Total de visualizações de página

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

*À GUARITA DE SENTINELA*


É tempo de partir, 
Aos horizontes mandar o grito errante da vedeta, 
O olhar vagabundo à guarita de sentinela. 

É tempo agora para quem sonha a glória, 
Para quem deseja a luz que guia o barco 
Nas águas límpidas e cristalinas, 
Iluminando as margens, a natureza, e a luta... 
E a luta, essa lareira, onde re-ferve o bronze das estátuas, 
O branco resplandecente dos cristais, 
As cores di-versas das pedras preciosas, 
Que a mão dos séculos no futuro talha e ornamenta 
À mercê de um livro a decifrar, 
De uma idéia ou sentimento a in-vestigar. 

A cada berço levar a esperança e a fé. 
A cada campa levar o pranto. 
A cada cruz nas margens solitárias da estrada 
a vontade de a vida ser puramente a paz, 
A violência esquecida. 

Estrada eu sou, 
E a percorro acompanhado dos íntimos da contingência 
E dos desejos do espírito. 
E pendido através de dois abismos, 
Com os pés na terra e a fronte no infinito, 
Pedir a Deus a benção aos homens, 
Levantar a Deus o grito de amor e paz. 

Cantar o campo, as selvas, as tardes, a sombra, a luz; 
Soltar minhalma com o bando dos pássaros 
A sobrevoarem o chapadão, o sertão infinito e aberto; 
Ouvir o vento que geme, sentir a folha que treme. 

No horizonte desvendam-se as colinas, 
Serras e montanhas, 
Até mesmo de montes de terra, 
Sacode o véu de sonhos de neblinas a terra ao despertar. 
Tudo é luz, tudo aroma e murmúrio, 
Tudo esplendor e silêncio. 
No descampado o cedro curva a fronte, 
Folhas e prece aos pés do Onisciente mandam a lufada erguer. 

O sonho do verbo de minhas letras habitou-me sempre 
Como a Estrela Vésper que alumia aos pastores nos fraguedos; 
Ave que no meu peito se aquecia ao murmúrio 
Talvez dos meus segredos, revoltas, ódios e raivas, 
Conflitos e traumas, ao sussurro quiçá de meus silêncios e enigmas, 
Ao cochicho de minha consciência e inconsciência, 
Até da língua solta e livre das quimeras e sorrelfas, 
Contra as hipocrisias sociais e históricas, aparências individuais. 

Mas por longo tempo sinistra ventania mugiu nas selvas, 
Rugia nos rochedos, 
Condor sem rumo, errante, 
Que esvoaçava, 
Deixei-me entregue ao vento de sorrelfas e fantasias, d
Dos risos e gargalhadas sensaboronas 
– amo-os sem trincheira, por intermédio deles 
É que a felicidade se me manifesta plena. 

Quase me perdi, 
Vi os sonhos todos se esvaecerem juntos com a neblina 
Que cobre as serras e montanhas. 
Creio no porvir, na infância da inocência e ingenuidade, 
Ma juventude dos sentimentos, 
No amadurecimento da consciência e dos objetivos, 
Na velhice das experiências e sabedorias, 
Sol brilhante do céu da liberdade, 
Em que aprendo a arrancar-me de dentro 
E mostrar outros uni-versos e horizontes 
Que me povoam o espírito e a alma. 

Manoel Ferreira

Nenhum comentário:

Postar um comentário