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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

CÍTARA DO SUBLIME VAZIO





Nada. Vazio. Nonada.
Travessia. Passagem. Ponte partida.
Arriba. Confins. Além. Aquém.
Palavras deslizam livres nas linhas à mercê do movente silêncio que se me manifestou à revelia do movimento da mão. Não penso. Nada sinto. Olho com indiferença o gótico das letras, a acuidade com que são escritar. Algo em mim não acredita no que está presenciando. Largar a pena sobre o caderninho, a pena não escreve sozinha.
Isso mesmo: sem inspiração. Isto mesmo: sem qualquer desejo de escrever. Vazio eu! Vazias as linhas! A caneta entre os dedos, a mão inerte sobre a página.
V
A
Z
I
O. Ainda nesta madrugada, madrugada leve, silenciosa, tomei da pena, preenchendo quatro páginas sem interrupção, num fluxo contínuo de sentimentos e idéias.
Nonada. Ponte partida. Vazio.
Nada Travessia. Passagem
Aquém. Além. No peito, a etern-itude sem letras, não queria a vida deste jeito. No âmago de minha alma, as palavras sem plen-itude, não desejava os sonhos neste estilo e linguagem.
Sentimentos - se não forem, resta-me pensar, resta-me cogitar terei de trilhar caminhos inóspitos, atravessando as estradas de poeiras contingentes, silencioso, olhos frios. Pode-se nada ganhar com a verdade, mas nada se perde. Triste não viver sentimentos: sentimentos de alegria por desfrutar a presença de amigo, colocar as fofocas em dia, risos, gargalhadas, sentimentos de felicidade por vir sonho realizado, por ouvir palavras carinhosas e ternas, por dizê-las com a alma nas palavras, por escutar versos e estrofes recitados de um poema bucólico, sentimentos de amor por uma mulher, desejos profundos de sua realização plena, de sua vida de prazeres, momentos de carícias, toques, intimidade, passeio numa pracinha pública, casos, causos, lembranças, recordações de aquis-e-agoras... Na época do Natal, minha namorada e eu saímos para passear, sentamo-nos num banco da pracinha da Praça da Cultura, cinco minutos. Chamou-me a atenção por minha falta de paciência de ficar sentado. Queria, desejava ficar trocando dedos de prosa. Emanda ama ficar na praça pública conversando co
m as amigas.
A alma simplesmente seca, árida, desértica. Carne e ossos no mundo, aquela coisa viscosa, lodo escorrendo na amurada, nas paredes de prédio de instituição pública, como pude observar no da Câmara Municipal, lodo e baratas permilhando passo a passo o espaço, dizem que no interior dela, onde funcionários trabalham, vereadores escrachados nas suas cadeiras giratórias contemplam o pálido crepúsculo, ratos andam por todos os lados, os comerciantes de mercearias e vendinhas estão contribuindo com porudutos de limpeza, não só chumbinhos, mas detergentes, cloro, água sanitária, a sujeira lá dentro ultrapassou todos os limites. Seguir em frente sem sentimentos até a consumação da matéria.
Confins. Passagens. Aquém de pontes partidas.
Nonadas roseanas desabrochando sendas silvestres. Quem me dera agora pudesse regar o jardim de minhas contingências com a água da fonte originária de meus voloes e á-gonias das sorrelfas compactas dos idílios da vida plena. Todo espinho alimenta o desabrochar da rosa no alvorecer da flor, o perfume exala-se insensível por todas as dimensões das querências do efêmero isento das éresis do absoluto, purifica as ondas da luz e esplende os horizontes às arribas do belo estético na estesia da morte que abre os leques para a pern-itude do verbo às neblinas, neves, garoas da continuidade do Ser que se faz continuamente.
Passagem de travessias... Ponte partida do vazio. Aquém de nonadas. Além de absolutos. Confins de efêmeros. Des-arribas de etern-ilidades.

Manoel Ferreira.

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