Maria moderna é uma ex-mulher.
Quebra a perna, mas não sai do
salto.
Politicamente correta, discreta,
a melhor.
Às vezes fuma, às vezes bebe, às
vezes toma fluoxetina...
Percorre grandes distâncias em
pequenos atos.
La vai a Maria ansiosa fazendo
fumaça.
No caminho faz seus ritos.
Vai Maria, vai depressa!
És Maria dos Aflitos?
Maria moderna é uma ex-amiga.
Trabalha muito, é auto-suficiente,
Solicitada sempre às pressas não
se junta e nem se espalha.
Saiu da roça, saiu do tanque,
saiu de casa e,
Está no grupo dos iguais, não se
atrapalha.
Num meio tão seleto só tem dez
iguais.
Cuidado Maria, olhe a vaidade,
vais perder a identidade...
Não és mais a Julieta, és Maria
Antonieta?
Maria moderna é uma ex-filha.
O pai partiu, a mãe morreu, os irmãos
sumiram, o marido escafedeu-se,
Os filhos vão e vêm, amigos, às
vezes, têm...
A Maria articulada não está com a
família,
A Maria sem estada, a Maria
fugidia.
É Maria Imaculada?
Maria moderna
tanto-fez-tanto-faz,
Sempre lá, às vezes cá, no canto,
a sós.
A Maria tem seus nós,
E não pode sentir dor,
É Maria sem amor...
Seu destino é o vibrador?
Mas a Maria merece amar,
Homem, senhor, rapaz,
Ou mesmo a Maria José,
E tome mais este dilema:
De Sapho a Maria Madalena.
Fez in vitro até gente,
Arranjou outra parente,
A Maria da faxina,
Que na falta não faz falta,
E lá vai a Maria empresariamente moderna, e Maria:
Lava roupa, faz comida, troca o carro, paga conta,
Saca dinheiro, lava quintal, lava cachorro, arruma cozinha,
Troca roupas, troca fraldas,
Troca de trabalho, troca fraldas,
Troca as crianças na escola, troca fraldas,
Esquece o filho no carro, troca fraldas,
Troca lâmpadas, troca fraldas...
“Mããiiiêê! O bebê tá acendendo!”
Ufa! Que estressante!
Como cabe tanta Maria numa só...
E ainda tem mais Marias: a da Concepción, a das Graças, a Auxiliadora, a de Lourdes, a Encarnación, a do Céu, a das Dores, a de Jesus, a do Socorro, a da Misericórdia, a do português da padaria...
A Pietá!
E a Maria Moderna... onde está?
Rogério de Moura
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