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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Roda Gigante {Por Moacir Luis Araldi}

Decidiu não mais tocar no assunto. Tem coisas que é melhor deixar adormecida na memória.
Nunca mais. Passado é passado. Foi intenso, mas sobreviveria.
Mergulhado no trabalho, passava horas, até mesmo um turno inteiro sem lembrar.
Verdade que a noite em casa, ainda acessava velhos links e redes sociais quase que por instinto.
Teve momentos que desejou que todos os sentimentos fossem controlados por botões liga e desliga.
Por vezes pintava cenários extremamente românticos e, em sua mente, cenas de amor inesquecíveis rodavam lentamente, como faziam os antigos projetores do cine Imperial.
Lá sonhou ser o mais viril dos atores pornôs. O mocinho que encantava gerações. Don Juan de uma juventude rebelde que, de cabelos longos, sonhava com a liberdade sexual e política, ainda assim, aos domingos a tarde sorria rodando ridiculamente na roda gigante de um parque de diversão nômade, por ora ali fixado.
Por outros, com amigos na Praça da Mãe Preta balançando, inconvenientemente a chave do fusca branco já encardido e desgastado.
A revolução que sonhava nunca ajudou a fazer. No máximo cantarolava Geraldo Vandré agarrado ao seu violão com cordas de nylon.
Não tinha tantos motivos pra sorrir. A vida nunca lhe fora muito generosa. Por vezes sentia-se o escravo substituto de Bentinho no seminário, por outras o próprio Dom Casmurro.
Só entendeu que tudo pode piorar após o professor Henrique pedir a leitura e análise de "Os Lusíadas".
Dos lábios de mel, restou-lhe apenas Iracema. Agora estava só. Balançou a garrafa e, por sorte, ainda tinha mais de meio litro de alegria e uma lembrança da amada pra poder sonhar.

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