É tempo de partir,
Aos horizontes mandar o grito errante da vedeta,
O olhar vagabundo à guarita de sentinela.
É tempo agora para quem sonha a glória,
Para quem deseja a luz que guia o barco
Nas águas límpidas e cristalinas,
Iluminando as margens, a natureza, e a luta...
E a luta, essa lareira, onde re-ferve o bronze das
estátuas,
O branco resplandecente dos cristais,
As cores di-versas das pedras preciosas,
Que a mão dos séculos no futuro talha e ornamenta
À mercê de um livro a decifrar,
De uma idéia ou sentimento a in-vestigar.
A cada berço levar a esperança e a fé.
A cada campa levar o pranto.
A cada cruz nas margens solitárias da estrada
a vontade de a vida ser puramente a paz,
A violência esquecida.
Estrada eu sou,
E a percorro acompanhado dos íntimos da
contingência
E dos desejos do espírito.
E pendido através de dois abismos,
Com os pés na terra e a fronte no infinito,
Pedir a Deus a benção aos homens,
Levantar a Deus o grito de amor e paz.
Cantar o campo, as selvas, as tardes, a sombra, a
luz;
Soltar minhalma com o bando dos pássaros
A sobrevoarem o chapadão, o sertão infinito e
aberto;
Ouvir o vento que geme, sentir a folha que treme.
No horizonte desvendam-se as colinas,
Serras e montanhas,
Até mesmo de montes de terra,
Sacode o véu de sonhos de neblinas a terra ao
despertar.
Tudo é luz, tudo aroma e murmúrio,
Tudo esplendor e silêncio.
No descampado o cedro curva a fronte,
Folhas e prece aos pés do Onisciente mandam a
lufada erguer.
O sonho do verbo de minhas letras habitou-me sempre
Como a Estrela Vésper que alumia aos pastores nos
fraguedos;
Ave que no meu peito se aquecia ao murmúrio
Talvez dos meus segredos, revoltas, ódios e raivas,
Conflitos e traumas, ao sussurro quiçá de meus
silêncios e enigmas,
Ao cochicho de minha consciência e inconsciência,
Até da língua solta e livre das quimeras e
sorrelfas,
Contra as hipocrisias sociais e históricas,
aparências individuais.
Mas por longo tempo sinistra ventania mugiu nas selvas,
Rugia nos rochedos,
Condor sem rumo, errante,
Que esvoaçava,
Deixei-me entregue ao vento de sorrelfas e
fantasias, d
Dos risos e gargalhadas sensaboronas
– amo-os sem trincheira, por intermédio deles
É que a felicidade se me manifesta plena.
Quase me perdi,
Vi os sonhos todos se esvaecerem juntos com a
neblina
Que cobre as serras e montanhas.
Creio no porvir, na infância da inocência e
ingenuidade,
Ma juventude dos sentimentos,
No amadurecimento da consciência e dos objetivos,
Na velhice das experiências e sabedorias,
Sol brilhante do céu da liberdade,
Em que aprendo a arrancar-me de dentro
E mostrar outros uni-versos e horizontes
Que me povoam o espírito e a alma.
Manoel Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário