Quero
– detive-me pena daí –
Manchar com tinta a folha vazia e branca
Com cores da alma,
Com imagens distanciadas dos horizontes infinitos,
Com ângulos distantes do uni-verso
Re-presentado de além quimeras
Nos aquéns bordados de fantasia,
Mesmo que seja de uma perdida.
Não aceito morte, nem razões de vida.
Quero dar vida á folha vazia e branca,
Vê-la sonhar com o amor, a felicidade.
Vê-la sofrer com os des-encontros,
Angústias do não-ser que lhe habita,
Dores que lhe corroem o íntimo;
Vê-la ferida e ressentida com as palavras de não,
Com as atitudes agressivas,
Com os sentimentos fingidos e falsos
Que a pena lhe demonstrara,
Enquanto vertia a tinta que registrava as palavras
E os sentimentos inconscientes que me habitavam;
Vê-la chorando,
Des-cobrindo
“sonhos dentro de outros sonhos,
dentro de outros sonhos,
dentro de outros sonhos”
Através, por inter-médio dos fracassos e
frustrações,
Des-ilusões e des-enganos.
Vou rasgar fronteiras,
Entrar nas amplidões do eu que desejava,
Sonhava ser o outro de si,
Mas terminou um “eu” sem verbo e sem carne,
E des-fazer a solidão da procura do eu no não-ser,
Do outro no ser-solidão
Das florestas silvestres das esperanças.
Vou traçar uma vereda clara nos caminhos do campo,
E sem desvios,
Sem nonadas,
Entregar-me como a flor à abelha,
Vice-versa,
Ad-verso às intempéries da vida,
Às tempestades do desejo e da realidade.
Vou deixar minha alma re-fletir nos versos
A fé de outros sentimentos que me levem à vida,
Elevem-me ao espírito das esperanças sublimes
Dos versos e ausências,
E nestas folhas brancas e vazias escrever
Idéias e pensamentos falando dos versos de brisas,
Neblinas, garoas e neves.
Manoel Ferreira
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