das horas todas” -, rapaz sonhador, sentado
numa mesinha de um quarto de pensão, A Poética do Espaço, Gaston Bachelard,
sobre a cama desarrumada, o alvorecer se a-nunciando, escrevendo a sua prosa
poética, mergulhando no “eu profundo” à busca das luzes do ser. Pelas ruas da
capital mineira, berbidos, bêbados, messalinas, mendigos dormindo nas calçadas,
transeuntes às pressas para pegar o ônibus rumo ao trabalho, começava mais um
dia. A pena deslizava nas linhas brancas da página de uma agenda sem eiras e
beiras, cinzeiro cheio de tocos de cigarro, assim começava outro tempo de uma
trajetória que jamais teria fim
Olhai os lírios do campo. Olhai o ser-tao das
veredas. Olhai o krishna das sendas. O ser tem o seu caminho, passo a passo,
nas suas ad-jacências e bordas, até nas orlas das águas vivas das desejâncias,
até nas pedras no meio do caminho, como profetiza Carlos Drummond de Andrade,
que simbolizam o não-ser, o ser-não, o não-de-ser, na ladainha dos tempos da
Esperança da Eternidade.
Manoel Ferreira Neto
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